SOBRE A VALIDADE DE LUTZOMYIA (TRICHOPHOROMYIA) VIANNAMARTINSI SHERLOCK & GUITTON, 1970 (DIPTERA, PSYCHODIDAE, PHLEBOTOMINAE) 1

Documentos relacionados
Flebotomíneos (Diptera: Psychodidae) coletados em um assentamento rural no Estado do Amapá, Brasil

GUATUBESIA, NOVO GÊNERO DE GONYLEPTIDAE

Revista Eletrônica de Biologia

Samuel do Carmo Lima Prof. Dr. do Instituto de Geografia - UFU

MACROCHELES NOVAODESSENSIS, SP.N. E MACROCHELES ROQUENSIS, SP.N. COLETADAS EM ESTERCO BOVINO NA REGIÃO NEOTROPICAL (ACARINA, MACROCHELlDAE)

LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA NA ILHA GRANDE, RIO DE JANEIRO. VI. OBSERVAÇÕES SOBRE A FREQÜÊNCIA HORÁRIA E VARIAÇÃO MENSAL DOS TRANSMISSORES (*)

Biologia Geral e Experimental

p o r B. M. SOARE S Liogonyleptoides inermis (M. L., 1922).

PAPEIS AVULSOS DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA SECRETARIA DA AGRICULTURA- S. PAULO - BRASIL POR

Flebotomíneos em área de transmissão de leishmaniose tegumentar na região norte do Estado do Paraná - Brasil: Variação Sazonal e Atividade Noturna*

NOVAS ESPÉCIES DE TRICHOMYIA (DIPTERA, PSYCHODIDAE) DA MATA ATLÂNTICA DA BAHIA, NORDESTE DO BRASIL INTRODUÇÃO

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA RODRIGO ESPÍNDOLA GODOY

Species structure of sand fly (Diptera: Psychodidae) fauna in the Brazilian western Amazon

VARIAÇAO MENSAL DOS FLEBOTOMíNEOS. (DIPTERA-PSYCHODIDAE) DE IGARASSU, PE. DURVAL T. DE LUCENA Prof. Assistente do Dep. de Biologia da UFRPE.

Avaliação de medidas de controle de flebotomíneos no Município de Lobato, Estado do Paraná, Sul do Brasil

ARTIGO ORIGINAL DE TEMA LIVRE. Palavras-Chave: Phlebotominae. Ocorrência. Registro.

ESTUDO MORFOLÓGICO DA LARVA DE ÚLTIMO fnstar DE MIATHYRIA SIMPLEX (RAMBUR) (ODONATA, LlBELLULlDAE)

CONTRIBUIÇÃO AO CONHECIMENTO DA FAUNA FLEBOTOMÍNICA DO ESTADO DE GOIÁS E DISTRITO FEDERAL. II *.

Fauna flebotomínica (Diptera: Psychodidae) da Serra do Tepequém, Município de Amajarí, Estado de Roraima, Brasil

Flebotomíneos (Diptera, Psychodidae) de área endêmica de leishmaniose na região dos cerrados, Estado do Maranhão, Brasil

F. A. Moschetto. Moschetto, F. A. 1

The Sand Fly Fauna (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae) of a Focus of Cutaneous Leishmaniasis in Ilhéus, State of Bahia, Brazil

Introdução à Bioestatística Turma Nutrição

Contribution to the Knowledge of the Phlebotomine Sand Flies Fauna (Diptera: Psychodidae) of Timóteo Municipality, Minas Gerais, Brazil

FLEBOTOMÍNEOS (DIPTERA: PSYCHODIDAE) NO ESTADO DE RORAIMA, BRASIL. II. ESPÉCIES COLETA DAS NA REGIÃO NORTE.

Almério de Castro Gomes** Eunice Aparecida Bianchi Galati**

contribuição para o conhecimento das espécies do gênero Phlebotomus existentes no Brasil

Revta bras. Ent. 32(2): OPERA OPILIOLOGICA VARIA. XXI. (OPILIONES, GONYLEPTIDAE) ABSTRACT

José Manuel Macário REBÊLO 2, Yrla Nívea OLIVEIRA-PEREIRA 3

ASPECTOS ECOLÓGICOS DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA

ESTUDO MORFOLÓGICO DE SCHISTOSOMA MANSONI PERTENCENTES A LINHAGENS DE BELO HORIZONTE (MG) E DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP)

NECROLÓGIO. Amilcar Vianna Martins ( )

IDENTIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DE FLEBOTOMÍNEOS CAPTURADOS EM ÁREA URBANA MORPHOLOGIC IDENTIFICATION OF PHLEBOTOMINE SANDFLIES CAPTURED IN URBAN AREA

RECURSOS EXISTENTES DE PESSOAL MÉDICO E PARA-MÉDICO NA REGIÃO DO GRANDE SÃO PAULO EM 1966

Primeira ocorrência de Lutzomyia (Lutzomyia) longipalpis Lutz & Neiva, 1912 (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae) no Estado do Amapá, Brasil.

Marlisson Augusto Costa FEITOSA ¹, Eloy Guillermo CASTELLÓN ²

Anomalia dentária em Puma concolor (LINNAEUS, 1771) (MAMMALIA-FELIDAE) Dental anomaly in Puma concolor (LINNAEUS, 1771) (MAMMALIA-FELIDAE)

xanthoptica X eschscholtzi; platensis X croceater; sendo

Disciplina: Específica

Descritores: Psychodidae. Ecologia de vetores. Leishmaniose mucocutânea, transmissão. Introdução

Tipos de estudos epidemiológicos

The Phlebotominae Sand Fly (Diptera: Psychodidae) Fauna of Two Atlantic Rain Forest Reserves in the State of Rio de Janeiro, Brazil

Uma Avaliação do Erro Tipo II no Uso do Teste t-student

FLEBOTOMÍNEOS (DIPTERA, PSYCHODIDAE) DE ÁREA DE CERRADO NO MUNICÍPIO DE CORUMBATAÍ, CENTRO-LESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL

Chrysodasia pronotata, sp.n. Figs 1-5

Lista preliminar das espécies do gênero Lutzomyia, França, 1924 (Psychodidae, Phlebotominae) do Estado do Maranhão, Brasil

COMPARAÇÃO DE SISTEMAS USANDO DADOS DE AMOSTRAS. Capítulo 13 do livro: The Art of Computer Systems Performance Analysis

Três espécies novas do gênero Chorisoneura (Blattellidae, Chorisoneuriinae) coletadas em ninhos de Sphecidae (Hymenoptera) do Estado do Acre, Brasil

ARTIGO. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 31(4): , jul-ago, 1998.

Investigação de Surtos e Epidemias

494 The fauna of phlebotomines (Diptera, Psychodidae) in different phytogeographic regions of the state of Maranhão, Brazil

Derophthalma vittinotata, sp.n. Figs 1-4

OPERA OPILIOLOGICA VARIA. VII (OPILIONES, GONYLEPTIDAE) '

DOMINGOS CORRÊA DE ALMEIDA

Jaime de Liege Gama Neto 1 ; Toby Vincent Barrett 2 ; Rui Alves de Freitas 3

Carlos Frederico Loiola/ +, Delano Anibal da Silva, Eunice Aparecida Bianchi Galati *

Leishmaniose tegumentar americana: flebotomíneos de área de transmissão, no município de Pedro de Toledo, região sul do Estado de São Paulo, Brasil

OPERA OPILIOLOGICA VARIA. XVII. (OPIL!ONES, GONYLEPT!DXE) ABSTRACT

Mirídeos neotropicais, CCXXXVII: Descrição de quatro espécies novas do gênero Peritropoides Carvalho (Hemiptera)

Flebotomíneos de localidades rurais no noroeste do Estado do Paraná, Brasil. Sandflies in rural localities in northwest Paraná State, Brazil.

Parte II Aracnídeos / Arachnids 1922 contribuição para o conhecimento dos escorpiões encontrados no Brasil

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS GONAÇALO MONIZ

OPERA OPILIOLOGICA VARIA. XVL NOVO GÊNERO DE GONYLEPTIDAE E PRESENÇA DE TRIAENONYCHIDA E NO BRASIL (OPILIONES).

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA

Descritores: Psychodidae. Leishmaniose mucocutânea, epidemiologia. Ecologia de vetores.

ARTIGO ARTICLE. Gustavo Marins de Aguiar 2 Wagner Muniz de Medeiros 2 Tania Santos De Marco 2 Simone Corrêa dos Santos 2 Simone Gambardella 2

Deltocephalinae): primeiro registro no Brasil e descrição de duas espécies novas 1

Diversidade e Abundância de Flebotomíneos do Gênero Lutzomyia (Diptera: Psychodidae) em Áreas de Mata do Nordeste de Manacapuru, AM

1) A variável anos de remodelação dos veículos (na percepção do cliente) está representada no histograma a seguir:

EFICÁCIA DE INSETICIDAS APLICADOS NAS SEMENTES VISANDO O CONTROLE DO PERCEVEJO BARRIGA-VERDE, DICHELOPS MELACANTHUS, NA CULTURA DO MILHO

3 Caracterização magnética

PESQUISA CAUSAL: Experimentação

TAXONOMIA ZOOLÓGICA. Fernanda Jacobus de Moraes 2º Semestre Zoologia Geral

Percevejos predadores: o estado taxonômico e sistemático atual e perspectivas (Heteroptera: Pentatomidae: Asopinae)

SFO t 300'\04- .' FOul'...,~:~, \J. 'f (.,.,~) /ln> ~, Se:: r;"' 30, ler3r. ~. ]ilbltcta. "u. 8~ 'Nat M:ua; ...

Marlisson Augusto Costa FEITOSA 1, Eloy Guillermo CASTELLÓN 1

Desenhos Quasi-Experimentais com Grupos de Controle e sem Pré-testes

Palavras-chaves: Pragas do pequizeiro, Megalopigidae, Levantamento de pragas

Phlebotominae (Diptera: Psychodidae) em área de transmissão de leishmaniose tegumentar americana no litoral norte do Estado de São Paulo, Brasil

KETI MARIA ROCHA ZANOL 2

BIO-103 Biologia evolutiva

CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA. Taxonomia ou Sistemática. Ciência de organizar, nomear e classificar organismos dentro de um sistema de classificação.

Heloísa Aparecida Machado Naves* Maria Elisa Santos Dourado Carvalho" RESUMO

Dardarina angeloi sp. n. do sudeste e sul do Brasil (Lepidoptera: Hesperiidae) 1

VINALTO GRAF ALICE FUMI KUMAGAI 3

José Albertino RAFAEL 1, 2

Pachani, Rodinei Antonio Cálculo e uso de mediana Exacta, vol. 4, núm. 2, 2006, pp Universidade Nove de Julho São Paulo, Brasil

Propagação de erros. Rever conceitos e procedimentos de como realizar a propagação dos erros

Flebotomíneos do Estado de Tocantins, Brasil (Diptera: Psychodidae)

FLEBOTOMÍNEOS (DIPTERA, PSYCHODIDAE) EM FOCOS URBANOS DE LEISHMANIOSE VISCERAL NO ESTADO DO MARANHÃO, BRASIL

Inferência Estatística:

Introdução às Medidas em Física a Aula. Nemitala Added Prédio novo do Linac, sala 204, r. 6824

FLEBOTOMÍNEOS (DIPTERA: PSYCHODIDAE) EM CUITÉ-PB

DEIPARTAMENTO DE ZOOLOGIA. DOIS NOVOS CiÊNEROS E TRÊS NOVAS ESPÉCIES DE OPILIOES BRASILEIROS (*) POR INTRODUÇÁO

Espécies novas de Ischnoptera (Blattellidae, Blattellinae) do Estado do Mato Grosso, Brasil e considerações sobre I. similis

TEORIA CROMOSSÓMICA DA HEREDITARIEDADE

Acta Biol. Par., Curitiba, 41 (3-4): KETI MARIA ROCHA ZANOL 2 Estrianna gen. nov. (Espécie tipo Estrianna sinopia sp. n.

Indicador da Progressão Relativa

NEW RECORDS OF PHLEBOTOMINE FAUNA (DIPTERA, PSYCHODIDAE) IN THE AMANÃ SUS- TAINABLE DEVELOPMENT RESERVE, AMAZONAS, BRAZIL

Transcrição:

SFOG040915 Rev. BrasiL Blol., 3G(1): 7-11 Julho, 1976 - Rio de Janeiro, RJ SOBRE A VALIDADE DE LUTZOMYIA (TRICHOPHOROMYIA) VIANNAMARTINSI SHERLOCK & GUITTON, 1970 (DIPTERA, PSYCHODIDAE, PHLEBOTOMINAE) 1 ítalo A. SHERLOCK e l'i""eide GUITTON Núcleo de Pesquisas do INERU - FOCRUZ - Salvador - Bahia (Com 9 figuras no texto) Mangabeira, em 1942, descreveu, entre outras, as espécies de flehotomíneos Phlebotomus auraensis e Phlebotomus ubiquitalis. No mesmo trabalho, também descreveu Phlebotomus brachiptjgus, julgando ser a espécie mais próxima desta, o Phlebotomus rostrans Summers, 1912 (7). Theodor, em 1948, elevou a gênero o subgênero Lutzomyia França, 1924, e Barretto, em 1962, criou o subgênero Trichophoromyia, onde atualmente as espécies acima mencionadas estão incluídas (13-1). Em 1970, fizemos uma revisão das espécies do subgênero Trichophoromyia, adotando a subdivisão dos grupos propostos por Barretto (1962). Nesse mesmo trabalho, também descrevemos uma nova espécie de Phlebotominae designando-a de Lutzomyia viannamartinsi, a qual pertencia ao grupo Brachipyga do subgênero Trichophoromyia, de Barretto (1962) (12). 1 Recebido para publicação a 4 de junho de 1975. Trabalho do Núcleo de Pesquisas do!neru - FOCRUZ - Salvador - Bahia. Forattini, em 1971 (2) sem levar em consideração qualquer característica grupal, quer morfológica ou biológica, propõe uma classificação para os flebotomíneos americanos. Estando fora dos critérios adotados pela maioria dos que trabalham com esses dípteros e sem ter uma base natural para o grupamento das espécies, essa confusa e arbitrária classificação, evidentemente não poderia ser aceita. No máximo, o que poderia ser aproveitado dessa classificação, porém, com certas reservas, seria a elevação de alguns subgêneros clássicos, para a categoria de gêneros, como por exemplo o subgênero Pintomyia Lima,1932. Infelizmente, os gêneros e subgêneros Lutzomyia, e Brumptomyia e Psychodopygus como são definidos e subdivididos por Forattini (2-4), são incaracterizáveis e completamente diferentes dos descritos originalmente e classicamente aceitos. Somente da maneira clássica como foram definidos por Barretto (1962) e Theodor (1965) é que alguns desses subgêneros poderiam ser elevados à categoria de gênero, e não como Forattini propôs.

8 ITALO A. SHERLOCK c NEIDE GUlTTON Inúmeras espécies de flebotomíneos muito afastadas na escala zoológica, são incluídas por Forattini (2-4) num extenso e heterogêneo grupo que designa de subgênero Trichophoromyia, completamente diferente do criado por Barretto com o mesmo nome. Este subgênero é, ainda mais, incluído por Forattini num gênero que designa de Psychodopygus. Não pode tratar-se da elevação de um subgênero a gênero, pois esse Psychodopygus de Forattini é definido de forma completamente diferente da do subgênero original Psychodopygus criado por Mangabeira em 1942 e muito bem caracterizado por Barretto em 1961 e Martins e colaboradores em 1968 (1-8). A espécie Lutzomyia (TrichophoTOmyia) brachipyga (Mangabeira, 1942) é incluída por Forattini (1973) nesse seu subgênero "Psychodopygus" e o referido Autor considera a espécie Lutzomyia (Trichopho Tomyia) viannamartinsi Sherlock & Guitton, 1970, sinônima da primeira espécie (4). Não foi possível para nós entendermos, como Forattini, que teve oportunidade de examinar material de ambas as espécies, conforme declara em seu livro (4), não conseguiu observar as aberrantes diferenças morfológicas existentes entre as mesmas, conforme foram apresentadas na descrição original de L. (T. ) viannamartinsi (12). Essas diferenças podem novamente ser verificadas no presente trabalho, principalmente nas figuras 1 a 9 que aqui mostramos. Não é correto também o que afirma Forattini (4) de que no tufo do basistilo é possível verificar a ocorrência freqüente de algumas cerdas mais robustas, ou mesmo espiniformes, além das duas maiores que se destacam. A figura 140 J que Forattini apresenta no seu livro (4), é um desenho exagerado de uma pequena cerda extranumerária, e corresponde, fora de dúvidas, a uma anomalia rara e unilateral de L. (T.) viannamartinsi. Na revisão que agora fizemos dos exemplares dessa espécie que se encontraram em nosso poder, não observamos qualquer um com a referida anomalia e, portanto, a mesma não é freqüente. Como foi por um de nós observado anteriormente (10/11), anomalias morfológicas diversas podem ocorrer com os flcbotomíneos, não querendo, contudo isso, significar tratar-se de uma característica de valor específico. Além das aberrantes diferenças morfológicas existentes entre as espécies L. (T.) brachipyga e L. (T.) viannamartinsi, as dimensões diferentes dos aparelhos genitais dos machos dessas espécies de flebotomíneos ainda mais reforçam o fato de tratarem-se de duas entidades específicas bem distintas, embora localizadas proximamente, conforme podem ser vistas nas figuras 1 a 9. Se Forattini ao menos as tivesse comparado dimensionalmente, teria evitado o erro de considerá-las sinônimas. Não acreditamos que aqui tivesse influído o fato de esse Autor não querer levar em consi deração as diferenças dimensionais que existem entre as espécies de flebotomíneos, conforme diz em 1971 (3). As diferenças dimensionais existentes entre as espécies acima referidas não se tratam de variações de tamanhos de espécimens, causadas por fatores nutricionais, como pode ocorrer em criações de laboratório. Como sabemos, as descrições originais de ambas essas espécies e as observações que aqui apresentamos, foram baseadas em exemplares coletados na natureza. Portanto, é admissível que as condições de nutrição e desenvolvimento físico de ambas as entidades, fossem as ideais. No entanto apenas as genitálias dessas espécies diferem em tamanho, enquanto que as outras partes dos corpos, tais como os palpos, as asas, os fêmures etc., têm muito aproximadamente as mesmas dimensões, conforme os dados abaixo.

VALIDADE DE LUTZOMYIA VIANNAMARTINSI 9 Asa comprimento X largura Fêmur posterior Tíbia posterior m Segmento antenal Genitália: basistilo dististilo claspetes gonapólise inlerior espículos L. (T.) brachipyga Medidas em micra - 1.800 x 648-1.026-1.674 270 684 306 288 558-1.260 L. (T.) viannamarlillsi Medidas em miera 1.827 x 594 1.000 1.674 414 468 1.080 Forattini (1971) acha que o emprego de medidas das partes do corpo dos flebotomíneos para a caracterização específica seja um método, além de pouco prático, sujeito grandemente a falhas. Entretanto, somos da opinião de que mesmo que isso seja verdadeiro, em hipótese alguma é admissível que uma espécie seja descrita como nova, _~1 ~oo t" 2 /-------=5 3 :::c:::x--~::=:====::::=:;::? ~ c::x AOO ~ 5 6 "----' 50,'" 4 Lutzomyia (T.) l1unmalllartillsi - Fig. 1: genitália do macho; figo 4: claspete; figo 6: palpo do macho; ligo 8: pompeta. Lutzomyia (T.) brachipyga - Fig. 2: genitália do macho; figo 3: c1aspete: figo 7: palpo do macho; ligo 9: pompeta. Lutzomyia (T.) eurypyoa - Fig. 5: palpo do macho..00... I 8 9 7

10 ltalo A. SHERLOCK e NEIDE GUlTTON e não sejam apresentadas as suas medidas. Estamos de acordo que, na prática, após identificação correta da espécie, a identificação de exemplares similares coletados simultaneamente, pode ser feita apenas por comparação qualitativa. Também temos de discordar de Forattini (3) quanto a essa idéia, de que não se dispõe de dados satisfatórios sobre a densidade populacional desses dípteros que possam servir de amostra representativa. Se considerado por esse prisma, jamais será possível sabermos exatamente qual a amostra com significado estatístico que deveria ser estudada de cada espécie. Se não for possível levarmos em consideração os caracteres morfológicos e as dimensões das partes do corpo desses dípteros para a identificação específica, então, em que poderemos nos basear para sabermos o que é uma espécie de fiebotomíneo e diferenciá-las umas das outras? Um aspecto também abordado por Forattini (3) e que também desejamos esclarecer é o da identificação dos sexos opostos de uma espécie de flebotomíneos, com base na captura simultânea de machos e fêmeas. Somente esse dado não é condição segura para a associação dos sexos opostos. Inclusive, até mesmo não é segura a associação especifica de casais pegados em cópula, pois podem pertencer a espécies diferentes. Já tivemos a oportunidade de observar inúmeras vezes, em capturas na natureza, e em trabalhos de laboratório, a tentativa de cópula entre espécies de fiebotomíneos muito afastadas e diferentes morfologicamente, em que os machos pertenciam a espécies distintas das fêmeas. Por vezes mesmo, até a gêneros distintos os sexos opostos pertenciam, como por exemplo a Brumptomyia e Lutzomyia. Dessa forma, a única garantia absoluta da identificação dos sexos opostos que se tem é a criação em laboratório. Não quer dizer contudo que, na prática, não se possa admitir que os sexos opostos descritos como pertencentes a uma espécie, quando freqüentemente são coletados juntos, não o sejam. Há muita probabilidade de isso ocorrer, o que é do conhecimento dos que trabalham com flebotomíneos e foi bem documentado por um de nós com as espécies Lutzomyia lenti e Lutzomyia evandroi (9). Junto a machos de L. lenti, era coletada grande quantidade de fêmeas identificadas como L. evandroi; entretanto, raríssimos eram os machos desta última espécie coletados simultaneamente nestas mesmas capturas. A suspeita de filiação dos sexos pela captura simultânea repetida de machos e fêmeas, conduziu à associação dos sexos, confirmados após pela criação de L. lenti em laboratório (9). Entretanto, apenas na falta de dados mais seguros de laboratório e com certas reservas, a associação dos sexos pela captura simultânea deve ser admitida, o que terá alguma probabilidade de certeza. Finalmente, como estamos tratando de uma espécie de subgênero Trichophoromyia ao qual a espécie L. (T.) rostrans (Summers, 1912) também pertence, desejamos salientar que foi possível ao primeiro Autor deste trabalho, examinar, no British Museum, o tipo de L. (T.) rostrans e constatar que esta espécie tem, no seu basistilo, as 4 cerdas bem basais, que representam a principal característica que a separava de L. (T.) octavioi (Vargas 1949) (= L. T. affinis Mangabeira, 1942). Dessa forma, como Theodor (1965) suspeitava, agora confirmamos serem essas espécies sinônimas. Com base nas regras de prioridade da Nomenclatura Zoológica Internacional, a denominação de L. (T.) rostrans (Summers, 1912), deverá ser a válida para a espécie. L. (T.) rostrans (Summers, 1912), foi muito bem redescrita por Lewis em 1967, baseada no holótipo depositado no British Museum. SUMARIO É demonstrada a validade da espécie Lutzomyia (Trichophoromyia) viannamattinsi Sherlock & Guitton, 1970. Os Autores salientam não estarem de acordo com a sistemática e a classificação proposta por Fo-

VALIDADE DE LUTZOMYIA VIANNA1tfARTINSI 11 rattini, em 1971, considerada artificial e confusa. Foi constatado ser a espécie Lutzomyia (T.) octavioi (Vargas 1949) sinônima de Lutzomyia (T.) rostrans (Summers, 1912). ABSTRACT Lutzomyia (Trichophoromyia) vianna. martinsi Sherlock & Guitton. 1970 shown to be a valid species of Phlebotominae. The Authors emphasize their disagreement with the c1assification proposed by Forattini (1971) which is considered to be artificial and confusing. L. (T.) octavioi (Vargas, 1949) is considered a synonyme of L. (T.) rostrans (Summers, 1912). R.EFERtNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BAJlRE'1TO, M. P. -1962 - Novos subgêneros de Lutzamyia França, 1924 (Diptera. Psychodidae. subfamllia Phlebotorninae). Rev. Inst. Med. Trap. Sáo Paulo, 4 (2): 91-100. 2. FORATrINl, O. P. - 1971 - Sobre a classificação da subfamilia Phlebotominae nas Américas (Diptera. Psychodidae). Papo Avulsos Zoa!., 24 (6): 93-111. 3. FORATl'INI, O. P. - 1971 - Nota sobre Psychodopygus squamiventris (Lutz & Neiva, 1912) e espécies afins (Diptera, Psychodidae). Rev. Saúde Publ. S. Paulo, 8: 151 154. 4. FORATTINI, O. P. - 1973 - Entomologia Médica. 4. volume. Psychodidae. Phlebotorninae. Leisbmanioses. Bartoneloses. Editora Edgard Blucher Ltda. 658 pp. 5. Lzwts, D. J. - 1961 - RedescripUons of two South American Sand - IDes (Diptera, Psychodidae) Proc. R. Ent. Soe. Lond. (B) 36 (9-10): 131-136. 6. MANGABEIRA F.o, O. - 1941-4.1\ Contribuição ao estudo dos Flebotomus. n. Subg. (Diptera, Psychodidae). Mem. Inst. O,tO. Cruz, 36 (3): 237-255. 7. MANCABEIRA F.o., O. - 1942-7. 8 Contribuição ao estudo dos Flebotomus (Diptera: Psychodidae). Descrição dos machos de 24 novas espécies. Mem. Inst. OSlO. Cruz, 37 (2): 111-218. 8. MARTINS, A. V.; MACIEL, C. S. & SILVA, J. E. da - 1968 - Notas sobre os flebotom05 do grupo Squarniventris do subgênero Psychodopygus Mangabeira, 1941. (Diptera, Psychodidae). BoI. Museu Hiat. Nat. Minas Gerais, 1: 1-33. 9. SHERLOCK, I. A. - 1957 - Sobre o Phlebotomus lenti Mangabeira, 1938 (Diptera. Psychodidae). Rev. Brasil. Biol., 17: TI-SS. 10. SHERLOCK, I. A. - 1958 - Anomalias de Phiebotomu8 1000gipalpis Lutz & Neiva, 1912 (Diptcra Psychodidae). Rev. Brasil. Bio!., 18: 433-437. 11. SHERLOCK, 1. A. - 1963 - VariabiUty of the genitalia of Ph1ebotomtl8 bahiensis (Diptera, Psychodidae). Rev. Brasil. Biol., 23: 49 53. 12. SHERLOCK, 1. A. & GurrroN, M. - 1970 Notas sobre o subgênero Trichophoromyia Barretto, 1961 (Diptera, Psychodidae, Phlebotominae). Rev. Brasil. Biol., 30 (2): 137 150. 13. THEODOR, O. - 1948 - ClassificaUon of the old World species of the subfamily Phlebotominae. (Diptera, Psychodidae). Buli. Entamol. Rcs., 39: 85-115. 14. THEODOR, O. - 1965 - On the ciassüication of the American Phlebotominae. J. Med. Entomol. 2 (2): 171-197.