GEOMORFOLOGIA DA BORDA SUDESTE DA BACIA DO PANTANAL: RELAÇÃO DO LEQUE FLUVIAL DO TABOCO E ÁREAS FONTES DOS PLANALTOS ADJACENTES



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Transcrição:

GEOMORFOLOGIA DA BORDA SUDESTE DA BACIA DO PANTANAL: RELAÇÃO DO LEQUE FLUVIAL DO TABOCO E ÁREAS FONTES DOS PLANALTOS ADJACENTES Edna Maria Facincani¹ Vitor Matheus Bacani¹ Arnaldo Yoso Sakamoto² Departamento de Geociências¹ Campus de Aquidauana (CPAQ)¹ Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Departamento de Ciências Humanas (CPTL)² Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) edna_facincani@hotmail.com bacani_ufms@yahoo.com.br sakamoto@ceul.ufms.br ABSTRACT In the basin of the Taboco river, is building a plain aggradations fluvial essentially built-in meandering in the fluvial deposits. The Taboco River exhibits a distributaries drainage pattern and is characterized by the existence of a complex of abandoned channels, point of overflow, crevasse splay and marginal levee.the Taboco fan as the present distributary s lobe of Aquidauana are sites actives of Holocene sedimentation. INTRODUÇÃO O Pantanal corresponde a uma bacia sedimentar quaternária, a maior bacia interior ativa do Brasil, localizada na Bacia do Alto Paraguai (BAP), na região Centro-Oeste entre os paralelos 15 e 20 S e os meridianos 55 e 59 W (Figura 1). Possui forma elíptica alongada na direção norte-sul e eixo maior de cerca de 200 km, preenchida por sedimentos cenozóicos com uma espessura que ultrapassa 400m (Assine, 2004). O preenchimento sedimentar da bacia do Pantanal vem sendo realizado por um trato de sistemas fluviais, sendo o rio Paraguai a drenagem principal, coletora das águas de diversos leques aluviais (Assine, 2003). Os depósitos aluviais constituem um dos mais importantes componentes do registro geológico e permite a caracterização dos processos hidrodinâmicos e de compreensão da evolução sedimentar e geomorfológica, bem como a reconstrução da evolução tectono-sedimentar de uma bacia. A construção dos leques aluviais se processa através de um canal principal e de numerosos canais distributários. A evolução quaternária dos sistemas deposicionais do Pantanal com destaque para os trabalhos de Assine 2003 e Facincani 2006 e 2007, principalmente no que se refere à sua borda sudeste. As feições geomorfológicas mais características da bacia do Alto Paraguai pela sua margem esquerda são os leques fluviais. Este artigo versa sobre a caracterização da geomorfologia do Leque fluvial do Taboco, sua compartimentação, ênfase nos eventos e processos que atuaram na configuração da paisagem, do final do Pleistoceno até o presente. O leque do Taboco é uma feição geomorfológica expressiva e fortemente marcada nas imagens de satélites. Caracterizam-se por sistemas deposicionais de dinâmica sedimentar e de evolução complexa. Esta área foi escolhida por englobar parte de dois compartimentos geológicos e geomorfológicos do Estado de Mato Grosso do Sul (escarpa da serra de Maracaju-Campo Grande e depressão Taboco- Negro), onde o rio Taboco vêm construindo o leque fluvial, com padrão de drenagem do tipo distributária e de paleocanais, apresentando segmentos morfológicos distintos (Figura 1). O leque do Taboco foi caracterizado e delimitado pela primeira vez por Facincani (2007) em seu trabalho intitulado Geomorfologia e Geologia do Cenozóico do Médio Vale do Rio Aquidauana, Borda Sudeste da Bacia do Pantanal MS. Materiais e Métodos No desenvolvimento deste artigo diversos conceitos, métodos, técnicas e procedimentos foram utilizados com caráter multidisciplinar relativos a Geologia, Geomorfologia e Hidrologia (origem e evolução da paisagem no Quaternário). A compartimentação geomorfológica das planícies fluviais do Taboco e Negro foram feitas a partir da interpretação e análise de imagem de satélite através da reconstituição dos elementos morfológicos de relevo e drenagem e do mapeamento de área homólogas. Para subsidiar as interpretações foram também analisados dados de outros sensores remotos, tais como imagens de radar e fotografias aéreas e 166

construídos modelos digitais de elevação a partir de dados SRTM da NASA. Os mapas geomorfológicos foram elaborados com base na interpretação de imagens de satélite e fotografias aéreas na escala 1:60.000. Foram feitas capturas de imagens de satélites para a área, a partir de um banco de dados em ambiente digital, no qual foram inseridas imagens dos sensores TM e ETM+, obtidas da NASA. Destacando os processos atuantes no presente e a reconstituição da evolução dos sistemas desde o Pleistoceno; buscando-se entender a lógica de funcionamento dos sistemas deposicionais, das avulsões e mudanças de curso dos rios Taboco e Negro, resultando numa paisagem em contínua transformação. Os trabalhos de escritório consistiram na elaboração de mapas geomorfológico, geológico e compartimentação geomorfológica do canal fluvial do rio Taboco. Figura 1. Mapa da Bacia do Alto Paraguai BAP, com indicação da área estudada (retângulo). Modificado de Assine (2003). RESULTADOS E DISCUSSÕES O leque fluvial do Taboco limita-se a norte pelo megaleque do Taquari sendo separados pela planície fluvial do rio Negro. Na sua porção leste é bordejado pela Serra de Maracaju-Campo (circundado por escarpa de erosão e por blocos soerguidos), separados por uma faixa de 4km de direção NNE-SSW, de pequenos Leques Dominado por Fluxo Gravitacional (LDFG) e a oeste pelo leque do Aquidauana (Figura 2). O leque fluvial do Taboco se encontra embutido na depressão do Taboco-Negro, pertencente Bacia do Alto Paraguai (BAP). Apresenta uma geometria triangular seu ápice a SE e espraiamento para NNW. O planalto é constituído por rochas metamórficas do Grupo Cuiabá na sua porção basal e por rochas sedimentares da Bacia do Paraná, pertencente às seqüências silurianas (Formação Vila Maria) e devonianas/carboníferas (formações Furnas e Aquidauana, Figura 3). Após a fazenda Taboco há uma diminuição drástica no gradiente topográfico compondo com a planície fluvial do Taboco uma paisagem dominada por sistema fluvio-lacustre, sazonalmente inundável e de canais e paleocanais distributários, típica da depressão Taboco-Negro. As altitudes no leque do Taboco variam entre 140m no seu ápice até 105m na sua base. Bacia de drenagem O rio Taboco possui sua nascente na Serra de Maracaju-Campo Grande em torno de 700m de altitude, fluindo de leste para oeste, o rio percorre uma extensão de 250km até sua confluência com o rio Negro. 167

A bacia de drenagem do Taboco esta entalhada em rochas pré-cambrianas do Grupo Cuiabá e intrusivas pelo Granito Taboco e paleozóicas da bacia sedimentar do Paraná, percorrendo nesse compartimento 150km, no sentido inverso da inclinação das camadas paleozóicas da Bacia do Paraná, formando um anfiteatro de erosão e condicionados aos sistemas de juntas de direções NW-SE, NE-SW e E-W, o canal apresenta mudanças abruptas de direção e desenvolvimento de cotovelos ocasionados por capturas de drenagem (Figuras 4 e 5). O Taboco no planalto em seu curso para oeste é um rio que vem construindo uma planície fluvial de agradação, predominantemente meandrante embutida em depósitos fluviais, possuindo uma extensão de 120km. Destacam-se unidades morfológicas como diques e terraços marginais e barras arenosas com presença de estruturas sedimentares. No distrito de Cipolândia é notável a largura da planície do Taboco com 833m sendo que a média é de 100m na bacia de drenagem (Figura 6). Figura 2. Modelo digital de terreno (MDT), destaque para o leque fluvial do Taboco, a leste a presença da Serra de Maracaju-Campo Grande, caracterizada pela sua retilineidade, segundo NE-SW, e a norte e oeste pelos leques do Taquari e Aquidauana. (Facincani, 2007). 168

Figura 3. Mapa Geológico regional da área. Figura 4. Leque do Taboco (Mosaico NASA GeoCover Landsat TM, 1987/1993, composição 7R4G2B).(Facincani, 2007). Figura 5. Mapa Geomorfológico do leque do Taboco e adjacências. (Facincani, 2007). Os Leques Dominados por Fluxos Gravitacionais (LDFG), ocorrem como rampas no sopé da escarpa do planalto de Maracaju-Campo Grande, situados à leste com largura em torno de 4km, formados pela interação de processos gravitacionais e fluviais (Figuras 7 e 8). A vazante Alegria esta situada à leste do leque do Taboco e separa os vários leques de diferentes tamanhos, dominados por fluxos gravitacionais (LDFG). Próximo à sua entrada no Pantanal, ainda no planalto, o rio Taboco, em seu curso para oeste, é um rio encaixado na sua planície fluvial. A montante da fazenda Taboco é iniciada o desconfinamento e a planície é alargada, predomina neste setor sistema o anastomosado. Lobo distributário atual 169

O rio Taboco adentra na depressão Taboco-Negro e desenvolve uma planície de canais distributários (próximo à sede da fazenda Taboco). Após 5km a jusante da fazenda Taboco, o rio é fracamente encaixado e formam terraços marginais em torno de 1,0m (trecho entre as fazendas Taboco jusante e Iguaçu), contornada por superfície constituída de lagoas e cortadas por vazantes orientadas, segundo NNW-SSE. A paisagem é caracterizada pela existência de centenas de pequenas lagoas em meio á trama de paleocanais distributários. As lagoas são facilmente reconhecidas nas imagens de satélites e fotos aéreas, possuindo formas as mais diversas (circulares, elípticas, piriformes, crescentiformes e irregulares. Figura 6. Bacia de drenagem do rio Taboco e a formação do anfiteatro de erosão.(facincani, 2007). Figura 7. Leques Dominados por Fluxos Gravitacionais (LDFG): A) rampa de piedmont na borda leste da bacia. Serra de Maracaju-CampoGrande. Estrada: BR419. Adjacências da Fazenda Taboco.(Facincani, 2007). Vazantes expressivas como Mangabal e Alegria entalham em sedimentos do leque, com padrão do tipo distributário e drenam suas águas para o rio Negro. O rio Taboco desenvolve no leque atual padrão de drenagem do tipo distributária (Figura 9), marcado por complexo de paleocanais, ponto de extravasamento, crevasse splays e diques marginais. Na foz do rio Taboco na porção oeste estão sendo expostos paleocanais distributários do leque do Aquidauana, o próprio rio Taboco na sua foz utiliza-se desses paleocanais para desaguar no Negro além de escavar sedimentos de lobos mais antigos no leque do Aquidauana. 170

O curso do rio Taboco foi compartimentado de montante para jusante de uma divisão geomorfológica de segmentos tripartite, com características geomorfológicas distintas e de processos fluviais atuantes diferentes, denominados I a III de leste para oeste. Figura 8. Leques Dominados por Fluxos Gravitacionais (LDFG):A) matriz areno-argilosa, com fragmentos de quartzo, filito e canga laterítica esparsos, subangulosos a subarredondados, sem estrutura sedimentar; B) Conglomerados mal selecionados sustentados pela matriz, constituído por seixos de quartzo, filitos e fragmentos de canga laterítica de tamanhos variados, subangulosos a subarredondados, praticamente sem ordenação preferencial produzidos por fluxos de detritos e C) Grupo Cuiabá subjacente, constituído por filito e veios de quartzo. Local: Estrada BR 419. Afloramento 127 (UTM- 7753115/630636). (Facincani, 2007). 171

Figura 9. Padrão de drenagem distributária presença de paleocanais e crevasse splays, porção distal do lobo do Taboco. Fonte: Foto aérea 1965. O compartimento I faz parte integrante da bacia de drenagem do rio Taboco, possui extensão de 150km, é caracterizado pela presença de uma planície fluvial meandrante, situada no planalto, de largura média 100m; porém segmentos, como nas adjacências do distrito de Cipolândia a planície pode atingir até 800m de largura e índice de sinuosidade 1,5. Tanto a planície como o canal encontram-se condicionados por estruturas rúpteis de direções preferenciais NE-SW e NW-SE e E-W, são desenvolvidos cotovelos, marcados por mudanças abruptas de direção do canal. Ao adentrar na planície na depressão Taboco- Negro, o rio Taboco continua a meandrar, com índices de sinuosidade menos expressivas, numa planície com cerca de 30m de largura e marcada por trechos descontínuos possuindo extensão de 30km fracamente encaixados e perde água para a planície. Na jusante da fazenda Taboco são desenvolvidas complexo de paleocanais e crevasse splays, na porção lobo distributário atual. Neste trecho o rio Taboco é circundado por campo de lagoas e vazantes. Este segmento termina nas adjacências da sede da Fazenda Iguaçu é classificado como pertencente ao compartimento II. A partir da fazenda Iguaçu o rio adentra no Brejão do Taboco, predominam canais e paleocanais do tipo distributários, a sinuosidade do rio diminui e presença de poucos diques marginais, constituindo o III e último compartimento reconhecido possuindo extensão de 70km. A planície nesta área permanece quase que permanentemente inundada devido à perda de água para a planície. O rio Taboco na sua confluência no Negro aproveita paleocanais e entalha seu canal em sedimentos antigos do leque do Aquidauana. A porção leste do leque do Aquidauana está atualmente sendo sobreposta por canais distributários mais jovens do leque do Taboco, que truncam os paleocanais do leque do Aquidauana. Os sedimentos antigos do leque do Aquidauana estão expostos e sulcados pelo rio Taboco na sua foz (conforme Figura 4). A existência dessa complexa rede de canais e paleocanais distributários e lagoas, região freqüentemente inundada, composta pelos compartimentos I a, III, sugerem, que esta área pode ser considerada um notável lobo distributário ativo de sedimentação holocênica, denominado leque do Taboco. Assim, rio Taboco atravessa dois domínios geológicos e geomorfológicos distintos, a bacia de drenagem é entalhada em rochas pré-cambrianas e fanerozóicas (planalto) e a depressão pantaneira (planície). No Planalto o rio Taboco forma um grande anfiteatro de erosão, entalhando o Planalto de Maracaju- Campo Grande. Os sedimentos erodidos no planalto são transportados para a planície e depositados. CONSIDERAÇÕES FINAIS A compartimentação geomorfológica do rio Taboco na área estudada reveste-se de importância econômica e ambiental, além de compreender o funcionamento dos sistemas naturais da borda Sudeste da Bacia do Pantanal. Os processos autogênicos como alogênicos promovem mudanças no nível de base no leque do taboco. Assim, os sedimentos erodidos do planalto são transportados para a planície aonde o rio Taboco vem construindo um leque fluvial, dominado por rios situado na depressão Taboco-Negro. As principais feições geomorfológicas de relevo e drenagem da planície fluvial do rio Taboco são marcadas pelos paleocanais e canais atuais, diques marginais, crevasse splays, cinturão de meandros e terraços marginais. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA FACINCANI, E. M., 2007. Geomorfologia e Geologia do Cenozóico do Médio Vale do Rio Aquidauana, Borda Sudeste da Bacia do Pantanal, MS. Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista - Unesp, Rio Claro, Tese de Pós-Doutorado, p. 100. 172