ABORDAGEM À SAÚDE DO HOMEM NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA APPROACH TO MEN'S HEALTH STRATEGY FOR FAMILY HEALTH



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Transcrição:

ABORDAGEM À SAÚDE DO HOMEM NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA APPROACH TO MEN'S HEALTH STRATEGY FOR FAMILY HEALTH Danielle Sousa Góis Araújo 1 Maria Augusta Rocha Bezerra 2 RESUMO A equipe da ESF deve estar preparada para lidar com uma abordagem direcionada à saúde do homem, principalmente no que se refere à prevenção de doenças e incapacidades. Este estudo teve por objetivos: identificar a abordagem prestada aos homens e os efeitos que isso acarreta, os principais motivos que levam o homem a procurar ou não a UBS e analisar as estratégias utilizadas pela equipe para o incentivo ao comparecimento da população masculina adulta na unidade. Para tanto, utilizou-se como metodologia o estudo do tipo exploratório, com abordagem qualitativa. A amostra constituiu-se por profissionais de duas ESF da sede do município de Cariús- Ce, nos meses de julho e agosto de 2009, através de entrevistas gravadas. Os profissionais relataram a ausência de abordagem específica ao homem e os principais motivos apontados por eles para não irem à ESF, como: timidez, achar que não precisam, trabalho, etc. Percebe-se a necessidade de uma estratégia que os enquadre no atendimento na Atenção Básica e que os estimule a prevenir as patologias. Palavras-chave: Agravos; Masculinidade; Enfermagem. ABSTRACT The ESF team must be prepared to deal with a targeted approach to human health, especially with regard to the prevention of diseases and disabilities. This study aimed to: identify the approach given to men and the effects that this entails, the main reasons that lead men to seek or not to UBS and analyze the strategies used by staff to encourage the attendance of the adult male population in the unit. To this end, we used the methodology as an exploratory study with a qualitative approach. The sample consisted of professionals from two ESFs of the town of Cariús-Ce, in the months of July and August 2009, through recorded interviews. Professionals reported the absence of specific approach to the man and the main reasons given for them not to go to the 1 Enfermeira Especialista em Saúde da Família pelas Universidades Integradas de Patos FIP. E-mail: danielle.gois@hotmail.com 2 Enfermeira.

ESF, such as timidity, think you do not need, work, etc.. We can see the need for a strategy that fits in attendance in primary and encourages them to prevent diseases. Keywords: Diseases; Masculinity; Nursing. 2

INTRODUÇÃO O sexo forte parece não estar fazendo mais jus ao título, ou pelo menos não como antes. A população masculina é constante protagonista e vítima de acidentes, doenças terminais, doenças transmissíveis e violência. Somando-se a isso, a questão cultural de que o homem é altossuficiente o bastante e que não adoece nem precisa se prevenir de tal probabilidade, tem afetado os altos índices de morbimortalidade. Apesar da diferença de porcentagem entre homens e mulheres ser pequena, onde 50,8% da população é feminina e 49,2% é masculina, a diferença real era de aproximadamente 3 milhões, segundo estatística do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2005 10. Os índices de morbimortalidade do sexo masculino são mais altos do que das mulheres. Entre os principais fatores que favorecem esses índices, podemos citar o hábito de fumar, a não prevenção de câncer de próstata, promiscuidade, maus hábitos alimentares e estilo de vida sedentário. Aproximadamente 75% das causas de morbimortalidade do homem são devido a tumores malignos, causas externas, como acidentes e violência, doenças cardiovasculares, distúrbios gastrintestinais e respiratórios 2, 14. Entre as neoplasias mais frequentes, as localizadas no aparelho genitourinário estão em primeiro lugar, com cerca de 30 mil casos registrados em 2005, seguidos do aparelho respiratório e digestivo, com cerca de 20 mil e 10 mil, respectivamente 2. Os homens frequentam a Unidade Básica de Saúde (UBS) logo quando nascem para a realização de puericultura, seguindo na avaliação de crescimento e desenvolvimento. Na fase da adolescência, onde grandes transformações físicas, psicológicas e socialmente ocorrem, o homem tem a chance de desvencilhar seus conflitos, conhecer seu próprio corpo e prevenir doenças, conforme estratégias utilizadas (caso existam) pela Estratégia de Saúde da Família (ESF) a qual pertence. A partir daí, cria-se um fosso entre a fase pueril ou da pré-adolescência, e o homem volta 3

à unidade, idoso, se sobreviver às intempéries da vida, apresentando hipertensão arterial sistêmica, por exemplo. Os programas de saúde coletiva no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) já privilegiavam a mulher, as crianças, os idosos e os adolescentes com relação às medidas preventivas, mas não favoreciam nem incentivavam o homem a procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) 2. Como a população masculina comumente acessa primeiro a atenção especializada, há a necessidade de priorizar a prevenção de doenças e promoção de sua saúde. Com isso, os gastos com a prevenção tendem a compensar os utilizados em tratamentos e reabilitação 2. Os profissionais das equipes das UBSs, no entanto, ainda não estão preparados para recebê-los, portanto não sabem lidar com a questão de gênero. Em alguns casos, até temem violência como resultado de intervenções relacionadas à sua melhor qualidade de vida, devido ao seu teor, considerado pelo homem como de cunho privativo. É comprovada a necessidade de aproximação desses profissionais em relação à temática homens e saúde 14. Além disso, as equipes precisam planejar, avaliar e atualizar seu trabalho 3. A proposta do tema surgiu por conta da dificuldade em priorizar, ou mesmo incluir a temática da prevenção nos conteúdos relativos ao homem na atenção primária, o que foi perceptível no decorrer de estágios, bem como das disciplinas do Curso de Graduação em Enfermagem. Devido ao baixíssimo número de homens que frequentam a ESF, contrapondo-se ao crescente índice de mortalidade de homens jovens, sobretudo como consequência de ingestão de álcool e o ato de dirigir motocicleta, simultaneamente, percebe-se a ausência de determinação de métodos em prol da diminuição desses casos. Afinal, a UBS deve ser a porta de entrada do usuário do SUS, cabendo-lhe a iniciativa de atividades que promovam sua melhor qualidade de vida, incluindo-se neste, a prevenção de doenças. Diante disso, consideramos que a falta de preparação e criatividade por parte da equipe de saúde da família, no que se refere à saúde do homem, certamente terá como resultado bruto, o grande número dos casos de tratamentos e reabilitação como consequência. Além disso, é provável que a maioria dos homens não frequentem 4

a Estratégia de Saúde da Família (ESF) devido à falta de incentivo, à visão de que é coisa para mulher e à indisponibilidade devido ao trabalho, acarretando no número elevado de óbitos, e consequentemente, na diminuição da expectativa de vida da população em estudo. 5

METODOLOGIA A pesquisa realizada foi de natureza aplicada, com o objetivo de gerar conhecimentos em prol da solução de problemas 7. Com caráter exploratório, objetivou-se conhecer o assunto com profundidade para melhor andamento, visto que é mais utilizada quando o conhecimento sobre a temática a ser abordada é deficiente 4. Os procedimentos técnicos envolvidos no estudo foram a pesquisa de campo, a qual visa o aprofundamento de determinada realidade. Para a sua realização utilizou-se observação do grupo em estudo 7. A abordagem foi predominantemente qualitativa, onde a relação entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito não pode ser traduzido em números 7. O estudo foi realizado nas duas Equipes de Saúde da Família da sede do município de Cariús, uma localizada no Bairro Centro e outra no Bairro Vila Nova. Cariús, Estado do Ceará, está localizada a 480 km da capital Fortaleza. Sua população estimada em 2004 era de 18.991 habitantes, com população masculina com total de 9.537, representando 50,22%. Foi fundada em 1951 e tem área de 1.056 km² e altitude de 240 m 10. A população envolvida no estudo foi composta pelos profissionais de saúde, a saber, enfermeiros, médicos, auxiliares e técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde das duas Equipes de Saúde da Família, totalizando 08 participantes. A amostra de sujeitos foi por inclusão progressiva, onde a definição de números de participantes é dada através de critério de saturação, ou seja, até atingirem certa regularidade de apresentação de explicações 11. Os critérios de inclusão para os participantes envolvidos foram: estar devidamente cadastrado na Prefeitura Municipal de Cariús; trabalhar na(s) unidade(s) escolhida(s) para a pesquisa e aceitar participar espontaneamente da pesquisa. O critério de exclusão será a não confirmação de qualquer um dos itens anteriormente citados. 6

Os dados da pesquisa foram colhidos pela pesquisadora, por meio de entrevista semi-estruturada, onde o entrevistado pode emitir comentários além da indagação formulada, nos meses de julho e agosto de 2009 11. As falas foram gravadas, de modo que se obteve maior fidedignidade das respostas obtidas. As entrevistas se realizaram em dias agendados pela pesquisadora e pelos profissionais. Os dados obtidos foram divididos em 4 categorias temáticas de estudo: Abordagem prestada aos homens e seus efeitos; Motivos de procura à unidade; Estratégias utilizadas; Motivos para não procurarem a unidade. Foram comparados entre si através da escuta, transcrição e organização das falas e em seguida foram analisados. A pesquisa foi realizada de acordo com a resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, pelo fato envolver seres humanos, cujo respeito e a bioética foram preservados, assegurando seus direitos e deveres 1. O estudo foi submetido a fatores relevantes, como: a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), e o consentimento livre e esclarecido dos entrevistados, descritos no Apêndice. Para a preservação da identidade dos participantes da pesquisa, foram-lhes atribuídos nomes de sentimentos, devido aos aspectos éticos pertinentes à pesquisa. 7

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS Os resultados foram obtidos por meio de entrevistas gravadas em dias escolhidos pela entrevistadora e disposição dos entrevistados. As perguntas foram préelaboradas, seguindo-se as etapas de transcrição das falas, caracterização da amostra e categorização dos resultados das questões norteadoras. Os profissionais entrevistados foram: 02 enfermeiras, 01 médico, 02 auxiliares e 03 Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Foram escolhidos de acordo com a disponibilidade no estabelecimento e consentimento em participar da entrevista. Encontravam-se na faixa etária de 32 a 58 anos, valor que se aproxima de estudo visando traçar o perfil social de enfermeiros/estudantes de enfermagem, onde o percentual era de 64% para a faixa de 35 a 55 anos de idade 13. Com relação ao estado civil, a totalidade dos participantes é casada, assemelhando-se a estudos realizados onde a maioria representava o mesmo resultado 6. O tempo de trabalho no cargo atual variou de 4 meses a 30 anos, mostrando a marcante diferença entre os participantes, o que, contudo a quase totalidade (87,5%) mantêm-se no cargo há mais de 6 anos. A vivência, experiência e envolvimento com a instituição e a profissão em si, podem justificar o tempo de exercício, fato este que demonstra satisfação 6. O tempo de trabalho na equipe variou de 4 meses a 15 anos. Diferente do tempo de exercício profissional, a maior parte dos entrevistados (62,5%) revelou trabalhar na unidade há no máximo de 6 meses. A partir dos resultados das questões norteadoras, o estudo foi dividido em 4 categorias. Ao abordarmos a categoria 1, abordagem prestada aos homens e seus efeitos, a maioria relatou não haver nenhum tipo de assistência específica, somente casos como a campanha de vacinação contra a rubéola, o uso de preservativo, reuniões referentes às respectivas patologias dos homens e acompanhamento em tratamento. 8

Não, sinceramente não. A gente já teve experiência com relação às conferências de saúde, que a última foi em 2008, a conferência municipal de saúde; então como envolvia o conselho municipal de saúde, o presidente da associação... Então teve muitos homens (...), mas era mais pra mostrar a comunidade o que é que o SUS faz (COMPAIXÃO). Eu já participei uma vez; acompanhei um tratamento. A gente anda numa casa, quando a mulher conversa com a gente que tá com um grande problema, que tá sentindo algum problema, é o maior sacrifício pra gente trazer um esposo pra aqui (AMIZADE). Os cargos que mais incentivam os homens são os de nível médio, principalmente os ACSs, que na verdade equivalem à maioria dos participantes (37,5%). Até o momento não há iniciativa a essa abordagem específica. Os efeitos dessa deficiência na abordagem prestada são principalmente: a ausência da população masculina na ESF, e consequentemente a precária prevenção no que se refere à saúde do homem devido à sua deficiente participação, que por sua vez, gera aumento de custos para tratamento de doenças. Estes resultados demonstram como a tradição das consultas está ainda fixada no ideal de saúde no imaginário do público masculino. O tipo de atendimento é um dos principais motivos da negligência à prevenção de doenças. As filas, por exemplo, constituem uma das causas mais apontadas como justificativa, de acordo com estudo. Por serem em sua maioria trabalhadores, são obrigados a se ausentarem do serviço. Além disso, a maior parte dos programas é direcionada às mulheres, deixando-os desconfortáveis o fato de elas serem a grande maioria na fila de espera e também dos profissionais de saúde 8. Estratégias que busquem os homens para a prevenção, devem abordar temas que lhes chamem a atenção. A sexualidade e reprodução foram temas preferíveis entre homens envolvidos na estratégia de uma unidade de saúde, que motivou torcedores durante um campeonato de futebol 5. Na categoria 2, motivos de procura à unidade, os mais citados foram: hipertensão arterial, diabetes mellitus, infecção respiratória, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e problemas urológicos. Houve bastante divergência nas respostas. Percebe-se que não há procura pela prevenção de nenhuma doença. 9

É mais é o problema da próstata, eu acho. Por conta que ficam muito acomodados, quando vê já tá com o problema e não tem mais jeito (TERNURA). Hipertensão, né, doenças renais e febre mesmo (FELICIDADE). Preservativo (AMIZADE). A procura pela unidade de saúde somente se dá quando há a busca por cura. Em estudo direto com homens de 40 a 64 anos, participantes revelaram a prática da automedicação para tratamento de pequenas dores ou desconfortos, bem como uso de chás, de modo que se evite a espera pelo atendimento em filas, e a utilização de algum serviço de saúde somente ao sentirem dores fortes e impossibilidade de trabalhar 8. Ao abordarmos a categoria 3, estratégias utilizadas para o envolvimento dos homens na ESF, ficou comprovado que não há nenhuma estratégia voltada à saúde do homem em si, em nenhuma das equipes, como é mostrado nas falas: No momento não existe nada elaborado pra trazer mais o público masculino pro PSF... Eu acho que os homens costumam ser mais práticos (COMPAIXÃO). Reuniões referentes à patologia que eles carregam (FELICIDADE). Eu aconselho muito quando eu vejo, assim, problema. Eles ficam falando... e eu sempre aconselho a fazer exame pra ver qual é o problema, o que que tá prejudicando, como é que deve cuidar, pra procurar um médico pra ver o problema que eles estão falando... Mas palestras é o que devia ter muito no PSF, que é muito importante pra prevenir doenças, isso eu não vejo, de jeito nenhum, que eu acho que a palestra é muito importante sobre DSTs, sobre tantas coisas que poderiam ajudar muito, pra prevenir, né... (TERNURA) Há apenas o atendimento em prol de tratamento sindrômico e/ou voltado à reabilitação dos usuários, com exceção das campanhas de vacinação que envolvem os homens. De acordo com Schraiber, Gomes e Couto 12, há diferença entre abordar um tema que é negligenciado à mulher e passar a envolver o homem por esse simples fato, e planejar a participação masculina apresentando-lhes temáticas mais direcionadas e exclusivas. Dentre as tantas diferentes complexidades entre o ser homem e ser mulher, as práticas preventivas devem ser tratadas de igual forma. 10

A categoria 4, abordando os motivos para os homens não procurarem a unidade foram apontados: o tabu para expor seus problemas com profissionais femininas, a escassez de profissionais especializados na saúde do homem, a falta de incentivo à prevenção, a questão cultural, a timidez, pensarem que haverá discriminação, o machismo, acharem que não adoecem, trabalhar fora, falta de tempo para palestras e falta de incentivo por parte dos próprios profissionais. Eu acho que falta de incentivo, falta de conscientização, porque a família não é só a mulher, mas aí eu não sei muito o que fazer, porque faz pouco tempo que eu trabalho aqui... (AFETO) Eu acho como todo mundo pensa, eles são muito acomodados, os homens. As mulheres são mais liberais... (TERNURA). Além disso, foram relatadas as principais dificuldades de se trabalhar com os homens. Como é mostrado nas seguintes falas: Têm vergonha de vir, de falar o que têm, o que sentem, né (AMOR). Dificuldade é porque eles não aceitam, né. Não assumem que muitos acham que a população vai excluir eles. Porque as doenças são adquiridas a maior parte é por eles, né? (AMIZADE) Que eles trabalham mais fora, né. Geralmente a dona de casa fica mais em casa, a mulher, e por eles serem homens o tempo deles é mais preenchido... (AFETO) A ideia e cultura de que unidades de saúde são para mulher, de que o homem, por sua virilidade notável, sua força, estaria mostrando sinal de fraqueza ao se preocupar com sua saúde são alguns motivos apontados em pesquisa. Outro fator apresentado foi o embaraço em se expor diante de profissionais do mesmo sexo e do sexo oposto 8. O homem, por ser protagonista do lar, visto como principal responsável pela subsistência da família, deve priorizar sua saúde de modo que previna doenças e seja saudável para continuar nas suas atividades. 11

CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo como resultados dos dados, a notória abordagem ineficaz, a pouca procura dos homens relatada pelos próprios profissionais em consequência do pouco incentivo e outros entraves, mostra a necessidade de um novo pensar na saúde dos usuários do sexo masculino. Os profissionais percebem essa necessidade, mas de fato não a executam por falta de incentivo para a realização de tal prática. Eles conhecem, ainda que parcialmente, os motivos pelos quais os homens procuram ou não a ESF, porém não estão devidamente aptos a intervir e estimulá-los a ir. O homem, com seus amplos processos e necessidades específicas, precisa do seu espaço na saúde, da equidade que lhe é de direito. Para uma assistência humanizada e qualificada, com uma equipe que motive e se adéque a interesses maiores. 12

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