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Transcrição:

Projecto de Resolução n.º 1297/XIII/3ª Recomenda ao Governo que inclua o sistema de Semáforo Nutricional e do Semáforo Carcinogénico na declaração nutricional obrigatória constante nos alimentos embalados I - Direito à informação: Desde 1982 que os direitos dos consumidores têm expressão constitucional, passando a pertencer à categoria dos direitos e deveres fundamentais de natureza económica com a revisão de 1989, dispondo o artigo 60.º da Constituição da República Portuguesa que Os consumidores têm direito à qualidade dos bens e serviços consumidos, à formação e à informação, à protecção da saúde, da segurança e dos seus interesses económicos, bem como à reparação de danos. O artigo 169.º do Tratado de Funcionamento da União Europeia (ex-artigo 153.º do TCE) com a epígrafe A Defesa dos Consumidores estabelece que a União Europeia deve ter em conta os interesses dos consumidores, contribuindo para a protecção da saúde, da segurança e dos interesses económicos destes. Cabendo depois aos Estados-membros prosseguir as políticas da União, sendo admissível que estes mantenham ou introduzam medidas de protecção mais estritas, desde que compatíveis com os Tratados (n.º 4 do referido artigo). O Regulamento n.º 1169/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho, datado de 25 de Outubro de 2011, relativo à prestação de informação aos consumidores sobre os géneros alimentícios, transposto para a ordem jurídica portuguesa através do Decreto-Lei n.º 26/2016 de 9 de junho, tem como objectivo atingir um elevado nível de protecção da saúde dos consumidores e de garantir o seu direito à informação. Esta informação deve ser adequada por forma a que os consumidores tenham plena consciência dos bens que consomem. Esclarecendo e admitindo ainda que os consumidores podem ser influenciados nas suas escolhas por considerações de saúde, económicas, ambientais, sociais e éticas. A lei da defesa do consumidor, aprovada pela Lei n.º 24/96, de 31 de Julho, estabelece no seu artigo 3.º que o consumidor tem direito, entre outros, à formação e à educação para o consumo e à informação para o consumo. 1

Por último, o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça relativo ao processo n.º 99B869 aborda a importância do direito à informação no quadro dos direitos dos consumidores, referindo que para O direito à informação importa que seja produzida uma informação completa e leal capaz de possibilitar uma decisão consciente e responsável, tudo com vista a habilitar o consumidor a uma decisão de escolha consciente e prudente, concluindo que é indiscutível que é o fornecedor de bens ou serviços quem tem de informar de forma completa o consumidor, não sendo pois exigível - pois que normalmente em situação de desigualdade de poder e de conhecimentos económicos e técnicos em que se encontra perante profissionais que de outro modo poderiam aproveitar-se da sua ignorância, da sua inferioridade e da sua fraqueza - que seja este a tomar as iniciativas necessárias ao seu cabal esclarecimento". Sendo claro que o direito à informação é uma das componentes mais importantes daquilo que constitui os direitos dos consumidores, este ganha especial relevância quando se tratam de bens alimentares, motivo pelo qual um dos princípios gerais da legislação alimentar consiste em fornecer aos consumidores uma base para que façam escolhas informadas em relação aos géneros alimentícios que consomem e para prevenir todas as práticas que possam induzir o consumidor em erro. A rotulagem nutricional é uma importante fonte de informação para o consumidor aquando da aquisição de produtos alimentares embalados, sendo de caráter obrigatório a nível europeu a disponibilização da Declaração Nutricional. Para além das dimensões relacionadas com alergias alimentares, a informação relativa à composição nutricional do género alimentício pode contribuir para auxiliar o consumidor na escolha, nomeadamente para a opção por alimentos mais saudáveis. A Organização Mundial da Saúde, juntamente com o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, publicou em 2017 o estudo Portuguese consumers attitudes towards food labelling, tendo-se verificado a eficácia de esquemas de cores ou imagens simplificadas associadas a características nutricionais dos produtos alimentares na determinação de escolhas mais saudáveis. II Semáforo Nutricional: De acordo com o disposto na alínea l) do n.º 1 do artigo 9.º do Regulamento n.º 1169/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho, datado de 25 de Outubro de 2011, a declaração nutricional é uma menção obrigatória, desde 13 de dezembro de 2016, na rotulagem dos géneros alimentícios, devendo esta ser composta, de acordo com o artigo 30º, pelo valor energético, 2

quantidade de lípidos, ácidos gordos saturados, hidratos de carbono, açúcares, proteínas e sal e deve ser expressa por 100g ou por 100ml, podem ainda ser expressos por porção e/ou unidade de consumo. A referência à rotulagem nutricional de caráter interpretativo na frente de embalagem de géneros alimentícios (genericamente designada de semáforo nutricional) também se encontra prevista na regulamentação europeia, sem ter caráter obrigatório ou modelo harmonizado. Contudo, a experiência tem demonstrado que este tipo de rótulos se apresenta como eficaz na identificação de produtos mais saudáveis por parte do consumidor. O semáforo nutricional é percebido de imediato pelo consumidor, pela simplicidade das cores e associação natural à sua mensagem em ambiente rodoviário. Os critérios para atribuição de cores ao teor de nutrientes de determinado género alimentício estão de acordo com critérios da regulamentação europeia, existindo diferenciação no que diz respeito ao tipo de produto (alimento ou bebida) e ao tamanho da porção. Escolher alimentos num curto espaço de tempo nem sempre é fácil e implica muitas escolhas e, nesse sentido, saber ler rótulos é importante para tomar as melhores decisões. A pensar nesta necessidade o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde (DGS) criou um descodificador de rótulos, que consiste num cartão que pode ser facilmente transportado e consultado no momento de ir às compras e que se apresenta do seguinte modo: 3

Consideramos que este descodificador é da maior importância, demonstrando, tendo em conta as cores a ele associados, claramente que as pessoas devem optar por alimentos e bebidas com nutrientes maioritariamente na categoria verde, moderar aqueles com um ou mais nutrientes na categoria amarela e evitar aqueles com um ou mais nutrientes na categoria vermelha. Contudo, entendemos que o mesmo não teve o alcance pretendido na medida em que não é obrigatória a inclusão do semáforo nutricional nos alimentos, pelo que consideramos que esta informação constante do descodificador da DGS deveria estar presente em todos os alimentos embalados por forma a chegar ao consumidor de forma mais simples e eficaz. Nesta medida, deverá o Governo, em pareceria com a indústria e as cadeias de distribuição, e ouvindo especialistas nesta matéria, nomeadamente associações de defesa do consumidor e a Ordem dos Nutricionistas, promover a inclusão do sistema de semáforo nutricional na declaração nutricional obrigatória prevista para os alimentos embalados. III Semáforo Carcinogénico: Em Outubro de 2015, o mundo foi forçado a parar para reflectir sobre o consumo de carne vermelha e processada. Um Relatório da Agência Internacional de Investigação do Cancro (IARC - International Agency for Research on Cancer) 1, organismo da Organização Mundial de Saúde 1 http://www.iarc.fr/en/media-centre/pr/2015/pdfs/pr240_e.pdf 4

(OMS), publicado naquela data, elaborado por um grupo de trabalho constituído por 22 especialistas de 10 países que teve em consideração mais de 800 estudos científicos já publicados, veio oficializar dados que a ciência tem vindo a reunir ao longo de vários anos, respeitantes aos efeitos negativos para a saúde do elevado consumo de carne vermelha e processada. Segundo o IARC, os estudos sugerem que o risco de cancro colo-rectal pode aumentar cerca de 17% por cada 100 gramas de carne vermelha ingerida por dia., com possível risco associado ao aparecimento e desenvolvimento do cancro do pâncreas e da próstata. Este tipo de carne, que reúne fontes tao variadas como carne de vaca, coelho ou porco, foi incluído no grupo de factores provavelmente carcinogéneos para os humanos. É o chamado grupo 2A, caracterizado por uma evidência limitada, existindo, neste grupo, alguma evidência científica de que os factores que nele se incluem podem estar associados ao aparecimento de cancro. De destacar ainda que estudos apresentados pela OMS apontam para que as dietas ricas em carne vermelha podem vir a ser responsáveis por 50 mil mortes anuais, em todo o mundo. Todavia e tendo por base o estudo do IARC, mais preocupante são os riscos associados ao consumo de carne processada, em relação aos quais existem certezas de elevado risco para a saúde. A carne processada, isto é, aquela que foi transformada através de um processo de salga, cura, fermentação, fumo ou outros quaisquer processos com o objectivo de melhorar o seu sabor e a sua preservação, como, por exemplo, presunto, salsichas, bacon, fiambre e molhos e preparados à base de carne, foi incluída no grupo 1 onde constam os agentes carcinogéneos para o ser humano, estando em causa a existência de evidências suficientes de efeitos carcinogéneos no ser humano.. Além das chamadas carnes processadas, neste grupo estão incluídos, por exemplo, o formaldeído, os raios ultravioleta, o tabaco, o amianto e o álcool que, não tendo riscos idênticos, têm em comum a evidência inequívoca de estarem associados ao aparecimento de cancro. De acordo com informação do IARC cada 50 gramas de carne processada ingerida, por dia, aumenta o risco de cancro colo-rectal em 18 por cento., tendo ainda sido encontradas evidências que demonstram a relação entre o consumo deste tipo de carne e o aparecimento de cancro no estômago. Uma das explicações que tem sido desenvolvida para explicar este efeito está relacionada com a produção de compostos químicos durante o processamento da carne ou durante o processo culinário. Os especialistas têm defendido que quando a carne é curada ou fumada, ou quando é 5

submetida a altas temperaturas, foram-se hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e aminas aromáticas heterocíclicas (N-nitrosaminas). A formação destes compostos encontra-se em maior quantidade nas carnes processadas, dado que têm maior quantidade de aditivos, como nitratos e nitritos, que são percursores das N-nitrosaminas. A maioria problemática em relação a esta questão reside no facto dos dados disponíveis para avaliação não permitirem concluir se há uma dose segura, ou seja, cujo consumo seja insusceptível de causar quaisquer danos à saúde, sabendo-se, todavia, que o risco será maior se o consumo for superior a 50 gramas por dia e que se toda a população consumisse as referidas 50 gramas de carne processada todos os dias, cerca de 15 por cento de todos os casos de cancro do colón e do recto seriam atribuídos a esta exposição e, potencialmente, prevenidos se o consumo destes alimentos fosse evitado. Esta situação é dramática, porquanto os riscos para a saúde associados ao consumo de carne processada são bastante elevados. 50 gramas de carne processada, que corresponde àquela que seria o máximo admissível e que, como exposto, o seu consumo não se encontra isento de riscos, correspondem, por exemplo, a 4 fatias de fiambre, 2 salsichas médias ou 4 fatias de bacon. Assim, consideramos ser da maior importância que os consumidores compreendam os riscos para a saúde associados ao consumo daqueles alimentos e que tenham conhecimento deste risco no momento da aquisição dos produtos. Assim, pretendemos propor a criação e inclusão nos alimentos embalados de informação sobre o potencial carcinogénico que determinados alimentos possuem, de acordo com a classificação elaborada pelo IARC. O Ranking existente divide os vários agentes nos seguintes grupos: Grupo 1 (o agente é carcinogénico para humanos quando existem evidencias suficientes de que o agente é carcinogénico), Grupo 2A (o agente provavelmente é carcinogénico para humanos quando existem evidências limitadas ou insuficientes de que é cancerígeno), Grupo 2B (o agente é possivelmente carcinogénico quando existem evidências limitadas de que o agente é carcinogénico ou não há evidências, mas há dados relevantes de que ele possa ser carcinogénico), Grupo 3 (o agente não é classificado como carcinogénico quando as evidências não são adequadas para afirmar que aquele agente é carcinogénico ou quando o agente não encaixa em nenhum outro grupo), Grupo 4 (o agente provavelmente não é carcinogénico (quando faltam evidências de que o agente é carcinogénico). 2 2 http://monographs.iarc.fr/eng/classification/ 6

Não podemos ignorar que as carnes processadas são consumidas em grandes quantidades pela população portuguesa, ultrapassando-se facilmente os valores máximos de consumo diário recomendado, sem que na grande maioria dos casos as pessoas compreendam os impactos para a sua saúde associados a este consumo. O caso das carnes processadas é particularmente premente na medida em que estas foram classificadas no Grupo 1, existindo evidências suficientes de que são carcinogénicas para humanos. Todavia, é importante que esta informação não diga respeito só a este tipo de alimentos mas a todos aqueles que são classificados pelo IARC como carcinogénicos ou provavelmente ou possivelmente carcinogénicos, isto é, para todos os que se incluam no Grupo 1, 2A ou 2B. Neste sentido, recomendamos a criação de um semáforo com esta informação, propondo que o mesmo tenha a seguinte configuração: Acreditamos que a inclusão desta informação nos rótulos dos alimentos embalados contribuirá para a existência de cidadãos mais informados, conscientes e atentos, permitindo a opção por alimentos mais saudáveis, o qual terá necessariamente impactos positivos no Serviço Nacional de Saúde, minorando as despesas decorrentes da adopção de estilos de vida desadequados e maus hábitos alimentares, nomeadamente obesidade e doenças oncológicas. 7

IV - Campanha de Educação Alimentar a nível Nacional: A inclusão do semáforo nutricional nos alimentos embalados, sendo da maior importância, deverá ser acompanhada de campanhas dirigidas ao consumidor visando o aumento da literacia alimentar com foco na interpretação dos rótulos, bem como de um período de adaptação, para que não existam prejuízos significativos para os operadores do sector, designadamente os de menor dimensão, cujos recursos podem não permitir a implementação imediata. Por este motivo, é fundamental que o Governo, em estreita associação com os operadores do sector, desencadeie uma Campanha de Educação Alimentar a nível Nacional para esclarecer a população da importância da leitura do rótulo, nomeadamente para a informação nutricional, e que auxilie a população na devida descodificação do Semáforo Nutricional. V Considerações Finais: De acordo com o Relatório A Saúde dos Portugueses Perspectiva 2015 elaborado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), a globalidade dos portugueses estão a perder anualmente cerca de 141 mil anos de vida saudável apenas por terem maus hábitos alimentares. As estimativas apontam para que os hábitos alimentares inadequados sejam o factor de risco com mais peso nos anos de vida saudável que se perdem, com um valor que ascende a 19,2%. A percentagem ultrapassa o peso atingido pela hipertensão arterial ou até mesmo consumo de tabaco e de álcool. Um estudo publicado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em 2010 sobre a Balança Alimentar dos Portugueses pinta um cenário negro da alimentação em Portugal. Este estudo, estabelecendo uma comparação entre os hábitos alimentares do novo século com os da década de 90, conclui que a dieta portuguesa tem-se vindo progressivamente a afastar dos princípios da variedade, equilíbrio e moderação e que 51% da população portuguesa tem excesso de peso. Esta na altura de reverter esta situação. Acreditamos que muitas das opções alimentares erradas tomadas pelos consumidores se devem a desconhecimento. Desta forma, pretendemos com este projecto fazer chegar aos consumidores, de forma mais eficaz e simples, informação sobre o valor nutricional dos alimentos, para que estes possam fazer escolhas mais conscientes e, em consequência, possam adoptar melhores hábitos alimentares, os quais terão impactos directos no aumento da qualidade de vida. 8

Neste termos, a Assembleia da República, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição, por intermédio do presente Projecto de Resolução, recomenda ao Governo que: 1. Em parceria com a indústria e as cadeias de distribuição, e ouvindo especialistas nesta matéria, nomeadamente associações de defesa do consumidor e a Ordem dos Nutricionistas, promova a inclusão do sistema de semáforo nutricional na declaração nutricional obrigatória prevista para os alimentos embalados. 2. Desencadeie, em estreita associação com os operadores do sector, uma Campanha de Educação Alimentar a nível Nacional para esclarecer a população da importância da leitura do rótulo, nomeadamente para a informação nutricional, e que auxilie a população na devida descodificação do Semáforo Nutricional. 3. Em parceria com a indústria e as cadeias de distribuição, e ouvindo especialistas nesta matéria, nomeadamente associações de defesa do consumidor e a Ordem dos Nutricionistas, promova a criação e inclusão de um semáforo carcinogénico na declaração nutricional obrigatória prevista para os alimentos embalados, para os casos em que o alimento seja carcinogénico, provavelmente carcinogénico ou possivelmente carcinogénico, isto é, quando, de acordo com a classificação do International Agency for Research on Cancer (IARC), organismo da Organização Mundial de Saúde, este pertença aos Grupos 1, 2A e 2B. 4. Desencadeie, em estreita associação com os operadores do sector, uma Campanha de Educação Alimentar a nível Nacional para esclarecer a população da importância da leitura do rótulo, nomeadamente para a informação nutricional, e que auxilie a população na devida descodificação do Semáforo carcinogénico. Assembleia da República, 2 de Fevereiro de 2018. O Deputado, André Silva 9