ESTADO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS DE 9 A 10 ANOS DE UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA DO MUNICÍPIO DE MACAPÁ, AP.

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1 ESTADO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS DE 9 A 10 ANOS DE UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA DO MUNICÍPIO DE MACAPÁ, AP. Célio Roberto Santos de Souza Mestrando em Ciência da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco RJ Prof. do Centro de Ensino Superior do Amapá AP prof_celiosouza@oi.com.br Ricardo Figueiredo Pinto Prof. Doutor da Universidade do Estado do Pará Titular do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana Universidade Castelo Branco Brasil rfptcc@yahoo.com.br RESUMO As comunidades quilombolas, formadas atualmente por descendentes de escravos vindos da áfrica para na construção da Fortaleza de São José de Macapá, estão social e fisicamente isoladas do restante da cidade de Macapá. Esse isolamento que já serviu de proteção, hoje dificulta o acesso aos serviços públicos muitas vezes essenciais à saúde. Assim este artigo objetiva levantar dados preliminares do estado nutricional, através da antropometria, de crianças de 9 a 10 anos, moradoras da comunidade do Curiaú. Para isso utilizamos à pesquisa de campo caracterizada como descritiva dentro de uma abordagem quantitativa. Para a análise dos resultados utilizamos à estatística descritiva. Como resultado da pesquisa, encontramos um percentual de 50% dos alunos dentro do limite de normalidade, porém observamos que o dado mais relevante dessa pesquisa é o percentual de 37,5% das crianças desnutrição pregressa. PALAVRAS-CHAVES: Quilombolas, Crianças, Desnutrição e Obesidade.

2 INTRODUÇÃO A luta pela igualdade faz parte da história da humanidade e de muitos brasileiros, em diferentes espaços e momentos da vida. Os negros trazidos ao Estado do Amapá, na maioria para construção do Forte de São José não se conformavam em ser tratados com tantos castigos e desprezo e logo começaram a fugir e se organizar em quilombos. Mesmo depois da abolição, desprovidos de qualquer patrimônio, vivendo na mais absoluta miséria, os negros recusaram-se a conviver num mesmo espaço com aqueles que os considerava inferiores e não os respeitava na sua humanidade. Além disso, ainda tiveram que enfrentar as resistências e os preconceitos de uma sociedade o qual desprezava. Assim o quilombo se tornou o símbolo da luta pela sobrevivência, que garantiu aos descendentes de escravos, o convívio com a coletividade, a ancestralidade, mas também o isolamento, a exclusão. A conscientização da realidade vivida pelas comunidades quilombolas, através de pesquisas cientificas pode auxiliar no diagnóstico, na investigação que possibilite o reconhecimento de possíveis problemas na composição corporal, que podem afetar a saúde dessa população, podendo ainda levar tais conhecimentos a debates e propor políticas de mudanças e de lutas contra a desigualdade vivida por esta população. Daí a relevância em se levantar dados referentes à composição corporal de crianças das comunidades remanescentes quilombolas, mesmo porque tais variáveis, não podem ser analisados apenas de um só ponto de vista, porque as sociedades sofrem muitas mudanças, envolvendo muitos aspectos peculiares como os costumes, os hábitos alimentares, diminuição da atividade física, aumento do sedentarismo, stress, desnutrição, contaminação ambiental, tais mudanças constituem problemas crescentes e atemorizantes, que afetam a saúde da população em geral, e principalmente das crianças em idade escolar. Assim o presente estudo piloto pretende mostrar dados preliminares do estado nutricional de crianças entre 9 a 10 anos moradoras de comunidades quilombolas.

3 REFERENCIAL TEÓRICO O estudo do estado nutricional de uma comunidade peculiar tem grande relevância, pois como sugere Guedes e Guedes (1997) cada população, com suas particularidades e especificidades deve produzir seus próprios indicadores referenciais, para estudo de seu estado nutricional. O estudo da antropometria (WHO, 1995), mesmo quando restrito ao peso e estatura, constitui-se em importante método de diagnóstico, fornecendo estimativas da prevalência e gravidade das alterações nutricionais em crianças. Isto se deve à sua facilidade de realização, objetividade da medida e possibilidade de comparação com um padrão de referência de manuseio relativamente simples (WHO, 1995; DOUEK, 1995). Essas alterações nutricionais podem apontar tanto a obesidade quanto a desnutrição, que estão relacionados a vários fatores que podem provocar doenças graves. Diferentes estudos evidenciam que crianças e adolescentes estão acumulando mais gordura do que crianças de gerações passadas (GUEDES, 1994; LOHMAN, 1992). A vida moderna (OLIVEIRA et al 1999.) que tem aumento o acesso às novas tecnologias eletrônicas, ao aumento do consumo de comidas industrializadas e à redução dos espaços de lazer das crianças, contribuído imensamente ao sedentarismo e conseqüentemente no acumulo de gordura. Em diversos estudos tem se evidenciado que crianças e adolescentes acima do peso, geralmente tornam-se adultos obesos (GUEDES E GUEDES, 1988; MONTEIRO 1999, OLIVEIRA 2000). Doenças como diabetes melitus tipo II e hipertensão sistêmica (SILVA E REGO 2000), que há pouco tempo atrás somente eram observados em adultos e idosos agora afetam também as crianças. No que diz respeito à desnutrição tem influência direta sobre o crescimento e desenvolvimento de uma criança. Isto porque, a desnutrição é descrita como sendo uma doença de carência, evolutiva e crônica que é afetada especificamente pela nutrição. A baixa ingestão protéica calórica pode provocar desaceleração (casos leves), interrupção (casos moderados) ou invocação (casos graves) da evolução normal do indivíduo (ONIS, 1998). Como nos mostram Batista Filho e Rissin (2003), há um processo de mudança no paradigma brasileiro em relação ao estado nutricional, a desnutrição, por escassez de alimento vem perdendo espaço para a crescente obesidade em todas as faixas econômicas, apesar na desnutrição ainda afetar principalmente as famílias mais pobres.

4 Essas famílias estão mais expostas a problemas nutricionais (Mello et al 2004) por suas condições sócio-econômicas (condições de miséria) com inadequada ou desequilibrada alimentação, poucos espaços de lazer e o aumento da violência nas ruas, falta de oportunidades. Para a determinação do estado nutricional a referência mais freqüentemente utilizada é a do National Center for Health Statistics (NCHS, 1978), adotado pela World Health Organization (WHO, 1995) e cujos critérios foram por Warterlow (1977) onde com os valores de idade, peso e estatura, são utilizados no cálculo das relações Estatura/Idade (E/I), Peso/ Estatura (P/E), cuja classificação é feita da seguinte forma: a) Desnutrição atual (P/E < 90%; E/I > 95%); b) Desnutrição pregressa: (P/E > 90%; E/I < ou = 95%); c) Desnutrição crônica (P/E < ou = 90%; E/I < ou = 95%); d) Eutrofia (P/E > 90% < 110%; E/I > 95%); e) Sobrepeso (P/E > 110% < 120%); f) Obeso (P/E > ou = 120% e < 140%); h) Grande Obeso (P/E > ou = 140%). Uma vez que o crescimento é mais lento e constante, em pré-escolares e escolares, fazendo com que o peso varie mais em função da estatura do que da idade. Assim nesta fase, os agravos nutricionais serão melhores avaliados pela relação E/I, seguida do P/E.

5 METODOLOGIA O presente artigo é um estudo piloto, feito por uma pesquisa do tipo descritiva de corte transversal. A amostra foi composta por 16 crianças de idade entre 9 a 10 anos e pertencentes à comunidade do Curiaú, sendo 5 do sexo feminino e 11 do sexo masculino. Os critérios adotados para a escolha dos sujeitos da amostra foram: crianças que até o dia da avaliação ainda não haviam completado 11 anos de idade e crianças nascidas e criadas na comunidade (dados fornecidos pela escola). A avaliação ocorreu entre no dias 09 e 11 de março de 2007, na Escola Estadual José Bonifácio, escolha das escolas se deve à facilidade de instalação e armazenamento dos instrumentos utilizados para a medição, bem como o acesso atribuído pela Direção das escolas para a operacionalização da pesquisa. A quantidade de alunos mensurados na escola foi de 10% do universo da escola e os participantes da amostra foram escolhidos de forma aleatória. Na avaliação foram registrados os seguintes dados: nome completo data de nascimento, sexo, altura e peso de cada aluno. A medida do peso corporal foi feita com a utilização da balança digital marca Lumina Plena, com precisão em 100 gramas. Os avaliados foram pesados com roupa inferior, camisa e short. A altura foi medida com a utilização do estadiômetro com precisão de 0,1 cm. Desta forma, o aluno ficava em posição ortoestática, para não influenciar no resultado da sua altura. Para a avaliação do estado nutricional das crianças foram classificadas de acordo com a adequação estatura/idade (E/I) e peso/estatura (P/E), onde se utilizou do programa de Avaliação do Estado Nutricional em Pediatria (PED), o qual tem como referência para seus cálculos os critérios de Waterlow (1977), empregando como padrão de referência por NCHS (National Center Health Statistics). O tratamento estatístico foi composto por análise descritiva, objetivando obter o perfil do conjunto de dados, através de medidas de localização (Média), dispersão (Desvio-padrão e Coeficiente de variação).

6 DISCUSSÃO E RESULTADOS Das crianças avaliadas encontramos uma média de adequação para o percentil 50 de 95,94% em relação ao E/I e 100% em relação ao P/E e com um desvio padrão de + - 5,79 para o E/I e + - 6,55 para o P/E (Tabela n. 1). Tabela n. 1 Estatística Descritiva da Amostra Geral Geral E/I P/E DP + - 5, ,55 Média 95,94 100,00 Diversos estudos (WHO) indicam que avaliações longitudinais são mais adequadas do que as transversais para avaliar o aumento da estatura das crianças, porém, no âmbito de estudos epidemiológicos da condição nutricional de uma população, o acompanhamento muitas vezes se faz impraticável. Embora a comparação entre estudos sobre os problemas nutricionais que utilizam avaliações antropométricas seja difícil, devido aos diferentes indicadores e pontos de corte para idades utilizadas, ela não é inviável desde que seja realizada de maneira criteriosa. Desta forma, podemos verificar que em uma visão geral, segundo os dados apresentados na tabela 1, as crianças avaliadas estão em sua maioria dentro da normalidade. A Tabela 2 apresenta o perfil da amostra por sexo e idade. Nota-se certa homogeneidade nas distribuições por idade e maior participação de crianças do sexo masculino. Tabela n. 2 Estatística Descritiva da Amostra dos Sexos por Idade Idade Masculino Feminino Total N % N % N % , , % , , % TOTAL 11 73, , % A maior participação das crianças do sexo masculino no estudo se deu por uma particularidade do universo da amostra, na escola foi observado que cerca de 70% das crianças eram do sexo masculino. Na Tabela 3 é mostrada o estado nutricional das crianças de ambos os sexos, por idade. Em relação aos DESNUTRIDOS PREGRESSOS, chama atenção proporções de 37,5 para a idade de 9 anos e 42,9 para 10 anos. Quanto EUTRÓFICO observa-se maior proporção aos 9 anos (62,5 %).

7 Tabela n. 3 Estatística Descritiva da Amostra do Estado Nutricional por Idade Idade Sobrepeso Eutrófico ,3 TOTAL 1 6,7 Desnutrição Pregresso Total N % N % N % N % ,5 42,9 53,3 3 37,5 3 42, Os dados da tabela acima nos mostram que nas crianças de 10 anos 67,2 tem algum problema nutricional (42,9 com desnutrição e 14,3 com sobrepeso). Desta forma mais expostas há algum problema de saúde provocado pelo excesso ou pelo déficit de peso (Organização Pan-Americana da Saúde ). Na Tabela 4, é mostrado o estado nutricional das crianças de ambas as idades, por sexo. Em relação aos DESNUTRIDOS PREGRESSOS, observa-se que todos são do sexo masculino. Quanto EUTRÓFICO observa-se mesma proporção entre os sexos. Tabela n. 4 Estatística Descritiva da Amostra do Estado Nutricional por Sexo Desnutrição Total Sexo Sobrepeso Eutrófico Pregresso N % N % N % N % Mas 1 9,1 4 36,4 6 54, % Fim , % Total 1 6,7 8 53, % Comparando esses resultados entre si, evidencia-se que as crianças demonstraram maior tendência percentual eutrófico no sexo feminino, quando comparadas com as crianças do sexo masculino. Comparando aos estudos de Ribas et al. (1999), o qual não encontrou associação entre o sexo e os problemas nutricionais. Verificaremos que não há concordância neste aspecto entre os estudos. No entanto há estudos que evidenciam problemas da composição corporal no sexo masculino (Farias e Souza, 2005).

8 No gráficos abaixo, é mostrada o estado nutricional das crianças ambas as idades e sexo. E podemos observar que a maior parte encontra-se na classificação EUTRÓFICO (50%), seguido de DESNUTRIDO PREGRESSO (37,5%). Gráfico - Estatística Descritiva da Amostra por Estado Nutricional Estado Nutricional Eutrófico Sobrepeso Desnutrido Pregresso 37,50% 50% 11,50%

9 CONCLUSÃO Com base nos resultados obtidos neste estudo, pode-se considerar que: a) A maior parte das crianças pesquisadas (50%) se encontrava classificadas com eutróficas. b) Há altos índices desnutridos pregressos (37,5%) na amostra, principalmente no que se refere aos meninos. Onde todos (100%) assim classificados eram do sexo masculino de ambas as idades. Este resultado pode ser reflexo da situação de isolamento sócio-econômico desta comunidade. A falta de políticas públicas para populações carentes, com programas de prevenção às doenças, sobrecarregar dois sistemas públicos. O da saúde pelo aumenta as consultas médicas, internações e cirurgias. E o econômico, pois os procedimentos assistenciais de saúde são muitos mais custosos que os preventivos. Além disso, o assistencial é mais sofrido ao paciente e sua família que o preventivo. Diante desses dados preliminares e ocupantes encontrados, faz-se necessário, outras pesquisas para verificação da abrangência do problema diagnosticado. Assim poderão nortear medidas preventivas com equipes multidisciplinares, formada por profissionais de Educação Física, Médicos, Nutricionistas, familiares, enfim, por todo um grupo que trabalhe no intuito de contribuir para a melhoria da saúde da nossa população. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Douek, P.C; Leone, C. Estado nutricional de lactentes: comparação de três classificações antropométricas. Jornal Pediatria, Rio Janeiro, n.71, , Farias, Edson: Souza O.F. Adiposidade corporal e estado nutricional em aldeias indígenas da tribo Kaxinawa no sudoeste da Amazônia, estado do Acre, Brasil. Rev Bras Cineantropometria e Desempenho Humano, V.5, n.2, p.36-46, Guedes, Dartagnan Pinto. Crescimento, composição corporal e desempenho motor em crianças e adolescentes do município de Londrina (PR), Brasil Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo: SP. Guedes, Dartagnan Pinto; Guedes, Joana Elizabete Ribeiro Pinto. Crescimento, composição corporal e desempenho motor de crianças e adolescentes. São Paulo: Editora CLR Balieiro.1997.

10 Guedes, Dartagnan Pinto; Guedes, Joana Elizabete Ribeiro Pinto. Controle do peso corporal: composição corporal, atividade física e nutrição. Londrina. PR: Editora Midiograf Lohman, T. G. Advances in Body Composition Assessment: Current Issues in Exercise Science. Human Kinetics Publishers, Illinois, Champaign. 3, Mello, Elza D. de; Luft, Vivian C; Meyer, Flavia. Obesidade infantil: como podemos ser eficazes? Jornal da Pediatria. Porto Alegre, v.80, n.3, p , maio/ jun Monteiro, C. A. Evolução do perfil nutricional da população brasileira. Saúde Em Foco, ano VIII, n. 18, Julho, Batista Filho, M.; Rissin, Anete. A transição nutricional no Brasil: tendências regionais e temporais, Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, n.19 (Sup. 1):S181- S191, National Center for Health Statistic. Growth Curves for Children Birth - 18 years. Washington DC: United States Department of Health Education and Welfare Vital and Health Statistics. DNEW publ., (PHS), 1978, série 11, 105 p. Ribas, D. L. B. et al.. Saúde e Estado Nutricional Infantil de uma População da Região Centro-Oeste do Brasil. Revista de Saúde Pública. São Paulo. 33(4): , WORLD HEALTH ORGANIZATION. Expert Committee on Physical Status: the use and interpretation of anthropometry phisical status. Technical Report Series. Geneva, vol 854, ONIS, M. et al. Estimativa da Prevalência de déficit de altura/idade e a partir da prevalência de déficit de peso/idade em crianças brasileiras. Revista de Saúde Pública, São Paulo. N.32, V.4, p. 321,1998.

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