O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO



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Transcrição:

1 O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO EDUARDO SPOHR MATRÍCULA 0114163-0 COMUNICAÇÃO SOCIAL JORNALISMO PUC-RIO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL ORIENTADOR: PROF. EVERARDO ROCHA 17-06-2002

2 Sumário Introdução Os Limites da Intolerância pg. 03 Parte 1 História, Cultura e Política pg. 05 História e Religião pg. 05 O Século XX pg. 07 Biografias pg. 18 Parte 2 O Processo de Paz pg. 21 O que querem israelenses e palestinos? pg. 21 Cidadania e Nacionalismo pg. 22 Acordos de Paz pg. 24 Yasser Arafat e a ONU pg. 27 O Fator Terrorismo pg. 29 Parte 3 Confronto de Ideologias pg. 33 Os discursos israelense e palestino pg. 33 A atuação dos EUA pg. 39 Os países árabes pg. 40 A postura européia pg. 41 A ONU pg. 42 A Imprensa Internacional pg. 42 Conclusão A Paz é Possível? pg. 45 Bibliografia pg. 47 Anexos pg. 50

3 Introdução Os Limites da Intolerância Ódio. Essa é a chave para entender definitivamente o conflito entre palestinos e israelenses no Oriente Médio. Antes de continuar a ler este texto, esqueça tudo o que você sabe sobre guerras. Este estudo trata de uma situação totalmente única, peculiar. Uma guerra onde a raiva, a vingança e a intolerância são as únicas vencedoras. A eterna bola de neve da violência, que desce pelo Monte das Oliveiras, parece ter colidido com a Terra Santa, trazendo um inverno frio e longo para árabes e judeus. Terror. Essa é a imediata conseqüência das ações de dois povos que não sabem conviver lado-a-lado. De povos sem memória, que à medida que querem restaurar a sua identidade e nacionalidade, esquecem os feitos de seus antepassados. Os palestinos perderam a indulgência dos antigos povos árabes, que souberam, durante toda a história, respeitar a sociedade e a cultura de judeus e cristãos. Os israelenses, que foram humilhados e discriminados durante a Segunda Guerra, e exterminados no Holocausto, parecem ter jogado a dura lição que aprenderam pela latrina. Para Israel, a ocupação é fundamental para conter a expansão de grupos terroristas islâmicos, que têm como objetivo arrastá-los pelo deserto e afogá-los no Mar Mediterrâneo. Para os palestinos, o inimigo sionista quer destruí-los, matá-los, prendê-los, exterminá-los e expulsá-los das terras onde seus avós moravam. Dentro desse contexto, a tática do terror é usada pelos dois lados. Os atentados terroristas contra civis são a maneira que os árabes mais radicais encontraram para convencer a população israelense a ir embora da (sua) região. As retaliações militares a esses ataques também são atos claros de terrorismo de Estado. Ao atacarem cidades e matarem civis palestinos em resposta a ações terroristas, Israel produz mais homens-bomba, dando continuidade a um conflito interminável. Mas então, de quem é a Terra Prometida, afinal? Os judeus se fixaram primeiro em Jerusalém, antiga cidade de Canaã, há pelo menos 4 mil anos. A invasão egípcia os obrigou ao exílio, de onde retornaram sob a liderança de Moisés. Durante a dominação romana, eles se dispersaram pelo mundo - a chamada diáspora. Em 635 d.c., com a expansão islâmica, os muçulmanos chegaram à região, e lá permanecem até hoje. Somente em 1917, com a Declaração Balfour, e posteriormente após a Segunda Guerra Mundial, os judeus de todo o mundo começaram a retornar ao Oriente Médio. Sob o slogan Uma terra sem povo para um povo sem terra, os filhos de Abraão se prepararam para restabelecer o seu lar na Palestina. No entanto, a bordão sionista estava apenas parcialmente certo e por isso parcialmente errado. Em 1917, a região contava com dez árabes para cada judeu. Com o aval britânico (na época a Inglaterra controlava a Palestina), os israelitas iniciaram uma imigração em massa. À medida que eles chegavam, os árabes eram expulsos de suas casas, a exemplo do que aconteceu durante a ocupação egípcia e romana, mas com uma inversão total de valores agora, os judeus eram os invasores! Invasores em uma terra que eles clamavam ser sua. Não obstante, os palestinos

4 partiram para o Líbano e para outros países próximos, ou se fixaram em campos de refugiados na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. E depois dessa ciranda de dois mil anos, nós voltamos à estaca zero: de quem é a Terra Prometida, afinal? Analises à parte, a pergunta que nos interessa é: e agora? Com frear o ciclo de violência que assola a Terra Santa? Esse trabalho não pretende ser radical como um movimento fundamentalista, e impor respostas. A idéia é observar os interesses de cada um dos lados, examinar o discurso do resto do mundo, e propor questionamentos. A paz no Oriente Médio não é só uma questão para diplomatas e líderes mundiais, mas para cada um de nós. Isso porque o conflito não é impulsionado apenas por problemas econômicos e políticos, mas principalmente por sentimentos comuns a todos os seres humanos: nacionalidade, identidade, religiosidade e, principalmente, cidadania. Motivações Pessoais Desde criança eu sempre fui fascinado por religião. Tive uma formação católica em uma escola onde o catecismo era obrigatório. Não demorou para eu começar a questionar sobre quem estava certo, quem contava a versão real para a criação do universo a minha professora de religião ( tia Vera, eu lembro até hoje) ou de ciências. A teoria do Big Ben me pareceu a mais lógica, e eu a adotei como a minha versão dos fatos. Apesar disso, uma dúvida persistia em minha mente: o que levava os homens a acreditar em uma explicação totalmente ilógica, mística e irracional para a criação do planeta? Analisando a questão, eu descobri que as religiões têm raízes profundas, que estão intimamente ligadas à história de cada povo elas refletem as características das sociedades onde estão inseridas. Estudar religião é estudar história, arte e sociologia. Os meus estudos particulares me levaram então ao Oriente Médio (uma viagem virtual, naturalmente, ainda que eu sonhe em ir lá algum dia), berço das religiões ocidentais. Buscando saber mais sobre a região, aprendi que o lugar foi também onde surgiram as primeiras civilizações (o Egito é um país africano, mas tomo licença para incluí-lo no meu pacote pré-histórico). Não obstante, a sua história bélica é igualmente rica, e o estudo de guerras e conflitos humanos é outra de minhas paixões. Desta forma, o Oriente Médio tornou-se, para mim, uma região de interesse colossal. Quando comecei a trabalhar como jornalista, abri meus olhos para os problemas atuais do Oriente Médio, que têm origem nos primórdios da humanidade. Eu me especializei em jornalismo internacional e acompanhei toda a evolução da Segunda Intifada. Para compreender melhor a revolta palestina, busquei estudar os outros conflitos do século XX na região, especialmente aqueles que se seguiram à independência de Israel, em 1948. Em meio a essas análises, eu notei um fato curioso: a opinião pública internacional, especialmente a imprensa americana, cuja tendência era exaltar os atos de Israel e condenar os palestinos, começou a mudar seu discurso. Aos poucos, os judeus vão deixando de ser aquele povo sofrido, injustiçado e renegado para tornar-se imperialista e cruel. Por outro lado, os palestinos vão perdendo o estigma de terroristas e passam a ser uma gente perseguida, miserável, vivendo sob a sombra de uma nação que os explora e os oprime. Diversas publicações jornais, revistas, livros e até quadrinhos começam a tomar partido

5 dos árabes, e voz dos muçulmanos começa a se fazer ouvir através desses jornalistas, escritores, comunicólogos e profissionais de mídia. A minha perplexidade diante da mudança do discurso internacional sobre a crise no Oriente Médio (eu nunca poderia imaginar que algum dia os americanos fossem defender os palestinos), foi um dos fatores que me levou a propor este trabalho. Objetivo O objetivo desta monografia é analisar o conflito árabe-israelense no Oriente Médio segundo a ótica israelense, palestina, estadunidense, européia, árabe, da ONU e da imprensa internacional. O estudo também se propõe a fazer uma análise da história, da cultura e da política da região, ao mesmo tempo que observa o difícil processo de paz entre os dois povos. HISTÓRIA E RELIGIÃO A Terra Amaldiçoada Parte 1 História, Cultura e Política Há muitos e muitos anos, há tantos anos quanto o número de estrelas no céu, o patriarca do povo judeu, Abraão, teria cumprido as ordens de Deus e tomado para si a herança sagrada a cidade de Canaã, uma região onde, muito mais tarde, se ergueria a cidade de Jerusalém. Esta é a terra que teus filhos possuirão, diz o Senhor, em Gênesis. Nessa terra, segundo a Torá, o velho Abraão, já com 75 anos, construiu um altar para o Senhor e fincou as suas raízes, ainda que logo depois tivesse migrado para o Egito. Desde então, a Terra Prometida (por Deus aos judeus, segundo eles mesmos) não conheceu a paz. Por volta de 1.300 a.c., os doze filhos de Jacó (Israel), assolados pela fome, partiram para o Egito, onde ficaram por anos, tornando-se, aí, os israelitas. Foi no Egito que nasceu Moisés, visto por muitos como o fundador das três religiões. Ele guiou os hebreus através do Deserto do Sinai região árida que se localiza na fronteira entre a Palestina e o Egito -, por onde vagaram por 40 anos. Durante a viagem, Moisés teria recebido de Deus as tábuas dos Dez Mandamentos, ponto chave da história judaica. Mas foi sob a liderança de Josué, e não de Moisés, que os hebreus conseguiram finalmente voltar para o seu local de origem. Ao chegar à Canaã, no entanto, os israelitas iniciaram uma terrível guerra contra os cananeus, à exemplo do que fizeram com os árabes após a Segunda Guerra. Josué conquistou Jericó, destruindo-a juntamente com todos os seus habitantes. Posteriormente, assumiu o controle de Hebron e de outras localidades por uns 150 anos. A capital do poder israelita consolidou-se novamente em Jerusalém somente no ano 1000 a.c., quando o rei Davi famoso por derrotar o gigante filisteu Golias com sua funda transferiu-se para o local. Sob o seu reinado, Israel chegou ao seu apogeu, destacando-se como uma grande potência política no Oriente Médio.

6 O filho de Davi, Salomão, foi o responsável pela construção do Templo de Salomão. O templo (ou o que sobrou dele, pois foi destruído e reconstruído diversas vezes) passou a ser a representação material máxima da fé judaica. No santuário interno ficavam, dentro da Arca da Aliança, as placas dos Dez Mandamentos. O Muro das Lamentações, ponto de peregrinação de judeus de todo o mundo, é nada menos do que uma das muralhas do templo. Salomão morreu e o reino perdeu a unidade, dividindo-se em dois: o Reino de Israel, ao norte, com capital em Sabastia, e o Reino da Judéia, ao sul, com Jerusalém como capital. Em 720 a.c., os assírios, e em seguida os babilônios (600 a.c.), invadiram e destruíram os reinos israelitas. Nabucodonozor, soberano da Babilônia, mandou queimar o Templo de Salomão. Os judeus foram levados como escravos para a Assíria e para a Mesopotâmia, de onde só retornaram quando Ciro, o Grande, rei dos persas, venceu os babilônicos e libertou o povo do exílio. Um segundo templo foi construído em Jerusalém, sobre as cinzas do antigo, quando os israelitas voltaram novamente para a Palestina. A religião, especialmente com o surgimento das sinagogas, passou a se institucionalizar, e teve início o judaísmo como conhecemos hoje. Até o fim da Primeira Era, os egípcios voltaram a dominar a região, e em seguida foram os selêucidas da Síria. Em 63 a.c., os romanos venceram os sírios e o general Pompeu e suas tropas ocuparam Jerusalém. Herodes foi proclamado rei da Judéia, e em seguida promoveu uma nova reconstrução do tempo, que havia sido seriamente danificado pelos antigos invasores. Jerusalém Cristã Quando Cristo nasceu, a Judéia vivia sob domínio romano. Herodes viveu até o ano 4 d.c.. O nascimento e a morte de Jesus, uma figura de extrema importância para todo o mundo ocidental, não delineou apenas o fim de uma era antiga. Poucas décadas após a sua crucificação, os romanos, em 70 d.c., comandados por Tito, destruíram praticamente todo o complexo do Templo de Salomão. Os israelitas (agora já podemos chamá-los seguramente de judeus) que ainda persistiam foram expurgados da Palestina com a ascensão do imperador Adriano. Ele ergueu uma cidade romana sobre as ruínas de Jerusalém, e a chamou de Aelia Capitolina. Com a morte de Jesus, especialmente após o século I, o cristianismo começou a se expandir rapidamente pelo ocidente. Essa era a religião dos pobres, do povo, dos desafortunados. Isso porque a doutrina da nova religião não era tão seleta quanto o judaísmo. Para os seguidores de Cristo, não havia (e não há) um povo eleito (por Deus). Todos que crêem podem ser cristãos. Rompe-se assim o elo com o material. A cidade sacra de Jerusalém deixa de ser um ponto fundamental. Deus está dentro de cada um, segundo a bíblia, ou seja, em um reino celestial, e não necessariamente em um templo, em uma cidade ou em um local geográfico. Os cristãos passaram a ser perseguidos pelo mundo romano, até que em 325 d.c. o imperador Constantino retirou o cristianismo da clandestinidade e em seguida, com Teodósio, a fé cristã torna-se a religião oficial do Império. No ano de 395, Jerusalém é uma

7 cidade bizantina e cristã, ligada diretamente a Constantinopla. Recupera também o seu antigo nome, que havia sido mudado por Adriano. Fiéis de todo o mundo vinham em peregrinação ao local onde Cristo viveu. No entanto, o domínio da cristandade sob a Palestina foi breve. Depois de pouco mais de três séculos, ela cairia nas mãos dos seguidores de Maomé. A Expansão do Islã Há milhares de anos que os árabes vivem na Palestina, mas foi só com a expansão islâmica, em 635 d.c., que os muçulmanos tomaram o controle de Jerusalém e seus arredores. No século seguinte à morte de Maomé (ou Mohammed, como os islâmicos preferem chamar), as duas grandes potências da época, o império persa e o império bizantino, entraram em declínio. O Oriente Médio passou a ser dominado pelos califas, assim como grande parte da Arábia. O segundo califa a exercer controle sobre a cidade, Omar in al-khattab, oficializou a santidade de Jerusalém como um lugar a ser respeitado pelas três religiões. Segundo a lei islâmica, a liberdade de culto é uma graça divina, a não pode ser proibida por decretos mundanos, ainda que fossem mesmo os muçulmanos que detinham o poder governamental da Terra Santa. A maioria dos árabes residentes em Jerusalém antes da chegada do Islã abraçaram a nova doutrina, enquanto outros permaneceram leais à fé cristã. A Alta Idade Média já ia embora quando tiveram início as Cruzadas. Uma mistura de razões ideológica, econômicas e políticas levou os cavaleiros ocidentais a pleitear a conquista da Palestina. O objetivo era retomar a região e tirá-la do controle árabe. Os cruzados como se chamavam os cavaleiros das Cruzadas derrotaram os muçulmanos e governaram Jerusalém entre os anos de 1099 e 1187. Em seguida, Saladino libertou a cidade, que foi novamente ocupada pelos cristãos em 1229. Quinze anos mais tarde, uma nova incursão árabe tomou de vez a Terra Santa, que permaneceu sob influência do islã até a ocupação britânica em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial. O SÉCULO XX Por muitos séculos, a Palestina esteve dominada pelos muçulmanos. Foi um período de relativa calma. Muitos judeus que habitavam a região incorporaram o idioma árabe, ainda que continuassem a usar o hebraico como linguagem religiosa. Alguns cristãos também moravam em Jerusalém, e muitos peregrinos visitaram, durante esses séculos, os locais sagrados onde Jesus Cristo nasceu e morreu (em Belém e em Jerusalém). A Convenção de Omar, um decreto oficializado no século VII pelo então califa Omar in al-khattab, que permitia a liberdade de expressão a judeus e cristãos, continuou a ser respeitado pelas dinastias que controlaram a Terra Santa os omíadas, abássidas, fatimidas, seldjúcidas, aiúbidas, mamelucos, hashimitas e otomanos. Todos esses governantes trabalharam no sentido de preservar a herança islâmica de Jerusalém. As dinastias reconstruíram as mesquitas de Al Aqsa e da Abóbada da Rocha e construíram um templo no mesmo lugar onde o Corão sustenta que Maomé subiu aos Céus.

8 Em fins do século XIX, os tentáculos das potências européias já estavam estendidos sobre a África e Ásia, mas a maioria das nações do Oriente Médio Palestina, Pérsia, Afeganistão, Líbia e os territórios hoje correspondentes à Síria e ao Líbano estavam nas mãos dos turcos otomanos. Mas quando o século XX chegou, as coisas começaram a mudar drasticamente. As disputas por áreas de influência tornaram-se insustentáveis e a Europa lançou-se em uma guerra de proporções jamais vistas anteriormente. Em fins de 1914, os otomanos tomaram o lado da Tríplice Entente e suas fronteiras se viram espremidas por ofensivas russas e britânicas. No fim da Primeira Guerra Mundial, o glorioso e outrora poderoso Império Otomano estava reduzido à região da Anatólia. Os ingleses ocuparam os seus territórios, e isso inclui Jerusalém. Nessa época, a Grã-Bretanha tinha em mãos três propostas para o futuro da Palestina. O acordo Sykes-Picot, de 1916, previa uma administração internacional para a região. Um outro documento, a Correspondência Hussein-MacMahon, propunha que Jerusalém e arredores fossem incluídos dentro da zona de independência árabe. Por fim, a famosa declaração de Balfour (1917), elaborada pelo Lorde Balfour, incentivava a colonização judaica, sob proteção do Reino Unido. O sionismo, esteja certo ou errado, seja bom ou ruim, está enraizado em uma tradição milenar, em necessidades do presente e esperanças futuras de importância muito mais profunda que os desejos e preconceitos de 700 mil árabes que agora habitam aquela terra antiga. Desta forma, não propomos sequer consultar os desejos dos atuais habitantes do país. - Lord Balfour A Inglaterra optou por aderir à aliança com o movimento sionista, e foi dada a largada para a imigração em massa de israelitas para Jerusalém. Em 1922 a Liga das Nações ordenou oficialmente a Grã-Bretanha como potência mandatária da Palestina, sendo assessorada pela Organização Sionista Mundial. A convivência entre árabes e judeus tinha sido pacífica durante a época otomana, e a princípio não seria um problema agora. No entanto, os planos judaicos estavam aquém da convivência, e essa intolerância acabou dando origem à revoltas palestinas em 1921, 1933 e em 1936. Em verdade, os árabes eram a maioria. Os judeus não excediam 11% da população mas, com o apoio britânico, iam, aos poucos, conquistando as melhores terras para cultivo e se estabelecendo em colônias agrícolas. Em decorrência dos levantes dos palestinos, que se opunham ferozmente ao estabelecimento de um lar essencialmente judeu no Oriente Médio, o Reino Unido começou a reavaliar a sua estratégia na região. Para alguns membros do Parlamento (inglês), a política sionista poderia vir a prejudicar os seus interesses. Além disso, entre os israelitas, a idéia da criação de um Estado judeu ganhava força. Para resolver esses problemas os britânicos propuseram a divisão da Palestina em áreas árabes e judaicas, mantendo Jerusalém neutra, sob controle internacional. Além disso, impôs restrições imigratórias para os judeus. No entanto, com a Segunda Guerra Mundial, muita coisa teve que ser novamente avaliada. Dois anos depois do fim do conflito em fevereiro de 1947 a Inglaterra declarou que não tinha como continuar administrando a Palestina e entregou a questão nas mãos da ONU. O resultado disso foi a criação da chamada Resolução 181, que, em síntese, estabelecia da seguinte forma a partilha da região:

9 a) A criação de um Estado judeu b) A criação de um Estado palestino c) Jerusalém, Belém e adjacências ficariam sob controle internacional Os palestinos rechaçaram a Resolução 181. Eles alegavam que ela beneficiava os interesses dos judeus, já que as terras israelenses somariam 56% da Palestina e os judeus somavam apenas 33% da população ocupando somente 6% da área urbana. Em 14 de maio de 1948, o mandato expirou e os ingleses se retiraram definitivamente do Oriente Médio. No mesmo dia, Israel declarou, unilateralmente, a sua independência. O início do drama moderno do Oriente Médio começa aqui. Com a independência, Israel pôs em prática o que chamou de teoria de transferência, cujo objetivo era expulsar os palestinos dos seus territórios e criar um país essencialmente judeu. A implementação dessa teoria se deu, muitas vezes, de maneira violenta. Em 28 de outubro de 1948, o 89º batalhão do general Moshe Dayan protagonizou o massacre de Dawaymeth, uma aldeia entre Jerusalém e Ramallah, onde cerca de 580 palestinos foram mortos. Diante dos fatos, alguns analistas sustentaram que os israelenses estavam usando a recusa árabe à Resolução 181 como desculpa para promover a judaização da Palestina. Contudo, a Segunda Guerra só tinha terminado há 3 anos, e a simpatia da opinião pública internacional para com os judeus, especialmente por causa do Holocausto, impulsionou as coisas a favor de Israel, fazendo com que muitas atrocidades fossem rapidamente esquecidas ou ignoradas pelo mundo ocidental. A teoria da transferência deu origem aos milhares de refugiados palestinos, um problema social que persiste até hoje. Muitos árabes que foram expulsos de suas casas emigraram para a Jordânia e para o Líbano, enquanto outros se alocaram em campos de refugiados na Cisjordânia (região ao oeste do rio Jordão). O campo de Jenin é atualmente um dos maiores. A Guerra de Independência Os países árabes se opuseram à Resolução 181. Para eles como já foi dito a determinação era favorável aos israelenses e prejudicava a população palestina. Assim, o Egito, o Iraque, a Jordânia, o Líbano e a Síria (todos membros da Liga Árabe) declararam guerra à Israel, no dia seguinte à sua independência. Este conflito também é conhecido como a Primeira Guerra Árabe-Israelense. Mas o mundo árabe, descentralizado e dividido, não estava preparado para enfrentar o recém criado Estado judeu. Os israelenses contavam com o apoio do ocidente, especialmente dos Estados Unidos, tanto ideológica como financeiramente. Não obstante, manter a soberania das fronteiras era uma questão essencial, enraizada no coração de cada judeu da Terra Santa. Assim, o moral das tropas e da população era alto. Pela primeira vez na história moderna, eles estavam lutando por uma região que acreditavam ser sua por direito. Estavam lutando no mesmo solo que os seus antepassados lutaram na Antigüidade.

10 A Primeira Guerra Árabe-Israelense terminou em janeiro de 1949, com um grande saldo de mortos dos dois lados. Israel saiu vencedor, conquistou definitivamente a sua independência e passou a ocupar a Galiléia e o deserto do Neguev, ampliando o seu território de 14.500 Km² para 20.900 Km². A cidade de Jerusalém foi dividida entre a Jordânia (Jerusalém Oriental, incluindo a Cidade Velha) e Israel (Jerusalém Ocidental), que anexou também a Cisjordânia. A Faixa de Gaza, que faz fronteira com o Egito pelo deserto do Sinai, ficou nas mãos dos egípcios. Teoria em Prática A teoria da transferência foi posta em prática durante a guerra e se intensificou depois dela, aumentando ainda mais o drama social dos refugiados. A linha do armistício (que delineava as fronteiras depois de 1949) caiu pouco tempo depois, quando os israelenses avançaram em 1950, e ocuparam 77% das terras palestinas. Em Jerusalém, Israel se apossou de 84,23% do território urbano, deixando 11,48% para a população árabe local. O restante (4,39%) permaneceu como um bolsão administrado pelas Nações Unidas. Todos os acampamentos palestinos na parte ocidental de Jerusalém foram fechados e seus nomes árabes substituídos por nomes hebraicos. Um total de 29 vilas localizadas nos arredores da cidade foram destruídas, suas terras confiscadas e sua população forçada a se retirar. Em seguida, o governo israelense aprovou diversas leis administrativas visando a apropriação de terras palestinas que na época, acredita-se, somavam 80% das propriedades de Jerusalém. No dia 11 de dezembro de 1949, a sede do governo de Israel foi transferida para Jerusalém. E a cidade sagrada foi declarada capital do Estado judeu. No ano seguinte, como parte da política de judaização, políticos israelenses estabeleceram a Lei do Retorno, segundo a qual todo judeu, de qualquer parte do mundo, tem o direito de se mudar para Israel e obter cidadania israelense. Isso intensificou a imigração e a população judaica na região cresceu de 84.000 em 1948 para 167.400 em 1961. A história das civilizações árabes foi proibida nas escolas e restrições relativas ao ingresso nas faculdades, residência, emprego e trânsito foram impostas aos palestinos. O general (israelense) Moshe Dayan, que comandou tropas na Guerra de Independência e na Guerra dos Seis Dias, reconhece a atitude do Estado judeu em uma declaração dada à edição de 4 de abril de 1969 do jornal israelense Ha-Aretz: Nós viemos para este país que já era habitado pelos árabes, e aqui estamos estabelecendo um Estado hebreu, isto é, judaico. Em áreas consideráveis do país, compramos as terras dos árabes. Cidades judaicas foram construídas no lugar das cidades árabes. Vocês nem sabem os nomes das cidades árabes, e eu não os culpo por isso, porque nem existem mais os antigos livros de geografia. Mas não apenas os livros não existem, como as cidades também desapareceram. A Guerra de Suez (Segunda Guerra Árabe-Israelense) Em 1956, o Egito anunciou que o Canal de Suez era parte do país, e impediu o trânsito de embarcações com destino a Israel. O presidente então egípcio Abdul Nasser também bloqueou o Estreito de Tiran e fechou o porto de Eilat, no Golfo de Ácaba. Essas medidas

11 ameaçavam o projeto israelense de irrigação do deserto de Neguev e cerravam a única ligação de Israel com o Mar Vermelho, impedindo o comércio com a África, Ásia e com o Golfo Pérsico (prejudicando a importação de petróleo). Não tardou para, em meados de outubro, Israel, com apoio francês e britânico, declarar guerra ao Egito. Os israelenses avançaram e conquistaram a Faixa de Gaza, península do Sinai e o porto de Eilat, reabrindo-o. As tropas chegaram a apenas 16 km de Suez. Sob mediação da ONU, o canal foi reaberto e as forças de Israel retrocederam às linhas de armistício impostas ao fim da Guerra de Independência. Fundação da OLP Em fins da década de 50 começaram a surgir as primeiras fagulhas da resistência palestina ao exílio e à ocupação israelense. Na verdade, muitos grupos já começavam a se organizar bem antes disso, mas a concretização deste ideal de libertação tomou forma em 1964, com a fundação da OLP (Organização para a Libertação da Palestina). A criação de um movimento centralizado, com bases ideológicas concretas foi possível graças a participação de intelectuais palestinos, em sua maioria exilados. No entanto, nessa época, a organização era puramente ideológica. Ela fora incentivada por Nasser, para quem qualquer jogada contra os interesses israelenses (que o derrotaram na Guerra de Suez) era válida. Um dos cabeças da OLP era Yasser Arafat, um egípcio que cresceu em Jerusalém, junto à população muçulmana local, tornando-se, assim, um palestino. Arafat logo assumiu a liderança da Organização para a Libertação da Palestina, e despontou como herói na Guerra de Suez, em 1956. A Guerra dos Seis Dias Depois da Guerra de Suez, a tensão no Oriente Médio, ao invés de amainar, se agravou. Grupos islâmicos, especialmente a Fatah, iniciaram movimentos de guerrilha, ao mesmo tempo que ações terroristas eram perpetradas em território israelense. O rei Hussein da Jordânia e o presidente egípcio Abdul Nasser (antigos inimigos), assinaram um acordo de defesa conjunta, e depois acertaram, com a Síria, uma aliança militar. A situação nas fronteiras começava a ficar tensa, e Israel temia, a qualquer hora, uma invasão árabe inesperada. Diversos meios diplomáticos foram acionados, mas o Estado judeu passava por momentos difíceis. Grande parte da ajuda norte-americana do pós-guerra fora cortada; as organizações sionistas destinadas a recolher dinheiro enfrentavam dificuldades; a indenização alemã começava a acabar e 10% dos trabalhadores israelenses tinham perdido seus empregos. Além disso, se 80 mil árabes estivessem realmente se mobilizando para uma guerra, seria deveras provável que alcançassem o seu intento que, para o ditador egípcio Nasser, era (...) a destruição de Israel. Os estrategistas judeus sabiam que não poderiam defender o seu território contra um ataque maciço e conjunto, especialmente se este viesse por ar. Ao contrário: a sua única forma de

12 defesa era o ataque, uma ofensiva rápida e em grande escala, que neutralizasse boa parte das forças inimigas. Baseados nesse princípio, Israel efetuou, sem declaração de guerra, um ataque devastador aos aeródromos egípcios na manhã de 5 de junho, dizimando grande parte de seus aviões de combate. De uma população de dois milhões de judeus, 264.000 foram mobilizados em 72 horas e enviados para a batalha. No entanto, sem Força Aérea, o Egito, e também a Jordânia (cujos aeroportos militares também foram atacados) já estavam a um passo da derrota. Seis dias depois, em 10 de junho, a guerra havia terminado. Em apenas uma semana, as forças de Israel tinham vencido o inimigo e redesenhado completamente o mapa do Oriente Médio, quadriplicando o tamanho de seu país. A península do Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as colinas de Golã e Jerusalém Oriental foram conquistadas. Muitos desses territórios permanecem, até hoje, sob ocupação das forças israelenses. Setembro Negro Em setembro de 1970, Arafat e a OLP estavam em território jordaniano, juntamente com outros milhares de palestinos. O número de refugiados no país crescia a cada dia, e com isso começaram os choques entre esses árabes renegados e o governo real do rei Hussein, que tentava minar a força da OLP em seu país. Em resposta à esse choque com o Estado jordaniano, um grupo palestino, a Frente Popular, não ligado diretamente a Arafat, seqüestrou quatro aviões em pleno território da Jordânia. Os terroristas sustentavam que Hussein estava alinhado com as potências ocidentais, e tentavam desmoralizá-lo junto ao seu povo. Os seqüestros dos aviões foram visto pelo rei com uma afronta, e foi também um golpe à autoridade do líder da OLP (Arafat). Em resposta, o exército real iniciou uma campanha contra os guerrilheiros palestinos em seu território. Mais de 10 mil pessoas morreram nesse episódio, que ficou conhecido como Setembro Negro. O Setembro Negro foi um dos raros conflitos entre árabes, e não entre árabes e judeus, mas tem a sua importância para o povo palestino, que foi massacrado e forçado a abandonar a Jordânia. Muitas nações árabes condenaram as atitudes de Hussein, e um acordo de paz assinado no Egito pôs fim às confrontos. A partir daí, a guerrilha palestina, sem o apoio de um país sede, passou à clandestinidade. A Guerra do Yom Kippur Em 1973, a exemplo do que os israelenses fizeram em 1967, Egito e Síria desfecharam um ataque surpresa contra o território de Israel no dia do feriado judaico do Yom Kippur (Dia do Perdão), a data religiosa mais importante entre os israelitas. A causa mais latente deste ataque foi a não desocupação dos territórios conquistados em 1967. Além disso, a rivalidade entre egípcios e israelenses ainda perturbava o Cairo desde a derrota em Suez, em 1956. Depois de penetrar 15 km adentro das áreas ocupadas por Israel, os árabes foram contidos. A Força Aérea israelense bombardeou Damasco e as posições do Egito no Sinai foram

13 isoladas. Novamente os Estados Unidos apoiaram Israel, mas desta vez Washington tinha um motivo a mais para isso. Além do Iraque e da Jordânia, a União Soviética também estava ao lado dos interesses egípcios e sírios. A Guerra do Yom Kippur acabou e as fronteiras voltaram ao ponto que eram antes do conflito. Não houve avanços em nenhum dos lados e as Nações Unidas coordenaram os acordos de trégua. O Petróleo como Arma Em 1973, mesmo ano da Guerra do Yom Kippur, a opinião pública internacional começou a olhar com mais interesse a questão palestina, à medida que as cinzas do Holocausto iam se dispersando. Os países árabes descobriram que podiam usar o petróleo como arma e a Opep boicotou o fornecimento de petróleo para Israel e outros países que o apoiavam. Foi a chamada Crise do Petróleo. As bolsas de várias nações ocidentais despencaram. A Guerra do Líbano A Guerra do Líbano, ou, como os israelenses preferem chamar, a Operação Paz Para a Galiléia, começou em 1982, quando as forças de Israel penetraram no Líbano com o objetivo de aniquilar a estrutura da OLP, que desde a expulsão da Jordânia (Setembro Negro) passaram a operar na região. O governo israelense sempre sustentou que o território libanês era a base de operação para inúmeros ataques terroristas à Galiléia (onde fica a fronteira entre Israel e Líbano), e decidiu invadir o país. No entanto, desde a independência de Israel, milhares de civis palestinos imigraram para dentro das fronteiras libanesas, desequilibrando o poder local, já que os islâmicos passaram a ser maioria no país. Quando a guerra (ou a operação de paz) começou, em 82, o Líbano já vivia, há pelo menos 20 anos, uma devastadora guerra civil. Cinco facções religiosas os cristãos maronitas, os cristãos ortodoxos, os muçulmanos sunitas, os drusos e os xiitas disputavam o poder na região. Em 1958 os Estados Unidos fizeram uma intervenção no Líbano, impedindo que o país se desfizesse em pequenos territórios. Uma nova forma de poder foi proposta pela ONU, que sugeria um governo formado pelos chefes de cada grupo religioso. A fórmula das Nações Unidas fracassou e em 1975 a guerra civil recomeçou. O estopim para o reinicio do conflito foi um atentado perpetrado pelos cristãos maronitas, facção que se opunha mais violentamente à presença dos muçulmanos no Líbano. O ataque deixou dezenas de palestinos e libaneses islâmicos mortos. A Organização para a Libertação da Palestina era forte no país, e a sua presença marcante. Então, a Síria rompeu laços com a OLP e passou a apoiar os (cristãos) maronitas, o que desencadeou fervorosos protestos no mundo árabe. Para impedir mais derramamento de sangue, Estados Unidos, França e União Soviética enviaram uma missão à zona de conflito e pressionaram a Síria a retirar suas tropas da região e voltar a conversar com os palestinos. A situação permaneceu tensa até que a violência explodiu de vez em 1977, quando o líder druso Kamal Jumblatt foi assassinado. Em meio à guerra civil, o poder da guerrilha da OLP aumentava, e Israel começou a preparar uma ofensiva militar para destruir a organização de Yasser Arafat. Segundo o Estado judeu, os combatentes da OLP eram os mesmos que executavam os ataques

14 terroristas na Galiléia. Alguns destes atentados foram de fato perpetrados por homens ligados direta ou indiretamente a membros da organização, mas a maioria dos palestinos que viviam no Líbano era civil. Israel invadiu o país em junho e seguiram-se dois meses de intensos combates. Os israelenses sitiaram a parte muçulmana de Beirute, cortando o fornecimento de água e energia. Em fins de agosto, Beirute estava arrasada, e os americanos convenceram Arafat e os combatentes da OLP a deixar o Líbano. Esta não foi uma decisão fácil, pois a maioria dos países árabes se recusava a recebê-los. No fim, quase todos foram para Tunísia, deixando suas famílias para trás. Como a situação permanecia tensa, um destacamento militar estadunidense foi enviado à capital libanesa. Os palestinos remanescentes eram centenas de milhares de civis, que continuaram morando nos campos de refugiados. Em dois destes campos, Sabra e Chatila, cerca de 800 civis palestinos, indefesos sem a guerrilha da OLP, foram massacrados pelos cristãos maronitas. O ex-secretário de Estado americano no período de 1989-1992, George Shultz, define assim o episódio: Quando os soldados (americanos) partiram, eles queriam assegurar a segurança das mulheres e crianças que haviam ficado nos campos, e achamos que tínhamos conseguido isso. Quando os israelenses deixaram os libaneses (maronitas) invadirem os campos, sabendo que haveria um massacre, nós nos sentimos traídos. Foi um momento muito baixo. No mesmo ano (1982), com o apoio norte-americano, o líder maronita Amin Gemayel assumiu o poder, mas sucumbiu aos drusos em 1988, depois que os Estados Unidos e Israel se retiraram do Líbano. A Intifada Com a saída da OLP do Líbano, muitos de seus membros se dispersaram. Enquanto Arafat permanecia exilado em Túnis (capital da Tunísia), e continuava firme em sua intenção de negociar a Questão Palestina por vias diplomáticas, Abu Mussa, um outro alto funcionário da organização, com ideais mais radicais, criou uma sisão no movimento. Mas Yasser Arafat tinha vínculos valorosos e com o apoio do presidente do Egito, Hosni Mubarak, e do rei Hussei da Jordânia, se reelegeu presidente da OLP em 1984. No ano seguinte Arafat e Hussein elaboraram uma proposta de paz, que previa a retirada de Israel dos territórios ocupados. O documento foi rejeitado. Diante de um futuro incerto, os palestinos foram às ruas de Gaza. Em 1987 estourou o primeiro grande levante popular contra a ocupação israelense, e foi chamado de Intifada. A revolta foi desencadeada quando quatro palestinos morreram atropelados por um caminhão do exército de Israel. A ação dos militares israelenses, que usavam artilharia contra os adolescentes palestinos, armados com paus e pedras, foi condenada pelo mundo ocidental. Em face dessa simpatia da opinião pública mundial, a OLP se fortaleceu. Os ricos países do Golfo Pérsico passaram

15 a enviar ajuda financeira ao movimento de Arafat, e ele a usou para estabelecer fortes bases de operação na Cisjordânia e na Faixa e Gaza. Abdel Barri Atwan, editor-chefe do jornal Al Quds Al Arabi explica a situação da seguinte forma: Arafat era muito inteligente e, como artista da sobrevivência, conseguiu aproveitar o fenômeno da Intifada. Ele investiu muito, gastou muito dinheiro, milhões de dólares, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza para montar uma base forte na Intifada. E foi bem-sucedido. O levante serviu também para unir as facções da OLP. A partir de então, Arafat começou a planejar uma forma de usar a credibilidade adquirida pela Intifada para cumprir as exigências israelenses e americanas - reconhecendo o Estado judeu e renunciando ao terrorismo - e ao mesmo tempo satisfazer os interesses dos palestinos. As manobras do líder da OLP deram certo. Os árabes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza apoiaram Arafat e, em novembro de 1988, ele anunciou, no exílio, a criação do Estado palestino, aceitando também as exigências de Israel relativas ao terror. As suas declarações foram imediatamente aceitas pelos países árabes, mas rejeitadas por Israel e vistas com indiferença pelos EUA. A Intifada terminou em 1993, quando as conversações de Oslo resultaram em um acordo de paz assinado por Yasser Arafat e pelo então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, sob mediação do presidente americano Bill Clinton (ver O Processo de Paz, mais adiante). A Guerra do Golfo Em agosto de 1991 o Iraque, sob o comando do ditador Saddam Hussein, invade o Kwait. A ameaça relativa à questão do petróleo mobilizou não só as potências ocidentais, mas também diversos países árabes tais como o Egito, a Síria, o Marrocos, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos que vendiam óleo para os americanos, e por isso se colocaram ao lado de seus aliados econômicos e contra o Iraque. O país, contudo, sempre foi colaborador da causa palestina, e estava na lista de nações que patrocinava a OLP. Além disso, o povo palestino estava a favor dos iraquianos e contra os Estados Unidos, que por sua vez apoiavam Israel. Dividido entre o povo palestino, que admirava a iniciativa do Iraque, e aliados importantes, como a Arábia Saudita, Arafat escolheu o seu povo e Saddam. O depoimento de Abdel Barri Atwan nos ajuda a entender os motivos que levaram o líder palestino a fazer essa opção. Eu disse Escute, Arafat, não ache que você e Saddam vão derrotar os EUA. Ele será derrotado e você também. Já pensou nisso? E ele disse que sim e me falou: Estou sempre observando as ruas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Preciso estar com o povo. Se não fizer isso será o meu fim. Em março de 1991 o Iraque foi derrotado e o Kwait estava desocupado. Arafat havia escolhido o lado fracassado. O mundo árabe estava dividido e confuso. Observando que o poder americano sobre o Oriente Médio aumentara, o então presidente George Bush deu uma declaração incentivando os países árabes a aceitar Israel. Isso nunca aconteceu de fato, mas as tensões entre o Estado judeu entre as ricas nações árabes do Golfo se amenizaram.

16 Ao mesmo tempo, Arafat tornava-se persona non grata nesses países, por ter apoiado Saddam. Aos poucos, os fundos da OLP começaram a escassear. A Segunda Intifada Em fins de 1993, com os acordos de Oslo, parecia que finalmente a luz tinha aparecido no fim do túnel. Quando Yitzhak Rabin foi assassinado, entretanto, a esperança de uma Palestina livre foi morta com ele. Rabin foi atacado por um judeu extremista que via como traição os termos de paz. A resposta árabe foi violenta. Um grupo islâmico, o Hamas (Movimento de Resistência Palestina), iniciou uma onda de atentados em Israel. A segurança absoluta dos cidadãos israelenses era a prioridade da campanha do direitista Benjamim Natanyahu, que se elegeu primeiro-ministro em 1996. Natanyahu praticamente interrompeu a devolução de terras palestinas, que haviam sido determinadas nas negociações entre Arafat e Rabin. Como se não bastasse, Israel continuou a construir assentamentos judeus em território árabe. À medida que o acordo de Oslo fracassava, os palestinos eram expulsos de suas áreas, e as suas casas destruídas por tanques e escavadeiras. Os ataques suicidas se tornavam mais freqüentes e as retaliações israelenses colocavam os dois povos em um ciclo crescente de violência. Em setembro de 2000 estourou uma segunda revolta popular, basicamente contra a construção de assentamentos. À exemplo da Intifada anterior, árabes armados com paus e pedras enfrentam soldados israelenses, mas desta vez os ataques acontecem principalmente nas fronteiras dos territórios ocupados, nos postos de controle do exército e nas proximidades das colônias judaicas. O jornalista Alain Gresh, editor do Le Monde Diplomatique, define a situação dos assentamentos da seguinte forma: Todas elas estão situadas dentro de territórios palestinos incontestados, essas colônias concentram os pontos de atrito mais sangrento da nova Intifada. Pois o principal objetivo dos insurrectos é cristalino. Israel deve escolher entre a paz e as colônias, colônias essas que os estatutos do Tribunal Penal Internacional, aprovados em Roma em julho de 1998, classificam de crime de guerra. O objetivo do levante é tornar insustentável a vida dos israelenses, tanto nas colônias quanto nas cidades. Os ataques aos assentamentos são, por assim dizer, mais legítimos. Por outro lado, os atentados terroristas em cidades reconhecidamente israelenses têm o único objetivo de levar aos judeus o mesmo sofrimento que lhes é imposto nos territórios ocupados. A tática do terror (que será abordada em detalhes mais adiante neste estudo), ainda que se esconda sob uma cortina ideológica, é puramente uma forma de clamar vingança. E essa tática também se aplica ao terrorismo de Estado israelense, que ataca campos de refugiados em retaliação à atentados suicidas. A Segunda Intifada, assim como a primeira, é um levante popular espontâneo. No entanto, Yasser Arafat e a Autoridade Nacional Palestina (ANP), criada em 1994, tornaram-se ícones dessa revolta, e o líder palestino virou o principal alvo das críticas israelenses, que o acusam de ser o principal responsável pelo terror. O jornalista Graham Usher compara assim as duas Intifadas: Fundamentalmente, participam dela (a Segunda Intifada) o Fatah organização a

17 que pertence Yasser Arafat e os quadros médios surgidos quando da primeira Intifada. Todas as organizações nacionais e islâmicas, inclusive o Hamas e a Jihad Islâmica, estão reunidos sob uma direção comum, o que não ocorreu em 1987, e reconhecem a liderança do Fatah. A originalidade deste movimento está no uso da violência, inclusive armada, contra a presença israelense nos territórios ocupados, tanto contra soldados quanto contra colonos. Vale lembrar que durante a Primeira Intifada, Arafat estava exilado em Túnis, e só retornou em 1994 à Palestina, na época da criação na ANP. Apesar do mandato do direitista Benjamim Natanyahu, a revolta só estourou mesmo em 2000 (como já foi mencionado), durante o governo de Ehud Barak. O premiê, como todos os que o procederam, aprovou a ampliação dos assentamentos e destinou US$ 500 milhões no orçamento de 2001 para as colônias. Depois, com o fracasso das negociações de Camp David, Barak foi criticado por não ser capaz de pôr fim à violência. O primeiro-ministro aceitou a realização de um plebiscito onde a população decidiria se ele deveria ou não permanecer no poder. Mais uma vez o ciclo direita esquerda se sucedeu em Israel. Barak foi derrubado e Ariel Sharon, um ex-general e político linha dura chegou ao poder do Estado judeu. Desde então, a opressão e a violência, dos dois lados, cresceram enormemente. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, enviou representantes ao Oriente Médio. As primeiras conclusões vieram na forma de um documento elaborado pelo diretor da CIA, George Tenet. Segundo o Plano Tenet, Israel deveria parar de construir assentamentos em áreas palestinas, e os árabes tinham que renunciar a todas as formas de terrorismo, interrompendo os ataques à civis israelenses. Quando a situação parecia ficar mais branda, os atentados de 11 de setembro às Torres Gêmeas e ao Pentágono mudaram o rumo das coisas. Bush declarou guerra ao terrorismo, o que deu mais liberdade a Ariel Sharon para reprimir violentamente os atentados suicidas. A Guerra ao Terror deixou o governo americano de mãos atadas diante dos ataques do exército de Israel contra objetivos palestinos, que segundo eles eram alvos terroristas. Mas aos poucos, a opinião pública mundial percebeu que sem a mediação estadunidense, a situação se tornaria insustentável, e um genocídio poderia estar a caminho. Depois de um terrível atentado durante a Páscoa judaica, Israel deflagrou a operação Muro de Defesa na Cisjordânia, invadindo cidades e campos de refugiados, matando civis, destruindo casas e cercando o quartel-general de Arafat. O líder palestino ficou mais de um mês confinado, até que foi libertado depois de entregar às autoridades internacionais seis homens acusados de ter assassinado o ministro do Turismo de Israel, Rehavam Zeevi. Entidades humanitárias tentaram visitar as cidades sitiadas, mas foram impedidas de entrar. A comunidade internacional condenou a ação israelense, e o presidente George W. Bush avisou que Ariel Sharon deveria retirar suas tropas da Cisjordânia. No entanto, o premiê se negou, dizendo que o exército deixaria a região em breve, quando a operação fosse concluída. A ofensiva israelense terminou no início de maio de 2002, mas a crise continua na região.

18 A decisão de Arafat de entregar os suspeitos palestinos abalou a sua liderança. Além disso, a ANP é vista como uma entidade corrupta, e continua existindo graças ao apoio americano, que ainda vê em Arafat o melhor parceiro para a paz. O próprio Ariel Sharon, em entrevista à rede de TV CNN, não soube indicar o nome de um outro possível líder palestino com quem Israel estaria disposto a negociar. BIOGRAFIAS Yasser Arafat O presidente da Autoridade Nacional Palestina nasceu com o nome de Mohammed Abdel- Raouf Arafat, no Cairo, Egito, em 24 de agosto de 1929. Yasser é uma designação árabe para fácil, ou seja, uma pessoa de bom senso, com a qual não é difícil conviver. Filho de um comerciante, Mohammed perdeu a mãe quando tinha apenas quatro anos e foi morar com o tio em Jerusalém, época em que a Palestina estava sob a tutela britânica. Nesta época, Arafat teve contato, pela primeira vez, com os atritos entre os árabes que ocupavam a região e os judeus, que começavam a imigrar em massa para o Oriente Médio. Quando Israel ocupou a Cidade Velha de Jerusalém, a casa onde Arafat vivia foi destruída, e seus tios o levaram de volta para o Egito. Lá, o jovem árabe ingressou na Universidade do Cairo, onde cursou engenharia civil. Também estudou bastante sobre a questão judaica, incluindo obras sionistas como as de Theodor Herzl. Em 1946, com apenas 17 anos, tornou-se um defensor da causa árabe e começou a comprar armas no Egito para contrabandeá-las para a Palestina. O gatuno virou guerreiro em 1948. Quando a Guerra de Independência de Israel foi declarada, Arafat viajou para a região do conflito, para lutar contra os israelenses. Mais tarde, em 1950, ingressou no exército voluntário do Egito e tomou parte nas batalhas da Guerra de Suez. Ao fim do conflito, deu baixa do exército e foi morar no Kwait, onde trabalhou como engenheiro. Nessa época se associou a outros palestinos e fundou o movimento hoje conhecido como Fatah, destinado a recuperar a terra dos árabes na Palestina. A Fatah, que mais tarde seria uma das facções a integrar a OLP, passou a ocupar 100% do tempo de Arafat, e em 1965 a organização tornou-se um grupo guerrilheiro. Yasser Arafat ganhou fama internacional quando, em 1968, um ano depois da Guerra dos Seis Dias, liderou um grupo que infringiu significativas derrotas aos soldados israelenses que tentavam penetrar na Jordânia, que na época abrigava bases da Organização para a Libertação da Palestina. As atividades palestinas no país irritaram o rei Hussein, que os forçou a deixa a região. A OLP estabeleceu então células de controle no Líbano, e continuou a executar ações guerrilheiras contra Israel. Em 1974 Arafat visitou a sede das Nações Unidas e ficou conhecido internacionalmente como representante do povo palestino. Oito anos depois, Israel invadiu o Líbano, e Arafat exilou-se na Tunísia. Em 1988 proclamou um Estado palestino independente na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, e renunciou, na ONU, ao terrorismo islâmico.

19 A OLP reconheceu a legitimidade de Israel em 1993. Arafat e o então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, apertaram as mãos nos jardins da Casa Branca, assinando o acordo de Oslo. Os dois líderes foram premiados com o Nobel da Paz e, em 1996, Arafat foi eleito presidente da Autoridade Palestina. Ariel Sharon Ariel Sharon, cujo nome verdadeiro é Sheinerman Sharon, nasceu em um estabelecimento agrícola da localidade de Kfar Malal perto de Telaviv, em 1928. Ainda jovem, faz parte de um exército clandestino judaico denominado Haganah, onde foi comandante de pelotão durante a Guerra de Independência. Em 1952 ingressou na Universidade Hebraica de Jerusalém de História e Estudos Orientais. No ano seguinte fundou e liderou o Unit 101, uma unidade de elite dedicada a ataques de retaliação às ofensivas palestinas contra Israel na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Em 1956 Sharon foi comandante de uma brigada pára-quedista. Sua falta de disciplina durante a Guerra de Suez deixou o comando do exército irritado, e por conta disso, seu avanço na carreira militar teve que esperar por alguns anos. Entre 1957 e 1958 estudou na Faculdade de Camberley no Grã-Bretanha. No ano seguinte e até 1962, Sharon serviu como comandante de uma brigada de infantaria e concluiu seus estudos na Universidade de Telaviv. Em dezembro de 1973 foi eleito para a lista do Likud, embora não tivesse nenhuma filiação forte com o partido. Em 1974 renunciou e deixou a organização para se tornar, entre 1975 e 1977, o principal conselheiro de segurança do então primeiro-ministro Yitzhak Rabin. Em 1976 ele formou um outro partido, o Shlomzion, que ganhou duas cadeiras nas eleições de 1977. O partido desapareceria rapidamente. Sharon voltaria ao Likud e seria indicado como ministro da Agricultura e presidente do Comitê Ministerial do Governo de Menahem Begin até 1981. Embora ele nunca tenha sido muito religioso, apoiou o Movimento Gush Emunim e se tornou patrono do movimento messiânico. Esta posição o ajudou a estimular o estabelecimento de um denso trabalho para o povoamento judaico nos territórios ocupados. No segundo governo de Begin, Sharon estava presente novamente, desta vez como ministro da Defesa, em 1981, tendo encabeçado a invasão israelense no Líbano no ano seguinte. Em 1984 Shimon Peres o indicou para o cargo de ministro do Comércio e Indústria onde ficou até maio de 1990. Logo após ele se tornaria o Ministro da Construção até a derrota do Likud em 1992. No Knesset (Parlamento), Sharon era membro encarregado de cuidar de assuntos estrangeiros e do Comitê de Defesa entre 1990 e 1992. No ano de 1996, ele seria indicado ao cargo de ministro de Infra-estrutura do governo Benjamin Netanyahu. Após a saída de Netanyahu da liderança do Likud e sua derrota nas eleições de 17 de maio de 1999, Ariel Sharon foi designado como substituto no cargo. Com a desaprovação popular ao governo de Ehud Barak, ele candidatou-se ao cargo de premiê. A sua plataforma previa o fim da violência. Elegeu-se primeiro-ministro em 6 de fevereiro de 2001 com 62,5% dos votos.

20 Shimon Peres Shimon Peres nasceu na Polônia em 1923 e veio com a família para a Palestina, quando tinha apenas 11 anos de idade. Cresceu em um kibbutz (comunidade agrícola) e, mais tarde, foi estudar nos Estados Unidos, nas universidades de Nova York e Harvard. Em 1948 se tornou chefe dos serviços navais no novo Estado de Israel. Passou a ser diretor geral no Ministério da Defesa durante o período de 1953 a 1959. Ainda em 1959, dirigiu o serviço de inteligência. Em 1974 retoma o cargo de ministro da Defesa, sendo ainda portavoz e chefe do partido Trabalhista da oposição até 1984, ano em que forma-se um governo de coalizão com o Likud. Em 1992, forças moderadas, lideradas por Yitzahk Rabin, chegam ao poder e Shimon Peres assume o cargo de chanceler. No ano de 1994 recebe, junto a Rabin e Yasser Arafat, o Prêmio Nobel da Paz pelos acordos de Oslo, firmados entre Israel e a OLP. Quando Rabin é assassinado, Peres o substitui como premiê, mas perde o mandato para o conservador Benjamin Netanyahu em 1996, nas primeiras eleições diretas para primeiro-ministro. Com a vitória de Ariel Sharon para o cargo de premiê, em 2001, Peres é novamente convidado a assumir a chancelaria, e toma posse como ministro das Relações Exteriores. Yitzahk Rabin Yitzahk Rabin nasceu em Jerusalém em 1922. Determinado a seguir carreira militar, viajou à Grã-Bretanha, onde recebeu treinamento do exército inglês. Ao retornar a Israel, tomou parte na Guerra de Independência de 1948 e, em 1964, tornou-se chefe do Estado Maior. Liderou parte das tropas israelenses durante a "Guerra dos Seis Dias", em 1967. Deixa a vida militar em 1968, quando é convidado a ser embaixador de Israel nos Estados Unidos, cargo que ocupa até 1973. De volta ao Oriente Médio, se integra ao partido trabalhista e se elege primeiro-ministro em 1974. Dez anos depois, assume outra posição de destaque como ministro da Defesa. No ano de 1992 é novamente eleito premiê e recebe o Nobel da Paz dois anos depois, por ter encabeçado os acordos de Oslo. Morre assassinado por um extremista judeu em 1995, que o via como um traidor do povo israelense, por manter negociações com a OLP. Marwan Barghouti Marwan Barghouti é o líder da Fatah movimento político do líder Yasser Arafat na Cisjordânia. Considerado uma figura carismática, popular e dinâmica, tornou-se um líder influente durante a primeira Intifada, entre 1987 e 1993. Barghouti é acusado por Israel de ter ligações com as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, o braço armado da Fatah, que teria sido a responsável por numerosos atentados suicidas em Jerusalém, Tel Aviv e outros lugares.