Otavio Augusto Lima de Oliveira. Forrageio de vespas enxameadoras neotropicais (Vespidae, Epiponini)

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Transcrição:

i Câmpus de São José do Rio Preto Otavio Augusto Lima de Oliveira Forrageio de vespas enxameadoras neotropicais (Vespidae, Epiponini) São José do Rio Preto 2013

ii Otavio Augusto Lima de Oliveira Forrageio de vespas enxameadoras neotropicais (Vespidae, Epiponini) Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Biologia Animal, junto ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, Área de Concentração Sistemática e Evolução, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de São José do Rio Preto. Orientador: Prof. Dr. Fernando Barbosa Noll. São José do Rio Preto 2013

iii Oliveira, Otavio Augusto Lima de. Forrageio de vespas enxameadoras neotropicais (Vespidae Epiponini) / Otavio Augusto Lima de Oliveira. - São José do Rio Preto : [s.n.], 2013. 63 f. : 9 il. ; 30 cm. Orientador: Fernando Barbosa Noll Tese (doutorado) Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas 1. Vespas Sociais. 2. Forrageio. 3. Vespidae. I. Nogueira, João. II. Colombo, Maria Clara Silva. III. Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. IV. Título. CDU 595.798 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE Campus de São José do Rio Preto - UNESP

iv Otavio Augusto Lima de Oliveira Forrageio de vespas enxameadoras neotropicais (Vespidae, Epiponini) Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Biologia Animal, junto ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, Área de Concentração Sistemática e Evolução, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de São José do Rio Preto. Orientador: Prof. Dr. Fernando Barbosa Noll. Prof. Dr. Fernando Barbosa Noll UNESP São José do Rio Preto Orientador Profª. Drª. Eliane Gonçalves de Freitas UNESP Rio Preto Profª. Drª. Vera Cristina Silva UNESP Jaboticabal Prof. Dr. Sergio Ricardo Andena UEFS Feira de Santana Prof. Dr. Sidnei Mateus USP Ribeirão Preto Banca Examinadora São José do Rio Preto 06 de março de 2013

v Agradecimentos Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Fernando Barbosa Noll, pela oportunidade e dedicação durante todos esses anos. Aos mestres que tive o privilégio de ter sido aluno, se eu consegui chegar até aqui, é mérito de todos os professores que tive. A todos os integrantes do Laboratório de Aculeata, pela amizade e convivência. Em especial ao grande amigo Bruno Gomes, por todos esses anos de convivência e parceria nos estudos de vespas. Ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal. A Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP, pelo financiamento do projeto 2009/08010-0. A todos que de alguma maneira estiveram envolvidos no projeto, seja com ideias, auxílio nas coletas, identificação do material etc. A minha família pelo incentivo. Aos amigos que sempre foram presentes. E a minha companheira Maraisa, pela paciência e compreensão.

vi "Somos todos feitos do mesmo pó de estrelas." Carl Sagan

vii RESUMO Os Epiponini formam um conjunto de gêneros de vespas sociais que popularmente são conhecidas como marimbondos. É um grupo bem conhecido taxonomicamente e revela grande diversidade. Um aspecto importante para seu entendimento se dá pela descrição do forrageio das espécies. Nos Epiponini, vários trabalhos vem sendo realizados ao longo dos anos, porém ainda temos um longo caminho pela frente para um entendimento sólido do grupo todo. A literatura que envolve o estudo do forrageio em vespas sociais, é pontual em sua maioria e ainda utilizam apenas um gênero como objeto de estudo. Uma característica associada a esse fato talvez seja a dificuldade encontrada para realizar estudos de forrageio em vespas sociais. Propomos com este trabalho estudar o forrageio do grupo Epiponini de uma maneira mais ampla, abrangendo um número maior de espécies. Sabemos que o forrageio de recursos tem papel primordial na manutenção das colônias dos Epiponíneos, pois é através dele que recursos fundamentais para a manutenção das colônias são coletados. Entender melhor como é feito o forrageio de vespas sociais ajuda a esclarecer fatores no ciclo colonial das diferentes espécies. Palavras-chave: Vespas sociais, Forrageio, Vespidae.

viii ABSTRACT The epiponines form a group of social wasps genera popularly known as marimbondos. It is a group well known taxonomically and shows great diversity. An important part to the understanding this group is the description of the foraging of the species. In Epiponini, several works have been performed over the years, but we still have a long way for a solid understanding of the entire group. Most studies in the literature involving foraging in social wasps, are punctual, and still use just one genus as study object. A feature associated with that fact may be the difficulty for studies of foraging in social wasps. We propose in this paper to study the foraging of the Epiponini covering a larger number of species. We know that the foraging resource has crucial role to the maintenance of epiponines colonies. Better understand how it is done foraging social wasps helps clarify factors in the colony cycle of the different species. Keywords: Social wasps, Foraging, Vespidae

ix SUMÁRIO INTRODUÇÃO GERAL...01 REFERÊNCIAS...04 CAPÍTULO 1...06 RESUMO...07 INTRODUÇÃO...08 MATERIAIS E MÉTODOS...11 RESULTADOS...13 DISCUSSÃO...14 REFERÊNCIAS...28 CAPÍTULO 2...31 RESUMO...32 INTRODUÇÃO...33 MATERIAIS E MÉTODOS...35 RESULTADOS...36 DISCUSSÃO...37 REFERÊNCIAS...43 CAPÍTULO 3...45 RESUMO...46 INTRODUÇÃO...47 MATERIAIS E MÉTODOS...49 RESULTADOS...51 DISCUSSÃO...53 REFERÊNCIAS...60 DISCUSSÃO GERAL...62

1 Introdução Geral A destruição e a fragmentação dos habitats juntamente como desmatamento são as causas mais diretas e imediatas da redução da diversidade de insetos, não somente pela redução dos recursos florais, mas também pela escassez de locais de nidificação (SCHWARTZ- FILHO et al., 2004). Resultados variados têm sido encontrados quanto à alteração na diversidade de insetos em função de fragmentação, desmatamentos ou diferentes estágios de sucessão ecológica, em alguns casos, esses distúrbios estão associados à redução na diversidade de espécies de insetos e, em outros casos, contrariamente, esses fatores estão associados até a um aumento na diversidade local. Portanto, não podemos fazer generalizações quanto a esse assunto, fazendo-se necessário realizar estudos nas diferentes regiões de interesse na conservação da diversidade tanto de insetos como da comunidade em geral (THOMAZINI & THOMAZINI, 2000). Muitos dos programas de conservação, não contemplam o grupo dos invertebrados, principalmente os insetos (DOUROJEANNI, 1990). Contudo, alguns autores têm colocado em pauta a importância de se considerar os insetos e programas de conservação, devido ao seu papel nos ecossistemas, assim como seu uso no monitoramento ambiental, como bioindicadores de qualidade ambiental (DOUROJEANNI, 1990; BROWN, 1991; MORATO & CAMPOS, 2000). Uma diversidade maior de vespas sociais é encontrada em estruturas ambientais de maior complexidade, por atenderem as exigências feitas por esse grupo, para o estabelecimento e sobrevivência (SANTOS et al., 2007). A vegetação exerce influência direta nas comunidades de vespas sociais, fornecendo suporte para a nidificação e recursos alimentares; e afeta indiretamente essas comunidades pelas variações causadas na temperatura, umidade relativa do ar e luninosidade do

2 ambiente. As espécies de vespas sociais que nidificam somente em determinadas condições selecionam os locais de seus ninhos pela densidade e tipos de vegetação, se aberta ou fechada, bem como pela forma e disposição de folhas e outras estruturas vegetais (RODRIGUES & MACHADO 1982, WENZEL 1991; DINIZ & KITAYAMA, 1998; DEJEAN et al., 1998; SANTOS & GOBBI 1998). Nosso material de estudo são vespas sociais, pertencentes à Ordem Hymenoptera, subordem Apocrita, que inclui as vespas parasitóides e os Aculeata, tendo vespas, formigas e abelhas como seus principais representantes (EVANS & WEST-EBERHARD, 1970). Na subordem Apocrita, a família Vespidae que é monofilética, de ampla distribuição e representada por seis subfamílias existentes (CARPENTER, 1993) compreende um grande número de espécies sociais (CARPENTER, 1991). Dentro da família Vespidae, temos a subfamília Polistinae onde estão inseridos os vespídeos sociais neotropicais, esta subfamília compreende 26 gêneros e cerca de 950 espécies, com distribuição cosmopolita (CARPENTER & MARQUES, 2001). No Brasil ocorrem três tribos de Polistinae: Mischocyttarini, representada por um único gênero: Mischocyttarus; Polistini, representada também por um único gênero: Polistes e os Epiponini, compreendendo a tribo diversa nos neotrópicos, correspondendo a 19 gêneros, são estes - Apoica, Agelaia, Angiopolybia, Asteloeca, Brachygastra, Chartergellus, Charterginus, Chartergus, Clypearia, Epipona, Leipomeles, Metapolybia, Nectarinella, Parachartergus, Polybia, Protonectarina, Protopolybia, Pseudopolybia e Synoeca - (RICHARDS, 1978; CARPENTER, 2004). Apesar da diversidade existente nos Epiponini, os estudos de forrageio do grupo, estão focados principalmente em um só gênero Polybia, e utilizam uma só espécie para a coleta de dados (RAVERET RICHTER & JEANNE, 1985, 1991;

3 ODONNELL, 1992; ODONNELL & JEANNE,1992; GORNES et al., 2007; BICHARA FILHO, 2009; SANTOS et al., 2006). Os polistíneos são basicamente predadores e a dieta de suas larvas é constituída, principalmente, de proteína animal (JEANNE, 1991). Seu interesse por carboidratos se dá para manutenção de seu próprio metabolismo e reserva energética, tanto para indivíduos adultos quanto para imaturos (FAEGRI & PIJL, 1979; RAVERET-RICHTER, 2000), e o néctar que coletam é um complemento de sua dieta (JEANNE, 1991), o que faz do mesmo um recurso crítico para o desenvolvimento da colônia (RAVERET-RICHTER, 2000). Vespídeos são visitantes generalistas de plantas e flores, principalmente pela necessidade das colônias perenes (principalmente as espécies da tribo Epiponini) manterem permanentemente suas reservas alimentares (HERMES & KÖHLER, 2006). A predação generalista em Vespidae pode ser observada nos trabalhos de Prezoto et al. (2006), Clapperton (1999) e de Oliveira et al. (2010). Parece ser de comum acordo que a presa mais capturada são as lagartas de Lepidoptera, chegando a totalizar algumas vezes 95% do material coletado, esse dado se torna mais interessante quando tratamos dos Epiponini, uma vez que muitas espécies desse grupo constroem ninhos com populações de milhares de indivíduos chegando até a milhões, potencializando muito a predação (ZUCCHI et al., 1995; CARPENTER & MARQUES, 2001; DE OLIVEIRA et al., 2010).

4 Referências BICHARA FILHO, C. C. et al. Foraging Behavior of the Swarm-Founding Wasp, Polybia (Trichothorax) sericea (Hymenoptera, Vespidae): Prey Capture and Load Capacity. Sociobiology, v. 53, n. 1, 2009. BROWN, K.S. JR. Conservation of neotropical environments: insects as indicators. In: Collins, n.m.; Thomas, J.A. (Eds). The Conservation of Insects and Their Habitats. Academic Press, london. p. 349-404. 1991. CARPENTER, J.M. Phylogenetic relationships and the origin of social behaviour. In: Ross, K.G. & Matthews, R.W. (Eds). The social Biology of wasps. Cornell University Press. Ithaca.. p. 7-32. 1991. CARPENTER, J. M. Biogeographic patterns in the Vespidae (Hymenoptera): Two views of Africa and South America. In P. Goldblatt (ed), Biological Relationships between Africa. Yale Univ. Press, New Haven: p. 139-155. 1993. CARPENTER, J. M. & MARQUES, O. M. Contribuição ao estudo dos vespídeos do Brasil (Insecta, Hymenoptera, Vespoidea, Vespidae). [CD-ROM]. Cruz das Almas - BA, Brasil. Universidade Federal da Bahia, Escola de Agronomia, Departamento de Fitotecnia / Mestrado em Ciências Agrárias. Série Publicações Digitais. v.2. 2001. CARPENTER, J. M. Synonymy of the genus Marimbonda Richards, 1978, with Leipomeles Mobius, 1856 (Hymenoptera : Vespidae; Polistinae), and a new key to the genera of paper wasps of the new world. American Museum Novitates, n. 3465, Dec 30 2004. CLAPPERTON, B. K. Abundance of wasps and prey consumption of paper wasps (Hymenoptera, Vespidae : Polistinae) in Northland, New Zealand. New Zealand Journal of Ecology, v. 23, n. 1, 1999. DEJEAN, A.; CORBARA, B.; CARPENTER, J. M. Nesting site selection by wasps in the Guianese rain forest. Insectes Sociaux, v. 45, n. 1, p. 33-41, 1998 1998. DE OLIVEIRA, O. A. L.; NOLL, F. B.; WENZEL, J. W. Foraging Behavior and Colony Cycle of Agelaia vicina (Hymenoptera: Vespidae; Epiponini). Journal of Hymenoptera Research, v. 19, n. 1, Apr 2010. DINIZ, I. R.; KITAYAMA, K. Seasonality of vespid species (Hymenoptera : Vespidae) in a central Brazilian cerrado. Revista De Biologia Tropical, v. 46, n. 1, p. 109-114, Mar 1998. DOUROJEANNI, M.J. Entomology and biodiversity conservation in latin America. American Entomologist, v. 36, n.2, p 88-93, 1990. EVANS. H. E.& WEST-EBERHARD, M. J. The Wasps. Ann Arbor: Univ. Mich.Press., 1970. FAEGRI K.; VAN DER PIJL L. The Principles of Pollination Ecology. Oxford, New York, Toronto, Sydney, Braunschweig: Pergamon. 248p. 1979. GORNES, L. et al. Foraging by Polybia (Trichothorax) ignobilis (Hymenoptera, Vespidae) on flies at animal carcasses. Revista Brasileira De Entomologia, v. 51, n. 3, Jul-Sep 2007. HERMES, M. G.; KOHLER, A. The flower-visiting social wasps (Hymenoptera, Vespidae, Polistinae) in two areas of Rio Grande do Sul State, southern Brazil. Revista Brasileira De Entomologia, v. 50, n. 2, Apr-Jun 2006. JEANNE, R.L. The Swarm-founding Polistinae. In: Ross KG & Matthews RW. (Eds). The social Biology of wasps.cornell University Press. Ithaca. p.149-190. 1991. MORATO, E.F.; CAMPOS, L.A.O. Efeitos da fragmentação florestal sobre vespas e abelhas solitárias

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6 Capítulo 1 Uma análise comparativa de forrageio em vespas enxameadoras neotropicais (Vespidae, Epiponini)

7 Resumo O forrageio de recursos tem papel primordial na manutenção das colônias dos Epiponíneos. É através dele que, água, material de construção, proteína e carboidratos são coletados. Entender melhor como é feito o forrageio de vespas sociais ajuda a esclarecer fatores no ciclo colonial das diferentes espécies. Apesar de muitos trabalhos relatarem o generalismo na coleta de recursos de vespas sociais, esses trabalhos são de caráter pontual e abrangem geralmente uma espécie. Pretendemos preencher uma lacuna presente em estudos de forrageio de vespas sociais, estudando várias espécies e como se dá o forrageio das mesmas. Testamos aqui a hipótese de que as vespas sociais são especialistas oportunistas quanto à exploração de recursos. Nosso estudo foi feito através da oferta de recursos e observação de florescências. Os recursos oferecidos foram fontes de água, solução atrativa lagartas e proteína animal. Os dados foram analisados qualitativamente e construídos dendrogramas de similaridade. Sobre o forrageio das espécies, algumas espécies têm preferências quanto à coleta de recursos, onde discordamos do generalismo defendido até então e propomos que as vespas são especialistas oportunistas.

8 Introdução As vespas sociais são himenópteros da família Vespidae, subfamília Polistinae. Nessa subfamília, encontram-se os Epiponini, composta por 19 gêneros (CARPENTER, 2004), altamente sociais, poligínicos, enxameadores e compõem o grupo de estudo do presente trabalho. O forrageio de vespas sociais é pouco estudado quando comparado a outros Hymenopteros sociais, como abelhas e formigas. Estudos sobre o forrageio realizados até o momento são de caráter pontual, utilizando muitas vezes uma única espécie (RAVERET-RICHTER, 2000; CARPENTER & MARQUES, 2001; PREZOTO et al., 2006), sem que tenha havido até o momento uma comparação envolvendo várias espécies. Vespas sociais são generalistas, oportunistas de presas e têm seu forrageio entendido pela coleta de água, fibras vegetais, carboidratos, proteína animal e caça a presas (WEST-EBERHARD,1969; JEANNE, 1991; RAVERET-RICHTER, 1990, 2000; CARPENTER & MARQUES, 2001; de OLIVEIRA et al., 2010). Embora vespas sociais sejam consideradas generalistas, elas são basicamente predadoras (JEANNE, 1991) e sua dieta é baseada na coleta de larvas de lepidópteros, pois são as presas mais capturadas, chegando a totalizar algumas vezes 95% do material coletado (CLAPPERTON, 1999; CARPENTER & MARQUES, 2001; PREZOTO et al., 2006). É comum que forrageiras muitas vezes voltem a caçar em locais de sucesso anterior (RAVERET-RICHTER & JEANNE, 1985; RAVERET-RICHTER, 1990), podendo se alimentar várias vezes sobre as mesmas espécies de presas, assim funcionando individualmente como especialistas facultativos (RAVERET-RICHTER, 2000).

9 Porém vespas sociais não utilizam larvas de lepidóptera para sua alimentação diretamente, mas sim na dieta de suas larvas que é constituída, principalmente, de proteína animal (JEANNE, 1991). A busca por carboidratos se dá para manutenção de seu próprio metabolismo, tanto para indivíduos adultos quanto para imaturos, também são estocados como reserva energética, o que faz desse um recurso essencial para o desenvolvimento da colônia (RICHARDS, 1971; FAEGRI & PIJL, 1979; JEANNE, 1991; RAVERET-RICHTER, 2000). Vespídeos são visitantes de flores, para a coleta de néctar, tanto para o complemento de sua dieta, quanto pela necessidade das colônias perenes (principalmente nos Epiponini) manterem permanentemente suas reservas alimentares (JEANNE, 1991; HERMES & KÖHLER, 2006). Vespas sociais podem também predar adultos de outros grupos, como Coleoptera, Diptera, Hemiptera, outros Hymenoptera, bem como aracnídeos (de OLIVEIRA et al., 2010). Esse dado se torna mais interessante quando tratamos dos Epiponini, uma vez que muitas espécies desse grupo constroem ninhos com populações de milhares de indivíduos chegando até a milhões, potencializando muito a predação (ZUCCHI et al., 1995; CARPENTER & MARQUES, 2001). Estudos realizados com Agelaia vicina Saussure, demonstraram seu papel como um predador de grande número de invertebrados (de OLIVEIRA et al., 2010). A atividade de forrageamento dessas vespas varia ao longo do dia e ao longo das estações, mas também de acordo com o local onde o estudo é realizado (da ROCHA & GIANNOTTI, 2007). Ciclos coloniais em vespas sociais moldam o forrageio de acordo com o estágio em que a população se encontra (JEANNE, 1991; WENZEL, 1991; RAVERET-RICHTER, 2000, de OLIVEIRA et al., 2010). Mesmo que comportamento social da colônia tenha influência na atividade forrageira, as

10 condições que estabelecem os limites de quando e onde o forrageio é viável, são principalmente físicas, como a intensidade de luz e temperatura (SPRADBERY, 1973). Trabalhos relatam a influência das condições climáticas no forrageio em vespas sociais, Polistes lanio lanio (Fabricius) (GIANNOTTI & PREZOTO, 1995) Mischocyttarus consimilis (Zikán) (MONTAGNA et al., 2009) Polistes similimus (Zikán)(PREZOTO et al., 1994), quase todos eles apontam para a temperatura como fator chave na influencia do forrageio, mas como podemos observar os gêneros abrangidos são Polistes e Mischocyttarus. Apesar da diversidade encontrada nos Epiponini (CARPENTER & MARQUES, 2001) a relação entre temperatura e forrageio, no grupo como um todo, é pouco explorada, os trabalhos geralmente focam em um só gênero, Polybia (i.e. JEANNE, 1991; HOZUMI et al., 2008; CANEVAZZI & NOLL, 2011). A temperatura exerce forte efeito sobre o comportamento das forrageadoras, afetando significativamente a tomada de decisão do forrageio. Em temperaturas mais elevadas foi observado que há um aumento no forrageio por carboidrato, embora esse aumento pode ser um mecanismo ajustado a climas temperados (JANDT et al., 2010). Em Polybia occidentalis (Oliver), a frequência de vôo está intimamente relacionada com a temperatura em torno da superfície do ninho, o que sugere que temperaturas mais elevadas podem promover o forrageio de vespas adultas (HOZUMI et al., 2008). Nas demais espécies de Epiponini, ainda não é bem compreendida a relação da temperatura com o forrageio. Neste trabalho, testamos a hipótese de que as vespas sociais enxameadoras neotropicais são especialistas oportunistas quanto à exploração de recursos. E

11 também a hipótese de que a temperatura influencia no forrageio de vespas sociais enxameadoras neotropicais. Materiais e Métodos O estudo foi realizado na Fazenda Vista Bonita (FVB), localizada próxima à cidade de Barretos - SP, (20.495286º S, 48.827362º W). Possui um fragmento florestal com 1037,9 ha de área de mata estacional semidecidual. Foram realizadas 45 coletas de campo na FVB, entre setembro de 2009 a novembro 2010, totalizando 360h de trabalho de campo. Para a coleta de dados utilizamos dias amostrais, cada um com período de 8 horas de trabalho de campo, das 8h às 16h. A estação chuvosa foi definida de outubro a março e a estação seca, de abril a setembro. A fim de comparar se há preferência por uma faixa de temperatura no forrageio das espécies amostradas, dados de temperatura e umidade relativa do ar foram aferidos com termo-higrômetro digital para cada indivíduo observado. Para que a análise de similaridade de temperatura pudesse ser realizada, quatro faixas de temperatura foram padronizadas: 20 ~ 25ºC, 25.1 ~ 30ºC, 30.1 ~ 35 ºC e 35.1 ~40 ºC. A FVB foi demarcada previamente em parcelas, sendo aleatorizadas por sorteio as parcelas amostradas. Foram disponibilizados recursos atrativos em 30 coletas, em cada uma quatro kits de recursos eram dispostos em linha, separados cada um do outro por 20 m. Cada kit era composto por: -água: em recipiente plástico de 100ml.

12 -solução atrativa (NOLL & GOMES 2009): sal + água + açúcar (para cada 10l de água, 2Kg de açúcar mais 250g de sal são diluídos) em recipiente plástico de 100 ml. -lagartas: lagartas de Lepdoptera, Ascia monuste orseis (Latreille), criadas em laboratório, foram disponibilizadas sobre plantas de couve, Brassica oleraceae var. acephala L., em vaso. -carne: 50g de carne bovina cortada em cubos, em recipiente plástico de 100 ml. Os kits eram monitorados visualmente e as espécies visitantes de cada tipo de recurso eram coletadas e identificadas. Foram realizadas 15 coletas observando o forrageio em flores. Em cada uma, a borda da área nativa era percorrida em busca de floradas. Como a borda da área nativa tinha cerca de 8110 m, cada percorrida na borda abrangeria uma área muito maior do que a utilizada na oferta de recursos, assim foi feita uma compensação diminuindo o número de coletas para forrageio em flores, para valores equivalentes quanto a área amostrada, para assim ser possível uma comparação com o forrageio de recursos ofertados, que ficavam estáticos em uma área pré-determinada. Uma vez detectadas florescências, elas eram observadas por 10 minutos, e as vespas visitantes eram coletadas para posterior identificação. Feito isso, uma exsicata da planta era montada para posterior identificação e se reiniciava a procura por outras florescências. Foi feita uma análise de similaridade qualitativa, a fim de se comparar o forrageio das vespas de acordo com os recursos visitados. Para o tratamento estatístico dos dados, foi utilizado o software PAST, versão 1.37, utilizando índice de Bray-Curtis.

13 Resultados Foram observadas 11 espécies coletando os recursos ofertados, estas estão apresentadas por sazonalidade, data de coleta, temperatura, umidade relativa e recurso coletado (Tabela 1). Porém, as lagartas ofertadas não atraíram as vespas, de modo que esse recurso não possibilitou análise de similaridade com os demais. Pela análise de similaridade para temperatura (Figura 1), verificou-se que Polybia paulista (Von Ihering) prefere as faixas de temperaturas mais baixas, entre 20~25 ºC e Protopolybia exigua (de Saussure) entre 20,1 a 30 ºC. Polybia sericea (Oliver), P. sp, P. occidentalis (Oliver), Brachygastra lecheguana (Latreille) e Synoeca surinama (Linaeus) compartilham 100% de similaridade em relação às temperaturas do ambiente na hora do forrageio, que estão entre as temperaturas de, 25,1 a 35ºC. Polybia jurinei (de Saussuree) e P. ignobilis (Haliday) também compartilham 100% de similaridade em relação às temperaturas, tiveram preferência por temperaturas mais entre 25,1 a 40ºC. Agelaia pallipes (Oliver) foi encontrada forrageando em todas as faixas de temperatura, enquanto que Brachygastra augusti (de Saussure) somente entre 25,1 a 30 ºC. A análise de similaridade não recupera grupos (ou guildas) com níveis de similaridade menores que 67% e por isso a análise dos horários de forrageio das vespas não mostrou similaridade com os dados apresentados (Figura 2). A análise de similaridade dos recursos utilizados mostrou que P. jurinei e P. ignobilis compartilham 100% de similaridade nos recursos coletados água, sol. atrativa e flores; P. sericea, P. sp e B. lecheguana compartilham 100% de similaridade nos recursos coletados sol. atrativa e flores; B. augusti e P. occidentalis compartilham 100% de similaridade nos recursos coletados água e

14 sol. atrativa; P. paulista e P. exigua compartilham 100% de similaridade no recurso coletado água. E A. pallipes, por ser a única coletora de carne, e S. surinama, por ter sido observada somente coletando em flor, não tiveram 100% de similaridade com outras espécies (Figura 3). As procuras por floradas só obtiveram resultados nos meses de fevereiro, abril, maio e julho de 2010, mas principalmente, nos meses de abril e maio, que florescências foram observadas. Além das plantas que foram observadas com vespas forrageando, outras espécies de plantas com florescências estavam presentes na área de coleta, contudo não foi observado que estas atraíam as vespas. Ao todo, sete espécies foram observadas forrageando em flores (Tabela1). Na análise de similaridade de forrageio em flores (Figura 4), podemos ver a alta similaridade 100% entre A. pallipes, P. ignobilis, P. jurinei, P. sericea e P. sp com a espécie Gouania virgata (Reissk), família Rhamnaceae. Pelos dados obtidos, podemos concluir ainda que S. surinama possui uma grande atração por flores, uma vez que foi avistada coletando em três plantas (G. virgata, Luehea paniculata Mart. & Zucc.,e Eupatorium maximilianii Schrad.) das quatro espécies que receberam visitas de vespas durante o experimento, e que B. lecheguana tem preferência por Senna spectabilis (DC.) H.S. Irwin & Barneby. Discussão A análise de similaridade de temperatura sugere uma preferência de faixa de temperatura para algumas espécies, ou algum tipo de limitação em seu forrageio que não lhes permite forragear em uma faixa maior (Figura 1). Porém, vimos que

15 para A. pallipes a temperatura do ambiente não é limitante, pois foi observada forrageando em todas as faixas de temperatura amostradas. JANDT et al. (2010) encontraram uma forte relação entre temperatura e forrageio para Vespula germanica (Fabricius); em temperaturas mais altas o forrageio por carboidratos aumenta, porém é relatado que essa relação possa ser influenciada pelo clima da região, que é temperado. Na região neotropical, as amplitudes térmicas sazonais são menores que em regiões temperadas, assim a escolha de faixas de temperaturas diferentes pelas espécies estudadas pode estar mais relacionada ao ciclo colonial de cada população. Uma grande influência da temperatura sobre o forrageio foi encontrada em P. paulista, houve um aumento no número de forrageadoras simultâneo com o aumento de temperatura (CANEVAZZI & NOLL, 2011). Condições físicas dentro dos ninhos fornecem pistas sobre tipos de comportamentos específicos, como em P. occidentalis, onde se o ninho superaquecer, as operárias ventilam com as asas a sua superfície, caso não seja suficiente, forrageadoras iniciam busca de água para espalhar sobre os favos internos, resfriando por evaporação (JEANNE, 1991). É possível que alguma condição específica dos ninhos faça com que as espécies usem diferentes faixas de temperatura para o forrageio. O período de maior abundância de vespas sociais em três fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual é entre 13:00-15:00 h (GOMES & NOLL, 2009), seria então esperado que nesse período o forrageio fosse observado com maior frequência. Contudo, em nosso trabalho não foi observado tal padrão nem similaridades entre espécies para preferências de horários para forrageio (Figura 2). Segundo, de OLIVEIRA et al.(2010), A. vicina inicia seu forrageio logo ao amanhecer e só termina ao por do sol, com a saída de muitas forrageadoras ao

16 início do dia e o retorno gradual. Encontramos o mesmo padrão para A. pallipes, forrageando na maioria dos horários observados (Tabela 1). Algo similar ocorre nas abelhas Apis mellifera L., onde o período de forrageio é maior se comparado com as abelhas sem ferrão, tornando A. mellifera uma competidora muito forte que chega a modificar o comportamento de forrageio nas abelhas sem ferrão (MENEZES et al., 2007). A análise de similaridade por recursos formou grupos de similaridade entre as espécies (Figura 3), de acordo com o recurso coletado. Observamos que A. pallipes se destaca por ter forrageado todos os recursos oferecidos. Sugerimos que haja uma estratégia de forrageio que a permite ser forte competidora na obtenção de recursos. Pois, além de coletar os mesmos recursos das demais espécies, ainda é necrofágica (O`DONNEL, 1995). Talvez a abrangência maior de sua dieta seja a razão para que essa espécie seja dominante em trabalhos de diversidade em Floresta Estacional Semidecidual (i.e. GOMES & NOLL, 2009; TANAKA JR & NOLL, 2011; NOLL et al., 2012). As vespas do gênero Agelaia são similares quanto ao comportamento de forrageio, pois tanto A. pallipes como A. vicina (ver de OLIVEIRA et al.,2010) possuem uma dieta complementar variada, em locais onde ocorrem, exercem uma dominância nas amostras de diversidade e não há preferência por um dado horário de forrageio. No entanto, elas divergem quanto à preferência de habitat, pois A. vicina tem maior ocorrência em áreas mais preservadas (de OLIVEIRA et al.,2010), ao passo que A. pallipes ocorre em maior dominância em ambientes degradados (inferido a partir dos dados de GOMES & NOLL, 2009). Em Vespidae a predação é generalista (CLAPPERTON, 1999; CARPENTER & MARQUES, 2001; PREZOTO et al., 2006), pelos dados observados nesses trabalhos, a presa mais capturada são as lagartas de lepidoptera, acumulando entre

17 80 a 95% de todo o material coletado observado. Isso indica que, apesar de trabalhos anteriores considerarem as vespas sociais como generalistas, há uma clara preferência por um tipo de presa. Mesmo sendo as lagartas o principal item a ser predado por vespas sociais (CLAPPERTON, 1999; CARPENTER & MARQUES, 2001; PREZOTO et al., 2006), esse recurso não foi predado pelas vespas em nosso experimento. Porém isso não nos impediu de termos resultados consistentes sobre o forrageio das vespas. O fato das forrageiras coletarem néctar nas flores (JEANNE, 1991) demonstra uma especialidade para o grupo, sete espécies de quatro gêneros foram observadas coletando néctar em flores. E o fato delas coletarem outro tipo de carboidrato (RAVERET-RICHTER, 2000), neste caso a solução atrativa, revela o oportunismo, onde na falta de néctar, outras fontes de carboidrato são coletadas. Vespas sociais são visitantes de flores, oferecendo a elas polinização e remoção de herbívoros e sua importância como mutualistas para a manutenção das populações de plantas é maior do que comumente assumido (MELLO et al., 2011). Como vimos na tabela 2, a maior parte das espécies de vespas observadas nesse estudo forrageia em flores, sendo que o mesmo pode ser visto na literatura (Tabela 3) e aparentemente S. surinama tem uma relação mais forte com flores por ter sido observada coletando somente nesse recurso (Figura 3), e em três das quatro espécies de flores que receberam visitas de vespas (Figura 4). Sobre as plantas que foram visitadas, pode-se perceber que há uma preferência das vespas por algumas espécies, pois somente quatro espécies de plantas foram visitadas pelas sete espécies de vespas observadas coletando em flores (Tabela 2). Essa preferência fica evidente no dendrograma (Figura 4) que

18 mostra a similaridade entre A. pallipes, P. ignobilis, P. jurinei, P. sericea e P. sp com a Rhamnaceae Gouania virgata. Um recurso que tem papel fundamental na biologia das vespas é a água. Ela é absorvida pelas vespas e é usada na refrigeração do ninho e na sua construção, bem como para os processos metabólicos (RAVERET-RICHTER, 2000). Observamos que algumas espécies têm similaridade quanto à temperatura (Figura 1), e com menores umidades relativas estação seca - foram encontradas mais vespas forrageando (Tabela 1), isso provavelmente está relacionado ao balanço hídrico desses indivíduos, que na estação seca devem aumentar o forrageio a procura de água. A água pode ser um recurso limitante para vespas (HORWOOD et al., 1993). Em áreas mais secas ou durante temporadas em que a água doce é escassa, as forrageadoras são visitantes frequentes em pias e torneiras pingando água (RAVERET-RICHTER, 2000). Agosto e setembro coincidem com o final da estação seca, o que deve ocasionar dificuldade na obtenção de água para os animais presentes nessa região. Foi observado na área de estudo, que muitas espécies de vespas e abelhas nesse período estavam coletando água em torneiras gotejando. A menor oferta de água provavelmente influenciou a distância e a taxa de forrageio na estação seca, aumentando a quantidade de vespas amostradas coletando os recursos oferecidos. Em floresta estacional semidecidual no noroeste paulista, durante a estação chuvosa, foi observada a diminuição na riqueza e diversidade de vespas sociais (Capítulo 2), e não foi encontrada relação entre os índices de temperatura e umidade com o forrageio. A diminuição da riqueza e diversidade de vespas forrageando na estação chuvosa (Tabela 1) pode indicar uma modificação na

19 estratégia de forrageio, uma vez que é provável que a oferta de recursos seja maior na estação chuvosa que na estação seca, seria mais provável forrageadoras terem sucesso em um raio de forrageio menor, isso deve otimizar o forrageio, diminuindo então a incursão de maiores distâncias (de OLIVEIRA, observação pessoal), resultando nos baixos índices de ocorrência nas iscas ofertadas na estação chuvosa. Os resultados aqui apresentados corroboram com a hipótese de que as vespas sociais enxameadoras são especialistas oportunistas quanto à exploração de recursos. Também podemos dizer que a hipótese de que a temperatura é um fator seletivo no forrageio de vespas sociais enxameadoras neotropicais foi parcialmente corroborada. Em conclusão, mesmo que as vespas sociais sejam consideradas forrageiras generalistas (WEST-EBERHARD,1969; JEANNE, 1991; RAVERET-RICHTER, 1990, 2000; CARPENTER & MARQUES, 2001; de OLIVEIRA et al., 2010), nosso trabalho mostrou que algumas espécies têm preferência por recursos específicos. Entendemos que é difícil fazer uma generalização sobre o forrageio para todos os Epiponini. NOLL & WENZEL (2008) sugerem cinco origens distintas para a origem das castas nos Epiponini, assim não é surpresa que encontremos diferentes estratégias para o forrageio. Algumas espécies aparentemente apresentam estratégias que permitem ter maior sucesso na coleta de recursos que as demais estudadas, como é o caso de Agelaia pallipes. Diferente das demais, esta espécie apresenta forrageio em toda faixa de temperatura amostrada, sem preferência por um período de atividade, forrageando mais e provavelmente sendo um forte competidor com as demais espécies por recursos.

20 Tabela 1 Espécies de vespas (Epiponini) coletadas, recursos visitados, umidade relativa (UH), temperatura (T) em graus Celsius, horário do forrageio, data e estação, referentes ao trabalho em campo na FVB - Barretos. Estação Data Hora Tº C U.H. % Recurso Espécie Seca set/09 10h 25,6 40 Sol. atrativa Brachygastra lecheguana 12h 36,5 34 Carne Agelaia pallipes 13h 33,3 40 Sol. atrativa Polybia sericea 15h 35,7 36 Sol. atrativa Polybia jurinei 15:h 35,7 36 Carne Agelaia pallipes Chuvosa out/09 nov/09 08h 24,4 77 Carne Agelaia pallipes 12h 36,9 44 Sol.atrativa Polybia jurinei 13h 37,1 42 Água Polybia jurinei dez/09 jan/10 11h 35,4 47 Água Polybia ignobilis fev/10 12h 33,7 51 Flor Polybia ignobilis 12h 34,5 48 Flor Brachygastra lecheguana mar/10 12h 29,9 68 Carne Agelaia pallipes 12:h 30,7 63 Sol. atrativa Agelaia pallipes 13:h 30 61 Carne Agelaia pallipes Seca abr/10 12h 34,6 47 Flor Agelaia pallipes 12h 34,6 47 Flor Polybia jurinei 12h 34,6 47 Flor Polybia sericea 12h 34,6 47 Flor Polybia ignobilis 12h 34,6 47 Flor Polybia sp 12h 34,6 47 Flor Synoeca surinama mai/10 11:h 23,9 68 Água Protopolybia exigua 11h 29,4 74 Flor Synoeca surinama 11h 33 55 Flor Polybia ignobilis 12:h 26,6 68 Sol. atrativa Polybia sp 14h 29,6 40 Sol. atrativa Brachygastra augusti

21 Continação Tabela 1 jun/10 12:h 25,3 50 Carne Agelaia pallipes 14h 31 33 Sol. atrativa Agelaia pallipes 15h 31,9 29 Sol. atrativa Brachygastra lecheguana 15h 31,9 29 Sol. atrativa Polybia sp jul/10 10:h 25,8 50 Carne Agelaia pallipes 10:h 26,2 49 Sol. atrativa Agelaia pallipes 12h 32 36 Carne Agelaia pallipes ago/10 9h 23 30 Água Polybia paulista 10h 25,1 29 Sol. atrativa Polybia ignobilis 10h 27 27 Água Polybia ignobilis 10h 27 27 Água Polybia jurinei 10h 27 27 Água Polybia occidentalis 10h 27 27 Água Protopolybia exigua 10h 28,1 31 Carne Agelaia pallipes 11h 27 27 Sol. atrativa Polybia jurinei 11h 27 27 Carne Agelaia pallipes 12h 30,4 22 Sol. atrativa Agelaia pallipes 12h 30,4 22 Sol. atrativa Brachygastra lecheguana 12h 31,5 16 Sol. atrativa Polybia sericea 12h 32,5 20 Água Agelaia pallipes 12h 32,5 20 Sol. atrativa Agelaia pallipes set/10 9h 29,3 27 Água Polybia sericea 9h 29,3 27 Água Brachygastra augusti 9h 29,3 27 Água Polybia ignobilis 9h 29,3 27 Água Polybia jurinei 12h 33,3 17 Sol. atrativa Polybia sericea 12h 33,3 17 Sol. atrativa Polybia occidentalis

22 Tabela 2 Forrageio em flores por vespas sociaisna FVB - Barretos. Coleta Fam. plantas Espécies plantas Vespas Fev/10 Fabaceae Senna spectabilis Polybia ignobilis Brachygastra lecheguana Abr/10 Rhamnaceae Gouania virgata Agelaia pallipes Polybia jurinei Polybia sericea Polybia ignobilis Polybia sp Synoeca surinama Mai/10 Malvaceae Luehea paniculata Synoeca surinama Mai/10 Asteraceae Eupatorium maximilianii Synoeca surinama Polybia ignobilis

23 Tabela 3 Relação entre as espécies coletadas e os recursos coletados, utilizando-se dados da literatura e do trabalho atual. (1) Richards 1978, (2) Jeanne 1991, (3) Raveret-Richter 2000, (4) Crespo et al 2002, (5) Santos et al 2006, (6) Gornes et al 2007, (7) Moretti et al 2008, (8) Bichara et al 2009

24 Figura 1: Dendrograma de similaridade das faixas de temperatura em que as espécies estavam forrageando, utilizando índice de Jaccard, r = 0,9. Legenda das temperaturas 1-(20 ~ 25ºC), 2-(25.1 ~ 30ºC), 3-(30.1 ~ 35 ºC) e 4-(35.1 ~40 ºC).

25 Figura 2: Dendrograma de similaridade das espécies de vespas quanto às horas em que ocorreu forrageio r =0,8.

26 Figura 3: Dendrograma de similaridade de recursos coletados para análise qualitativa utilizando índice de Jaccard, r = 0,8. Legenda dos recursos:1-água, 2-solução atrativa, 3-flor e 4-carne.

27 Figura 4: Dendrograma de similaridade de forrageio em flores para análise qualitativa, utilizando índice de Jaccard, r = 1. Legenda espécies de flores: 1- G. virgata, 2- L. paniculata 3- E. maximilianii e 4- S. spectabilis.

28 Referências BICHARA FILHO, C. C. et al. Foraging Behavior of the Swarm-Founding Wasp, Polybia (Trichothorax) sericea (Hymenoptera, Vespidae): Prey Capture and Load Capacity. Sociobiology, v. 53, n. 1, 2009. CANEVAZZI N. C. de S.; NOLL F. B. Environmental Factors Influencing Foraging Activity in the Social Wasp Polybia paulista (Hymenoptera: Vespidae: Epiponini). Psyche, v. 2011. CARPENTER, J. M. Synonymy of the genus Marimbonda Richards, 1978, with Leipomeles Mobius, 1856 (Hymenoptera : Vespidae; Polistinae), and a new key to the genera of paper wasps of the new world. American Museum Novitates, n. 3465, Dec 30 2004. CARPENTER, J. M.; MARQUES, O. M. Contribuição ao estudo dos vespídeos do Brasil (Insecta, Hymenoptera, Vespoidea, Vespidae). [CD-ROM]. Cruz das Almas - BA, Brasil. Universidade Federal da Bahia, Escola de Agronomia, Departamento de Fitotecnia / Mestrado em Ciências Agrárias. Série Publicações Digitais. v.2. 2001. CLAPPERTON, B. K. Abundance of wasps and prey consumption of paper wasps (Hymenoptera, Vespidae : Polistinae) in Northland, New Zealand. New Zealand Journal of Ecology, v. 23, n. 1, 1999. CRESPO, A.L.B.; PICANCO, M.C.; BACCI L PEREIRA, E.J.G.; GONRING, A.H.R. Seletividade fisiológica de inseticidas a Vespidae predadores de Asciamonuste orseis. Pesquisa Agropecuaria Brasileira v. 37, n. 3, 2002. DA ROCHA, A. A.; GIANNOTTI, E. Foraging activity of Protopolybia exigua (Hymenoptera, Vespidae) in different phases of the colony cycle, at an area in the region of the Medio Sao Francisco River, Bahia, Brazil. Sociobiology, v. 50, n. 3, p. 813-831, 2007. DE OLIVEIRA, O. A. L.; NOLL, F. B.; WENZEL, J. W. Foraging Behavior and Colony Cycle of Agelaia vicina (Hymenoptera: Vespidae; Epiponini). Journal of Hymenoptera Research, v. 19, n. 1, Apr 2010. FAEGRI K.; VAN DER PIJL L. The Principles of Pollination Ecology. Oxford, New York, Toronto, Sydney, Braunschweig: Pergamon. 248p. 1979. GIANNOTTI E.; F. PREZOTO; V. L. L.MACHADO, Foraging activity of Polistes lanio lanio (Fabr.) (Hymenoptera, Vespidae), Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v. 24, n. 3, p. 455 463, 1995. GOMES, B.; NOLL, F. B. Diversity of social wasps (Hymenoptera, Vespidae, Polistinae) in three fragments of semideciduous seasonal forest in the northwest of Sao Paulo State, Brazil. Revista Brasileira De Entomologia, v. 53, n. 3, p. 428-431, Jul-Sep 2009. GORNES, L. et al. Foraging by Polybia (Trichothorax) ignobilis (Hymenoptera, Vespidae) on flies at animal carcasses. Revista Brasileira De Entomologia, v. 51, n. 3, Jul-Sep 2007. HAMMER, O.; HARPER, D.A.T; RYAN, P.D. Past: paleontological statistics software package for education and data analysis. Versão 1.37.Palaeontologica, v.4, 2005. HERMES, M. G.; KOHLER, A. The flower-visiting social wasps (Hymenoptera, Vespidae, Polistinae) in two areas of Rio Grande do Sul State, southern Brazil. Revista Brasileira De Entomologia, v. 50, n. 2, Apr-Jun 2006. HORWOOD, M. A.; TOFFOLON, R. B.; BROWN, G. R. Establishment And Spread Of Vespula- Germanica (F) (Hymenoptera, Vespidae) In New-South-Wales And The Influence Of Rainfall On Its Abundance. Journal of the Australian Entomological Society, v. 32, Aug 27 1993. HOZUMI, S.; KUDO, K.; ZUCCHI, R. Promotion of thermoregulatory insulation in nests of neotropical

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31 Capítulo 2 Sobre o forrageio das vespas enxameadoras neotropicais (Vespidae, Epiponini) em áreas naturais e cultivadas

32 Resumo A região de estudo, em um passado próximo, era toda coberta por Floresta Estacional Semidecidual, mas ao longo dos anos ela foi substituída por áreas urbanas, pastagens e áreas de lavoura, causando a fragmentação da vegetação original. Monoculturas em larga escala representam ambientes inóspitos, nos quais a biodiversidade é quase que completamente eliminada, juntamente com os seus serviços de regulação de populações de pragas. A incorporação de elementos de diversidade ao sistema é a base para o desenho de agroecossistemas que favoreçam processos ecológicos vitais para a sustentabilidade. Pretendemos aprimorar o entendimento sobre a biologia das vespas sociais, especialmente sobre o forrageio em áreas naturais e cultivadas. De setembro de 2009 até novembro de 2010 foram feitas 30 coletas de dados em campo. Nossos dados demonstram que a estação chuvosa dificulta o estudo do forrageio em vespas sociais, isso indica que para estudos futuros é aconselhável que se utilize a estação seca para a coleta de dados sobre forrageio de vespas. Também ficou caracterizado que as áreas cultivadas sem a presença de fragmentos de mata adjacentes não atraem o forrageio das vespas sociais.

33 Introdução A expansão mundial dos agroecossistemas resulta na degradação de florestas tropicais e o isolamento destes sistemas agrários dos habitats naturais (VITOUSEK et al., 1997; TILMAN et al., 2001). Populações dentro de habitats fragmentados ficam isoladas daquelas em grandes habitats naturais, em particular as espécies inseridas em sistemas agroecológicos de alto isolamento do habitat natural. Mudanças de habitats naturais pela conversão do habitat e a simplificação da estrutura da paisagem são as principais razões para a perda de biodiversidade (HARRISON & BRUNA, 1999; DALE et al., 2000;. DAVIES et al., 2000). Pouco se sabe sobre a maneira que os ecossistemas naturais adjacentes afetam as áreas cultivadas. O pobre conhecimento sobre o impacto do gerenciamento da biodiversidade próxima a áreas agrícolas e sua relação com os serviços ambientais, torna difícil recomendar métodos confiáveis (TSCHARNTKE et al., 2005). Os insetos são bons objetos de estudo na avaliação de mudanças ambientais; eles possuem inúmeras vantagens para padrões de testes e análises de impacto em mudanças da composição vegetal. Comunidades inteiras de insetos podem ser amostradas em um período de tempo relativamente curto (ERWIN, 1982; GULLAN & CRANSTON, 2000). Seu tamanho corporal reduzido torna-os sensíveis à variação de temperatura e umidade (DEUTSCH et al., 2008). Vespas sociais são facilmente amostradas, pois sua distância de forrageio é limitada pelo ninho e porque as operárias estão ativas em todas as estações, na maioria dos ecossistemas tropicais (O'DONNELL, 2000). Colônias de vespas sociais têm baixa mobilidade, porque seus ninhos são sésseis e muitas espécies são filopátricas ao escolher locais de nidificação (WENZEL, 1991, 1998). Esta

34 mobilidade reduzida pode levar as vespas sociais a adaptar-se a regimes climáticos locais (WENZEL, 1991; HOZUMI et al., 2005) Vespas sociais são capazes de influenciar muitas outras espécies em ecossistemas terrestres tropicais, atuando como predadores de insetos e outros artrópodes (WENZEL, 1998; RICHTER, 2000), e também como presas, representando um importante recurso alimentar para formigas e alguns pássaros insetívoros (WINDSOR, 1976; CHADAB, 1979; STRASSMANN, 1981; KUMANO & KASUYA, 2006). Os Epiponini são um grupo ao qual se deve dar maior atenção, pois mesmo com as dificuldades quanto a criação para o uso aplicado, se estudos viabilizarem seu manejo, existem grandes chances de se agregar mais espécies ao controle biológico de pragas, pois são predadores eficientes de lagartas de Lepidoptera (JEANNE, 1991; RAVERET-RICHTER, 2000; de OLIVEIRA et al., 2010) e muitas espécies construirem ninhos com populações de milhares de indivíduos, chegando a até milhões (ZUCCHI et al., 1995; CARPENTER & MARQUES, 2001), potencializando muito a predação. Embora haja um potencial no uso das vespas sociais, este é pouco explorado, principalmente em áreas cultivadas. Sabe-se que as vespas sociais predam geralmente larvas de Lepidoptera, (CLAPPERTON, 1999; PREZOTO et al., 2006; de OLIVEIRA et al., 2010). Estudos realizados com Agelaia vicina (Saussure), demonstraram que ela desempenha um papel importante no seu ecossistema como um predador de grande número de invertebrados: Coleoptera, Diptera, Hemiptera, Hymenoptera, e aracnídeos (de OLIVEIRA et al., 2010).

35 Pretendemos aprimorar o entendimento sobre o forrageio em vespas sociais, verificando se o forrageio se dá igualmente em área cultivada e em área natural (fragmento florestal). Materiais e Métodos O estudo foi realizado em um fragmento florestal pertencente à Fazenda Vista Bonita (FVB), localizado próximo à cidade de Barretos - SP (20.495286º S, 48.827362º W). Possui 1037,9 ha de área de Floresta Estacional Semidecidual. O fragmento é justaposto a cultura de laranja e à margem do rio Grande. Foram feitas 30 coletas de campo na FVB, entre setembro de 2009 a novembro 2010, totalizando 240h de trabalho de campo. Utilizamos dias amostrais para a coleta de dados, cada dia amostral com um período de 8 horas diárias de trabalho de campo, das 8h às 16h. A estação chuvosa foi definida de outubro até março e a estação seca de abril a setembro. Para a obtenção dos dados, a FVB foi demarcada previamente, 61 parcelas na área cultivada (marcados em amarelo) e 10 pontos na borda da área nativa (marcados em vermelho, Figura 1). Foram feitas 15 coletas em cada área, sendo aleatorizados as parcelas e os pontos que foram estudados. Iscas de atração foram dispostas nos pontos de coleta para verificar se as vespas estavam ou não forrageando na área. As iscas oferecidas foram: -água: em recipiente plástico de 100ml. -solução atrativa (NOLL & GOMES 2009): sal +água+açúcar (para cada 10l de água, 2kg de açúcar mais 250g de sal são diluídos) em recipiente plástico de 100 ml.

36 -lagartas: lagartas de lepidóptero, Ascia monuste orseis (Latreille, 1819) criadas em laboratório, foram disponibilizadas sobre plantas de couve, Brassica oleraceae var. acephala L., em vaso. -carne: 50g de carne bovina cortada em cubos, em recipiente plástico de 100 ml. Um item de cada isca era deixado no local de coleta e monitorado visualmente. As espécies visitantes de cada tipo de recurso eram anotadas e identificadas. As forrageadoras que causaram possíveis dúvidas de identificação visual foram capturadas para posterior identificação. Para a comparação de número de espécies, temperatura e umidade nas áreas de mata e cultivada foram utilizadas análises de ANOVA pelo programa R v.2.11.1 (R Core Team, 2010). Resultados Observamos 11 espécies coletando os recursos ofertados (Tabela 1), seis espécies pertencentes a quatro gêneros na área de mata e nove espécies pertencentes a quatro gêneros encontradas na área cultivada. Na área cultivada, observamos vespas forrageando os recursos somente nos pontos 23, 24, 25, 26 e 29 (Figura 1), justamente áreas de cultivo que ficam entre dois fragmentos de mata (trapézio em verde na Figura 1). Comparando o número total de espécies amostradas na mata com a área cultivada não há diferença significativa (Anova, p=0.5; F=0.47). Também não há diferença significativa entre o número de espécies forrageando entre a estação chuvosa e a estação seca na área cultivada (Anova, p=0.107 e F=2.99). Na área de mata, por outro lado, houve maior diversidade de

37 espécies de vespas no período seco comparado ao chuvoso (Anova, p=0.002, F=6.96). Discussão Nossos dados corroboram a hipótese de que vespas sociais enxameadoras forrageiam em áreas cultivadas e naturais. Porém, em área cultivada, as forrageiras foram encontradas em uma área específica, situada entre dois fragmentos (trapézio em verde na Figura 1). Estudos relatam que corredores ecológicos são ferramentas importantes para o fluxo de espécies e que estes realmente têm funcionalidade (BEIER & NOSS, 1998). Dados apresentados por Klein et al., (2006) mostram que interações tróficas de nível superior e maior diversidade de abelhas e vespas ocorrem em agroecossistemas próximos a florestas tropicais. A partir dos dados obtidos, entendemos que a área cultivada entre dois fragmentos (trapézio em verde na Figura 1) funciona como um corredor biológico de espécies. Muitas vezes um fenômeno denominado efeito de borda ocorre na área estudada, em que a variedade e densidade das espécies é maior no habitat da borda (GLIESSMAN, 2000). Estudos documentam o movimento de artrópodes benéficos, das margens da vegetação de entorno para dentro das plantações, mostrando a importância das bordas para a propagação e proteção de uma ampla gama de agentes naturais de controle biológico de pragas agrícolas (ALTIERI, 1994; ALTIERI et al., 2003). Na área cultivada, nos pontos distantes dos fragmentos florestais, não foram detectadas vespas forrageando em nenhuma das amostras. Na borda da mata obtivemos amostras de forrageiras, de modo que nossos dados

38 fortalecem a tese de que para que áreas cultivadas possam usufruir de serviços ambientais, é necessário que áreas naturais estejam adjacentes às áreas de cultivo. Das 17 espécies coletadas em levantamento na área de estudo (TANAKA JR & NOLL, 2011), 11 espécies foram observadas coletando os recursos ofertados (Tabela 1). Vespas sociais são facilmente amostradas, devido a sua distância de forrageio limitada pelo ninho e operárias ativas em todas as estações (O'DONNELL, 2000), no entanto, esse fato é valido para trabalhos que tenham como objetivo o levantamento da diversidade, em estudos de forrageio é necessário uma metodologia mais apurada para a coleta dos dados. Quanto às espécies que não foram observadas no estudo de forrageio, mas sabe-se que ocorrem na área, pelas coletas do levantamento, podemos supor que a metodologia aplicada não foi suficiente para cobrir os recursos coletados pelas outras espécies dentro da diversidade do grupo Epiponini. É recomendado o uso de diferentes metodologias de coleta para trabalhos de levantamento de vespas sociais (SILVEIRA, 2002), mesmo que tenhamos utilizados várias iscas para atrair o forrageio das vespas, isso não mostrou atrair todas as espécies que ocorrem no local. Ainda estamos muito defasados sobre o entendimento do forrageio do grupo Epiponini, quando comparamos ao conhecimento existente para abelhas e formigas o que torna todo trabalho sobre comportamento de forrageio em vespas sociais um ensaio experimental. Durante a estação chuvosa encontramos baixa riqueza de vespas na área de mata (Tabela 1). A estação chuvosa pode apresentar adversidades para o grupo dos Epiponini, como o aumento de parasitas nos ninhos (LONDON & JEANNE, 1998), ou o colapso dos favos inferiores, causando a queda das proles e de reservas. Em

39 florestas tropicais, foi encontrada uma relação entre menor riqueza de ninhos de vespas sociais, e estações chuvosas mais intensas (DEJEAN et al., 2010). Dois meses da estação seca na área cultivada chamam a atenção pelo número de espécies amostradas, agosto 2010 com oito espécies, e setembro 2010 com cinco (Tabela 1). Esse aumento na riqueza de espécies tem relação direta com as áreas sorteadas, próximo aos pontos desses meses, havia torneiras que gotejavam água constantemente, o que atraía vespas e abelhas para essas fontes o que aumentou a probabilidade dessas forrageadoras encontrarem os recursos que estávamos ofertando. A água tem papel fundamental na biologia das vespas. Ela é absorvida pelas vespas e é usada na refrigeração do ninho e construção, bem como para os processos metabólicos (RAVERET-RICHTER, 2000). A água pode ser um recurso limitante para vespas (HORWOOD, et al., 1993). Nas áreas ou durante temporadas em que a água doce é escassa, as vespas sociais forrageadoras são visitantes freqüentes para pias e torneiras pingando água (RAVERET-RICHTER, 2000). Agosto e setembro coincidem com o final da estação seca, o que deve ocasionar adversidades quanto à questão de balanço hídrico nos animais presentes nessa região, e foi observado que muitas espécies de vespas e abelhas estavam coletando água em torneiras existentes na área cultivada, o que provavelmente influenciou nos dados coletados nesses dois meses. Se levarmos em consideração que estas vespas não estavam forrageando recursos das plantas cultivadas, mas sim água das torneiras, descartamos que no fim da estação seca houve o aumento no número de espécies na área cultivada, sendo maior o número de espécies na área de mata. A biologia das vespas sociais enxameadoras como estrutura de castas, organização social e arquitetura dos ninhos, torna difícil sua criação em cativeiro

40 (JEANNE, 1991; WENZEL, 1998), por isso existem limitações quanto ao uso no controle biológico. No entanto, nossos dados trazem informações de que se áreas de mata forem preservadas ao redor de cultivares, ocorrerá um trânsito das vespas entre as áreas de mata e consequentemente sobre a área cultivada. Nossos dados indicam a presença delas dentro de áreas cultivadas, porém somente em trechos com fragmentos de mata vizinhos. No atual sistema agrário aplicado no Brasil, não temos espaço para o uso de vespas sociais no controle biológico de pragas, mas nossos dados mostram que, com uma sustentabilidade na agricultura, utilizando consórcio com florestas é possível utilizar vespas sociais no controle biológico. Recomendamos que em trabalhos sobre forrageio de vespas em Floresta Estacional Semidecidual, não se utilize o período chuvoso para coletas, facilitando a escolha do período de coleta otimizando o trabalho de campo.

41 Tabela 1 Amplitude de coleta da parte experimental de forrageio, e a relação entre as estações seca e chuvosa com o número de espécies observadas na área cultivada e na área de mata da FVB - Barretos. As espécies observadas em agosto 2010 na área cultivada, estavam forrageando água em torneiras. Estação Nº espécies Cultivada Nº espécies Mata Setembro 2009 Seca 1 Agelaia pallipes 4 Brachygastra lecheguana Polybia sericea Polybia jurinei Agelaia pallipes Outubro 2009 Chuvosa 0 0 Novembro 2009 Chuvosa 2 0 Agelaia pallipes Polybia jurinei Dezembro 2009 Chuvosa 0 0 Janeiro 2010 Chuvosa 1 0 Polybia ignobilis Fevereiro 2010 Chuvosa 0 0 Março 2010 Chuvosa 0 1 Agelaia pallipes Abril 2010 Seca 0 0 Maio 2010 Seca 1 Brachygastra augusti 2 Protopolybia exigua Polybia sp Junho 2010 Seca 0 3 Agelaia pallipes Brachygastra lecheguana Polybia sp Julho 2010 Seca 1 Agelaia pallipes Agosto 2010 Seca 8 Polybia paulista Polybia ignobilis Polybia jurinei Polybia occidentalis Polybia sericea Protopolybia exigua Agelaia pallipes Brachygastra lecheguana Setembro 2010 Seca 5 Brachygastra augusti Polybia ignobilis Polybia jurinei Polybia sericea Polybia occidentalis 1 Agelaia pallipes 1 Agelaia pallipes Outubro 2010 Chuvosa 0 0 Novembro 2010 Chuvosa 0 0 0

42 Figura 1: Fragmento de mata do município de Barretos com os pontos de borda (1~10) em vermelho, na linha de borda do fragmento marcada em vermelho, e a área cultivada, com os pontos marcados (1~61) em amarelo. O trapézio feito com linhas verdes corresponde ao possível corredor de espécies, entre o fragmento de estudo e o fragmento próximo, ao leste. A linha em azul indica a área da margem com as águas do Rio Grande.