ESTUDO ETNOTOPONÍMICO E HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE DIANOPÓLIS

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Transcrição:

2493 ESTUDO ETNOTOPONÍMICO E HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE DIANOPÓLIS Rosana Rodrigues Almeida UFT Profª Dra Karylleila Andrade dos Santos UFT 0 Introdução O presente artigo constitui um estudo etnotoponímico e histórico-cultural do nome do município Dianopólis. Espera-se, a partir desse estudo, conhecer e compreender as motivações que levaram às várias denominações do topônimo Dianopólis. Como fonte de pesquisa, realizamos o levantamento da história oficial já documentada em cartório e também da memória oral vivenciada pelos moradores locais. Além disso, consultamos os mapas cartográficos do município. O resgate do processo histórico do município inicia-se através de leituras bibliográficas, entrevistas com moradores da comunidade e pesquisa de campo: visitas a museus, cartórios e órgãos públicos. A partir do corpus, serão utilizadas as taxeonomias criadas por Dick (1990): natureza antropocultural e natureza física. Em seguida, analisaremos como o ato de nomeação de um lugar geográfico está intrinsecamente ligado às transformações históricas, sociais e culturais da realidade circundante. 1 O estudo onomástico e toponímico A ciência denominada Onomástica surgiu pela necessidade do homem de analisar a origem e a formação dos nomes em geral para auxiliar no entendimento de sua realidade. Segundo Dick (1990, p.29) a (...) apreensão/compreensão e transmissão/participação de um dado qualquer do saber humano são atuantes de uma mesma e complexa evidência relacional o ato comunicativo que corporifica, em sua expressividade, um conglomerado de situações línguo-sócio-psíquicas. Nele está manifesto, ainda que de modo implícito, o registro pelo qual se concretizou a assimilação do mundo, através do código de linguagem vivenciado por uma determinada comunidade lingüística. Devido ao fato de um nome possuir particularidades tanto históricas, geográficas ou de outra ciência, tornou-se dificultosa a delimitação da área abrangente da Onomástica, constando que todos os dados interseccionam entre si. A ciência Onomástica dividiu-se entre antroponímia (estudo dos nomes próprios) e toponímia (estudo dos nomes de lugares), sendo este último nosso objeto de estudo. A toponímia é caracterizada pela busca da origem e a significação dos nomes de lugares e suas transformações lingüísticas (DICK, 1990), isto é, para a realização do estudo toponímico torna-se necessário uma investigação dos aspectos naturais ou socioculturais da comunidade, a fim de conhecer o fator motivador para o aparecimento do topônimo, que é a nomenclatura dos nomes de lugares analisados dentro da pesquisa toponímica. Dick (1990, p.22) definiu o topônimo como verdadeiros testemunhos históricos de fatos e ocorrências registrados nos mais diversos momentos da vida de uma população, próprio ato da nomeação: se a Toponímia situa-se como a crônica de um povo, gravando o presente para o conhecimento das gerações futuras, o topônimo é o instrumento dessa projeção temporal. 2 A motivação toponímica Vários fatores (região geográfica, política, cultura, homenagem à pessoa influente na região, entidades religiosas ou místicas, etc.) podem ser determinantes para o surgimento de um topônimo. O

2494 objetivo de uma pesquisa toponímica se encontra em descobrir quais fatores foram motivantes para nomear determinada região geográfica, a intencionalidade do denominador naquela época e quais circunstâncias sócio-culturais daquela realidade. Devido à dificuldade de averiguação da verdadeira motivação pela ausência do denominador, o pesquisador, em busca da natureza significativa dos nomes de lugares, utiliza das taxeonomias de natureza física e antropo-cultural, em busca ligação entre o denominador, topônimo e a realidade. Dick (1990) nos informa que É, pois na realidade circundante, ou no chamado universo ambiental em que o homem se organiza, individual e comunitariamente, que se encontram as influências positivas ou negativas de suas próprias experiências culturais, no mais amplo sentido. É nessa mesma cadeia de possibilidades que os topônimos se estruturam e se distribuem em estratos de diversas naturezas. Para um maior entendimento sobre o motivo que ocasionou o aparecimento de um topônimo existe a necessidade de conhecimento pelo menos relativo, do conjunto de fatores, objetivos ou não, que delimitam o meio em que está circunscrito (DICK, p.48), isto é, um trabalho de resgate histórico e documental da localidade geográfica, que possibilite uma investigação, registro e análise de dados que auxiliem na tentativa de reconstituição do contexto vivenciado pelo denominador no momento do batismo. Um dos fatores que dificulta a análise e a classificação do topônimo é o aparecimento de vários sentidos para o nome, dependendo se o estudo realizado é de origem morfológica ou semântica. Muitas vezes, o significado da palavra encontrado no dicionário pode não condizer com o propósito que o nomeador do topônimo possuía no momento que criou a denominação para aquela localidade geográfica, e a ausência desde nomeador e de documentos que registrem fatos históricos do local, impulsiona o aparecimento de inúmeras hipóteses e sugestões, que na maioria das vezes são comprovadas através dos moradores locais. 3 As taxeonomias toponímicas Devido à ausência de estudos toponímicos mais aprofundados no Brasil e de um método de pesquisa e classificação que se enquadrasse à realidade brasileira, Dick (1990) elaborou um modelo taxeonômico. Segundo a autora (1990, p.24) O modelo taxeonômico que se elaborou deve, portanto, ser interpretado como um instrumento de trabalho que possibilitará, provavelmente, a aferição objetiva das causas motivadoras dos designativos geográficos (...) tentou-se, tanto quanto possível, nessa análise, evitar as necessidades de um constante recuo ao passado histórico, para se atingir o alcance do significado do topônimo. Este seria fornecido pela interpretação lingüística de seus elementos formadores, tão somente. Por isso mesmo, todo o processo de pesquisa desenvolve-se em um nível sincrônico de averiguação dos fatos, reservando-se o levantamento diacrônico dos dados concorrentes para o estudo descritivo das taxes, isoladamente consideradas. A formação da taxeonomia baseou-se em dois agrupamentos: Taxeonomia de natureza física: os topônimos possuem motivações relacionadas aos aspectos naturais, provenientes do meio ambiente (fauna, flora mineral, acidentes geográficos, entre outros): Astrotopônimos: topônimos relativos aos corpos celestes em geral. Cardinotopônimos: topônimos relativos às posições geográficas em geral. Cromotopônimos: topônimos relativos à escala cromática. Dimensiotopônimos: topônimos relativos às características dimensionais dos acidentes geográficos. Fitotopônimos: topônimos de índole vegetal. Geomorfotopônimos: topônimos relativos às formas topográficas. Hidrotopônimos: topônimos resultantes de acidentes hidrográficos em geral. Litotopônimos: topônimos de índole mineral.

2495 Meteorotopônimos: topônimos relativos a fenômenos atmosféricos. Morfotopônimos: topônimos que refletem o sentido de forma geométrica. Zoototopônimos: topônimos de índole animal. Taxeonomia de natureza antropo-cultural: os topônimos possuem motivações relacionadas aos aspectos culturais, religiosos, étnicos e históricos (nomes próprios, de santos, povos indígenas, entre outros): Animotopônimos ou nootopônimos: topônimos relativos à vida psíquica, à cultura espiritual, não pertencente à cultura física. Antropotopônimos: topônimos relativos aos nomes próprios individuais. Axiotopônimos: topônimos relativos aos títulos e dignidades de que se fazem acompanhar os nomes próprios individuais. Corotopônimos: topônimos relativos aos nomes de cidades, países, estados, regiões e continentes. Cronotopônimos: topônimos que encerram indicadores cronológicos representados em toponímia pelos adjetivos novo/nova, velho/velha. Ecotopônimos: topônimos relativos às habitações de um modo geral. Ergotopônimos: topônimos relativos aos elementos da cultura material. Etnotopônimos: topônimos relativos aos elementos étnicos, isolados ou não (povos, tribos, castas). Dirrematotopônimos: topônimos constituídos por frases ou enunciados lingüísticos. Hierotopônimos: topônimos relativos aos nomes sagrados de diferentes crenças. Historiotopônimos: topônimos relativos aos movimentos de cunho histórico-social e aos seus membros assim como às datas correspondentes. Hodotopônimos: topônimos relativos às vias de comunicação rural ou urbana. Numerotopônimos: topônimos relativos aos adjetivos numerais. Poliotopônimos: topônimos constituídos pelos vocábulos. Sociotopônimos: topônimos relativos às atividades profissionais aos locais de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade (largo, pátio, praça). Somatotopônimos: topônimos empregados em relação metafórica às partes do corpo humano ou do animal. 4 Análise e descrição do corpus 4.1 História do município de Dianopólis A cidade de Dianopólis está localizada na 12ª região administrativa no sudeste do estado do Tocantins. Teve sua origem ligada à mineração e aos aldeamentos indígenas criados para reunir e aprisionar os índios, povos considerados ariscos e hostis na época. O município surge a partir do aldeamento das Missões, no qual foi descrito por George Gardner, um naturalista escocês, no seu livro Viagem ao interior do Brasil (1948, p.148) A Missão do Duro situa-se na Serra do mesmo nome, sobre uma colina baixa e achatada, em torno de cuja base ocidental corre o pequeno Riacho de Sucuriú, que em todas as estações supre os habitantes de abundante e excelente água. A aldeia têm cerca de vinte casas, todas do mais mísero tipo (...) São dispostas de modo a formar um quadrado irregular, mas dois lados ainda permanecem quase abertos; do lado oeste há uma igreja quase em ruínas, com um grande jenipapeiro na frente. A missão abrange, ao todo, doze léguas quadradas da região, havendo sido feita a doação ao tempo de sua formação pelos jesuítas, e neste espaço se acham espalhadas vinte ou trinta outras casas. O total da população, no tempo de minha visita, montava a umas duzentas e cinqüenta almas. Conquanto a maior parte dos habitantes seja de puro sangue índio, há alguns mestiços de pretos, geralmente escravos fugidos, que de temos em temos ali se vieram estabelecer entre os primeiros. É fácil, porém, reconhecer o índio puro por sua cor avermelhada, cabelos longos e lisos. Ossos das faces salientes, e a obliqüidade peculiar dos olhos. (...) Até o último decênio havia um sacerdote residente entre eles, mas desde esse período ficaram sem nenhum. Visita-os uma vez por ano, durante poucos dias, o que reside na Vila de Natividade (...) Todos os habitantes falam português, mas muitos ainda conservam a língua de seus antepassados (...) Pelo

2496 velho capitão fui informado de que a missão se estabelecera no ano de 1730, com tropas trazidas de Pernambuco pelo tenente-coronel Wenceslau Gomes, que conquistara a tribo dos índios coroas, dos quais descende a raça atual. Formaram-se então três aldeias, com um total aproximado de mil indivíduos. Aquelas três aldeias uniram-se para formar a que hoje se chama Duro e em sua própria língua Ropechedi, que significa bela situação, título bem merecido. O povoamento da região teve início na Serra do Duro (atual Serra Geral com a vinda de vários aventureiros de todos os estados, iniciando a criação de gado e a exploração das riquezas minerais, em especial o ouro tão abundante na localidade na época. Durante o governo provisório do Brigadeiro Antonio Carlos Furtado de Mendonça (16/08/1770 a 26/07/1772) foi criado o registro do Duro, que era o posto de estação fiscal. Em 26.08.1884, através da resolução 723, é elevado à categoria de vila com o nome de São José do Duro, tendo como seu primeiro intendente João Nepomuceno de Sousa. Em 02 de março de 1938, através da lei nº 311, a vila é elevada à categoria de cidade, recebendo a denominação de Dianopólis, em homenagem feita as quatro irmãs: Custodiana Costa Ayres, Custodiana Leal Rodrigues, Custodiana Nepomuceno Wolney Araújo e Custodiana Wolney Póvoa, mais popularmente conhecidas por Dianas. 4.2 As motivações toponímicas das designações: Duro, São José do Duro, Dianopólis O topônimo é o reflexo da cultura de um povo, em um determinado momento histórico. Durante a análise dos dados, constatamos que o topônimo Duro sofreu algumas alterações (Oiro, Ouro, D Ouro e Duro) até chegar ao topônimo propriamente dito. Essa motivação está relacionado à existência das minas de ouro na região, inclusive na Serra do Duro (atual Serra Geral). O topônimo São José do Duro está ligado à questão religiosa, no qual o santo São José é hoje o padroeiro da comunidade. Na entrevista realizada com a moradora e funcionária do museu local, temos um fragmento que relata que foi nos aldeamentos que se iniciou esta devoção por iniciativa de um padre chamado Gabriel Alves foi erguido um povoado nas aldeias... uma igreja que foi em devoção a São José... passando as aldeias a se chamar São José do Duro (Anexo 1) Por fim, o fator motivador da denominação atual Dianopólis. De acordo com a análise realizada, constatamos a influência política como motivação, pelo o fato das irmãs Dianas serem esposas de homens influentes politicamente naquela época. De acordo com a taxeonomia de Dick, classificamos os topônimos da seguinte forma: TOPÔNIMO ETIMOLOGIA TAXEONOMIA DE NATUREZA FÍSICA Duro *[Do latim duru] S.m.1-rijo, Litotopônimo: que não é mole; 2- topônimo de desagradável aos ouvidos, índole mineral. sem dinheiro; 3- consistente,sólido. São José do Duro O termo São José remete à personagem bíblica que era o esposo de Maria, a mãe de Jesus. É um santo devotado pelos cristãos católicos. *[Do latim duru] S.m.1-rijo, que não é mole; 2- desagradável aos ouvidos, sem dinheiro; 3- consistente,sólido. TAXEONOMIA DE NATUREZA ANTROPO-CULTURAL Hierotopônimo: topônimo relativo aos nomes sagrados de diferentes crenças.

2497 Dianopólis *[Do lat. Diana.] S.f.1- poét.a lua. 2-a pastorinha neutra, que não defende nem o encarnado, nem o azul, e cuja indumentária é feita de ambas as cores. *O termo pólis é sufixo grego e significa cidade ou povoado Antropotopônimo: topônimo relativo aos nomes próprios individuais. *FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986. Município: Dianopólis Ficha Lexicográfico-Toponímica Município de Dianopólis Localização: XII região administrativa no sudeste do estado Topônimo: Dianopólis AH: Município Taxionomia: Antrotopônimo Etimologia: *[Do lat. Diana.] S.f.1- Poét. a lua. 2- a pastorinha neutra, que não defende nem o encarnado, nem o azul, e cuja indumentária é feita de ambas as cores. *O termo pólis é sufixo grego e significa cidade ou povoado. Entrada Lexical: Dianopólis Estrutura morfológica: Topônimo específico simples, dian- (morfema lexical radical) + -polis (morfema gramatical) Histórico: O município de Dianopólis surgiu através do aldeamento das Missões. Com a descoberta de minas de ouro, inicia-se o povoamento na localidade das migrações advindas dos outros estados. Em 1884 é elevada à categoria de vila com a denominação de São José do Duro. Em 1938, através da lei nº 311, a vila é elevada à categoria de cidade, recebendo a denominação de Dianopólis. Contexto: Conforme o histórico do município, o nome atual é uma homenagem a quatro irmãs chamadas Custodianas, mas popularmente conhecidas por Dianas que eram casadas com políticos ilustres da época. Fonte: *Aurélio Pesquisadora: Rosana Rodrigues Revisora: Karylleila Andrade, 2008 Data da coleta: 24/11/08

2498 Considerações finais O estudo toponímico não constitui uma tarefa fácil de realizar, dentre as inúmeras dificuldades encontradas, destaca-se a dificuldade de encontrar documentos que registrem a história da localidade geográfica. A falta de documentação, sobretudo, histórica impossibilita ao pesquisador situar o contexto vivenciado no momento do surgimento do topônimo. Por isso, muitas vezes, temos como recurso somente a memória oral dos moradores locais. A análise de um topônimo nos proporciona um resgate, principalmente, histórico e cultural de uma comunidade. Na pesquisa etnotoponímica de Dianopólis, constatamos a influência indígena, religiosa imposta na época dos jesuítas, bem como questões referentes à política. Este estudo faz parte da constituição do Atlas toponímico do estado do Tocantins. Esse projeto tem como objetivo levantar um estudo etnolingüístico e etnotoponímico dos topônimos tocantinenses. Esse estudo toponímico é uma forma de registrar e documentar as motivações que levaram ao aparecimento de cada topônimo para que as gerações futuras possam ter um conhecimento de sua história. Referências Dick, Maria Vicentina de Paula do Amaral. A motivação toponímica e a realidade brasileira. São Paulo: Arquivo do Estado, 1990. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3. Ed. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1986. GARDNER, George. Viagem ao interior do Brasil, principalmente nas províncias do Norte e nos distritos do ouro e do diamante durante os anos de 1836-1841. tradução do Milton Amado, apresentação do Mário Guimarães Ferri. Belo Horizonte/São Paulo: Ed. Itatiaia/ EDUSP, 1975. ANEXO 1- Entrevista realizada com a funcionária do museu de Dianopólis: e... eu me chamo Kelly... eh:::... estou aqui pra estar falando um pouco a origem do nome Dianopólis e até os dias atuais... como a história do Brasil e da América em geral os primeiros a habitar a região foram os índios... nos tínhamos os índios acroás, xacriabas e os xerentes... o propósito do primeiro governador da capitania de Goiás que chamava Dom Marcos de Noronha ele sentiu a necessidade de confinar estes índios em aldeamentos... e aí foi formado dois aldeamentos... um aldeamento do Duro que e devido a Serra Geral que nois temos... Serra do Duro... um aldeamento formiga que era próximo do córrego chamado formiga... e vieram também os padres jesuítas... pra ta evangelizando esse índios... por iniciativa de um padre chamado Gabriel Alves foi erguido um povoado nas aldeias... uma igreja que foi em devoção a São José... passando as aldeias a se chamar São José do Duro... era o antigo nome de Dianopólis... e so foi elevada a categoria de arraial com a descoberta da mina de ouro... a mina dos tapuias xacriabas... então com a descoberta dessa mina de ouro houve o contingente muito grande de pessoas do Maranhão, Piauí, Bahia e com isso aqui foi desenvolvendo... e somente 26 de agosto de 1884 que aqui foi elevada a categoria de vila... vila de São José do Duro... que é a data que comemoramos aniversario da cidade... em 2 de março de 1938 que foi elevado a categoria de cidade... já com nome Dianopólis que foi homenagem a quatro mulheres que chamavam Dianas... na verdade o nome delas eram Custodianas na diminuição chamavam de Dianas que eram na esposas de homens ilustres da cidade que resolveram homenageá-las.. né? Tanto o nome da cidade de Dianopólis.