Vistos. Proferida a decisão de fl. 2.067, revigorando a liminar de reintegração de posse e determinando o seu cumprimento com o apoio do Comitê Estadual de Conflitos Fundiários, a parte assistente litisconsorcial aviou às fls. 2.076-2.081, pedido de reconsideração parcial da aludida decisão, para que a reintegração de posse fosse realizada sem o apoio do citado Comitê, o que foi indeferido na decisão de fls. 2.082-2.083. Os autor retornaram-me conclusos então para apreciação da petição de fls. 2.087-2.155, em que a parte assistente litisconsorcial informou que os invasores incendiaram uma ponte de madeira sobre um dos rios que corta a propriedade, objetivando o isolamento dos seus empregados e de proprietários de áreas contiguas à do litígio e consequente consolidação da posse exercida injustamente sobre esta, ao que consignou que o Juízo deprecado sequer determinou a intimação dos ocupantes acerca do revigoramento da liminar de reintegração de posse, motivo pelo qual asseverou a necessidade da urgente execução da medida a fim de dissipar a instabilidade social instaurada na região, mormente em razão de tratar-se de mero revigoramento da ordem judicial de reintegração de posse levada a efeito em dezembro próximo passado mediante o auxílio do referido Comitê, inclusive, com a elaboração de Estudo de Situação n. 012/2017/8ºCR/PMMT, requerendo a determinação da intimação pessoal dos ocupantes sobre a decisão de reintegração de posse para que deixem o local imediatamente e que se mantenham afastados da área no raio de mínimo 10 Km (dez quilômetros), sem prejuízo das demais medidas coercitivas já estabelecidas, sob pena de imediato cumprimento da reintegração de posse, providência que estaria em consonância com a jurisprudência do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso. É o breve relato. Decido. Em detida reanálise dos documentos acostados às fls. 1.955-2.042 e do Estudo de Situação n. 012/2017/8ºCR/PMMT acostado às fls. 2.091-2.155, foi possível constatar que a reintegração de posse cumprida em dezembro próximo passado foi levada a efeito quando havia na área um contingente de ocupantes em número um pouco maior de aproximadamente 50 (cinquenta) homens e 25 (vinte e cinco) mulheres, para o que foram destacados 16 (dezesseis) policiais militares, sendo 12 (doze) para os 08 (oito) primeiros dias e 04 (quatro) para os 10 (dez) dias subsequentes.
Constatou-se, ainda, a indicação da necessidade de 20 (vinte) homens para a realização de serviços braçais, 06 (seis) a 07 (sete) caminhões para transporte do material decorrente do desmanche dos barracos existentes, 01 (um) micro ônibus para o transportes de pessoas e 03 (três) caminhões boiadeiros para o transportes do gado existente no local. Do álbum fotográfico que instrui o Estudo de Situação foi possível verificar que as maiores dificuldades naquele momento eram a dimensão da área de terras invadida e a existência de muitos locais com presença de pessoas, chamando a atenção, ainda, o alerta feito pelo Ten. Cel. PM Comandante do 08º Comando Regional, naquele momento, acerca da afirmação dos invasores de que retornariam tão logo fosse possível em manifesta afronta à ordem judicial de reintegração de posse (fls. 1.955-1.956). Da certidão do Oficial de justiça responsável pelas diligências, foi possível constatar também, entre algumas intercorrências de menor relevância, que a reintegração de posse ocorreu de forma mansa e pacífica (fls. 1.977-1.979). Nesse diapasão, em que pese o receio da deflagração de um conflito, desponta, com efeito, a possibilidade de que a demora no cumprimento da ordem judicial de reintegração de posse permita o agravamento da situação com o restabelecimento do contingente inicial de ocupantes na área o que viria a dificultar a atuação do Poder Público na sua consecução. Percebe-se que, embora a decisão que deu ensejo à reintegração de posse em dezembro próximo passado tenha determinado o seu cumprimento com o apoio do Comitê Estadual de Conflitos Fundiários, tem-se que a sua concretização se deu por força da prestimosa atuação da Polícia Militar do Estado. A existência de um Estudo de Situação, cuja execução alcançou plenamente o seu objetivo de levar a efeito a reintegração de posse operada em dezembro próximo passado, permite a conclusão de que a reintegração de posse se demonstra possível de ser ultimada com o apoio direto da Polícia Militar. Ademais, não há óbice para que a desocupação seja realizada mediante a intimação dos ocupantes a deixarem a área, sob pena da execução da reintegração de posse com o necessário reforço policial, em razão da complexidade do conflito fundiário, do número de pessoas que sofrerão o impacto dos efeitos da decisão, a já existência de tensão entre
as partes litigantes, inclusive, da notícia de ocorrência de ameaças (fl. 2.081), dentre outras providências pertinentes. Nesse sentido, a jurisprudência do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso: AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - OCUPAÇÃO PELO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TERRA - ALEGAÇÃO DE CAOS SOCIAL EM RAZÃO DA PRESENÇA DE MAIS DE CEM FAMÍLIAS NA ÁREA - IRRELEVÂNCIA EM FACE DO DIREITO LEGÍTIMO A SER TUTELADO - ALEGAÇÃO DE PERDA DO OBJETO DO AGRAVO EM RAZÃO DO CUMPRIMENTO DA DECISÃO RECORRIDA - REJEIÇÃO - NOVAS OCUPAÇÕES DURANTE O CURSO DA DEMANDA - DECISÃO MANTIDA - AGRAVO DESPROVIDO. 1. Não há falar em perda do objeto do agravo, apenas em razão do cumprimento da decisão recorrida, já que a agravante interpôs o recurso questionando a legalidade e pretendendo a revogação da decisão agravada, os aspectos subsistem e devem ser examinados a despeito do cumprimento do concreto do ato decisório. 2. As famílias que se encontram atualmente na área não a ocupavam desde o ano de 1998, e mesmo a despeito da decisão anterior, para desocupação do imóvel, as ocupações não cessaram durante o longo trâmite da ação possessória, e mesmo após o trânsito em julgado da sentença, de modo que, no caso, o MM. juiz apenas ordenou o cumprimento da sentença já acobertada pelo manto da coisa julgada, já que os combativos integrantes do MST insistem em permanecer na área em total desobediência ao comando judicial que ordenou desocupação há mais de 10 anos. (TJMT, RAI 31265/2012, DES. JOÃO FERREIRA FILHO, PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Julgado em 05/12/2012, Publicado no DJE 08/01/2013). Assim, verifica-se a possibilidade do efetivo e imediato cumprimento da medida, objetivo este que poderá ser alcançado, num primeiro momento com a intimação dos ocupantes, e, num segundo momento, caso mantenham-se renitentes, com o apoio da Polícia Militar Estadual. Diante do exposto, defiro o pedido de cumprimento/execução da medida/ordem judicial de reintegração de posse, mediante a intimação dos ocupantes, por 02 (dois) Oficiais de Justiça, com o reforço policial mínimo necessário, para que se retirem voluntariamente da área, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. Deverão os Oficiais de Justiça cumprir o mandado com todas as cautelas necessárias, lavrando auto circunstanciado de toda a diligência, descrevendo e individualizando as benfeitorias de cada família retirada do local.
Deverão acompanhar os Oficiais de Justiça, no mínimo, uma Psicóloga e uma Assistente Social da equipe do Judiciário, lotadas nesta Comarca. Não acolhida voluntariamente a determinação judicial, promova-se a reintegração de posse coercitivamente com a intervenção direta da Polícia Militar, a qual deverá envidar todo o esforço necessário para levá-la a efeito conjuntamente com a parte autora, sua assistente litisconsorcial e demais agentes do Poder Judiciário, nos moldes da linha de ação traçada no Estudo de Situação n. 012/2017/8ºCR/PMMT, comentado. Oficie-se o Comando-Geral da Polícia Militar na Capital e o 08º Comando Regional em Juína, dando-lhes ciência do teor desta decisão para no prazo máximo de 20 (vinte) dias disponibilizarem o reforço policial necessário ao cumprimento da medida de acordo com o Estudo de Situação n. 012/2017/8ºCR/PMMT, acostado aos autos às fls. 2.091-2.155, devendo referidas autoridades se atentarem ao disposto no artigo 379, inciso II, alíneas "a" a d da CNGC, que prevê a caracterização dos crimes de desobediência (art. 330, do CP), prevaricação (art. 319 do CP) e crime de responsabilidade (art. 67, VI da Constituição do Estado de Mato Grosso), em caso de descumprimento da ordem judicial. Encaminhe-se cópias desta decisão às Casas Civil e Militar do Estado de Mato Grosso, Secretaria Estadual de Segurança Pública e ao Governo do Estado de Mato Grosso, para ciência e cumprimento, atentando-se ao disposto nas alíneas "a, b", "c" e "d" do inciso II do dispositivo normativo suso citado. Oficie-se ao Prefeito Municipal de Colniza para que providencie um local, para colocação provisória dos ocupantes do imóvel, que eventualmente não tenham para onde se deslocarem, comunicando a este juízo no prazo de 05 (cinco) dias, sob pena deste juízo requisitar ao seu alvedrio o local adequado para tal finalidade. Os meios necessários ao carregamento de bens e transporte dos ocupantes, transportes de apoio à Polícia Militar, alimentação e água de todo o pessoal deverão ser providenciados pela assistente litisconsorcial e colocados à disposição no dia do cumprimento do mandado, previamente comunicado pelos Oficiais de Justiça. Ciência ao Ministério Público.
Após, levem-se a efeito as demais determinações contidas nas decisões anteriores que não estejam prejudicadas pelas determinações contidas nesta decisão. Ultimadas as providências acima, anote-se no sistema Apolo a procuração de fl. 2.086 e dê-se vista dos autos à Associação dos Trabalhadores Rurais da Gleba União, pelo prazo de 05 (cinco) dias. Às providências. Intimem-se. Expeça-se o necessário. Cumpra-se.