DIVERSIDADE POLÍNICA COLETADA POR TETRAGONISCA ANGUSTULA LATRIELLE (HYMENOPTERA) EM ÁREA URBANA DE ALEGRE, ES.

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Transcrição:

DIVERSIDADE POLÍNICA COLETADA POR TETRAGONISCA ANGUSTULA LATRIELLE (HYMENOPTERA) EM ÁREA URBANA DE ALEGRE, ES. Filipe Torres Leite¹, Cristiana Torres Leite¹, Luce li de Souza 2, Tatiana Tavares Carrijo 2 1 Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias, Alto Universitário s.n., Guararema, Cx. Postal 16, CEP 29500-000, Alegre, ES, filipetorresleite@gmail.com 2 Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Biologia, Alto Universitário s.n., Guararema, Cx. Postal 16, CEP 29500-000, Alegre, ES, luceli.souza@ufes.br Resumo - O fluxo gênico entre as espécies de plantas se deve a polinização, que consiste no transporte dos grãos de pólen de uma flor para outra. Tal atividade é realizada predominantemente por abelhas, tornando-as a chave para a manutenção dos ecossistemas. Neste trabalho, objetivou-se identificar os tipos polínicos coletados por Tetragonisca angustula em área urbana do município de Alegre-ES. No estado do Espírito Santo, esse tipo de estudo é escasso, razão pela qual a análise da dieta de T. angustula fornecerá informações de extrema importância. As coletas foram realizadas durante três meses. Para identificação dos pólens foi utilizada a técnica de acetólise e montagem de lâminas, que foram observadas em microscópio óptico, fotografados e identificados com o auxílio de glossários. Foram identificados doze tipos polínicos pertencentes a oito famílias botânicas. Asteraceae, Fabaceae e Poaceae foram as mais representativas neste estudo. Com o conhecimento dos tipos polínicos foi possível obter informações que permitirão a elaboração de inventários da flora e fauna apícolas, e planos de manejo de espécies de plantas nativas e ornamentais em ambientes urbanos. Palavras-chave: Abelhas nativas, ambiente urbano, tipos polínicos. Área do Conhecimento: Ecologia. Introdução Ecossistema pode ser definido como o conjunto de organismos, incluindo seus ambientes físicos e químicos (RICKLEFS, 2011). Os benefícios diretos e indiretos obtidos pelo homem a partir dos ecossistemas são os chamados serviços ecossistêmicos. Dentre eles pode-se citar a formação do solo, regulação climática, provisão de alimentos e polinização (CONSTANZA et al. 1997; DAILY, 1997; DE GROOT et al., 2002; MA, 2003). A polinização consiste no transporte dos grãos de pólen de uma flor para outra, resultando no processo pelo qual ocorre fluxo gênico entre as espécies de plantas (MALERBO-SOUZA, 2008). Tal atividade é realizada por agentes bióticos (animais) e abióticos (água e vento). Quando realizadas por animais, as abelhas apresentam destacada importância, constituindo a chave para a manutenção dos ecossistemas (LAURINO, M. C., 2011). As abelhas sem ferrão ou nativas são conhecidas por apresentarem o ferrão atrofiado (SALVADOR et al., 2008). A espécie Tetragonisca angustula é a mais popular dessas abelhas, com distribuição em toda a América Latina (KLEINERT et al., 2009). Em função do desmatamento ocorrido na região de Mata Atlântica onde está inserido o estado do Espírito Santo, as abelhas nativas representam um grupo de Hymenoptera bastante ameaçado (SILVEIRA, MELO e ALMEIDA, 2002), pois com o desmatamento o número de árvores de grande e médio porte diminui, com isso menos árvores ocas estarão disponíveis para a nidificação das colônias de abelhas nativas. Sem local para nidificar, as abelhas têm colonizado áreas urbanas onde são encontradas nidificando em troncos de árvores e em muros. De acordo com Maia (2004) (apud Souza, Evangelista-Rodrigues e Pinto, 2007) outros fatores que levam à diminuição das abelhas nativas são a destruição das colônias na retirada do mel e a menor quantidade de plantas em floração em várias épocas do ano que diminui a quantidade de alimento, prejudicando o desenvolvimento das colônias. A atividade de forrageio nas flores e o processamento do alimento pelas abelhas influenciam diretamente na vida social da colônia. Em relação à dieta, esses animais possuem como fonte primária de proteína, o pólen e de carboidrato o néctar, embora haja exceções. A identificação da dieta de abelhas não é só importante para a elaboração de calendários apícolas, mas também com relação às plantas, para a identificação de quais abelhas têm maior 1

potencial de polinizar determinadas espécies vegetais (KLEINERT et al., 2009). Estudos florísticos e fenológicos de plantas ornamentais arbóreas e arbustivas realizados em São Paulo por Agostini e Sazima (2003), mostraram que a jataí (T. angustula) é uma espécie generalista, que visita flores de maior quantidade de espécies de plantas. Estas informações são úteis para criação de planos de manejo em áreas urbanas visando à utilização de plantas ornamentais adequadas para atender maior diversidade de abelhas (SOUZA, EVANGELISTA-RODRIGUES e PINTO, 2007), já que a utilização de espécies nativas em ruas, avenidas, parques e praças públicas, torna-se cada vez menos comum, onde o plantio de espécies exóticas foi um dos fatores responsáveis pela extinção de muitas espécies de aves nas cidades (LORENZI, 1998), e de acordo com Agostini e Sazima (2003), a diversidade de abelhas em áreas urbanas também pode estar sendo afetada. No Brasil os estudos de abelhas em áreas urbanas são escassos e principalmente em relação aos recursos florais utilizados por estes insetos nestes ambientes (KNOLL, BEGO e IMPERATRIZ- FONSECA, 1994). No estado do Espírito Santo, esse tipo de estudo é ainda mais escasso, por este motivo a análise da dieta de T. angustula fornecerá informações de extrema importância para criação de projetos de manejo para áreas urbanas, elaboração de calendários apícolas e em relação à ecologia da polinização de determinadas espécies vegetais. O objetivo deste trabalho foi identificar os tipos polínicos coletados por Tetragonisca angustula em área urbana do município de Alegre - ES, fornecendo assim subsídios para projetos paisagísticos e de reflorestamento, favorecendo a manutenção desta espécie de abelha nativa em área urbana. Metodologia A colônia de Tetragonisca angustula está localizada na área central do município de Alegre, Espírito Santo, especificamente no muro da Delegacia de Polícia do município. Foram feitas coletas mensais durante três meses nas quais foram coletados 10 indivíduos que chegavam do forrageio carregadas de pólen; as coletas foram realizadas entre 10:00 e 16 horas com o auxílio de rede entomológica com diâmetro de 15 cm. As abelhas coletadas foram levadas ao laboratório para a retirada das cargas polínicas das corbículas, com o auxílio de pinças. Em seguida as pelotas de pólen foram armazenadas em ácido acético para que posteriormente fosse realizada a técnica de acetólise. Com este processo o conteúdo celular e a membrana interna (intina) são destruídos e a membrana externa (exina) fica transparente, permitindo a visualização das características morfológicas do grão de pólen que permitem a identificação do tipo polínico (SALGADO-LABOURIAU, 1973). Para a realização da técnica de acetólise segundo Erdtman (1952) com modificações de Melhem et al. (2003), foi preparada uma mistura de 4,5 ml de anidrido acético e 0,5 ml de ácido sulfúrico. 1 ml desta mistura foi adicionada ao tubo de centrífuga graduado que continha 1 ml de ácido acético com os grãos de pólen. Os tubos preparados foram levados ao banhomaria com temperatura de aproximadamente 90ºC por dois minutos. Em seguida os grãos foram centrifugados por 10 minutos a 2000 rpm, o sobrenadante foi eliminado e acrescentou-se 1 ml de água destilada, novamente os tubos foram centrifugados nas mesmas condições anteriores. Foi eliminado mais uma vez o sobrenadante e adicionou-se 1 ml de água destilada mais glicerina (na proporção de 1:1 - Água Glicerinada ), após adicionar a água glicerinada é necessário aguardar de 30 minutos a 24 horas e para finalizar, os grãos são centrifugados novamente por 10 minutos na mesma rotação. Segundo Kraus e Arduin (1997) para a preparação da gelatina glicerinada de Kaiser, foram dissolvidos 7,5g de gelatina incolor em 45,5mL de água destilada aquecida a 35ºC, em seguida acrescentou-se 53mL de glicerina. 1g de fenol foi misturado a 10 gotas de água e acrescentados a mistura aquecida. A solução foi agitada para evitar possíveis precipitados formados pelo fenol. A mistura final de aproximadamente 100mL foi armazenada em geladeira para adquirir consistência. Com o auxílio de um estilete esterilizado foi retirada uma pequena porção da gelatina, que foi tocada no material (grãos de pólen) presente na parede do tubo, de modo que parte do material ficasse presa à gelatina. Esse conjunto foi colocado em uma lâmina de microscópio. Em seguida a lâmina foi levada a uma chapa aquecedora para o derretimento da gelatina, após o resfriamento do material uma lamínula foi colocada delicadamente sobre o material. Novamente a lâmina foi colocada sobre a placa aquecedora e aplicado parafina derretida em duas extremidades da lamínula, que rapidamente penetra no espaço entre a lâmina e a lamínula. As lâminas foram viradas sobre papel de filtro com a lamínula para baixo, com isso os grãos de pólen depositam-se junto à lamínula, facilitando a sua observação. 2

Os grãos de pólen foram observados em microscópio eletrônico com aumento de 400X, em seguida foram fotografados e classificados em tipos polínicos de acordo com sua morfologia, mediante comparação com Salgado-Labouriau (1973), Pirani e Cortopassi-Laurino (1994), Melhem et al. (2003), Roubick e Moreno (2003) e pelo Banco de Imagens de Pólens de Plantas Apícolas do Laboratório de Insetos Úteis, Entomologia, ESALQ-USP. Resultados Na análise das lâminas de pólens coletados por Tetragonisca angustula foram identificados 12 tipos polínicos (Figura 1) pertencentes a 8 famílias botânicas (Tabela 1). No mês de abril a família Poacea, representada pelo tipo polínico Triticum, foi a mais observada em relação à Combretaceae e Fabaceae. Em maio o tipo polínico Bacharis representante da família Asteraceae e o tipo Leucaena da família Fabaceae ocorreram em maiores proporções comparados às demais famílias. O mês de junho teve como maior representante o tipo polínico Bacharis, da família Asteraceae. Tabela 1- Análise das cargas polínicas de Tetragonisca agustula em uma colônia localizada na área urbana do município de Alegre, ES. Mês Família Tipo Polínico Combretaceae Terminalia catappa Abril Fabaceae Mimosa Poaceae Triticum Asteraceae Bombacaceae Bacharis Pachira aquatica Maio Convolvulaceae Merreria Euphorbiaceae Croton Fabaceae Leucaena Poaceae Tipo 1 e 2 Junho Asteraceae Bacharis e Vernonia Malvaceae Wissadula Figura 1. Tipos polínicos encontrados na dieta de Tetragonisca angustula. a 1. Tipo Triticum (Poaceae) em vista equatorial. a 2. Tipo Triticum (Poaceae) em vista polar. b. Tipo Terminalia catappa (Combretaceae). c. Tipo Croton (Euphorbiaceae). d. Tipo Mimosa (Fabaceae). e. Tipo Pachira aquatica (Bombacaceae). f. Tipo Merreria (Convolvulaceae). g. Tipo Leucaena ( Fabaceae). h. Tipo Bacharis (Asteraceae). i. Tipo Poaceae 1 (Poaceae). j. Tipo Poaceae 2 (Poaceae). k. Tipo Vernonia (Asteraceae). l. Tipo Wissaluda (Malvaceae). Discussão Das oito famílias identificadas no presente estudo, cinco foram encontradas por Braga et al. (2009), em área de Mata Atlântica. Duas destas famílias - Bombacaceae e Combretaceae - não haviam sido citadas como fonte de alimentação pela abelha jataí nos trabalhos realizados por Iwama e Melhem (1979), Carvalho e Marchini (1999), Simioni et al. (2007) e Morgado et al. (2011). Em estudos anteriores relacionados à análise polínica de T. angustula, as famílias Asteraceae, Fabaceae, Poaceae e Euphorbiaceae foram relatadas por Iwama e Melhem (1979), Carvalho e Marchini (1999) e Morgado et al. (2011). Segundo Simioni et al. (2007), as famílias mais representativas na dieta de jataí foram Fabaceae, Asteraceae e Palmae. Porém no presente estudo a família Palmae não ocorreu em nenhum mês, talvez pela baixa quantidade de indivíduos pertencentes a esta família botânica em área urbana do município de Alegre, ES. As outras duas famílias (Fabaceae e Asteraceae) ocorreram em dois dos três meses em que foram feitas as análises, demonstrando a importância destas famílias botânicas na dieta de jataí. 3

Braga et al. (2009) observaram que as famílias Ulmaceae e Meliaceae foram as que mais ocorreram na análise das cargas polínicas de T. angustula. Já no estudo de Feiden (1994) a família Myrtaceae apareceu como fonte principal de pólen nos dois locais onde foram conduzidos os estudos. Essas famílias botânicas não foram encontradas neste estudo em Alegre, pois em áreas urbanas, a composição florística é mais seletiva do que em ambiente natural. Para Simioni et al. (2007) a jataí se mostrou um espécie seletiva já que coletou apenas 43 espécies vegetais em uma área onde os recursos alimentares eram bem mais elevados que este valor. Mas por apresentar hábitos alimentares flexíveis esta espécie de abelha nativa é considerada por alguns autores generalista, sendo assim, capaz de explorar diversos recursos disponíveis (FEIDEN, 2007, IMPERATRIZ- FONSECA, 1984 e CORTOPASSI-LAURINO, 1982). De acordo com Imperatriz-Fonseca (1984) este sucesso está relacionado à alta capacidade que a jataí tem de explorar o ambiente em que vive de forma eficaz, mostrando que estes indivíduos coletam em diversos tipos vegetais, como espécies arbóreas, herbáceas de mata ou até mesmo plantas de jardim. Conclusão O conhecimento dos tipos polínicos encontrados neste estudo ressalta a importância destas famílias botânicas na dieta da abelha nativa Tetragonisca angustula (jataí) em ambiente urbano, podendo ser indicadas em futuros planos de manejo em ambientes antrópicos, trazendo benefícios para o homem e o ecossistema de modo geral. Referências - AGOSTINI, K., SAZIMA, M. Plantas ornamentais e seus recursos para abelhas no Campus da Universidade Estadual de Campinas, Estado de São Paulo, Brasil. Bragantia. 2003. - Banco de Imagens de Pólens de Plantas Apícolas do Laboratório de Insetos Úteis, Entomologia, ESALQ-USP. Disponível em: < http://www.lea.esalq.usp.br/polen/>. Acessado em: 13 ago. 2012. - BRAGA, J. A., SOARES-NETO, J. SALES, E.O.; CONDE, M. M. S.; BARTH, O. M.; LORENZON, M.C.A. Plantas de destaque na dieta de Tetragonisca angustula (Hymenoptera: Meliponina) em diferentes fragmentos de Mata Atlântica. In: Rev. Bras. de Agroecologia/nov. Vol. 4 No. 2. 2009. - CARVALHO, C. A. L. de; MARCHINI, L. C. Tipos polínicos coletados por Nannotrigona testaceicornis e Tetragonisca angustula (Hymenoptera, Apidae, Meliponinae). Scientia Agricola. vol. 56 n. 3 Piracicaba. July 1999. - CONSTANZA, R., D ARGE, R., DE GROOT, R.S., FARBER, S., GRASSO, M., HANNON, B., LIMBURG, K., NAEEM, S., O NEILL, R.V., PARUELO, J., RASKIN, R.G., SUTTON, P., VAN DEN BELT, M. The value of the world s ecosystem services and natural capital. Nature 387. 1997. - CORTOPASSI-LAURINO, M.. Divisão de Recursos Tróficos entre Abelhas Sociais, principalmente em Apis mellifera Linné e Trigona (Trigona) spinipes Fabricius (Apidae, Hymenoptera). Tese de Doutorado, Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, São Paulo. 180 p. 1982 - DAILY, G. Nature s services: societal dependence on natural ecosystem. Island Press, Washington, DC. 1997. - DE GROOT R.S., WILSON M.A., BOUMANS R.M. J. Atypology for the classification, description and valuation of ecosystem functions, goods and services. Ecol. Econ. 41: 393-408. 2002. - ERDTMAN, G. Pollen Morphology and Plant Taxonomy-Angiosperms. Almqvisit & Wikesel, Stockholm, 539 p, 1952. - FEIDEN, A. Desenvolvimento da Colônia e Hábito da Abelha Jataí (Tetragonisca Angustula Latreille) em duas Florestas Estacionais Semideciduais. 1994. 117 f. Dissertação (Mestrado) - Setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 1994. - IMPERATRIZ-FONSECA, V. L.; KLEINERT- GIOVANNINI, A.; CORTOPASSI-LAURINO, M.; RAMALHO, M. Hábitos de coleta de Tetragoniscaangustula angustula Latreille (HIMENÓPTERA, Apidae, Meliponinae). Bol. Zool. Univ. São Paulo, v. 8, p. 115-131, 1984. - IWAMA S.; MELHEM, T. S. The pollen spectrum of the honey of Tetragonisca angustula angustula Latrielle (Apidae, Meliponinae). Apidologie. Institudo de botânica de São Paulo, 1979. 4

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