Morfologia e distribuição espacial das galhas foliares de Caryocar brasiliense (Caryocaraceae) Dayane Seles Barbosa 1 ; Claudia Scareli dos Santos 2 1 Aluna do Curso de Licenciatura em Biologia; Campus Universitário de Araguaína - TO; E-mail: dayannseselles7@hotmail.com PIBIC/CNPq 2 Orientadora do Curso de Licenciatura em Biologia; Campus de Araguaína - TO ; E-mail: scareliclaudia@mail.uft.edu.br RESUMO O objetivo do trabalho foi estudar a interação entre a planta hospedeira Caryocar brasiliense Camb. e os insetos indutores de galhas quanto aos aspectos morfológicos e ecológicos. Foram realizadas coletas nos meses de Agosto e Novembro de 2013 e em Abril e Julho de 2014, em 10 indivíduos de C. brasiliense, com altura entre sete e oito metros, localizados nas dependências da Universidade Federal do Tocantins, campus universitário de Araguaína. Sendo que as coletas foram realizadas durante a estação seca e chuvosa. Analisando os resultados obtidos conclui-se que C. brasiliense, apresentaram galhas foliares polipoides e globoides durante todas as estações do ano, sendo mais representativa na estação chuvosa. O padrão de distribuição das galhas globoides observado indica que este eleva de acordo com o aumento da altura da planta hospedeira; ambos os morfotipos apresentam maior ocorrência de galhas entre as nervuras foliares. Palavras-chave: interação inseto-planta; morfotipos; Tocantins. INTRODUÇÃO O bioma Cerrado ocupa uma vasta área do território brasileiro, com cerca de 25%, o que corresponde aproximadamente 1,8 milhão de Km 2 e abrange principalmente os Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Tocantins, Maranhão e Piauí (FRANCO e UZUNIAN, 2010). As características típicas do solo e a escassez de água possibilita às espécies vegetais do Cerrado o armazenamento de lipídios, carboidratos e proteínas, tornando assim, grandes reservas de nutrientes para as larvas dos galhadores, sendo está uma das justificativas para a grande ocorrência de insetos galhadores nesse ambiente (ARAÚJO et al. 2007). Estes insetos são herbívoros especializados, que além de superar as dificuldades de obtenção de alimento, adquirem proteção contra fatores externos e internos, através do desenvolvimento de galhas Página 1
(ARAÚJO et al. 2006; ARAÚJO et al. 2007). As galhas são estruturas caracterizadas pelo crescimento e multiplicação anormal das células, tecidos ou órgãos vegetais, em resposta aos estímulos mecânico e químico do galhador (HARTLEY, 1998; SILVA, 2003) e podem se desenvolver em qualquer parte da planta, principalmente nas folhas, apresentando uma variedade morfológica que é determinada pela interação entre o inseto galhador e a planta hospedeira (SCARELI-SANTOS et al., 2005). A presença de galhas nos vegetais é um acontecimento comum, mas que revela em termos evolutivos uma interação inseto-planta bastante elaborada e altamente complexa (SILVA, 2003). São relevantes os estudos sobre a distribuição dos órgãos infestados por galhas na planta hospedeira, bem como a ocorrência na estrutura vegetal. Este trabalho teve por objetivo estudar a interação entre a planta hospedeira Caryocar brasiliense Camb. e os insetos indutores de galhas quanto aos aspectos morfológicos e ecológicos. MATERIAL E MÉTODOS Foram realizadas coletas, nas estações seca e chuvosa nos meses de Agosto e Novembro de 2013 e em Abril e Julho de 2014, em 10 indivíduos de Caryocar brasiliense com altura entre sete e oito metros, localizados nas dependências da Universidade Federal do Tocantins, campus universitário de Araguaína. Para a descrição morfológica das galhas utilizou-se a metodologia Floate et al. (1996), com modificações de Scareli-Santos et al. (2005). No laboratório, ramos com folhas e galhas foram colocados em frascos etiquetados, com água e fechados com tecido de nylon com trama fechada para obtenção do indutor (Urso-Guimarães et al., 2002). Os insetos adultos nascidos foram conservados em etanol 70% para posterior identificação. Para o estudo da distribuição espacial das galhas foram amostrados 10 indivíduos de C. brasiliense, sendo coletadas 10 folhas expandidas, nas categorias de altura basal (0-2,0m), mediana (2,1-4,0m) e apical (acima de 4,1m) e das regiões periférica e central dos ramos em relação ao caule (LEITE et al., 2009). Para calcular o índice de infestação por galhadores, o total de galhas por folha foi mensurados e analisados estatisticamente. RESULTADOS E DISCUSSÃO A face adaxial das folhas apresentou galhas polipoides, verdes, parte basal com manchas castanhas e o ápice vermelho e com aderência parcial na lâmina foliar, e galhas do tipo globoide, presentes em ambas as superfícies, com coloração verde, manchas marrons e tricomas creme, que apresentam aderência total na superfície foliar. Ambos os morfotipos encontrados são glabros, apresentaram ocorrência agrupada, com uma única câmara larval e uma larva por lóculo, com exceção Página 2
da galha globoide que apresentou tricomas de cor castanha e duas câmaras. Em relação à distribuição espacial das galhas, foram observados ambos os morfotipos em todas e categorias. Comparando as estações seca e chuvosa de 2013 e 2014, foi verificada a ocorrência de galhas com semelhanças quanto à abundância, sendo interessante ressaltar que a literatura menciona maiores incidências de galhas no período de seca, entretanto para este estudo não foram detectadas diferenças significativas. Verificamos a existência de um comportamento crescente e positivo entre o aumento do número de galhas globoides e a altura dos indivíduos amostrados nas regiões periférica e central em ambas as estações, seca e chuvosa/2013. No entanto, este padrão, sofreu pequenas alterações durante as estações seca e chuvosa/2014, sendo que a categoria apical que antes concentrava maiores quantidades de galhas globoides, independentemente das regiões amostradas apresentou valores reduzidos de 22,58% a 34,43%; não foi observado um padrão para as galhas polipoides. Analisando os dados das estações seca e chuvosa/2013, constatamos que os valores percentuais das três categorias da região central, obtidos na estação seca apresentam semelhanças com os da mesma região da estação chuvosa e variam entre 1,22 a 5,57%. Mas, os valores obtidos nas três categorias da região periférica da estação chuvosa ao serem comparados com os da estação seca são maiores, sendo que na categoria basal foi de 12,0%, 5,89% na intermediária e 11,62% na apical. Ocorreu um aumento nos valores percentuais de galhas globoides nas três categorias das regiões central e periférica de ambas as estações, seca e chuvosa/2014, em relação às mesmas categorias e regiões das respectivas estações de 2013. Apesar de ter ocorrido pequenas variações nos valores percentuais da distribuição das galhas no decorrer de um ano, os resultados obtidos até o momento evidenciam que a infestação de galhas globoides pode está diretamente associada com a altura dos indivíduos, pois em ambas as estações de 2013, tanto na região central como na periférica, as respectivas categorias apical apresentaram maiores valores percentuais, que variam entre 3,29% a 11,62%. Na estação seca quanto na estação chuvosa de 2013 houve uma maior distribuição de galhas polipoides nas regiões apical central e periféricas, sendo que os valores das três categorias: proximal, mediana e distal sofreram variações entre 15,74% a 65,58%. Em ambas as estações de 2013, ocorreram uma maior incidência de galhas globoides nas categorias proximal, mediana e distal das regiões apical central e periférica, sendo que os valores percentuais obtidos na estação seca variaram entre 17,75% a 26,68% e os da chuvosa de 13,94% a 18,68%. No entanto, houve uma alteração desses Página 3
valores de distribuição nas estações seca e chuvosa de 2014, tanto para as galhas polipoides, quanto para as galhas globoides. Na estação seca, ocorreu um maior índice de distribuição de galhas polipoides e globoides nas três categorias e nas regiões basal central e periférica, sendo que os valores das galhas polipoides variaram de 8,34% a 74,86% e os das globoides de 5,49% a 74,9%. Na estação chuvosa, as três categorias da região apical central apresentou uma maior concentração de galhas polipoides e globoides, sendo que as quantidades de galhas polipoides variam de 13,43% a 68,72% e as das globoides de 16,82% a 57,40%. Também foi observado um maior índice de galhas globoides na região basal periférica, sendo que na categoria proximal foram encontradas 35,04%, 55,56% na mediana e 9,40% na distal. Em relação ao alto índice de galhas na região apical central e a maior abundância de galhas na categoria mediana da folha, resultados semelhantes foram obtidos por Leite et al. (2009). Foi observado uma menor distribuição de galhas polipoides nas três regiões periféricas da estação chuvosa/2013, sendo que os valores na borda foliar varia entre 19,65% a 24,10%. Os resultados obtidos para as galhas polipoides, na estação seca/2014, evidenciaram uma redução na sua distribuição em todas as categorias: basal, entre nervuras e nervura central, de ambas as regiões central e periférica, quando comparadas com as respectivas categorias e regiões da estação de seca/2013. No entanto, houve um aumento no número de galhas globoides em todas as categorias das regiões basal central e basal periféricas da estação de seca/2014, sendo que os valores variam entre 16,46% a 83,54%. Embora tenham ocorrido algumas variações na distribuição das galhas globoides e polipoides no limbo foliar. As variações observadas na estação chuvosa/2014 não foram significativas, quando comparadas com a estação seca/2013, indicando que a estação chuvosa pode ser mais propicia para a o desenvolvimento e abundância de galhas. A análise da distribuição das galhas nos folíolos indicou que as galhas globoide e polipoide estão presentes entre nervuras e que há uma maior distribuição de galhas globoides na nervura central em relação às galhas polipoides, sendo que os valores percentuais na nervura central variam de 1% a 7% para as galhas globoides e de 1% a 3% para as galhas polipoides entre as estações dos anos amostradas. Com os resultados obtidos conclui-se que C. brasiliense apresentaram galhas foliares polipoides e globoides durante todas as estações do ano, sendo mais representativa na estação chuvosa. O padrão de distribuição das galhas globoides observado indica que este eleva de acordo com o aumento da altura da planta hospedeira; ambos os morfotipos apresentam maior ocorrência de galhas entre as nervuras foliares. Página 4
LITERATURA CITADA ARAÚJO, A. P. A.; PAULA, J.D.; CARNEIRO, M. A.A.; SCHOEREDER, J.H. Effects of host plant architecture on colonization by galling insects. Austral Ecology 31: 343 348. 2006. ARAÚJO; W.S.; GOMES-KLEIN, V.L.; SANTOS, B.B. Galhas Entomógenas Associadas à Vegetação do Parque Estadual da Serra dos Pireneus, Pirenópolis, Goiás, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, 5: 45-47. 2007. FRANCO, J. M.V.; UZUNIAN, A. Cerrado Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Editora HARBRA, 2010. FLOATE, K.; FERNANDES, G.W.; NILSSON, J. Distinguish intrapopulational categories of plants by their insect fauna: galls on rabbitbrush. Oecologia 105: 221-229. 1996. HARTLEY, S. E. 1998. The chemical composition of plant galls: are levels of nutrients and secondary compounds controlled by the gall-formed? Oecologia 113: 492-501. LEITE, G.L.; VELOSO, R.V.S.; SILVA, F.W.S. Distribution of a gall-inducing Eurytoma (Hymenoptera, Eurytomidae) on Caryocar brasiliense Revista Brasileira de Entomologia 53(4): 643 648, 2009. SCARELI-SANTOS, C., VARANDA, E. M.; URSO-GUIMARÃES, M.V. Galhas, galhadores e insetos associados In: O Cerrado Pé-de-Gigante, Parque Estadual de Vassununga, SP - Ecologia e Conservação ed. São Paulo: Empresa Oficial do Estado de São Paulo e Secretaria de Meio Ambiente, p. 337-360. 2005. SILVA, E. G. Alterações no conteúdo e nas propriedades antioxidantes de compostos fenólicos isolados de folhas galhadas de Rollinia laurifólia Schdtt. (Annonacea): Correlação como dimorfismo sexual do coccídeo indutor da galha. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2003. URSO-GUIMARÃES, M. V., SCARELI-SANTOS, C.; BONIFÁCIO-SILVA, A.C. 2002. Occurrence and characterization of entomogen galls in plants of natural vegetation areas in Delfinópolis, MG - Brazil. Brazilian Journal of Biology, 63, p.705-715, 2002. AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil. As autoras agradecem à professora Dra Tatiane M. V. Tavares pelas sugestões, aos alunos do curso de Biologia S. P. Dantas, A. C. Sampaio, P. C. Silva pela ajuda na parte experimental. Página 5