COMISSÃO EUROPEIA Bruxelas, 08.08.2000 SG(2000) D/ 106087 Assunto: Auxílio estatal nº N 102/2000 - Portugal Privatização da GALP Execelência, I. PROCEDIMENTO 1. Em 7 de Março de 2000, as Autoridades portuguesas notificaram à Comissão a venda pelo Estado de uma participação minoritária da recém criada GALP à ENI S.p.A (a seguir denominada "ENI") e à Iberdrola S. A. (a seguir denominada "Iberdrola"). 2. A Comissão solicitou, por carta de 14 de Abril de 2000, às Autoridades portuguesas informações suplementares, a que foi dada resposta por carta de 16 de Maio de 2000. 3. Esta decisão refere-se apenas aos aspectos relativos a auxílios estatais das operações e não antecipa a posição da Comissão no que diz respeito a outros aspectos das regras comunitárias em matéria de concorrência. II. DESCRIÇÃO DAS MEDIDAS 4. Em Abril de 1999, o Governo português criou a holding GALP, através da fusão da Petrogal, da GDP e da Transgás. Aquando desta operação, a Petrogal era detida a 55% pelo Estado. O restante era propriedade da Petrocontrol S.A. (a seguir denominada "Petrocontrol"), uma empresa privada, pertencente a um grupo de importantes investidores portugueses. Sua Excelência Dr. Jaime GAMA Ministro dos Negócios Estrangeiros LargodoRilvas P - 1354 LISBOA CODEX Rue de la Loi 200, B-1049 Bruxelles/Wetstraat 200, B-1049 Brussel - Bélgica. Telefone: central 32 (0) 2 299.11.11. Telex: COMEU B 21877. Endereço telegráfico: COMEUR Bruxelas.
5. A GDP era propriedade a 100% do Estado, que possuía também indirectamente 100% da Transgás. 6. Como resultado da fusão, cerca de 66% do capital da GALP passou a ser propriedade, quer directa quer indirectamente, do Estado. Os restantes 33,34% pertenciam ao investidor privado Petrocontrol, que tinha igualmente através da sua holding um direito de bloqueio minoritário. 7. No início de Junho de 1999, o Governo português lançou um concurso público com o objectivo de vender até 15% da sua participação na GALP a empresas petrolíferas e de gás internacionais, que pretendessem tornar-se parceiros estratégicos da empresa. Para o efeito, nomeou um consultor financeiro, o Credit Suisse First Boston (a seguir denominado "CSFB"). Como primeira fase do processo de venda, 15 das principais empresas petrolíferas internacionais potencialmente interessadas em investir na GALP foram convidadas a apresentar propostas não vinculativas até 30 de Junho. 8. No prazo referido, cinco ou seis empresas apresentaram propostas não vinculativas: a Elf-Aquitaine S.A. (a seguir denominada "ELF"), a ENI, a Iberdrola, a Shell S.A. (a seguir denominada "Shell") e a Williams International, Inc (a seguir denominada "Williams"). Quatro destas cinco empresas foram convidadas a consultar o processo (a Shell foi excluída, uma vez que a sua proposta não cumpria os requisitos da venda por não indicar o valor atribuído à GALP). 9. As quatro empresas foram todas informadas de que o prazo para a apresentação das propostas vinculativas terminava em 30 de Setembro de 1999. Tiveram então os mesmos direitos de acesso às informações constantes do processo disponibilizadas pela GALP e pelo consultor financeiro CSFB. 10. Por cartas de 15 e 30 de Setembro respectivamente, dois dos participantes no concurso, a ELF e a Williams comunicaram que se retiravam do processo. 11. Em 30 de Setembro, apenas a ENI e a Iberdrola apresentaram propostas vinculativas em conformidade com os requisitos da venda. O Governo decidiu por conseguinte encetar negociações directas com a ENI, enquanto parceiro estratégico potencial e com a Iberdrola para a venda de uma participação inferior do capital da GALP. 12. Na sequência destas negociações, o Estado decidiu finalmente vender a sua participação de 15% à ENI e à Iberdrola. Em especial, a ENI concordou em adquirir 11% e a Iberdrola os restantes 4%. 13. Em operações separadas, a Petrocontrol decidiu vender a sua participação de 33,34% na GALP à ENI (22,34%) e à Electricidade de Portugal (a seguir denominada "EDP") (11%). 2
14. No final da venda, o capital da GALP ficou dividido da seguinte forma: - Estado português: 34,8%; - ENI: 33,3%; - EDP: 14,3%; - Iberdrola: 4%; - Outros: 13,6%. 15. No que diz respeito ao preço pago pelas acções, este foi estabelecido em 17,43 euros por acção, atribuindo assim à GALP o valor total de cerca de 2 891 milhões de euros. Este preço foi pago pela ENI e pela Iberdrola pelas acções do Estado e pela ENI e pela EDP pelas da Petrocontrol. 16. Foram comunicadas a todas as partes interessadas desde o início do processo algumas obrigações impostas ao(s) comprador(es). Estas obrigações referiam-se: - à definição de uma parceria estratégica com a GALP no que se refere ao saber-fazer comercial, fornecimentos e logística; - à manutenção das acções adquiridas e aos respectivos direitos de voto por pelo menos cinco anos; - à conservação da denominação e estatuto jurídico da GALP bem como a suasedeemportugal; - ao pagamento do preço total das acções no momento da venda. 17. O Estado e a Petrocontrol concluíram as negociações relativas à venda com a ENI,aIberdrolaeaEDPem17deJaneirode2000, tendo assinado o contrato de venda. A ENI, em especial, adquiriu a sua participação através de três filiais: a Agip Petroli S.p.A., a Snam S.p.A. e a Italgas S.p.A. 18. A ENI é uma empresa italiana que opera principalmente no mercado da energia e na qual o Estado italiano possui 34% do capital, estando a parte restante cotada na Bolsa. 19. A Iberdrola é uma empresa privada espanhola, que desenvolve principalmente actividades no sector da energia. III. APRECIAÇÃO 20. A fim de apreciar se uma medida constitui um auxílio estatal na acepção do nº 1 do artigo 87º, a Comissão examina se a mesma é concedida pelo Estado ou através de recursos estatais, se falseia ou ameaça falsear a concorrência favorecendo certas empresas e se afecta o comércio entre Estados-membros. 21. No caso de privatizações, o auxílio estatal pode ser identificado em dois casos: - auxílio ao(s) comprador(es), no caso de o Estado não ter pretendido maximizar o preço de venda através de procedimentos de venda discriminatórios ou não públicos; - auxílio à empresa privatizada, se as condições impostas ao(s) comprador(es) lhe conferirem uma vantagem económica. 3
22. A privatização da GALP não parece envolver qualquer auxílio estatal no âmbito do Tratado em nenhuma das acepções acima referidas. 23. Quanto ao auxílio ao(s) comprador(es), a Comissão nota que o procedimento de venda foi realizado de uma forma aberta e não discriminatória. Todo o processo foi supervisionado por um conhecido consultor financeiro, o CSFB. Todos os potenciais proponentes da UE e do exterior foram colocados em condições de igualdade quanto às informações disponíveis e às obrigações relativas à venda. 24. Em especial, as obrigações impostas ao comprador e descritas no ponto 18 foram clarificadas desde o início do procedimento, de forma a que todos os potenciais investidores est ivessem em condições de avaliar a adequação económica da operação na mesma base. 25. O facto de a privatização não ter sido anunciada publicamente não altera esta apreciação, uma vez que a GALP e o CSFB contactaram uma série de investidores, que representavam as principais empresas que operam no sector em causa, tendo-lhes proposto que preparassem primeiro propostas não vinculativas. 26. Das 15 empresas contactadas, cinco mostraram interesse pela GALP, quatro das quais eram empresas sediadas na Comunidade e uma de fora da UE. Destas cinco, ashellfoiexcluída,umavezqueasuapropostanãoestavaemconformidadecom os requisitos estabelecidos no procedimento de venda. A Comissão considera que esta exclusão não representa uma discriminação que dê origem a um auxílio estatal aos compradores. A Shell, tal como todos os outros investidores potenciais, tinha conhecimento de que a proposta não vinculativa a ser apresentada no prazo fixado tinha de cumprir certos requisitos e, em especial, a obrigação de indicar uma avaliação económica preliminar da GALP. 27. A Shell não indicou este valor na sua proposta. Deste modo, a sua proposta não cumpriu os requisitos estabelecidos no procedimento. Uma vez que a sua proposta não estava em conformidade com esses requisitos, a mesma teve de ser excluída. Permitir que a Shell passasse à segunda fase, apesar de não cumprir as condições de venda, teria dado origem a uma discriminação face aos outros proponentes, que na realidade cumpriram todas as condições estabelecidas. 28. As quatro empresas que passaram à segunda fase, tiveram o mesmo acesso às informações e foram colocadas nas mesmas condições no que diz respeito à possibilidade de apresentar uma proposta. Em especial, foi-lhes dado o mesmo acesso ao processo bem como às unidades de produção e instalações da GALP. Foram também informadas em simultâneo do prazo de apresentação das propostas vinculativas. 29. É evidente em todo o processo que não foi dado aos investidores portugueses qualquer tratamento preferencial, o que é confirmado pelo facto de nenhum comprador seleccionado estar sediado em Portugal. 4
30. Assim, pode considerar-se que o processo está em conformidade com os princípios gerais aplicados pela Comissão às privatizações 1. A Comissão considera que o procedimento seguido não estabeleceu qualquer discriminação entre potenciais investidores e que todas as partes interessadas tiveram um acesso idêntico às informações e direitos iguais para apresentar as suas propostas. Nesse contexto, o procedimento garantiu também que o Estado obteve o preço máximo com a venda e que não foi concedido qualquer auxílio aos compradores mediante uma redução do preço. 31. Esta circunstância é igualmente confirmada pelo facto de o preço pago pelos compradores ao Estado ter sido o mesmo das acções compradas ao investidor privado Petrocontrol. Como a Petrocontrol vendeu a sua participação ao mesmo preço do que o Estado, é evidente que este obteve o máximo preço possível. 32. Por conseguinte, a Comissão considera que o Estado agiu como um investidor privado que opera em condições normais de uma economia de mercado, tentando obter um retorno máximo da venda e não concedendo qualquer auxílio estatal na acepção do n 1 do artigo 87 à ENI e à Iberdrola no âmbito da operação notificada. 33. No que diz respeito a um eventual auxílio à GALP, a Comissão nota que as condições impostas ao comprador não poderão dar origem a um auxílio a esta empresa. 34. A obrigação de desenvolver uma parceria estratégica com a GALP encontrava-se na própria lógica da venda, que se destinava a desenvolver as capacidades comerciais da GALP. Esta obrigação contudo não parece afectar numa medida excessiva à liberdade comercial de os compradores prosseguirem os seus objectivos estratégicos. Na realidade, tendo sabido logo desde o início do processo de privatização que um dos critérios em que a selecção se baseava era precisamente o desenvolvimento de uma parceria estratégica com a GALP, encontravam-se em condições de identificar as melhores opções comerciais para explorar essa parceria. 35. Neste contexto, esta condição não impõe um peso excessivo aos compradores de forma a dar origem a um auxílio estatal à GALP. 36. A obrigação de manter as acções adquiridas por pelo menos cinco anos pode em princípio dar origem à limitação do número de investidores potencialmente interessados. Alguns investidores podem considerar menos interessante investir numa empresa, quando não lhes é dada a possibilidade de beneficiar dos aumentos do valor da empresa adquirida, vendendo-a no momento mais conveniente. 1 Publicados no XXIII Relatório sobre a Política da Concorrência - 1993. 5
37. Todavia, no caso da GALP, esta condição não deu origem a uma limitação do número de investidores privados interessados, uma vez que um dos principais critérios de selecção foi o plano industrial do comprador, no que diz respeito ao desenvolvimento das capacidades comerciais da GALP. É pouco provável que os parceiros estratégicos invistam numa empresa com o objectivo de revender as acções a curto-médio prazo. Pelo contrário, estão mais interessados numa relação de longa duração com a empresa adquirida, o que lhes permite beneficiar plenamente de sinergias em termos de custos e receitas, que normalmente exigem uma exploração em prazos mais longos. 38. Neste contexto, a segunda condição prevista no contrato de venda não parece ter dado origem a um auxílio estatal à GALP. 39. No que se refere à terceira condição, não poderia dar origem a um auxílio estatal à GALP, uma vez que seria impossível que os compradores alterassem o estatuto jurídico da empresa sem o acordo do Governo, que, não deve esquecer-se, manteve mais de 38% das acções. A ENI e a Iberdrola, ao adquirirem participações minoritárias, não estariam em posição de proceder a tais alterações fundamentais na estrutura da GALP sem o acordo do Governo, uma vez que não disporiam da maioria dos votos na assembleia de accionistas. 40. Por conseguinte, a terceira condição não poderá dar origem a qualquer auxílio estatal à GALP. 41. Quanto à quarta condição, é evidente que representa um elemento básico em qualquer operação de venda e que, por conseguinte, não confere qualquer vantagem à GALP. Neste contexto, não constitui um auxílio estatal à empresa privatizada. 42. Em conclusão, a Comissão considera que as condições previstas no contrato de venda não limitam as decisões estratégicas dos compradores numa medida que dê origem a um auxílio estatal à GALP. Os compradores têm a liberdade de prosseguir as suas opções estratégicas e industriais no que diz respeito às suas próprias actividades e igualmente à realização de sinergias com a GALP. 43. Em resumo, pode concluir-se que o processo de privatização se baseou numa abordagem competitiva e transparente e acompanhada por um consultor independente. Os critérios utilizados para seleccionar os vencedores foram claros e transparentes e conhecidos de todos os potenciais participantes desde o início do processo. As propostas eventualmente escolhidas pelo Governo foram as que ofereciam os melhores resultados para o Estado. 44. Com base nas informações notificadas, pode concluir-se que Portugal agiu como um investidor numa economia de mercado e que a operação e o procedimento de venda não envolveram qualquer auxílio estatal na acepção do artigo 87º do Tratado. 45. A Comissão decidiu por conseguinte que a medida notificada não constitui um auxílio na acepção do artigo 87º do Tratado. 6
46. Caso a presente carta contenha elementos confidenciais que não devam ser divulgados a terceiros, a Comissão deve ser informada desse facto, no prazo de quinze dias úteis a contar da data de recepção da presente carta. Se a Comissão não receber um pedido fundamentado nesse sentido no prazo indicado, presumirá que existe acordo quanto à divulgação a terceiros e à publicação do texto integral da carta, na língua que faz fé, no site Internet http://europa.eu.int/comm/sg/sgb/state_aids/. O referido pedido deve ser enviado por carta registada ou por fax para : Comissão Europeia Direcção-Geral Concorrência Direcção Auxílios estatais II RuedelaLoi/Wetstraat,200 B - 1049 Bruxelas Fax nº: 32 (0) 2.2969580 Comosmelhorescumprimentos. Pela Comissão Pedro SOLBES MIRA 7