SOBRE O RECOLHIMENTO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

Documentos relacionados
RECOLHIMENTO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

PASSO A PASSO PARA AUTORIZAÇÃO DO DESCONTO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL À LUZ DA LEI N /2017

NOTA DA CSPM SOBRE A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL (Confederação Nacional dos Servidores Públicos Municipais)

Cuida-se de uma prestação pecuniária que tem por finalidade o custeio de atividades essenciais do sindicato e outras previstas em lei.

AÇÃO CIVIL COLETIVA ACC

DIREITO TRIBUTÁRIO. Tributos Federais Contribuições Profissionais. Prof. Marcello Leal. Prof. Marcello Leal

Trata-se de imposto cuja alteração deve-se das por lei complementar.

Vistos, etc. Os autos vieram conclusos para que seja proferida decisão. É o relatório. DECIDO

PARECER CONSULENTE: Federação dos Municipários do Estado do Rio Grande do Sul - FEMERGS

É um tributo estabelecido no artigo 579 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), de pagamento obrigatório, recolhido uma vez por ano.

BLOCO 15 DA SÉRIE ZAC POR DENTRO DA MP 808 ANÁLISE DAS EMENDAS À MEDIDA PROVISÓRIA 808/2017 SOBRE O CUSTEIO SINDICAL

BLOCO 10 DA SÉRIE ZAC POR DENTRO DA MP 808 ANÁLISE DAS EMENDAS À MEDIDA PROVISÓRIA 808/2017 SOBRE O CUSTEIO SINDICAL

TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical A IMPOSSIBILIDADE DO PAGAMENTO PROPORCIONAL DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL DOS EMPREGADORES. Roberto Lopes Advogado

Vistos, etc. Os autos vieram conclusos para que seja proferida decisão. É o relatório. DECIDO

/ Confederação dos Servidores Públicos do Brasil- CSPB /

DIREITO FINANCEIRO. A Receita Pública. Ingressos Tributários. Prof. Thamiris Felizardo

MEDIDA PROVISÓRIA Nº 873/19

Processo nº

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA MINISTRA CARMEM LÚCIA, DIGNÍSSIMA PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

1. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL: art. 8º, inciso IV, parte final, CF c/c arts. 578 e seguintes da CLT; 2. CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA: art.

DECISÃO PJe-JT. O SINDICATO DOS AUXILIARES E TÉCNICOS DE ENFERMAGEM DO RIO DE JANEIRO aj

MINISTÉRIO PUBLICO DO TRABALHO

Art. 1º O Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, passa a vigorar com as seguintes alterações:

ACÓRDÃO RO Fl. 1. DESEMBARGADORA MARIA INÊS CUNHA DORNELLES Órgão Julgador: 6ª Turma

2. Transcreve-se a seguir as informações constantes no Despacho: Solicito parecer jurídico em relação ao assunto.

Zilmara Alencar Consultoria Jurídica

A necessidade de proteção e efetividade aos direitos humanos, em sede internacional, possibilitou o surgimento de uma disciplina autônoma ao Direito

Série: 2/ 10 VERÁS QUE UM FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL: FORMALIDADES PARA SUA COBRANÇA E DESCONTO

BLOCO 03 DA SÉRIE ZAC POR DENTRO DA MP 808 ANÁLISE DAS EMENDAS À MEDIDA PROVISÓRIA 808/2017 SOBRE O CUSTEIO SINDICAL

BLOCO 17 DA SÉRIE ZAC POR DENTRO DA MP 808 ANÁLISE DAS EMENDAS À MEDIDA PROVISÓRIA 808/2017 SOBRE O CUSTEIO SINDICAL

BLOCO 05 DA SÉRIE ZAC POR DENTRO DA MP 808 ANÁLISE DAS EMENDAS À MEDIDA PROVISÓRIA 808/2017 SOBRE O CUSTEIO SINDICAL

Ministério Público Federal Procuradoria-Geral da República

BLOCO 18 DA SÉRIE ZAC POR DENTRO DA MP 808 ANÁLISE DAS EMENDAS À MEDIDA PROVISÓRIA 290/2017 SOBRE O CUSTEIO SINDICAL

AÇÃO TRABALHISTA - RITO ORDINÁRIO RTOrd

DIREITO DO TRABALHO SINDICATO: FONTES DE CUSTEIO

BLOCO 07 DA SÉRIE ZAC POR DENTRO DA MP 808 ANÁLISE DAS EMENDAS À MEDIDA PROVISÓRIA 808/2017 SOBRE O CUSTEIO SINDICAL

PROCESSO Nº TST-RR A C Ó R D Ã O (4.ª Turma) GMMAC/r4/rjr/r/h/j

BLOCO 06 DA SÉRIE ZAC POR DENTRO DA MP 808 ANÁLISE DAS EMENDAS À MEDIDA PROVISÓRIA 808/2017 SOBRE O CUSTEIO SINDICAL

PERGUNTAS MAIS FREQUENTES SOBRE A OBRIGATORIEDADE DO PAGAMENTO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

PROJETO DE LEI 6.708/2009 CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL REGULAMENTAÇÃO

Esclareça as dúvidas mais freqüentes sobre o recolhimento da Contribuição Sindical Patronal

Contribuições Instituídas pelos Sindicatos - Desconto em Folha de Pagamento - Possibilidade

BLOCO 02 DA SÉRIE ZAC POR DENTRO DA MP 808 ANÁLISE DAS EMENDAS À MEDIDA PROVISÓRIA 808/2017 SOBRE O CUSTEIO SINDICAL

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª REGIÃO

Organização Sindical BASE LEGAL DO SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO

QUIMICAS, FARMACEUTICAS E DE MATERIAL PLASTICO DE JUIZ DE FORA E REGIAO - MG


Princípio da Legalidade

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO COLETIVO DO TRABALHO - II

1) Incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais.

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE JATAÍ - CESUT A s s o c i a ç ã o J a t a i e n s e d e E d u c a ç ã o

PÓS GRADUAÇÃO DIREITO E PROCESSO TRIBUTÁRIO

GRCS CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

BLOCO 04 DA SÉRIE ZAC POR DENTRO DA MP 808 ANÁLISE DAS EMENDAS À MEDIDA PROVISÓRIA 808/2017 SOBRE O CUSTEIO SINDICAL

1. Introdução. 1 ADI MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 18 mai

A Contribuição Sindical Pós-Reforma Trabalhista

Teses Tributárias. ICMS na SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA

PÓS GRADUAÇÃO DIREITO E PROCESSO TRIBUTÁRIO

DECISÃO PJe. Vistos etc.

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ERBETTA FILHO (Presidente) e RAUL DE FELICE. São Paulo, 4 de maio de 2017.

Série: 3/ 10 VERÁSQUEUMFILHOTEUNÃOFOGEÀLUTA

A legalidade tributária a ser observada no caso resulta da combinação dos artigos 146 e 149 da Constituição Federal.

INICIAÇÃO À ADVOCACIA TRIBUTÁRIA

DIREITO COLETIVO. *Princípio do direito coletivo Princípio da liberdade sindical art. 8º, CF

TRIBUTO. Marcelo MEDEIROS 1 Murilo MORENO INTRODUÇÃO

SOBRESTAMENTO RICARF ART. 62-A, 1º

Limitações ao Poder de Tributar

1. Dissídio Coletivo: - Acordo coletivo: negociação coletiva pelo sindicato dos empregados de uma determinada categoria, diretamente com uma empresa.

Boletim Jurídico da CBIC

Supremo Tribunal Federal

PARECER DAS NORMAS COLETIVAS E DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

PÓS GRADUAÇÃO DIREITO E PROCESSO TRIBUTÁRIO

Sindicatos podem cobrar do empregador pela homologação de acordos coletivos?

PÓS GRADUAÇÃO DIREITO E PROCESSO TRIBUTÁRIO

Cartilha de Contribuição

UNIÃO ESPÍRITA MINEIRA Consultoria Jurídica Contribuição Sindical

PONDERAÇÕES TRIBUTÁRIAS ACERCA DO ART. 103, DO CÓDIGO DE NORMAS/MG

Superior Tribunal de Justiça

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO EMENTA

Supremo Tribunal Federal

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL - QUEM PAGA?

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

1ª Causa em Direito Tributário em meu escritório Por onde eu começo?

Série: 8/ 10 VERÁSQUEUMFILHOTEUNÃOFOGEÀLUTA NEGOCIAÇÃO COLETIVA E O CUSTEIO SINDICAL

CIRCULAR CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO 2011/2013

BLOCO 16 DA SÉRIE ZAC POR DENTRO DA MP 808

DIREITO TRIBUTÁRIO. Tributos Federais Contribuições para a Seguridade Social PIS/COFINS Parte I. Prof. Marcello Leal. Prof.

Espécies de Contribuições do art. 149, CF:

Superior Tribunal de Justiça

Aula 07 ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS. O art. 4.º do CTN define um critério para a identificação das espécies tributárias.

Conceito de Tributo RUBENS KINDLMANN

PARECER JURÍDICO ANUIDADE CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA COBRANÇA - ISENÇÃO

25/04/2015. Noções Básicas do Direito Tributário ESCRITURAÇÃO FISCAL ESCRITURAÇÃO FISCAL. Davi Calado 25/04/2015

PÓS GRADUAÇÃO DIREITO E PROCESSO TRIBUTÁRIO

Transcrição:

Circular SG/FECOSUL nº 018/03/2018 Porto Alegre, 08 de março de 2018. Aos Empresários, Contadores e Departamento de Pessoal SOBRE O RECOLHIMENTO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL Por meio dessa, a FECOSUL informa a todas as empresas empregadoras localizadas na base territorial dessa Federação e de seus sindicatos filiados que o recolhimento da contribuição sindical devida pelos empregados pertencentes à categoria profissional respectiva é devido, nos mesmos moldes anteriores à reforma trabalhista. Primeiramente, ressalta-se a natureza tributária da contribuição sindical, natureza essa já pacificamente reconhecida pelo STF 1, e, ato contínuo, o 1 MANDADO DE SEGURANÇA TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO CONTROLE ENTIDADES SINDICAIS AUTONOMIA AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. A atividade de controle do Tribunal de Contas da União sobre a atuação das entidades sindicais não representa violação à respectiva autonomia assegurada na Lei Maior. MANDADO DE SEGURANÇA TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO FISCALIZAÇÃO RESPONSÁVEIS CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS NATUREZA TRIBUTÁRIA RECEITA PÚBLICA. As contribuições sindicais compulsórias possuem natureza tributária, constituindo receita pública, estando os responsáveis sujeitos à competência fiscalizatória do Tribunal de Contas da União. Ementa do acórdão do processo STF MS 28465/DF 1ª Turma, relator Ministro Marco Aurélio, publicado no DJe em 03/04/2014. Sindicato: contribuição sindical da categoria: recepção. A recepção pela ordem constitucional vigente da contribuição sindical compulsória, prevista no art. 578 CLT e

caráter compulsório que reveste a contribuição sindical, daí ser incompatível e inconstitucional o entendimento de que cada empregado deve autorizar individualmente o desconto da contribuição sindical 2. Nesse sentido, já houve várias decisões da Justiça do Trabalho impondo a obrigação de recolher a contribuição sindical, diante da flagrante inconstitucionalidade apontada na reforma trabalhista sobre o tema 3. Ainda mais, por tratar-se de tributo, mais especificamente da espécie de contribuição social, mercê do art. 149 4 da CF/1988 a contribuição sindical, exigível de todos os integrantes da categoria, independentemente de sua filiação ao sindicato resulta do art. 8º, IV, in fine, da Constituição; não obsta à recepção a proclamação, no caput do art. 8º, do princípio da liberdade sindical, que há de ser compreendido a partir dos termos em que a Lei Fundamental a positivou, nos quais a unicidade (art. 8º, II) e a própria contribuição sindical de natureza tributária (art. 8º, IV) - marcas características do modelo corporativista resistente -, dão a medida da sua relatividade (cf. MI 144, Pertence, RTJ 147/868, 874); nem impede a recepção questionada a falta da lei complementar prevista no art. 146, III, CF, à qual alude o art. 149, à vista do disposto no art. 34, 3º e 4º, das Disposições Transitórias (cf. RE 146733, Moreira Alves, RTJ 146/684, 694). Ementa do Acórdão do processo STF - RE 180745/SP 1ª Turma, relator Ministro Sepúlveda Pertence, publicado no DJ em 08/05/1998; destaque-se que a decisão relaciona o caráter tributário da contribuição sindical à própria CF/1988 (art. 8ª, IV), e não às suas previsões infraconstitucionais. 2 Conforme o CTN, tributo é instituto compulsório imposto ao contribuinte, mercê do art. 3º do CTN, in verbis: Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.. 3 Apenas para citar um exemplo entre vários outros, vide decisão tomada no processo de ação civil pública nº 001183-34.2017.5.12.0007, de lavra da Juíza do Trabalho Patrícia Pereira de Santana, disponível no sistema PJe da JT, e utilizada como razão de decidir em outra ação civil pública, tombada sob o nº 0100111-08.2018.5.01.0034, de lavra da Juíza do Trabalho Aurea Regina de Souza Sampaio (decisão em anexo). 4 CF/1988: Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas,

expressamente prevista não só na CLT, mas também nominada no CTN (Código Tributário Nacional Lei 5.172/1966) 5, conforme seu art. 217, inciso I 6, contribuição social essa que, inclusive, por meio da repartição prevista no art. 589, II, e, da CLT 7, deságua em parte na conta especial salário e emprego, ou seja constitui fonte de renda para formação ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), gerenciado pelo MT (Ministério do Trabalho) e que serve para o custeio, entre outras coisas, do seguro-desemprego, uma das mais como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.. 5 Destaque-se que a jurisprudência nacional é pacífica em atribuir estatura de lei complementar ao CTN, exemplificando-se com a seguinte decisão do STJ: TRIBUTÁRIO. IPTU. CARACTERIZAÇÃO DO IMÓVEL. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO. D.L. 57/66. PREVALECIMENTO DO CTN COMO LEI COMPLEMENTAR. PRECEDENTE DO STF. 1.Consoante fixado pela Excelsa Corte, o Código Tributário Nacional é Lei Complementar que não pode ser alterado por Decreto-lei. Assim, para efeito da incidência do IPTU o que importa é a localização do imóvel, como previsto no art. 32, 1 o, do CTN e não sua destinação. 2.Recurso especial conhecido, porém, improvido. - Ementa do acórdão d processo STJ RESP 169924/RS 2ª Turma, relator Ministro Francisco Peçanha Martins, publicado no DJ em 04/06/2001. 6 CTN: Art. 217. As disposições desta Lei, notadamente as dos arts 17, 74, 2º e 77, parágrafo único, bem como a do art. 54 da Lei 5.025, de 10 de junho de 1966, não excluem a incidência e a exigibilidade:i - da "contribuição sindical", denominação que passa a ter o imposto sindical de que tratam os arts 578 e seguintes, da Consolidação das Leis do Trabalho, sem prejuízo do disposto no art. 16 da Lei 4.589, de 11 de dezembro de 1964; ; percebe-se que o CTN não só resguardou a recepção do imposto sindical no ordenamento brasileiro a partir de 1966 com a instituição do código tributário, como chegou mesmo a refundar o tributo para atribuir-lhe o nome atualmente consagrado de contribuição sindical. 7 CLT: Art. 589. Da importância da arrecadação da contribuição sindical serão feitos os seguintes créditos pela Caixa Econômica Federal, na forma das instruções que forem expedidas pelo Ministro do Trabalho: (...) II - para os trabalhadores: (...) e) 10% (dez por cento) para a Conta Especial Emprego e Salário ;.

importantes medidas de seguridade social 8. Diante desse quadro normativo, é evidente que somente norma de hierarquia normativa de Lei Complementar, poderia elidir ou extinguir parcialmente a contribuição sindical, daí ser inconstitucional por vício formal de origem a alteração trazida pela reforma trabalhista à matéria, já que se deu por meio de alteração por lei ordinária federal. A matéria é objeto de ações diretas de inconstitucionalidade, havendo a possibilidade de declaração de inconstitucionalidade por parte do STF. De todo modo, mesmo entendendo essa Federação que, de fato, a contribuição sindical não poderia ser colocada ao alvedrio do contribuinte, nem ser mitigada por lei ordinária, diante da sua natureza tributária e flagrante inconstitucionalidade formal e material contida na reforma trabalhista nesse sentido, alerta que, ainda que assim não fosse, a autorização de que a CLT fala após a reforma trabalhista é coletiva, e não individual. É notório que os termos reformados da CLT não falam em nenhum momento em autorização individual, mas sim em autorização prévia e expressa dos membros da categoria. Dessa forma, a autorização para o desconto, se fosse exigível, seria certamente pelo meio de autorização em assembleia geral da categoria profissional afetada. Tanto é assim, que a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (ANAMATRA) expediu a Súmula 38 da 2ª 8 Vide dispositivos da Lei 7.998/1990: Art. 10. É instituído o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, destinado ao custeio do Programa de Seguro-Desemprego, ao pagamento do abono salarial e ao financiamento de programas de educação profissional e tecnológica e de desenvolvimento econômico. Parágrafo único. O FAT é um fundo contábil, de natureza financeira, subordinando-se, no que couber, à legislação vigente. Art. 11. Constituem recursos do FAT: (...) V - outros recursos que lhe sejam destinados..

Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, exatamente com essa orientação, como se vê a seguir: 38. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL - I - É LÍCITA A AUTORIZAÇÃO COLETIVA PRÉVIA E EXPRESSA PARA O DESCONTO DAS CONTRIBUIÇÕES SINDICAL E ASSISTENCIAL, MEDIANTE ASSEMBLEIA GERAL, NOS TERMOS DO ESTATUTO, SE OBTIDA MEDIANTE CONVOCAÇÃO DE TODA A CATEGORIA REPRESENTADA ESPECIFICAMENTE PARA ESSE FIM, INDEPENDENTEMENTE DE ASSOCIAÇÃO E SINDICALIZAÇÃO. II - A DECISÃO DA ASSEMBLEIA GERAL SERÁ OBRIGATÓRIA PARA TODA A CATEGORIA, NO CASO DAS CONVENÇÕES COLETIVAS, OU PARA TODOS OS EMPREGADOS DAS EMPRESAS SIGNATÁRIAS DO ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. III - O PODER DE CONTROLE DO EMPREGADOR SOBRE O DESCONTO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL É INCOMPATÍVEL COM O CAPUT DO ART. 8º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E COM O ART. 1º DA CONVENÇÃO 98 DA OIT, POR VIOLAR OS PRINCÍPIOS DA LIBERDADE E DA AUTONOMIA SINDICAL E DA COIBIÇÃO AOS ATOS ANTISSINDICAIS. O entendimento da ANAMATRA, ainda que não seja vinculativo dos órgãos da Justiça do Trabalho, demonstra significativa e importante posição de parte dos juízes do trabalho sobre a questão e se fundamenta no sistema normativo internacional e brasileiro sobre a matéria. Com efeito, a Convenção nº 98 da OIT 9 contém uma série de dispositivos 10 que expressamente vedam a 9 Convenção cujo tema é Direito de Sindicalização e de Negociação Coletiva. 10 Veja-se trechos da Convenção 98 da OIT: Art. 1 1. Os trabalhadores deverão gozar de proteção adequada contra quaisquer atos atentatórios à liberdade sindical emmatéria de emprego. 2. Tal proteção deverá, particularmente, aplicar-se a atos destinados a: a) subordinar o emprego de um trabalhador à condição de não se filiar a um sindicato ou deixar de fazer parte de um sindicato; (...) Art. 2 1. As organizações de trabalhadores e de empregadores deverão gozar de proteção adequada contra quaisquer atos de ingerência de umas e outras, quer diretamente quer por meio de seus agentes ou membros, em sua formação, funcionamento e administração.

ingerência direta ou indireta de empregadores em relação ao custeio sindical, daí ser inviável a interpretação de que a autorização para o desconto de contribuição sindical deve ser individual e expressa frente ao empregador, uma vez que indiretamente se colocaria a concreta possibilidade de ingerência de empregadores no custeio da entidade sindical, com consequências nefastas visíveis. É importante frisar que a Convenção nº 98 da OIT dispõe sobre o direito à liberdade sindical, direito esse reconhecido como direito humano no âmbito internacional e na OIT 11, bem como um direito agasalhado na CF/1988 como um direito fundamental social dos trabalhadores, conforme art. 8º da CF/88, com carga de eficácia plena, irrestrita e imediata. Ainda mais, a Convenção 98º da OIT é norma internalizada no ordenamento jurídico brasileiro, tratando-se de norma internacional ratificada pelo Brasil 12, sendo que, em tratando-se de norma internacional adstrita à direito humano, sua estatura jurídica no ordenamento brasileiro é de norma supralegal, acima da legislação ordinária, 2. Serão particularmente identificados a atos de ingerência, nos termos do presente artigo, medidas destinadas a provocar a criação de organizações de trabalhadores dominadas por um empregador ou uma organização de empregadores, ou a manter organizações de trabalhadores por outros meios financeiros, com o fim de colocar essas organizações sob o controle de um empregador ou de uma organização de empregadores.(...). 11 Nesse diapasão é a DECLARAÇÃO DA OIT SOBRE OS PRINCÍPIOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS NO TRABALHO, cujo trecho abaixo se transcreve: A Conferência Internacional do Trabalho (...) 2. Declara que todos os Membros, ainda que não tenham ratificado as convenções aludidas, têm um compromisso derivado do fato de pertencer à Organização de respeitar, promover e tornar realidade, de boa fé e de conformidade com a Constituição, os princípios relativos aos direitos fundamentais que são objeto dessas convenções, isto é: a) a liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; (...). 12 Aprovada pelo Decreto Legislativo n. 49/1952 e promulgada pelo Decreto 33.196/1953.

ou seja, da própria CLT, conforme posicionamento do STF acerca da hierarquia jurídica de normas internacionais internalizadas no sistema brasileiro 13. Ademais, não é excesso recordar que a autonomia privada coletiva das categorias profissionais e econômicas são exercidas primordialmente de forma coletiva, e não individual, com a normatividade constitucional e infralegal privilegiando claramente a esfera coletiva e assemblear de decisões que influenciem a categoria profissional, inclusive no tocante à imposição de obrigações de custeio, como são exemplos os arts. 7º, XXVI, e 8º, IV, da CF/1988 14, bem como os arts. 513, e, 548, b, e 612 da CLT 15. Assim, em 13 Sobre a supralegalidade de normas internacionais sobre direitos humanos recepcionadas pelo Brasil, vide acórdão do julgamento de RE 466.343, STF, Plenário, relator Ministro Cezar Peluso, julgamento de 03 de dezembro de 2008, especialmente voto do Ministro Gilmar Mendes, trecho in verbis: (...) Por conseguinte, parece mais consistente a interpretação que atribui a característica de supralegalidade aos tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna pelo argumento de que os tratados sobre direitos humanos seriam infraconstitucionais, porém, diante de seu caráter especial em relação aos demais atos normativos internacionais, também seriam dotados de um atributo de supralegalidade. Em outros termos, os tratados sobre direitos humanos não poderiam afrontar a supremacia da Constituição, mas teriam lugar especial reservado no ordenamento jurídico. Equipará-los à legislação ordinária seria subestimar o seu valor especial no contexto do sistema de proteção dos direitos da pessoa humana. (...) - Acórdão do processo STF - RE 466.343, publicado no DJe em 05/06/2009. 14 CF/1988: Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; (...) Art.8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...) IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;.

uma interpretação sistemática, não há guarida para a interpretação de que a autorização seria individual, até porque, repita-se, não há previsão literal de individualidade de autorização, a qual, por todo o que já exposto, seria ilícita no ordenamento jurídico nacional. Aliás, interpretar que a autorização deve ser individual é realizar uma interpretação legal literal de algo que não está literalmente posto na CLT pós-reforma, indicando, isso sim, extrapolação interpretativa dos termos da lei, no caso, ainda pior, em sentido ilícito diante do sistema legislativo brasileiro, como aqui se reafirma. Pois bem, essa Federação e seus sindicatos filiados efetuaram assembleias gerais extraordinárias com pauta específica sobre a autorização do desconto da contribuição sindical, assembleias essas que decidiram por autorizar o desconto da contribuição sindical, havendo assim autorização prévia e expressa ao desconto da contribuição sindical dos membros da categoria profissional, dada em assembleia e de forma coletiva consentânea para toda a normatividade incidente ao caso, como antes ressaltado. CLT: Art. 513. São prerrogativas dos sindicatos: (...) e) impor contribuições a todos aqueles que participam das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas. (...) Art. 548 - Constituem o patrimônio das associações sindicais: (...) b) as contribuições dos associados, na forma estabelecida nos estatutos ou pelas Assembléias Gerais; (...) Art. 612 - Os Sindicatos só poderão celebrar Convenções ou Acordos Coletivos de Trabalho, por deliberação de Assembléia Geral especialmente convocada para êsse fim, consoante o disposto nos respectivos Estatutos, dependendo a validade da mesma do comparecimento e votação, em primeira convocação, de 2/3 (dois terços) dos associados da entidade, se se tratar de Convenção, e dos interessados, no caso de Acôrdo, e, em segunda, de 1/3 (um têrço) dos mesmos.. 15

Por fim, essa Federação alerta que o não recolhimento por parte de empresas da contribuição sindical profissional devida por seus empregados, acarretará a inadimplência dos empregadores, transferindo a eles o pagamento dos valores devidos, bem como a incidência das multas previstas na CLT, no importe de 10% do valor devido, mais juros de mora de 2% ao mês, conforme seu art. 600 16. Evidentemente, poderá ainda haver custos em caso de judicialização do débito, tais como custas judiciais, juros de mora, honorários advocatícios, bem como eventuais condenações em danos morais coletivos e indenização por ato antissindical. Assim sendo, e por todas essas razões, deve haver o recolhimento da contribuição sindical normalmente, como nos anos anteriores, sob pena de posterior cobrança judicial bem como responsabilização e consequentes condenações indenizatórias das empresas que não cumpram com sua obrigação de recolhimento. Sem mais para o momento, subscrevemo-nos. Porto Alegre/RS, 08 de março de 2018. 16 CLT: Art. 600 - O recolhimento da contribuição sindical efetuado fora do prazo referido neste Capítulo, quando espontâneo, será acrescido da multa de 10% (dez por cento), nos 30 (trinta) primeiros dias, com o adicional de 2% (dois por cento) por mês subseqüente de atraso, além de juros de mora de 1 % (um por cento) ao mês e correção monetária, ficando, nesse caso, o infrator, isento de outra penalidade..