Educação financeira Preparação para o futuro
Finanças para novas gerações Ensino aproxima crianças e jovens de temas econômicos e ideias sustentáveis I ndivíduos bem informados e conscientes quanto ao uso de recursos lidam mais adequadamente com suas questões financeiras, evitam se endividar e são capazes de empreender, além de terem um olhar para a sustentabilidade. É senso comum. O que ainda é pouco disseminada é a crescente contribuição da educação financeira na formação de pessoas com esse perfil, já que essas competências também podem estar presentes em sala de aula. Para corresponder a essa tarefa, módulos de educação financeira vêm sendo incorporados às matrizes curriculares já na fase de alfabetização, nos anos iniciais do Ensino Fundamental. E o tema foi incluído na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), devendo constar nos currículos de todo o país. Um estímulo para que as escolas que atendem a esse segmento deem destaque a tais habilidades em seus projetos pedagógicos. Rumo ao sucesso da atuação pedagógica 2
O contexto social está entre as justificativas para seguir essa tendência. O número de inadimplentes no país, com dívidas e contas em atraso, aumentou 1,91% em 2017, atingindo a marca de 61 milhões de consumidores, segundo dados da Serasa Experian. Em estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2015, foi constatado que 53% dos estudantes brasileiros, na faixa de 15 anos, não têm conhecimentos financeiros básicos, encontrando dificuldades para realizar operações triviais. Um possível caminho para reverter esse quadro é o de educar financeiramente as novas gerações, despertando a percepção de crianças e adolescentes para os riscos de suas escolhas financeiras na vida adulta. Essa modalidade de ensino é uma demanda nacional, assegura Dante, professor de Matemática e autor de livros didáticos sobre o tema. O aprendizado começa na sala de aula, com turmas a partir dos seis anos, e busca desenvolver uma atitude positiva em relação a temas financeiros e ambientais. O aprendizado começa na sala de aula, com turmas a partir dos seis anos, e busca desenvolver uma atitude positiva em relação a temas financeiros e ambientais. Dante professor de Matemática e autor de livros didáticos 3
Primeiros passos na economia A educação financeira trabalha conceitos essenciais e influencia comportamentos. Não deve ser confundida com a matemática financeira ou mesmo com a própria Matemática, embora os temas se inter-relacionem. A Matemática tradicional é parte do processo, pois é indispensável que nessa faixa etária o aluno já conheça as quatro operações e o sistema de numeração decimal, afirma Dante. A matemática financeira, por sua vez, trata de questões mais avançadas, como porcentagem, lucro, juros simples e compostos, tratados nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, completa. Há diversas formas de apresentar o tema, sem que pareça complexo, para alunos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. A estratégia adotada em materiais didáticos é começar pelos fundamentos da economia, que se originaram da necessidade de estabelecer trocas. Explicamos como surgiu a ideia do escambo, em que aquele que plantava mais milho trocava com quem tinha sobra de arroz, até o surgimento do dinheiro, esclarece o autor. 4
Nessa fase inicial também são abordadas as formas atuais do dinheiro, como o cheque, em papel, o cartão de crédito, em plástico, e outros sistemas comerciais, como o ouro. É estimulado o raciocínio aplicado à divisão de quantias, como trocar uma nota de dez reais por outras de cinco ou dois reais, e apresentada uma visão histórica do uso do dinheiro no Brasil. Mostramos as diversas moedas do país até o lançamento do Real, detalha o professor. Escolhas conscientes Entender a função do dinheiro também pressupõe adotar valores para utilizá-lo. É uma oportunidade para o professor trabalhar conceitos de ética em classe, observa. Vários exercícios podem estimular essa questão. Vale perguntar para os alunos, por exemplo, como cada um reagiria ao encontrar uma moeda de um real no chão. Mas não se deve impor qual seria a atitude correta, adverte. Eles podem debater e se posicionar sem que se estabeleça o que é certo ou errado. A ideia de ética surge de forma espontânea. A economia de recursos naturais também se insere na proposta da educação financeira. Inclui desde evitar o desperdício de papel para se cortar menos árvores, e assim preservar o meio ambiente, até apagar a luz ou desligar a televisão quando não se está a assistindo. Dante professor de Matemática e autor de livros didáticos 5
Estimular uma postura responsável relaciona-se ainda a outros temas fundamentais para a sociedade, como a questão da sustentabilidade. A economia de recursos naturais também se insere na proposta da educação financeira. Inclui desde evitar o desperdício de papel para se cortar menos árvores, e assim preservar o meio ambiente, até apagar a luz ou desligar a televisão quando não se está a assistindo, orienta o professor. O consumismo é outra frente trabalhada. Os alunos são orientados a diferenciar o que realmente é necessário do que é apenas um apelo de consumo, estimulado pela publicidade ou pelo meio social. Assim, passam a ver com outros olhos a compra do tênis de marca ou da mochila mais cara. É um tema que tem grande repercussão em classe e aproxima o aluno da perspectiva dos pais, estimulando debates em casa. Promove uma conscientização que costuma receber elogios da família, revela. Projetos de vida Estimular competências para empreender é outro benefício da educação financeira que pode ter impacto no futuro do estudante. Ao se familiarizar com o mundo das relações comerciais, ele começa a vislumbrar, desde cedo, oportunidades que poderá ter na vida adulta. É possível inspirar o aluno com casos próximos de sua realidade como, por exemplo, a trajetória do dono da cantina da escola, que abriu outros estabelecimentos a partir do sucesso de seu primeiro negócio, sugere o professor. A chave para que todo esse conjunto de informações contribua para formar um cidadão mais consciente em relação às questões financeiras e ambientais é que esse processo seja consolidado aos poucos, durante as várias etapas do Ciclo Básico. O aprendizado deve ser progressivo e respeitar as particularidades de cada aluno, permitindo que ele reflita intuitivamente e sem imposições, encerra Dante. 6
Aprendizado para o futuro Confira conhecimentos de grande valia na vida adulta que podem ser desenvolvidos durante a escolaridade básica Decisões de consumo Saber discernir o que é útil e vale adquirir daquilo que é apenas estimulado pelo consumismo Aprender a poupar Guardar dinheiro não é pão-durismo, mas um meio para se conseguir recursos que permitam realizar sonhos ou comprar um bem valioso no momento adequado Planejamento de gastos Contabilizar os recursos disponíveis e como devem ser empregados Consumo consciente A economia de recursos naturais, como água e energia, é indispensável para a preservação do meio em que se vive O valor de tudo Dinheiro, alimentos, roupas e brinquedos devem ser tratados, desde cedo, com o devido valor, levando em conta que nem todos têm acesso fácil a eles 7