DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

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Transcrição:

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

HISTÓRICO DA PROTEÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL

PERÍODO COLONIAL 1551 - fundada no Brasil a primeira Casa de Recolhimento: gerida pelos jesuítas, objetivava isolar crianças índias e negras da má influência dos pais. No século XVIII aumenta a preocupação com crianças abandonadas e importa-se da Europa a Roda dos Expostos. Imputabilidade penal alcançada aos 7 anos. De 7 aos 14 anos, as penas eram similares as dos adultos com pequena atenuação. Dos 17 aos 21 já poderiam sofrer inclusive com a pena de morte (enforcamento). Existia uma exceção: nos casos de crime de falsificação de moeda autorizava-se a pena de morte para maiores de 14 anos.

PERÍODO IMPERIAL CÓDIGO PENAL DO IMPÉRIO Imputabilidade penal alcançada aos 14 anos Capacidade de discernimento para aplicação das penas: dos 7 aos 14 anos poderiam sofrer penalidades se houvesse discernimento. Nestes casos, poderiam ser encaminhados para Casas de Correção e lá poderiam ficar no máximo até os 17 anos.

REPÚBLICA Código Penal dos Estados Unidos do Brasil - 1890 Pequenas modificações em relação ao Código Penal do Império de 1830 (Código anterior); Imputabilidade penal alcançada aos 9 anos. Dos 9 aos 14 anos aplicava-se o exame da capacidade de discernimento, que manteve-se neste código. Até os 17 anos recebiam 2/3 das penas destinadas aos adultos.

REPÚBLICA Segundo Amin (2011, p.5) O pensamento social oscilava entre assegurar direitos ou se defender dos menores. Casas de recolhimento são inauguradas em 1906 dividindo-se em escolas de prevenção, destinadas a educar menores em abandono, escolas de reforma e colônias correcionais, cujo objetivo era regenerar menores em conflito com a lei. Em 1912, o deputado João Chaves apresenta projeto de lei alterando a perspectiva do direito de crianças e adolescentes, afastando-o da área penal e propondo a especialização de tribunais e juízes, na linha, portanto, dos movimentos internacionais da época. CONGRESSO INTERNACIONAL DE MENORES REALIZADO EM PARIS EM 1911.

REPÚBLICA Outro acontecimento internacional influencia o Direito brasileiro: DECLARAÇÃO DE GÊNOVA DE DIREITOS DA CRIANÇA DE 1924. Com essa influência externa e com o debate interno que se trava no Brasil, chega-se a construção da ideia de direitos para o menor. Daí surge a chamada DOUTRINA DO DIREITO DO MENOR, que foi o primeiro passo para a DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR.

CÓDIGO DE MENORES DE 1927 CÓDIGO MELLO MATTOS Art. 1º O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente às medidas de assistência e proteção contidas neste Código. Destinava-se apenas a crianças e adolescentes (menores) das classes sociais desfavorecidas; Utilizava linguagem altamente degradante quando referiase aos menores : vadios, libertinos, delinqüentes, abandonados, expostos, mendigos; Carência = delinqüência = assistência

Crianças e adolescentes até 14 anos recebiam medidas com foco educacional. Dos 14 aos 18 anos eram passíveis de punição com responsabilidade atenuada (processo especial). Infância pobre = perigo Consolidação da categoria MENOR.

CÓDIGO PENAL DE 1940 Art. 27 Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.

Em 1941 foi criado o SAM Serviço de Assistência do Menor. Segundo Amin (2011, p. 6) A tutela da infância, nesse momento histórico, caracterizava-se pelo regime de internações com quebra dos vínculos familiares, substituídos por vínculos institucionais. O objetivo era recuperar o menor, adequando-o ao comportamento ditado pelo Estado, mesmo que o afastasse por completo da família. A preocupação era correcional e não afetiva.

Em 1964 foi extinto o SAM e criada a FUNABEM Fundação Nacional do Bem Estar do Menor. Legalmente, a Funabem apresentava proposta considerada progressista, mas na prática, era instrumento de controle do regime militar. Os menores neste período enquadravam-se como problema de segurança nacional.

Em 1967, a Lei nº 5.228 reduziu a maioridade penal para 16 anos, baseado no critério da capacidade de discernimento. Em 1968 a lei foi revogada. Entre o fim da década de 60 e início da década de 70 iniciam os debates para reforma da legislação relativa aos menores

CÓDIGO DE MENORES DE 1979 (LEI Nº 6.697): DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Art. 1º Este Código dispõe sobre assistência, proteção e vigilância a menores: I até dezoito anos de idade, que se encontrem em situação irregular; II entre dezoito e vinte e um anos, nos casos expressos em lei. Parágrafo único: As medidas de caráter preventivo aplicam-se a todo menor de dezoito anos, independentemente da sua situação.

Art. 2º. Para os efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o menor: I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; Il - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III - em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, costumes; de modo habitual, em ambiente contrário aos bons b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI - autor de infração penal. Parágrafo único. Entende-se por responsável aquele que, não sendo pai ou mãe, exerce, a qualquer título, vigilância, direção ou educação de menor, ou voluntariamente o traz em seu poder ou companhia, independentemente de ato judicial.