Avaliação da Cobertura Vegetal Natural e Áreas de Preservação permanente na região da Cantareira Eduardo Delgado Assad (coordenador-embrapa) Mariana Peixoto Bolsista Cnpq Lais Cristina Campagnoli Bolsista Embrapa Renata Ribeiro do Vale Gonçalves Pesquisadora UNICAMP 1. Processamento digital das imagens 1.1. Aquisição das imagens Rapideye A seleção das imagens utilizadas ocorreu a partir da localização dos municípios do Sistema Cantareira sendo eles total ou parcialmente inseridos dentro desses limites. Totalizando 12 municípios, fazem parte, no Estado de Minas Gerais, os municípios Itapeva, Camanducaia, Sapucaí-Mirim e Extrema e, no Estado de São Paulo, os municípios, Bragança Paulista, Vargem, Joanópolis, Piracaia, Nazaré Paulista, Mairiporã, Franco da Rocha e Caieiras (Figura 1). Figura 1. Municípios inseridos total ou parcialmente no Sistema Cantareira.
A partir dos arquivos digitais da Malha Municipal de 2010 (IBGE) e do Mapa Índice do Rapideye foram obtidas 15 imagens do satélite Rapideye capazes de cobrir todo o território dos municípios, a saber: 2328611, 2328610, 2328609, 2325511, 2328510, 2328509, 2328508, 2328507, 2328410, 2328409, 2328409, 2328408, 2328407, 2328309, 2328308 e 2328307; com cinco bandas espectrais de 440 µm a 850 µm e data de coleta entre 23/06/2011 à 21/10/2011 (Figura 2). Figura 2. Código das imagens Rapideye correspondente a área territorial estudada. 1.2. Composição das imagens (Mosaico) Tais imagens foram utilizadas na geração do mosaico, pelo programa Envi 4.3, pela ferramenta Map/Mosaicking/Georeferenced na qual a imagem com melhor resolução visual foi fixada como base para correção por histograma, enquanto as outras imagens foram ajustadas. Com a opção Feathering foi possível minimizar as linhas de corte entre as imagens adjacentes (Figura 3).
Figura 3. Mosaico das imagens com correção por histograma na composição RGB 5-3-2. 1.3. Delimitação dos municípios A extração de cada município foi realizada no ArcGis pela ferramenta Spatial Analyst Tools/Extract/Extract by Mask utilizando um shape previamente criado a partir da Malha Municipal de 2010 (IBGE). A composição RGB das imagens foi a 5-3-2 que permite a fácil identificação da vegetação nativa que adquire coloração vermelha (Figura 4).
Figura 4. Delimitação dos municípios no mosaico. 2. Vetorização da Rede de Drenagem A vetorização foi realizada manualmente pela observação dos divisores de água e talvegues existentes nas curvas de nível e criadas a partir de imagens SRTM (Topodata). A escala de trabalho utilizada foi a de 1:10.000 com a caracterização de nascentes, barragens, rios menores que 10m e rios maiores que 10m (Figura 5). Foram levadas em consideração apenas as barragens localizadas nos cursos dos rios, ou seja, não foram vetorizados reservatórios, pesqueiros e corpos d água..
Figura 5. Rede de drenagem do Sistema Cantareira 3. Aplicação das áreas limítrofes das APPs A delimitação das áreas limítrofes a ser aplicado na rede de drenagem respeitou o Código Florestal de 2012 no qual regulamenta que as áreas de APP nas margens dos rios em áreas não consolidadas são (Figura 6): APP em cada margem Nascente 50m < 1 ha 30m Barragem > 1 ha 50m Largura do rio menor que 10m 30m Largura do rio entre 10 e 50m 50m Largura do rio entre 50 e 200m 100m Largura do rio entre 200 e 600m 200m Largura do rio maior que 600m 500m
Figura 6. Aplicação da Área de Preservação Permanente no Sistema Cantareira. 4. Classificação As imagens foram classificadas em 5 classes: vegetação nativa, reflorestamento, área urbana, água e outros (agropecuária, antropismo e outros) (Figura 7). A vegetação nativa foi identificada utilizado o método de Classificação supervisionada interativa disponível na versão 10 do software ArcGis. Nesse método defini-sea classe referente ao objeto alvo associando-a a uma cor permitindo identificar no restante da imagem os alvos com as mesmas propriedades espectrais e espaciais daqueles definidos anteriormente. A classe da água foi definida a partir da vetorização realizada para as áreas de barragem e para os cursos d água com larguras superiores a 10m. Para reduzir os erros no processo de classificação, como a confusão entre as classes, optou-se por identificar manualmente os alvos referentes ao
reflorestamento e área urbana e assim garantir melhores resultados na relação entre as áreas classificadas e atuais. Figura 7. Classificação Sistema Cantareira. 5. Resultados Tabela 1. Informações gerais. Município UF Área (ha) Vegetação natural (ha) Vegetação natural (%) Comprimento da rede de drenagem (km) BRAGANÇA PAULISTA SP 51.253,44 5.640,12 11,00 828,52 CAIEIRAS SP 9.620,59 4.797,09 49,86 213,27 CAMANDUCAIA MG 52.821,32 26.410,74 50,00 1.389,92 EXTREMA MG 24.448,53 7.417,43 30,34 569,75 FRANCO DA ROCHA SP 13.415,17 4.108,59 30,63 349,91 ITAPEVA MG 17.727,30 5.295,83 29,87 500,58 JOANÓPOLIS SP 37.412,07 17.743,50 47,43 861,00 MAIRIPORÃ SP 32.063,92 17.046,96 53,17 848,81 NAZARÉ PAULISTA SP 32.618,48 15.475,46 47,44 751,07 PIRACAIA SP 38.539,42 12.832,66 33,30 902,14 SAPUCAÍ-MIRIM MG 28.490,09 17.201,58 60,38 684,89
VARGEM SP 14.257,02 3.231,56 22,67 271,41 352.667,35 137.201,52 8.171,24 Total Tabela 2. Levantamento do passivo ambiental dentro das áreas de preservação permanente. Município UF Área a ser reflorestada - APPs (ha) Total (%) 30m 50m 100m 200m 500m Total BRAGANÇA PAULISTA SP 3.727,83 745,32 0,00 0,00 956,15 5.429,30 79,8 CAIEIRAS SP 546,93 80,84 6,50 17,87 0,00 652,14 45,1 CAMANDUCAIA MG 2.558,80 426,95 0,00 0,00 0,00 2.985,75 33,6 EXTREMA MG 2.024,07 223,64 16,96 0,00 0,00 2.264,67 59,5 FRANCO DA ROCHA SP 1.059,99 186,28 24,24 120,86 0,00 1.391,37 54,9 ITAPEVA MG 1.273,12 234,56 10,93 0,00 0,00 1.518,61 47,3 JOANÓPOLIS SP 1.636,28 224,52 0,00 0,00 1.669,70 3.530,50 46,8 MAIRIPORÃ SP 1.778,32 291,11 23,28 570,04 0,00 2.662,75 42,5 NAZARÉ PAULISTA SP 1.418,80 191,44 0,00 0,00 2.396,51 4.006,75 43,1 PIRACAIA SP 2.268,05 343,23 1,79 1.204,81 2.504,84 6.322,72 66,4 SAPUCAÍ-MIRIM MG 1.297,44 167,02 0,00 0,00 0,00 1.464,46 33,2 VARGEM SP 918,34 93,25 10,39 0,00 1.291,80 2.313,78 69,0 Total 20.507,97 3.208,16 94,09 1.913,58 8.819,00 34.542,80 51,5
Tabela 3. Levantamento das áreas (ha) classificadas. Classificação (ha) Agropecuária, Município UF Área Reflorestam Vegetaçã antropismo e urbana ento o nativa outros Água BRAGANÇA PAULISTA SP 10.250,90 1.949,92 5.640,12 32.155,02 1.257,48 CAIEIRAS SP 1.705,47 48,63 4.797,09 3.010,58 58,81 CAMANDUCAIA MG 815,37 1.957,98 26.410,74 23.499,77 137,47 EXTREMA MG 3.434,37 249,93 7.417,43 13.169,19 177,62 FRANCO DA ROCHA SP 2.943,06 49,43 4.108,59 6.149,64 164,45 ITAPEVA MG 463,71 292,77 5.295,83 11.628,52 46,45 JOANÓPOLIS SP 752,89 2.879,68 17.743,50 14.637,44 1.398,56 MAIRIPORÃ SP 5.315,90 113,25 17.046,96 9.113,08 474,73 NAZARÉ PAULISTA SP 1.918,55 1.975,82 15.475,46 11.236,14 2.012,51 PIRACAIA SP 1.587,55 2.209,82 12.832,66 19.550,64 2.358,76 SAPUCAÍ-MIRIM MG 780,75 592,20 17.201,58 9.853,43 62,13 VARGEM SP 2.042,42 566,06 3.231,56 7.213,68 1.203,30 Total 32.010,94 12.885,49 137.201,5 161.217,1 9.352,27 Comentários: A rede de drenagem nos municípios que alimentam a Cantareira com aguas superficiais atingem 8.171 Km, sendo identificada a necessidade de revegetação de áreas de preservação permanente em 34.542 ha. Neste estudo, considerando a gravidade da questão referente ao abastecimento de água para a cidade de São Paulo e grande São Paulo, atingindo em torno de 22 milhões de pessoas, foram aplicadas as determinações do código florestal vigente, porém sem considerar o que foi identificado como áreas consolidadas. Isto porque a rede de drenagem é contínua no espaço, não podendo ser fragmentada. Acontecendo a fragmentação, começam a surgir os problemas que contribuíram para a crítica situação de abastecimento de água em São Paulo, ou seja pouca ou nenhuma infiltração de água da chuva, reduzida alimentação do lençol freático, alta evaporação, erosão acentuada prejudicando o acumulo de água. Uma das soluções urgentes que deve ser aplicada para minimizar os efeitos da reduzida oferta de água, é a revegetação de áreas de preservação permanente..
O Estado de São Paulo está perfeitamente habilitado para iniciar este processo e seriam aproximadamente 30 milhões de mudas de espécies nativas para o reflorestamento.. Ao mesmo tempo, surge uma excelente oportunidade de se criar o pagamento por serviços ambientais (a partir do reflorestamento de espécies nativas) a exemplo do que já é feito no Estado do Espírito Santo, o que minimizaria efetivamente o risco de desabastecimento de água na grande São Paulo, com soluções definitivas. A Embrapa em final de desenvolvimento de um sistema em parceria com diversas instituições de pesquisa, conhecido com WEBambiente, tem condições de indicar quantas e quais são as espécies nativas que devem ser plantadas. Trata-se de um trabalho de médio para longo prazo, mas é uma ação estruturante, evitando maiores perdas de água e garantindo a reativação das nascentes, que são milhares, nos municípios localizados na região da Cantareira. Agradecimentos: Este trabalho foi financiado pela FGV-GVagronegócios, e visa propor o fortalecimento do negócio florestal brasileiro, subsidiar politicas públicas que discutam pagamento de serviços ambientais, e apresentar soluções estruturantes para o grave problema de abastecimento de água por que passa e a Cidade de São Paulo.