Sam Keller: 'Arte não é só para rico'

Documentos relacionados
Nos últimos anos, as feiras de arte ganharam destaque e conquistaram o grande público. Algo, que antes era visto apenas por colecionadores, passa a

Mercado de artes no Brasil é uma obra em andamento - SWI...

PAINTANT STORIES. Lúcia Pantaleoni*

Arapongas ARAPONGAS, A CIDADE DOS PÁSSAROS. Categoria Cidades Publicado em 10/02/2019. Foto: Banco de Imagens

S C.F.

Bandeirantes FÉ, NATUREZA E TRADIÇÕES. Categoria Cidades Publicado em 13/03/2019. Parque do Povo - Foto: Prefeitura de Bandeirantes

ArtRio 2017 abre inscrições para as galerias e apresenta novo local. Feira de arte acontecerá em setembro na Marina da Glória

A Evolução da Mídia Exterior. Dados Demográfi cos JARAGÚA DO SUL

CLT6ESCOLA SECUNDÁRIA DO MONTE DA CAPARICA Curso de Educação e Formação de Adultos NS Trabalho Individual Área / UFCD CLC 6 Formador

Karin Lambrecht apresenta exposição "Pintura e Desenho" no Instituto Ling

Igreja Nossa Senhora da Candelária de Itu (SP) passará por restaurações

REVISÃO 1º BIM. 6ºs anos. Professora Cristina

karin lambrecht 1957 nasceu em porto alegre vive e trabalha em porto alegre

Cultura nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Sala Sidney Miller

#IlhaGram: Troca de olhares sobre a Ilha Grande/RJ

Caderno Virtual de Turismo E-ISSN: Universidade Federal do Rio de Janeiro Brasil

MUSEU E JARDIM BOTÂNICO INHOTIM: ARTE, CULTURA E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL COMO PARADÍGMAS DE DESENVOLVIMENTO

Vamos conhecer um pouco mais sobre esta Cidade?

Correio do Povo Geral Página 18

PARTICIPE! Independente do idioma, a solidariedade e a bondade são compreendidas por todas as nações.

A Editora CARAS. *Fonte: IVC de Ipsos Marplan (Consolidado 2015) - 12 mercados

Desafogando as grandes cidades brasileira Seminário Transporte Interurbano de Passageiros AD=TREM

Na vida dos brasileiros

Nos últimos anos, as feiras de arte ganharam destaque e conquistaram o grande público. Algo, que antes era visto apenas por colecionadores, passa a

DUAS CAPITAIS DA RÚSSIA Saídas de Moscou

BEM-VINDO AO ESPAÇO DO PROFESSOR. interação e inter-relação que esperamos potencializar.

SOBRE A PANROTAS PUBLICAÇÕES PANROTAS SEMANAL ANUÁRIOS. Mídia Kit 2018

Olá! É um grande prazer receber você para reuniões, cursos, eventos ou até uma visita!

Emprego no Turismo da Cidade de São Paulo

10 coisas que você precisa saber antes de viajar a Madrid

A origem da palavra revista: vem do inglês review, que quer dizer revista, resenha, crítica literária. A palavra era comum em várias revistas

Apresentação. Erlane Oliveira

EDITAL PROEX/DAC N. 1/2019 ABERTURA DE INSCRIÇÕES PARA REALIZAÇÃO DE EXPOSIÇÕES NA GALERIA DE ARTE

SOBRE A PANROTAS PUBLICAÇÕES PANROTAS SEMANAL PAUTAS ESPECIAIS. Mídia Kit 2018

VW do Brasil voltou a vender para os árabes e espera exportar até 5,5 mil carros por ano à região

UMA CIDADE COM POTENCIAL RECONHECIDO

Guia de Serviços Atualizado em 30/05/2019

COLETIVA DE IMPRENSA CENÁRIOS 2017/2018 E EXPO ABIÓPTICA. Abióptica Associação Brasileira da Indústria Óptica

Judith Lauand Pontal SP, 1922

São José dos Pinhais DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E MAIS QUALIDADE DE VIDA. Categoria Cidades Publicado em 07/03/2019

Chamada Pública Festival Miniciclos

ENSAIO APENAS. A geometria oculta do dia a dia. Texto e fotos por Mauro Boiteux 64 DIGITAL PHOTOGRAPHER BRASIL

S C.F.

Principais Diferenças entre Ser ou Parecer Confiante e Credível

NO BRASIL, AS REVISTAS TÊM CERCA DE 67 MILHÕES DE LEITORES*

BELO HORIZONTE, A CAPITAL DA INOVAÇÃO

PARTICIPE! Independente do idioma, a solidariedade e a bondade são compreendidas por todas as nações.

Spot. Ana Cláudia Rocha. Ana Paula Moreira, engenheira, e Vivi Baobá, advogado, experimentaram a culinária japonesa no restaurante Sapporo

Celebrando São Paulo

02- Leia a legenda e escreva três profissões em cada um dos conjuntos abaixo.

Roma é uma das cidades mais importantes da história da humanidade, exercendo uma influência sem igual no desenvolvimento da história e da cultura dos

SP-ARTE FÁBIO MAGALHÃES EUGÈNE DELACROIX EMMANUEL NASSAR NINO CAIS LARS NILSSON MARCO RIBEIRO

Escrito por Sônia Oliveira Qua, 19 de Janeiro de :03 - Última atualização Dom, 25 de Dezembro de :18

1. Descrição da Cidade

PRESSBOOK. Julio LE PARC. Vogue Brasil. December /1

índice O SOMA QUEM SOMOS ÁREAS DE ATUAÇÃO SERVIÇOS CONHECIMENTO EXPERIÊNCIA POR TRÁS DO SOMA NÓS STUDIO

Planejar para realizar: Pense localmente, aja globalmente! LAERTE TEMPLE, PhD, CIPS, CRS, TRC

Galeria Anita Schwartz

que é mais # nós impulsionamos seu negócio

PANROTAS OFFLINE PUBLICAÇÕES. Mídia Kit 2019

Escola de Artes Visuais do Parque Lage. cursos de inverno Julho 98

COMO AMPLIAR MERCADO INVESTINDO EM ACESSIBILIDADE DIGITAL

DIA NACIONAL DA EAD 2016 Por que a Educação a Distância deve formar para a Economia Criativa

MIAMI PRAIA E FESTAS 4 DIAS

Uma mina de OURO Chamada Internet

SANTAELLA, L. Por que as comunicações e as artes estão convergindo? São Paulo: Paulus, 2005.

VINHOS DE PORTUGAL Uma safra melhor a cada ano.

PANROTAS OFFLINE PUBLICAÇÕES. Mídia Kit 2018

Negócios Nos Trilhos RIO, 10 DE NOVEMBRODE 2010

Multimídia. Home Theater NO BRASIL: DA INTERNET ATUAL CENÁRIO VEJA AS EXCELENTES OPORTUNIDADES DE NEGÓCIO QUE A INTERNET OFERECE A SUA EMPRESA

S C.F.

no brasil, as revistas têm cerca de 67 milhões de leitores*

- Gostava de falar da tua dinâmica de criador e da tua dinâmica de gestor de uma organização como as Oficinas do Convento. Como as equilibras?

O GRANDE NEGÓCIO DO ESPORTE

PARTICIPE! Independente do idioma, a solidariedade e a bondade são compreendidas por todas as nações.

Porque ser um franqueado Mr. Fit?

PESQUISA HELLO OPINION OS JOGOS NO BRASIL: Percepção & engajamento

INICIATIVAS // NOVEMBRO 16

GUIA PARA EMPRESAS. Uma iniciativa de: #CelebraLaVida

COMO VENDER NA CRISE?

LUZ. Grades Cintilantes. O que se passa?

Especial DEPOIMENTOS RURAIS

Apresentação. Os Números do Surf

CANVAS. Criando novos Modelos de Negócios

Prepare-se para conhecer o mais novo empreendimento. a Reserva Real. Um novo conceito de viver e morar.

Rota até portos do Pacífico pode beneficiar pelo menos 6 estados, diz organizador de expedição

1995/ EAV. Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Teoria da Imagem Multipla com George Kornis.

A Razão Áurea. A História de FI, um número surpreendente

Agosto, A competição global das marcas de material esportivo

Brinquedotecas para adultos: será que existem?

Uma nova visão de mundo

VICE-PRESIDÊNCIA COMERCIAL OUTUBRO 2018

Respostas a 10 Top dúvidas sobre casamentos

SAMBA EM REDE CONVIDA

CALL FOR PROPOSALS SELEÇÃO PARA SHOWCASE NA FIESTA DEL LIBRO Y LA CULTURA DE MEDELLÍN

WEBINAR POTENCIALIZE SUAS VENDAS COM B2WADS

VISITA ORIENTADA À INSTITUIÇÕES CULTURAIS NAS FÉRIAS

Transcrição:

Sam Keller: 'Arte não é só para rico' Diretor do museu mais popular da Suíça está no Rio para debate com Ernesto Neto e Paulo Herkenhoff, na EAV do Parque Lage Nelson Gobbi 03/05/2018 7:52 RIO Diretor da Fondation Beyeler desde 2008, hoje o museu mais visitado da Suíça, com mais de 350 mil visitantes por ano, Sam Keller tornou-se um dos nomes mais influentes do circuito internacional de arte ao dirigir duas das feiras mais importantes do setor, a Art Basel e a Art Basel Miami. Conhecedor da produção brasileira e amigo de artistas, colecionadores e curadores do país, Keller está no Rio para participar de um debate nesta quinta-feira, às 19h, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, com o artista Ernesto Neto e o crítico Paulo Herkenhoff. O evento vai apresentar ao público carioca a instalação GaiaMotherTree, que o brasileiro vai desenvolver em junho na principal estação ferroviária de Zurique, a convite do museu fundado em 1997 pelo galerista e colecionador Ernst Beyeler em Riehen, a poucos quilômetros de Basel. Em entrevista ao GLOBO, o suíço fala sobre a presença brasileira no exterior, o mercado de arte e modelos de financiamento. Qual o segredo da Fondation Beyeler, que em 21 anos de funcionamento se tornou o museu mais popular da Suíça? Não há segredo, é uma mistura de fatores. Em primeiro lugar, a qualidade da coleção, que é mundialmente famosa, além de uma programação ambiciosa. Temos a sorte de ter um dos museus mais bonitos do mundo, assinado pelo arquiteto italiano Renzo Piano, em um lugar belíssimo, cercado pela natureza. Tudo no museu tem uma escala humana, nada é feito para intimidar. Em nossas pesquisas, percebemos como o boca a boca

é importante, por isso também damos bastante atenção ao digital. Muita gente chega ao museu por meio da internet e das redes sociais. LEIA MAIS: Ernesto Neto cria instalação gigante para estação de trem de Zurique Qual o modelo de financiamento do museu? É um modelo misto. A principal fonte vem do próprio museu, com a venda de ingressos e a arrecadação das lojas, do restaurante etc. Além da coleção e do prédio, os fundadores criaram um fundo, com o qual é possível manter os custos operacionais. Também contamos com parcerias de empresas de grande porte e um apoio governamental, em torno de 10% do orçamento. 'Salvator Mundi', de Leonardo da Vinci Foto: Drew Angerer / AFP 'Salvator Mundi', de Leonardo da Vinci O quadro "Salvator Mundi", do artista renascentista Leonardo da Vinci, foi leiloado por US$ 450,3 milhões, cerca de R$ 1,5 bilhão, e estabeleceu um novo recorde em leilões do mercado de arte. A tela, que representa Jesus Cristo, o "salvador do mundo", segurando uma

esfera com a mão esquerda, foi vendida em apenas 19 minutos. O modelo que une venda de ingressos e financiamento governamental dá sinais de esgotamento? Manter um museu e uma programação de qualidade custa caro, acredito que todas as instituições do mundo estejam buscando formas eficientes de captar recursos. A Europa tradicionalmente tem museus mantidos pelo governo, e no século XXI a redução de recursos tem sido uma constante na maioria dos países. Acho que, como na natureza, a variedade pode garantir a sobrevivência, por isso a importância de buscar formas diversificadas de financiamento. Isso também pode garantir mais liberdade às instituições, sem o risco de interferências governamentais ou de empresas. A liberdade é fundamental não só para os artistas, mas também para as instituições. Projeto de Ernesto Neto para 'GaiaMotherTree', que será montada em Zurique em junho - Agência O Globo Você conhece bem a arte brasileira, tem um contato de anos com artistas, galeristas e curadores. Como vê a nossa presença no exterior? Acompanho a arte brasileira pelo menos há 20 anos, e nos últimos dez

percebo uma mudança radical. No início, tinha contato com artistas fantásticos, mas que eram mais conhecidos por aqui. Hoje a presença é muito forte em museus, galerias, bienais e feiras. A arte brasileira está vivendo um bom momento, mas não há motivos para relaxar nem se acomodar, a globalização também traz muita competição. A arte brasileira está vivendo um bom momento, mas não há motivos para relaxar nem se acomodar, a globalização também traz muita competição. - Sam KellerDiretor da Fondation Beyeler essa deva ser a maior preocupação de vocês. Há o risco de a arte brasileira estar passando por uma onda, uma bolha de mercado? Não acredito nisso. O Brasil tem uma diversidade artística enorme, com muitos artistas de ponta, instituições, grandes colecionadores. Claro que o mercado cria ondas e que a economia gera altos e baixos, mas vocês têm um ecossistema saudável na arte. Talvez isso possa acontecer com alguns países do Golfo Pérsico, mas não acho que As atenções do mercado têm se voltado muito para a Ásia, onde tem se investido muito no setor. O futuro da arte pode passar por lá? Temos que olhar isso numa escala ampliada. A Europa foi tida durante séculos, por uma série de razões, como o centro do mundo, levando sua cultura e formas de criações artísticas para outras partes do globo. O século XX foi o da América, e agora outras regiões entram nesta disputa. No momento, o mercado asiático está em alta, e a arte segue o dinheiro. Mas temos que pensar de que forma isso está sendo feito. Os governos sabem os fatores que tornam um país uma nação forte, por isso muitos deles investem em arte e esportes. Mas a arte é como uma planta: você pode regar e utilizar os melhores insumos, mas se não tiver um bom solo e raízes fortes, ela não vai resistir.

Negócios como a compra da tela Salvator Mundi, de Leonardo Da Vinci, por mais de US$ 450 milhões por um príncipe saudita, chamam atenção extra para a região? Muitas vezes, grandes vendas como esta não têm a ver com arte; no caso de Salvator Mundi éé mais uma questão de geopolítica, de poder. Quando uma obra atinge um preço recorde acaba despertando mais atenção da mídia do que ao ser criada ou exibida. Gosto mais das histórias por trás das obras. Salvator Mundi tem até uma boa história, mas o que faz dela uma boa pintura não é o seu preço recorde. O maior problema quando acentuamos muito a questão dos valores é criar a impressão de que arte é só para pessoas ricas, o que não é verdade. A arte é uma necessidade humana, o mercado é outra coisa. Claro que é ótimo existir colecionadores ricos que apoiam e incentivam a arte, isso faz parte da História, desde os grandes impérios, a Igreja, os mecenas. Mas não podemos esquecer que todos os dias os artistas continuam criando, sem que esta criação esteja necessariamente relacionada a vendas. SERVIÇO Onde: EAV Rua Jardim Botânico 414, Jardim Botânico (2334-4088). Quando: Quarta, às 19h. Quanto: Grátis. Classificação: Livre Newsletter As principais notícias do dia no seu e-mail.