Associação Lar do Neném



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Criança Esperança

80 Associação Lar do Neném Recife-PE Marília Lordsleem de Mendonça

Abraço solidário Todas as crianças são de todos : esse é o lema do Lar do Neném, uma instituição criada há 26 anos em Recife, Pernambuco, para atender crianças de até 3 anos vítimas de abandono, maus-tratos e violência sexual. O espaço, que traz luz à trajetória de crianças em situação de extremo risco, reúne voluntários dedicados, que também abraçam uma nova vida ao dar colo para esses bebês. O Lar do Neném abre as portas para filhos de dependentes de drogas e álcool, moradores de rua e vítimas da pobreza extrema. Muitas vezes, quem precisa de cuidados é a mãe, mas as crianças acabam sendo as vítimas, afirma a coordenadora do Lar, Luciana Aniceto, de 42 anos.

82 Criança Esperança: 30 anos, 30 histórias Seguindo a orientação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a equipe do Lar tem como meta reintegrar as crianças a suas famílias biológicas. A adoção é sempre a segunda alternativa, apesar de ser o desfecho mais frequente na vida das crianças da Instituição. Recentemente, uma história de reencontro familiar emocionou a equipe do Lar: uma menina de 5 anos e seus irmãos, de 3 e 2 anos, voltaram para casa depois de um ano e cinco meses abrigadas. Eram vítimas da pobreza extrema, relata Luciana. A casa da família, no bairro de Linha do Tiro, foi alagada por uma enchente que atingiu a cidade, e a família perdeu tudo. A equipe do Lar conseguiu incluir a mãe em programas sociais de renda: ela alugou uma casa, conseguiu vaga em uma creche e recebeu os filhos de volta. Foi muito emocionante, diz Luciana. As crianças chegam aqui muito assustadas. Vão recebendo amor, carinho e até o semblante delas muda, conta uma das voluntárias. O Lar atende cerca de 70 crianças por ano, que chegam por determinação judicial ou são encaminhadas pelo Conselho Tutelar. Marília Lordsleem de Mendonça, de 20 anos, e sua mãe, Luciana, de 48 anos, estão entre as voluntárias do Lar. A jovem, que é cega, nasceu prematura, pesando menos de 1 quilo. Hoje, Marília embala bebês tão pequenos quanto ela própria ao nascer. Esse contato com crianças em situação de risco ajuda Marília a fortalecer a própria história e a motiva a ajudar o próximo. A jovem decidiu estudar direito, para trabalhar na área de adoção. Sempre gostei de trabalhos voluntários. Entregava panfletos nos sinais para ajudar o Núcleo de Apoio a Crianças com Câncer (NACC). O pessoal baixava o vidro para me dar dinheiro, achando que era

Há mais de 30 anos ativando a esperança 83 para mim, porque sou deficiente visual. Até hoje, o que mais me incomoda é o preconceito. Há um ano, todos os domingos, minha mãe, Luciana, e eu passamos a tarde no Lar do Neném. Minha mãe, que é funcionária do Metrô, via o Lar na televisão e sempre dizia que gostaria de ajudar aquelas crianças que já nascem marcadas por histórias de vida tão sofridas. Fizemos o curso preparatório para cuidar de crianças e começamos a trabalhar juntas no Lar. Minha mãe conta que quis vir comigo para dar segurança às pessoas de que eu iria cuidar bem dos bebês, mesmo sendo deficiente visual. Ela sempre me disse: Marília, se você quer ajudar os outros, vá em frente. Você tem condições para isso. Fui muito bem recebida aqui. O Lar recebe as pessoas de braços abertos não ficamos perguntando muito sobre a história das crianças que chegam. Tudo corre em segredo de Justiça, para protegê-las, e há o maior cuidado para não expor os bebês e as crianças.

84 Criança Esperança: 30 anos, 30 histórias A nossa função, como voluntárias, é dar carinho e amor para as crianças. Elas são tão pequenas e chegam aqui tristes e fechadas. Vamos dando colo, cuidado, abraço... Minha mãe me conta que até a carinha delas vai mudando. Como tenho bastante sensibilidade com as mãos, pego os bebês no colo, faço carinho e sinto que eles adoram, vão relaxando. Carrego nos braços e canto para eles. Brinco, ajudo a dar comida e a vestir. Só não troco fralda. Alguns chegam aqui com pouco mais de 1 quilo e vão ficando gordinhos... É muito lindo acompanhar isso. Há mais ou menos dois meses, chegou aqui um garotinho bem pequeno tinha menos de um mês de vida. Foi encontrado dentro de uma sacola, perto de um riacho, em uma cidade aqui da região metropolitana do Recife. Uns meninos que brincavam lá perto ouviram um choro, foram procurar de onde vinha e deram de cara com o bebê. Ele estava muito magrinho. Pouco tempo depois, ficou saudável e gordinho.

Há mais de 30 anos ativando a esperança 85 Esse tipo de trabalho faz muita diferença na minha vida, e mais ainda na vida de muitas famílias. Marília Lordsleem de Mendonça A maior alegria é quando chego aqui e fico sabendo que um bebê, ou todos os irmãos, foram adotados. Minha mãe fica com saudade, mas eu sempre digo a ela para pensar que essas crianças vão receber muito amor na nova família. As laristas [funcionárias do Lar] contaram para minha mãe que, muitas vezes, no dia de vir pegar o bebê para adoção, chegam, além do casal, avós e tios. Para mim, é um sinal de que essa criança será muito amada. Minha tia é amiga de uma família que adotou um bebê daqui. Soubemos que ele mudou de nome agora tem o mesmo nome do pai que o registrou. É muito emocionante. Esse trabalho no Lar faz muita diferença na minha vida. Durante a Copa do Mundo, gravei um DVD com uma música religiosa e doei o dinheiro da venda de 700 exemplares para o Lar. Quando terminar a faculdade de direito, quero me dedicar à adoção. Passei muitos anos da minha vida convivendo em ambientes que não estavam preparados para me receber. Na escola, os professores não sabiam como lidar comigo e me deixavam num canto. Aprendi braille no Instituto dos Cegos, e fiz as provas do ensino médio e o vestibular com o auxílio de uma ferramenta de computador. Gosto de pensar que, a partir da adoção, posso mudar a história de centenas de crianças. Esse tipo de trabalho faz muita diferença na minha vida, e mais ainda na vida de muitas famílias. Com exceção da imagem da página 80, todas as fotografias deste capítulo são meramente ilustrativas. Instituição: Associação Lar do Neném Local: Madalena, Recife (PE) Ano de criação: 1978 Atendimentos: 29 crianças e 10 famílias por ano Projetos apoiados: Todas as Crianças São Crianças de Todos 2º Momento Objetivo: assistir integralmente as crianças acolhidas e suas famílias, por meio de atendimento de qualidade, que assegure proteção ao desenvolvimento e à convivência familiar e comunitária. Recife (PE)