AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE PRÉ-ESCOLARES DE CLASSE SÓCIO ECONÔMICA MÉDIA E BAIXA DA CIDADE DE MANAUS : ESTUDO COMPARATIVO.

Documentos relacionados
ESTUDO ANTROPOMÉTRICO DA POPULAÇÃO INFANTIL DA CALHA DO RIO NEGRO, AMAZONAS, BRASIL. III - PARQUE NACIONAL DO JAÚ.

Quais os indicadores para diagnóstico nutricional?

PERFIL DE CRESCIMENTO DE CRIANÇAS MATRICULADAS EM PROGRAMA DE SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR*

ESTADO NUTRICIONAL DOS PRÉ-ESCOLARES INGRESSANTES NOS CENTROS DE EDUCAÇÃO E ALIMENTAÇÃO DO PRÉ-ESCOLAR

PERFIL NUTRICIONAL DE ESCOLARES DA REDE MUNICIPAL DE CAMBIRA- PR

AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA EM CRIANÇAS DE UMA CRECHE NA CIDADE DE FORTALEZA UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS EM ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE PIRAQUARA NUTRITIONAL PROFILE OF PUBLIC SCHOOL CHILDREN IN THE TOWN OF PIRAQUARA

Professora adjunta da Faculdade de Nutrição/UFPEL Campus Universitário - UFPEL - Caixa Postal CEP

Manual Básico. Antho WHO

AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA DE IDOSOS FREQUENTADORES DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE

3. Material e Métodos

O ESTADO DE NUTRIÇÃO DE CRIANÇAS INTERNADAS POR TÔDAS AS CAUSAS EM HOSPITAL ASSISTENCIAL DO MUNICÍPIO DE S. PAULO

USO DA MEDIDA DO PERÍMETRO BRAQUIAL NA DETECÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DO PRÉ-ESCOLAR *

Crescimento físico em estatura de escolares de ascendência japonesa na cidade de São Paulo, Brasil

PERFIL NUTRICIONAL DAS CRIANÇAS QUE FREQUENTAM OS CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE JANDAIA DO SUL PR

PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS QUE FREQUENTAM UM CMEI NA CIDADE DE APUCARANA

25 a 28 de novembro de 2014 Câmpus de Palmas

INDICADORES DAS CONDIÇÕES NUTRICIONAIS NA REGIÃO DO POLONOROESTE. VI. ESTUDO ANTROPOMÉTRICO, 1985 (1)

Revista de Saúde Pública

INTRODUÇÃO. Key-words: Nutritional status; anthropometry; acute malnutrition; nutritional stunting.

Perfil socioeconômico e nutricional das crianças inscritas no programa de suplementação alimentar do Centro Municipal de Saúde Manoel José Ferreira

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL ATRAVÉS DE DUAS REFERENCIAS COM CRIANÇAS DE ZERO A CINCO ANOS DA CIDADE DE BARBALHA-CE.

Incorporação das novas curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde na Vigilância Nutricional

ANÁLISE DO CRESCIMENTO CORPORAL DE CRIANÇAS DE 0 À 2 ANOS EM CRECHES MUNICIPAIS DE GOIÂNIA

Introdução. Nutricionista FACISA/UNIVIÇOSA. 2

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: RELAÇÃO ENTRE INATIVIDADE FÍSICA E ÍNDICE DE MASSA CORPORAL EM CRIANÇAS DA REDE MUNICIPAL DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO PE.

Avaliação e Classificação do Estado Nutricional

Overweight in children under 6 years of age in Florianópolis, SC, Brazil

Avaliação antropométrica de crianças

QUANTIFICAÇÃO DO INDICADOR DE NELSON DE MORAES (CURVA DE MORTALIDADE PROPORCIONAL)

Período de Realização. De 3 de julho à 15 de setembro de População em geral. Sujeitos da Ação

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS DO ESTADO DE RONDÔNIA - BRASIL*

Desnutrição em Crianças de Áreas Faveladas: Manguinhos, Rio de Janeiro

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS MENORES DE DOIS ANOS ATENDIDAS NA USF VIVER BEM DO MUNICIPIO DE JOÃO PESSOA-PB

Ana Paula Aires², Ariane de Oliveira Botega², Flaviana Pedron², Gabriela Pinto², Naiani Ramos², Priscila Pereira² e Ana Lúcia de Freitas Saccol³

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO UNIRIO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE ESCOLA DE NUTRIÇÃO PROGRAMA DE DISCIPLINA

INTERVENÇÃO NUTRICIONAL A DESNUTRIDOS: EVOLUÇÃO ANTROPOMÉTRICA APÓS UM ANO DE PROGRAMA*

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA

ESTADO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS DE 9 A 10 ANOS DE UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA DO MUNICÍPIO DE MACAPÁ, AP.

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DOS IDOSOS ASSISTIDOS EM TERESINA PI ASSESSMENT OF NUTRITIONAL STATUS OF ELDERLY PEOPLE ATTENDED IN TERESINA -PI

PERFIL NUTRICIONAL E PREVALÊNCIA DE DOENÇAS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO DE NUTRIÇÃO CLÍNICA DA UNIFRA 1

INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NAS MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE COLABORADORES DE UMA PANIFICADORA

PERFIL ANTROPOMÉTRICO DOS POLICIAIS MILITARES DE UM BATALHÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO RIO DE JANEIRO

62 Perfil Sócio e Econômico e Antropométrico de Pré-Escolares

O PERFIL NUTRICIONAL DE ESCOLARES DE 6 a 10 ANOS DA REDE MUNICIPAL DA SEDE DE MUCAJAÍ RORAIMA BRASIL

1. Tabela de peso e estatura (percentil 50) utilizando como referencial o NCHS 77/8 - gênero masculino

PERFIL NUTRICIONAL DE ESCOLARES DAS ESCOLAS DE CANÁPOLIS/MG E CAMPO ALEGRE DE GOIÁS/GO

KARLA DE TOLEDO CANDIDO AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE PRÉ- ESCOLARES DE CEINFS MUNICIPAIS DE CAMPO GRANDE - MS

Os escolares das Escolas Municipais de Ensino Fundamental

AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA DE CRIANÇAS DE MESES, A PARTIR DO USO COMPARATIVO DAS REFERÊNCIAS DE CRESCIMENTO CDC 200 E OMS 2005

PERFIL NUTRICIONAL DE PRÉ-ESCOLARES E ESCOLARES RESIDENTES EM PALMEIRAS DO JAVARI, AM.

ÍNDICE. CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO Introdução Pertinência do trabalho Objectivos e Hipóteses de Estudo...

RAZÃO NITROGÊNIO UREICO/CREATININA (N U/ C) EM INDIVÍDUOS DE FAMÍLIAS QUE APRESENTARAM CONSUMO SATISFATÓRIO E INSATISFATÓRIO DE PROTEÍNAS*

Campus Universitário Caixa Postal 354 CEP INTRODUÇÃO

PERFIL NUTRICIONAL E NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA EM ESCOLARES DE GOIÂNIA-GO

INTERAÇÃO ENTRE ÍNDICE DE MASSA CORPORAL, COM FLEXIBILIDADE E FLEXÕES ABDOMINAIS EM ALUNOS DO CESUMAR

AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE DE TRINDADE, GOIÁS.

Obesidade Infantil. Nutrição & Atenção à Saúde. Grupo: Camila Barbosa, Clarisse Morioka, Laura Azevedo, Letícia Takarabe e Nathália Saffioti.

Avaliação da medida do perímetro braquial como metodologia de triagem de crianças pré-escolares obesas

Avaliação Nutricional

ANÁLISE COMPARADA DOS ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS E DESNUTRIÇÃO INFANTIL NA AMÉRICA LATINA E NO BRASIL A

CRITÉRIOS ANTROPOMÉTRICOS NO DIAGNÓSTICO DA DESNUTRIÇÃO EM PROGRAMAS DE ASSISTÊNCIA À CRIANÇA

PROMOÇÃO DA SAÚDE FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM FATIMA DO PIAUÍ.

Estudo Multicêntrico do Consumo Alimentar de Pré-escolares

INDICADORES SOCIAIS (AULA 3 EXTRA)

Avaliação do uso do percentil 10 de peso para idade

DESNUTRIÇÃO RECENTE, CRÔNICA E PREGRESSA EM QUATRO LOCALIDADES DO ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL

Saúde materno-infantil e nutrição de crianças Kaiowá e Guaraní, Área Indígena de Caarapó, Mato Grosso do Sul, Brasil

AVALIAÇÃO DO PERÍMETRO CEFÁLICO DE PRÉ-ESCOLARES DE UM MUNICÍPIO DO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL. 1

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE GESTANTES ATENDIDAS NOS ESF DO MUNICÍPIO DE SÃO LUDGERO NO ANO DE 2007

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E RISCO DE DESNUTRIÇÃO DOS PACIENTES DE 2 A 5 ANOS INTERNADOS EM UM HOSPITAL INFANTIL DE PORTO VELHO-RO

RELAÇÃO ENTRE O NOVO ÍNDICE DE ADIPOSIDADE CORPORAL COM O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL EM CRIANÇAS. Ivair Danziger Araújo

PERFIL NUTRICIONAL DE EDUCANDOS, NA FAIXA ETÁRIA DE 07 A 10 ANOS DE IDADE, DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE ENSINO DA CIDADE DE MARABÁ-PA

AVALIAÇÃO DO PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS MATRICULADAS NAS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO MUNICÍPIO DE SAPUCAIA DO SUL

TÁBUA DE VIDA DA POPULAÇÃO FEMININA DE RIBEIRÃO PRETO, SP (BRASIL), 1973*

ÍNDICE GERAL ÍNDICE GERAL ÍNDICE DE TABELAS ÍNDICE DE FIGURAS LISTA DE ABREVIATURAS RESUMO ABSTRACT VII IX X XI XII

ESTADO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS NA ALDEIA INDÍGENA ALTO RECREIO - RS

DESCRIÇÃO DA DEMANDA POR ATENDIMENTO CLÍNICO NUTRICIONAL EM UMA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA. 1

Efeito dos vieses de sobrevivência nas prevalências da desnutrição em crianças no sexto ano de vida. Brasil PNSN, 1989

Curso: Nutrição. Disciplina: Avaliação Nutricional Professora: Esp. Keilla Cardoso Outubro/2016

MAGREZA E SOBREPESO EM ESCOLARES DE RIO BRANCO, AC, BRASIL UNDERWEIGHT AND OVERWEIGHT IN SCHOOL CHILDREN FROM RIO BRANCO, ACRE STATE, BRAZIL

ESTADO NUTRICIONAL DE ESCOLARES DA REDE PÚBLICA DE GUARAPUAVA, PR. PALAVRAS-CHAVE: crianças; diagnóstico nutricional; obesidade; desnutrição.

Avaliação do estado nutricional da comunidade indígena Parkatêjê, Bom Jesus do Tocantins, Pará, Brasil

SUBSÍDIOS PARA A AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES POR MEIO DE INDICADORES ANTROPOMÉTRICOS

INDICADORES ANTROPOMÉTRICOS E O RISCO DE DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM UM GRUPO DE IDOSOS PRATICANTES DE EXERCÍCIO FÍSICO

Sugestões de leituras

PERFIL ANTROPOMÉTRICO DOS USUÁRIOS DE CENTROS DE CONVIVÊNCIA PARA IDOSOS NO MUNICÍPIO DE NATAL- RN

26 a 29 de novembro de 2013 Campus de Palmas

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO DAS QUEDAS EM CRIANÇAS INTERNADAS EM HOSPITAL PEDIÁTRICO

Estado nutricional de escolares da rede pública e privada em Fortaleza - CE

A AMAMENTAÇÃO PODE PREVENIR A OBESIDADE INFANTIL?

PERFIL NUTRICIONAL E CONSUMO DE AÇÚCAR SIMPLES COMO FATOR DE RISCO NO DESENVOLVIMENTO DE OBESIDADE INFANTIL

CATEGORIAS GRADUAÇÃO IDADE PESO ALTURA ESTILO CATEGORIES GRADES/BELTS AGE WEIGHT HEIGHT STYLE

INDICADORES DE SAÚDE I

DIAGNÓSTICO DA PREVALÊNCIA DA OBESIDADE INFANTIL NO ENSINO FUNDAMENTAL DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE CORNÉLIO PROCÓPIO

5º Simposio de Ensino de Graduação ESTADO NUTRICIONAL E DIETA HABITUAL DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAL PRIVADO

Índice de massa corporal e prevalência de doenças crônicas não transmissíveis em idosos institucionalizados

FIEP BULLETIN - Volume 82 - Special Edition - ARTICLE I (

Transcrição:

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE PRÉ-ESCOLARES DE CLASSE SÓCIO ECONÔMICA MÉDIA E BAIXA DA CIDADE DE MANAUS : ESTUDO COMPARATIVO. Helyde Albuquerque Marinho ( 1 ) Ileana Mourão Kazapi ( 2 ) Maria Helena Alves Fernandes ( 2 ) Marlene Ramos Guedes ( 2 ) RESUMO Estudo antropométrico foi realizado com 216 pré-escolares pertencentes as classes sócio-econômicas baixa e média da cidade de Manaue-AM. O intuito do trabalho foi verificar, por meio de uma análise comparativa, o estado nutricional de crianças pertencentes as famílias destas classes. 0 método antropomètrico utilizado foi a determinação de peso, altura e idade, usando-se a classificação de Gomez, Waterlow & Waterlow com modificação de Batista. Feia classificação de Gomez, as crianças de Manaus pertencentes a classe baixa, apresentaram desnutrição de 1 o grau, sendo (47,5%) do sexo masculino, (48,3%) do sexo feminino e 3,4% do sexo feminino desnutridos de 2 grau. Na classe média (16,0%) das meninas, apresentaram desnutrição de 1 o grau. Utilizando a classificação de Waterlow com a terminologia de Batista, na classe de renda baixa 3,3% dos meninos e 12,5% das meninas apresentaram desnutrição, enquanto que, na classe sócio-econômica média, somente nas meninas (2,17o) encontrou-se desnutrição recente. De acordo com a classificação de Waterlow, na classe sócio-econòmica baixa em 3,2% dos meninos e em 16,1% das meninas foi constatado nanismo e na classe média somente 2,1% das meninas. INTRODUÇÃO A avaliação do estado nutricional de populações é de grande importância na caracterização epidemiologica e sócio-econômica de regiões, para mobilizar a atenção de entidades governamentais e privadas no conhecimento da natureza, severidade e na magnitude da desnutrição. Existem vários métodos para avaliar o estado nutricional, porém os mais utilizados e recomendados pela comunidade científica mundial são os antropomêtricos bioquímicos e clínicos que constituem métodos diretos de avaliação do estado nutricional (Pastor et al., 1965; Habicht, 1980). Dentre os métodos diretos, a antropometria é o que reúne maiores vantagens pelo grande número de informações que oferece para a avaliação epidemiologica do estado nutricional, principalmente de crianças. A simplicidade operacional, baixo custo, sensibilidade, especificidade e confiabilidade fazem da antropometria o método mais empregado e aceito pelos pesquisadores na área de nutrição e Saúde Pública (Keller et al., 1976; Marcondes et al., 1972; OMS, 1980; Monteiro, 1981). 1 2 Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, Manaus- AM. Fundação Universidade do Amazonas - FUA, Manaus - AM. Acta Amazônica, vol. 22 (3): 363-368.1992

As crianças em idade pré-escolar (2 a 6 anos) constituent a principal preocupação, em temos de saúde, dos especialistas era Saúde Pública (VentakaChalan, 1976). É uma faixa etária muito importante na vida do ser humano devido ao processo de maturação biológica, onde o alimento tem papel decisivo no seu desenvolvimento anãtomo-fisiológico, considerando-se que aos 4 anos de idade a criança já possui cerca de 90% da massa cerebral que atingirá no estado adulto. Sabe-se, também, que crianças nesta faixa de idade sofrem em maior escala os efeitos de uma desnutrição energética proteica (DEP) concorrendo para o atraso de crescimento e desenvolvimento. Trabalhos realizados em várias regiões brasileiras destacam a DEP como um dos mais sérios problemas de Saúde Pública (Batista, 1976; Giugliano et al., 1978; Hartman & João, 1978; Lapa, 1975; MOnteiro, 1979; Benício et al., 1981; Albuquerque et al., 1982). Vários estudos realizados em países onde a população apresenta nível sócio-econômico contrastante concluíram que os fatores ambientais, principalmente, saúde e nutrição tem um peso maior do que o fator étnico, no crescimento de crianças menores de 7 anos (Martorell et al., 1975; Graitcer & Gentry, 1981). No estado do Amazonas, a literatura demonstra que são escassas as pesquisas sobre o assunto. Este trabalho tem como objetivo global fazer uma análise comparativa do estado nutricional entre crianças prê-escolares de classe sócio-econômica média e baixa da cidade de Manaus. MATERIAL E MÉTODOS Foram estudados 216 pré-escolares de ambos os sexos com idade variando entre 36 e 86 meses. Destes 99 (45,8%) eram pertencentes a classe de renda média, sendo 50 (50,5%) do sexo masculino e 49 (49,5%) do sexo feminino. As 117 (45,8%) restantes eram pertencentes a classe de renda baixa, sendo 61 (52,11%) do sexo masculino e 56 (47,9%) do sexo feminino. Para obtenção das medidas antropomêtricas foram seguidas as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS, 1980). 0 material utilizado para tomada de peso e altura constou de: balança CMS série 01 387 2060 de procedência Inglesa, com divisões 20,0 g e para tomada de altura, fita métrica inelástica com divisões de 1,0 mm. As crianças foram pesadas e medidas no mínimo duas vezes por duas pessoas diferentes. Quando havia aproximação das medidas dentro de um intervalo de 100,0 g para o peso e 0,50 cm para altura, tirava-se a média aritmética das duas medidas. As medidas que estavam além dos intervalos citados eram repetidas pelas mesmas pessoas até se obter a devida aproximação. Foram usadas as classificações de Waterlow (1976), para os indicadores peso por altura (P/A) e altura por idade (A/I) e a de Gomez (1946), para o indicador peso por idade (P/I), comparando-as com o padrão de referência de 1977 do National Center for Health Statistics (NCHS). Foi também utilizada a classificação de Waterlow & Rutishauser (1977), modificada por Batista (1976), que é baseada em dois indicadores, peso por altura e altura por idade (A/I), onde considera-se: Eutróficas - P/A e a A/I > 90% Desnutrição recente - A/I > 90% e P/A < 90% Oesnutrição pregressa - A/I < 90% e P/A > 90%

Desnutrição crônica - A/1 e P/A < 90% As classes de renda foram determinadas de acordo com a renda familiar mensal, sobre o número de habitantes da casa. MATERIAL E DISCUSSÃO Os resultados por classe sôcio-econômica indicam que as crianças pertencentes à classe sôcio-econômica baixa sofrem mais de desnutrição, quando utiliza-se a classificação de Gomez conforme pode-se visualizar na Tabela 1. Isto torna-se evidente quando comparado com vários trabalhos realizados na Guatemala onde a renda familiar é o principal fator limitante do estado nutricional. Pode-se perceber que as meninas da classe sôcio-econômica baixa sofrem mais de desnutrição, com 48,3% de desnutrição de 1Q grau e 3,4% do 2 grau. Nas meninas de classe sôcio-econômica média não houve a desnutrição de 2δ grau. Percebe-se, também, que 47,5% dos meninos da classe baixa são acometidos de desnutrição de 10 grau enquanto que foi verificado apenas 16,0% nos de classe média, confirmando os resultados encontrados em Bangkok e na Guaterala (Pastor et al., 1965; Bogin & MacVean, 1981). Na Tabela 2 apresentam-se os dados das duas classes sõcio-econôraicas, utilizando a classificação de Waterlow cora a terminologia de Batista. Pode-se notar que as meninas nesta classificação são, também, mais afetadas pela desnutrição, contudo percebe-se um número bem superior de desnutrição na classe baixa sendo 12,5% com desnutrição recente e 16,1% coni desnutrição passada. Quando comparamos estes dados com o estudo realizado na Guatemala e na índia (Pastor et al., 1965; Bogin & MacVean, 1981; Naik, 1981) podemos supor que a desnutrição dessas crianças é por falta de energia, ou seja, pouca quantidade e reparável qualidade, mas para que se confirme seria necessário um inquérito alimentar. Ao analisarmos estas crianças pela classificação de Waterlow unindo os indicadores peso por altura (P/A) e altura por idade (A/I), elas apresentaram-se conforme mostra a Tabela 3. Mais uma vez fica evidente um maior percentual de desnutrição na classe econômica baixa, prevalecendo as meninas com um percentual de 16,1%, contra 2,1% das meninas da classe econômica média. É importante enfatizarmos que todas as classificações possuem suas limitações e que devem Tabela 1. Distribuição percentual dos pré-escolares pela classificação de Gomez, segundo a classe sócio-econômica e sexo. CLASSE BACCA CLASSE MEDIA GRAU EUTRÒFICO f 2* V TOTAL MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO N» % N» % rr I % N" % 32 52.5 27 48.3 42 84.0 40 81.6 2β 47.5 27 48.3 8 1 6.0 9 18.4 2 3.4-61 1000 56 100.0 50 100,0 49 100.0 Avaliação do estado nutricional.. 365

ser bem analisadas. A classificação de Gomez parece-nos que os níveis da dinâmica do estado nutricional não podem ser observados paulatinamente, porém não podem ser subestimados, já que o indicador peso/idade nos fornece uma indicação do 1<> estágio de desnutrição da criança, ou seja a perda de peso. Pela classificação de Waterlow, somos de opinião que o autor deixa um intervalo muito amplo para o indicador peso/altura (80%), fazendo cora que muitas crianças que necessitara de medidas preventivas e diretas para o combate da desnutrição, não as recebam. A classificação de Waterlow cora a terminologia de Batista no nosso entender é a que melhor se aplica devido ao intervalo menor de adequação. Entretanto, somos de opinião que todas as classificações devera ser usadas para avaliação do estado nutricional. Tabela 2. Distribuição percentual dos pré-escolares pela categoria da classificação de Batista, segundo a classe socioeconòmica e sexo. CLASSE BAIXA CLASSE MÉDIA GRAUS MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO N» % N* r * N* % N* I «EUTROFIA 57 03.4 40 71,4 50 100,0 47 86,0 DE SN. RECENTE 2 3,3 7 12.5-1 2.0 OESN. PASSADA 2 3.3 Β 16.1-1 2.0 DESN. CROMICA - - - - - - TOTAL 61 100.0 56 100.0 50 100,0 49 100,0 Tabela 3. Distribuição percentual dos pré-escolares pela classificação de Waterlow, segundo classe socic-econômica e sexo. CLASSE BAIXA CLASSE MéDIA MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO N» % N- % R* % NP % EUTROFIA NANISMO EMACtAÇAO TOTAL 5fl 96.7 47 82,9 50 100.0 48 97,8 2 3.3 9 16,1 - - 1 2,1 61 100.0 56 100.0 50 100.0 49 100.0 CONCLUSÃO 0 exame antropomètrico de um indivíduo em apenas ura único momento parece ser suficiente para detectar, presumíveis processos de desnutrição. Concluiu-se que o alto índice de desnutrição observado nas crianças de classe sócio-econômica baixa, com renda familiar menor que três salários mínimos, indica que os fatores sócio-econôraico influem no crescimento e no estado nutricional. Observa-se, ainda, que mesmo comparadas a padrões internacionais, como o do NCHS, encontramos crianças eutróficas, indicando que em países subdesenvolvidos, podemos encontrar crianças com crescimento igual ao das crianças consideradas padrão.

Deve-se lembrar que não só a renda familiar influi no crescimento, pois nas crianças estudadas pertencentes a classe sócio-econôraica média onde a renda familiar era igual a sete salários mínimos, encontramos casos de desnutrição, indicando que aqui, possivelmente, o fator limitante seja a falta de uma educação nutricional para a família no sentido de orientar quanto a alimentação das crianças. Propostas Tendo era vista que a antroporeetria nos fornece dados relativamente suficientes para o diagnóstico do Estado nutricional da população infantil, as seguintes orientações são propostas: 1. A avaliação do crescimento deve ser o instrumento fundamental da desnutrição, não esquecendo que a anaranese alimentar e exame de sinais clínicos são importantes no sentido de informar a etiologia da deficiência e severidade do quadro. 2. Todas as crianças devera ser pesadas e medidas mensalmente até o le ano de vida, biraensalraente no 2Q ano, trimestralmente no 3«ano e semestralmente nas idades subsequentes. 3. A nível de unidades sanitárias e escolas deveria se informar as mães no sentido de orientá-las quanto alimentação, nutrição e crescimento. SUMMARY An antropometrie study was performed in Manaus-AM, in a sample 216 pre-school children belonging to low and medium socioeconomical classes. The main goal of the study was to compare the nutritional status of this population by weight, height and age, according to the Gomez and Waterlow methods. According to the Gomez method, in the low income class 473% of the male and 4δ>,3% on the females had first degree malnutrition and 3.4% on the females had second degree malnutrition. In the medium income class, 16,0% of the males and 10.4% of the female had first degree malnutrition. According to the Waterlow method modified by Batista, 3.3% of the males and 12.5% of the females had recent malnutrition in the low income class. However, in the medium income class 2.1% of the female had past and recent malnutrition. In the low income class, 3.2% of the males and 16.17» of the females presented stunding and in the medium income class only 2.1% of the females presented stunding. Referências bibliográficas Albuquerque, Ζ.; Shmit, L.; Watanable, R. ; Pereira, V. - 1982. Desnutrição Proteico - Calòrica. Medidas de recuperçào hospitalar do desnutrido grave. J. Ped., 52:1-5. Batista, M. - 1976. Prevalência e estágio de desnutrição proteico - calòrica em crianças da cidade de São Paulo. Tese. Faculdade de Saúde Púbica. Universidade de São Paulo. Baksh, A. C. & Bhandari - 1977. Assessment of Nutritional Status of Pre-School Children in Bhopal. Indiant Pediatrics, 14:615-623. Benicio, Μ. Η. ; Monteiro, C. Α.; Pontieri, Μ. J. ; Gandra, Y. R.; Lima, F. D. - 1981. Avaliação Antropomètrica da Eficácia da Suplementaçào Alimentar dos Centros de Educação e Alimentação do Pré-escolar. Rev. Saúde Pubi. S. Paulo (supl.), 15:1-40. Avaliação do estado nutricional. 367

Bogin, Β. & MacVean, R. Β. - 1981. Body Composition and Nutritional Status of Urban Guatemalan children of High and low socioeconomic class. Amei Jour Physical Antrop., 55:543-551. FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE/UNICEF - 1982. Perfil Estatístico de crianças e mães no Brasil: Aspectos Nutricionais. Fundação IBGE. Rio de Janeiro. Giugliano, R. ; Shrimpton, R. ; Arkcoll, D. ; Giugliano, L. ; Petrere, M. - 1978. Diagnóstico da realidade alimentar e nutricional do Estado do Amazonas 1978. Acta Amazônica, 8 (Suplemento 2): Graitcer, P.; Gentry, Ε. Μ. - 1981. Meassuring children: One reference for all. Lancet - 11:297-299. Gomez, F. - 1946. Desnutrido. Boi. Méd. Hosp. Inf. México, 3:543-551. Habicht, J. P. - 1980. Some characteristics of indicators of nutritional status for use in screening and surveillance. Am. J. Clin. Nutr., 33:531-535. Hartman, A. F. & João, W. S. J. - 1978. Desnutrição protéico-calórica na região centro Amazônica. Relatório preliminar da prevalência e fatores demográficos. J. Ped., 323:1-32. Keller, W. G. ; Donoso, F. ; De Mayer, F. - 1976. Anthropometry in nutricional surveillance: A Review Based, on Results of the WHO Colaborative Study on Nutritional Anthropometry, Nutrition Abstracts Reviewe, 46:591-609. Lapa, Μ. A. G. - 1975. Inquérito antropomètrico em duas cidades do interior de Pernambuco. Dissertação de Mestrado. Inst. Nutr. - UFPE. Marcondes, E.; Berquó, E. S.; Yunes, J.; Martins, J. S.; Zacchi, Μ. Α.; Levy, Μ. S. F.; Heggi, R. - 1972. Estudo antropomètrico de crianças brasileiras de zero a doze anos de idade. Anais Nestlé: 1-84. Martorell, R. ; Habicht, J. P.; Yarbrogh, C; Lechtiga Klein, R. E.; Western, K. A. - 1975. Acute morbidity and physical growth in rural Guatemalan children. J. Dis Child, 129(11):1296-1301. Monteiro, C. A. - 1979. As determinantes da Desnutrição Infantil no Vale do Ribeira. Cadernos de Pesquisa Fundação Carlos Chagas, 29:57-75. Naik, P. A. - 1981. Anthropometric Profile of the Pré-School Children of Peinjab. Indian Pediatrics, 13:919-927. NATIONAL CENTER FOR HEALTH STATISCS - NCHS - 1977. Growth Curves for Children. Vital and Health Statistics. series 11, n. 165. DHEW. pub. N. (PHS) 78-1650, Health Resources Administration. Washington, U. S. Governament Printing Office. OMS - 1980. Guia para la Medicina del Efector Nutricional de Programas de Suplementação Alimentaria a Groupos Vulnerables. OMS. Documento WHO/FAP/ 79.1. OMS, Genebra. Pastor, J. Α.; Arroyave, G.; Flores, Μ.; Guzman, Μ. G.; Martorrell, R. - 1965. Indicadores Mínimos del Estado Nutricional, Educación Nutricional. Série de Nutricional, em Salud Publica, n 7. Ventakachalan, P. S. - 1976. Nutritional Nuances of the Term Preschool Child and the Need for Precise Definition: In: Perfil estatístico de crianças e mães no Brasil. Aspectos Nutricionais 1974-5. IBGE, 1982. Waterlow, J. C. - 1976. Classification and Definition of Protein Energy Malnutrition. Annex 5 in: Beaton, G & Bengoa, J. M. (eds.). Nutrition in Preventive Medicine. WHO Monograph, n 62, 550-555. Geneva. Waterlow, J. C. & Rutishauser, I. H. E. - 1977. The Presentation and Use of Heigth and Weigth Data for Comparing the Nutritional Status of Groups of children under the age of 10 years. Bull World Health Organ., 55:489-498. (Aceito para publicação em 02.01.1991)