Por entre brasas e fumaça Uma abordagem geográfica

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Transcrição:

III Congresso Internacional, I Simpósio Ibero-Americano, VIII Encontro Nacional de Riscos Guimarães, 6 de novembro de 2014 Por entre brasas e fumaça Uma abordagem geográfica Luciano Lourenço Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais (NICIF) Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Norma Valêncio Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres (NEPED) Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (Brasil) Rosemeire Scopinho Núcleo de Pesquisa Trabalho, Sociedade e Comunidade (NUESTRA) Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos (Brasil)

Projeto: Uma abordagem sociológica aos incêndios florestais em Portugal! Em Portugal, muitas catástrofes de grande repercussão nos meios de comunicação social estão associadas a incêndios florestais. Os incêndios têm sido estudados sob vários pontos de vista. Todavia, a perspectiva sociológica tem sido pouco abordada. Em termos sociológicos, uma catástrofe é considerada como um acontecimento social trágico, referida a um tempo social e não, meramente, a um tempo cronológico.

Objetivo Proceder à consulta de fontes documentais sobre incêndios florestais: Cartografia, Séries estatísticas, Relatórios oficiais, Planos de DFCI, Jornais, Fotografias, Executar trabalho de campo: Desenvolver investigação em localidades do Centro de Portugal, afetadas por catástrofes relacionadas com incêndios florestais e com carácter recorrente nas últimas décadas.

Metodologia Pesquisa de fontes documentais: A cartografia dos incêndios florestais ocorridos nas últimas quatro décadas no alto distrito de Coimbra, permitiu identificar as localidades mais suscetíveis a incêndios na serra do Açor. Depois, situações específicas de algumas delas, viabilizaram a seleção das aldeias, localizadas em diferentes concelhos, para estudos de caso: Casas destruídas pelas chamas; Aldeias rodeadas por incêndios; Recorrência de incêndios florestais;

Metodologia A falta de financiamento do projeto levou à alteração da metodologia inicialmente prevista: Redução do acompanhamento de incêndios no terreno, durante o período crítico de 2013: Ficou limitado ao início do período crítico; Redução do número de concelhos (3 em vez de 4) e de aldeias (apenas oito): Cepos e Piódão, no concelho de Arganil; Malhada e Soito, no concelho de Góis; Gramaça, Chão Sobral, Aldeia das Dez e Rio de Mel, no concelho de Oliveira do Hospital.

Metodologia Seleção das aldeias: Integração nas serras de xisto (Açor), bloco montanhoso oriental do distrito de Coimbra; Afetadas por incêndios florestais, mais do que uma vez nos últimos quarenta anos; Existência de um período temporal relativamente longo com dados estatísticos, ou seja, desde que os incêndios florestais começaram a ser um problema grave em Portugal (1974/75); Marcas deixadas no ambiente físico e, em particular, nas áreas de interface urbano-florestal, por incêndios de grande severidade; Recorrência de ignições que provocaram grandes incêndios florestais, alguns deles catastróficos.

1975-1984 1985-1994

1995-2004 2005-2012

Metodologia Trabalho de campo (de base qualitativa e de caráter sociológico): 1. Contacto com as autoridades municipais e outros agentes envolvidos na prevenção e controle dos incêndios florestais (incluindo a visita a um quartel de bombeiros): Presidente Câmara Municipal; Comandante Operacional Municipal; Responsável do Gabinete Técnico Florestal; Presidente Junta da Freguesia;

OHP ARG GOI CEP

Metodologia Trabalho de campo (cont.): 2. Entrevistas aos moradores idosos: Filmagem e gravação da vocalização direta dos idosos, personagens centrais do lugar e parcela expressiva da população local, que não só ouviu falar dos incêndios, mas também participou diretamente desses acontecimentos.

Metodologia Trabalho de campo (cont.): 2.Entrevistas aos moradores idosos: Individuais e coletivas com moradores idosos, com membros idosos de uma mesma família e com grupos comunitários mais amplos de idosos, nos seus locais rotineiros de convívio.

Metodologia Trabalho de campo (cont.): 2. Entrevistas aos moradores idosos: As entrevistas coletivas possibilitaram a calibração das informações obtidas através dos diferentes discursos acerca das regularidades e especificidades da vivência das catástrofes.

Metodologia Trabalho de campo (cont.): 3. Observação do quotidiano aldeão: Apreensão de elementos importantes do modo de vida local, desde as formas de trabalho existentes, até aos costumes e tradições mantidas, passando pela organização dos diferentes espaços de vivência.

Metodologia Trabalho de campo (cont.): 3.Observação do quotidiano aldeão: Permitiu ficar a conhecer melhor os sujeitos e, ao mesmo tempo, confrontar discursos e práticas sociais, partindo do pressuposto de que os desencontros, entre a memória oficial e aquela que se constrói por meio dos acontecimentos e relações entre as personagens do lugar, trazem a lume a compreensão da riqueza subjacente à vida quotidiana (Bosi, 1979).

Conclusões O problema central, em termos sociológicos, será abordado na comunicação seguinte. Em termos da abordagem geográfica, ressalta a importância da(s): Cartografia na identificação das aldeias mais afetadas; Fontes documentais (jornais, relatórios ), na avaliação dos impactes provocados; Entidades operacionais, na explicação do socorro prestado e das dificuldades a ele inerentes; Entidades políticas, na implementação de medidas de prevenção e de reabilitação.

Mais informação http://www.uc.pt/fluc/nicif/galerias/videos/neped Norma Valencio, Rosemeire Scopinho e Luciano Lourenço (2014) Por entre brasas e fumaças: Encontros e desencontros entre práticas sociais e racionalidades operantes de sujeitos envolvidos em contextos de incêndios florestais. Cadernos de Geografia, 33 (em publicação).

Muito obrigado