ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL ESAB CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM EDUCAÇÃO INFANTIL GABRIELA MARINHO SANT ANNA

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Transcrição:

ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL ESAB CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM EDUCAÇÃO INFANTIL GABRIELA MARINHO SANT ANNA A EDUCAÇÃO INFANTIL: ETAPA FUNDAMENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA VILA VELHA/ES 2010

Eu, Gabriela Marinho Sant Anna, autorizo a disponibilização e publicação, gratuitamente, sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei N o 9610/98, do trabalho monográfico por mim elaborado, em meio eletrônico (na Internet), para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação de produção científica brasileira. Gabriela Marinho Sant Anna VILA VELHA - ES 2010

ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL ESAB CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM EDUCAÇÃO INFANTIL GABRIELA MARINHO SANT ANNA A EDUCAÇÃO INFANTIL: ETAPA FUNDAMENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA VILA VELHA/ES 2010

GABRIELA MARINHO SANT ANNA A EDUCAÇÃO INFANTIL: ETAPA FUNDAMENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA Monografia apresentada ao Curso de Pós Graduação em Educação Infantil da Escola Superior Aberta do Brasil como requisito para obtenção do título de Especialista em Educação Infantil, sob orientação da Profª Ms. Patricia Ebani Peixoto. VILA VELHA/ES 2010

GABRIELA MARINHO SANT ANNA A EDUCAÇÃO INFANTIL: ETAPA FUNDAMENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA Monografia aprovada em... de...de 2010 Banca Examinadora VILA VELHA/ES 2010

Aos meus pais por sempre terem me incentivado a percorrer o caminho da educação e a estudar esta ciência tão fundamental na vida de cada ser humano. A toda a minha família por compreenderem a minha dedicação e ausência em prol do conhecimento.

AGRADECIMENTOS À Deus por me dar força e sabedoria para concluir esta jornada. Aos meus pais por incitarem em mim o desejo de adquirir o conhecimento.

Não acredites nos que sabem tudo. Os que muito sabem, sabem que têm muito a aprender. A educação é do tamanho da vida. Não há começo. Não há fim. Só travessia. (Rubens Alves)

RESUMO Educação Infantil Desenvolvimento Cognitivo Qualidade da Educação Infantil O presente trabalho teve como objetivo analisar a Educação Infantil como etapa fundamental da Educação Básica. Para tanto foi realizada uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo sobre a importância da Educação Infantil. Foram obtidas consideráveis informações pertinentes ao assunto que possibilitaram compreender a história da pré-escola, o processo de desenvolvimento cognitivo da criança, e a qualidade da educação infantil. Verificou-se que apesar da pré-escola ter surgido como essencialmente assistencialista esta realidade foi superada e as creches e pré-escolas hoje podem exercer a sua função de educar independente da dicotomia entre educar-cuidar, pois esta dicotomia já foi superada. Verificou-se também que freqüentar a pré-escola favorece o desenvolvimento da criança e neste sentido afirma-se a importância da educação infantil. Dessa forma verificou-se que o Governo busca juntamente com o Ministério da Educação e da Cultura primar pelos parâmetros de qualidade desta primeira etapa da educação básica, já que é tão importante para o desenvolvimento da criança e conseqüente desenvolvimento do país. Conclui-se apresentando sugestões para que as pré-escolas trabalhem intensamente com a participação dos pais que são agentes fundamentais para o desenvolvimento integral de seus filhos e assim, vise melhorar a formação dos futuros cidadãos.

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS Art: Artigo CEMEI: Centros Municipais de Educação Infantil ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº8.069/1990 LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/1996 ONG: Organização Não Governamental RCNEI: Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil UNESCO: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura)

SUMÁRIO INTRODUÇÃO...09 CAPÍTULO I Creche e pré-escola: depósito de crianças?...13 I.1 O SURGIMENTO DO SENTIMENTO DE INFÂNCIA...14 II.2 O SURGIMENTO DA PRÉ-ESCOLA NO BRASIL...18 CAPÍTULO II Etapas do desenvolvimento humano e cognitivo na primeira infância... 22 II. 1 AFETIVIDADE E INTELIGÊNCIA... 26 II. 2 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO....30 CAPÍTULO III Educação infantil: direito de todos, dever da sociedade... 37 CAPÍTULO IV - RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO... 42 CONCLUSÃO... 46 REFERÊNCIAS... 49 ANEXOS... 51

9 INTRODUÇÃO Esta monografia apresenta o resultado de uma pesquisa de nível exploratório, sendo a mesma desenvolvida a partir da pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. Essa pesquisa foi realizada entre junho e agosto de 2010 e analisa a Educação Infantil como etapa de fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo, social e cultural da criança. Ao conversar com uma professora de Educação Infantil sobre o meu estudo, ela relatou que sua turma de Pré-I era muito interessada, mas que seu maior problema era com os pais de alunos. Relatou que a maioria deles tinha a escola apenas como depósito de crianças, que não valorizavam a instituição enquanto ambiente educacional para seus filhos. Então, diante do meu estudo sobre a fundamental importância da Educação Infantil para o desenvolvimento cognitivo da criança, restou-me a dúvida: Por que estas escolas são vistas pela maioria das famílias como depósito de crianças? A Educação Infantil é um direito dos cidadãos exposto na Constituição Federal (BRASIL, 1988), em seu artigo 227 diz: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1998, p.96) Dessa forma é assegurado por lei o direito a Educação. Não é simplesmente uma escolinha, mas um direito conquistado pelo povo de manter seus filhos em escolas de qualidade e gratuitas, enquanto estão trabalhando, contribuindo para a economia do país. A Educação Infantil é reconhecida pelos educadores, pelos governantes e pela sociedade científica como etapa de primordial importância para o desenvolvimento da criança, visto que é nesta fase que a criança aprende como viver, como fazer. É

10 na fase infantil que o ser humano adquire conhecimento com maior facilidade e eficácia, nesta fase é possível desenvolver inúmeras habilidades e aprender a se socializar. Nesta fase a criança aprende a aprender e a gostar do ambiente escolar. O Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 4º, dispõe: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990, p.5) Sendo assim, as famílias e os responsáveis pela educação das crianças precisam valorizar esse direito, este bem oferecido pelo governo. O fato de a Educação Infantil ter sido reconhecida como primeira etapa da Educação Básica, através da sanção da LDB 9394, de Dezembro de 1996, Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:[...] IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade (BRASIL, 1996, p.7) É um grande avanço para o país e um motivo para que os pais passem a se preocupar mais com a educação de seus filhos. Um avanço para o país porque ter cidadãos educados desde o início da vida reforça a certeza de que no futuro serão bons cidadãos. Assim como a base de uma casa, a educação deve ser a base da vida. É preciso que os pais reconheçam que tanto a LDB, como a ECA, estão apoiando a família no âmbito educacional e que a educação pode lhes proporcionar qualidade de vida. Numa época em que a UNESCO revela que o Brasil está em 88º lugar no Índice de Desenvolvimento Educacional - segundo pesquisa realizada neste ano de 2010, entre 123 países. Esta pesquisa UNESCO, 2010 vem elucidar e reafirmar como é que se deve proceder para que tenhamos no futuro resultados mais animadores. Eu vejo que a Educação Infantil pode ser a saída para este problema de baixa educacional. Ainda mais, quero mostrar com esta pesquisa, o quanto estes pais estão perdendo por não valorizar a educação infantil.

11 Analisar a Educação Infantil como etapa fundamental para o desenvolvimento cognitivo da criança e conseqüente desenvolvimento em âmbito cultural, intelectual e econômico da sociedade é objetivo desta pesquisa. E diante desta verdade tentei entender porque os pais de alunos de pré-escolas de comunidades carentes, como é o caso do CEMEI Maria Gama dos Santos, não vêem na escola pública a oportunidade de uma formação de qualidade para seus filhos. Ao investigar e expor as etapas do desenvolvimento cognitivo e humano, que acontecem na primeira infância, portanto, vi a oportunidade de apontar o quão importante é que os pais mantenham os filhos na escola e os acompanhem em seu desenvolvimento. Este estudo pretende confirmar para a sociedade de pesquisadores e interessados em políticas públicas e educacionais os principais fatores para uma Educação Infantil de qualidade e sua importância para o desenvolvimento da sociedade num âmbito cultural, intelectual e econômico. Pois para que realmente haja qualidade na educação é necessário que toda a sociedade esteja envolvida. Neste trabalho, com o objetivo de demonstrar a importância da educação infantil como etapa fundamental para o desenvolvimento cognitivo da criança e conseqüente desenvolvimento em âmbito cultural, intelectual e econômico da sociedade, abordei aspectos do desenvolvimento cognitivo do ser humano, revelando que o mesmo acontece na primeira infância. O fiz através de pesquisa bibliográfica e exploratória, e pesquisa em loco com a classe de Pré I do CEMEI Maria Gama dos Santos, no intuito de saber a opinião e participação dos pais na educação de seus filhos. Iniciei com pesquisa bibliográfica em sites da internet sobre a importância da educação infantil, para saber que autores falam sobre este assunto, o que falam e como falam. Segui pesquisando autores que desenvolveram pesquisas sobre a história da educação, desenvolvimento cognitivo, e qualidade na educação infantil. Além de ler também sobre as leis educacionais que vigoram em nosso país.

12 Como havia conversado com uma professora de pré-escola sobre o assunto e a mesma relatou sua dificuldade com os pais de alunos, a procurei para realizar uma pequena pesquisa com estes pais e abordar o assunto. Todos os resultados estão nesta monografia que muito contribuiu para minha formação e conhecimento, pois a dúvida é sempre o início do saber. A dúvida é o principal ingrediente para a aquisição de conhecimento.

13 CAPÍTULO I CRECHE E PRÉ-ESCOLA: DEPÓSITO DE CRIANÇAS? Por que a maioria dos pais de alunos não reconhece o devido valor que a educação infantil tem no contexto atual? Talvez seja porque não conhecem a história deste seguimento. Talvez porque não saibam que a educação infantil é uma conquista da sociedade brasileira. Quando não se conhece algo, quando não se sabe de onde vem e por quais caminhos passou, realmente é difícil dispensar o valor e o devido reconhecimento. Como um imigrante que de repente chega na cidade em que você nasceu. A maioria dos imigrantes de toda a história são destratados e discriminados simplesmente por terem se aventurado e ter ocupado outras terras. Mas os nativos não refletem a causa de sua viagem e de sua mudança. É preciso mudar para sobreviver. Se como e onde se encontra não está bom, não atende as perspectivas, então a solução é mudar. Assim os pais de alunos, que tem educação infantil gratuita garantido por lei, devem saber o que é, de onde e como surgiu e porque hoje se apresenta neste formato, sendo assim ofertada a sua família. Valorizar algo é conhecer e saber como surgiu e de onde veio. Por isso, este capítulo pretende conceituar a educação infantil do ponto de vista histórico, mostrando como surgiu o sentimento de infância no mundo e a educação infantil no Brasil, como o intuito de entender porque não há tanta valorização deste período tão importante da educação básica. A pré-escola não é depósito de crianças, mas ambiente socializador em que se oferece a oportunidade de amadurecer com qualidade. Não respeitar esta etapa de educação infantil é não compreender a importância e a identidade da criança na sociedade. A criança por muitos anos foi considerada como ser sem importância na sociedade, porém, atualmente, é vista como indivíduo de direitos, identidade pessoal e histórica e tem todas as suas especificidades respeitadas. Autores como Philippe Áries e Sonia Kramer descrevem esta evolução da visão da criança pela sociedade.

14 I.1. O SURGIMENTO DO SENTIMENTO DE INFÂNCIA Para conceituar a infância é necessário voltar no tempo e explicitar o seu surgimento. Philippe Áries (1981) em seu estudo da História Social da Criança e da Família, utiliza imagens e documentos históricos para entender a história do surgimento do sentimento e significado da criança ao longo da civilização. Em seu prefácio, com o intuito de expor o pressuposto de sua interpretação diz: A história das mentalidades é sempre, quer o admita ou não, uma história comparativa e regressiva. Partimos necessariamente do que sabemos sobre o comportamento do homem de hoje, como de um modelo ao qual comparamos os dados do passado - com a condição de, a seguir, considerar o modelo novo, construído com o auxilio de dados do passado, como uma segunda origem, e descer novamente até o presente, modificando a imagem ingênua que tínhamos no inicio (p.17) Assim, afirma que buscar o passado para entender a atualidade é confrontar os novos conceitos com o que já se conhece. Conhecer a origem é imaginar como se atingiu a forma atual. Assim deve ser com o conceito de pré-escola. Entender como ela surgiu e qual a sua importância para valorizar e perceber sua relevância. A cultura da função educacional ser exercida pelas mães data da pré-história, porém ÁRIÉS (1981), ao analisar as construções históricas, aponta a arquitetura italiana como sendo um ambiente precursor e propicio para a iniciação de um sentimento e atenção a crianças. Daí a essência do maternal. Culturalmente as crianças estão sempre muito próximas às mães e a este fato se atribui a elas a função de criar, educar, alimentar os filhos: É normal que num espaço tão privatizado tenha surgido um sentimento novo entre os membros da família, e mais particularmente entre a mãe e a criança: o sentimento de família, essa cultura, diz R. Goldthwaite, centraliza-se nas mulheres e nas crianças com um interesse renovado pela educação das crianças e uma notável elevação do estatuto da mulher... (ÁRIES, 1981, p. 18) Kramer (1995, p. 17) explica o conceito do sentimento de infância: Sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças; corresponde, na verdade, à consciência da particularidade infantil, ou seja, aquilo que distingue a criança do adulto e faz com que a criança seja considerada como um adulto em potencial, dotada de capacidade de desenvolvimento.

15 Através do estudo de Áries é possível entender como surgiu o conceito de infância. ÁRIÉS (1981) analisa a iconografia e, ao descrever as pinturas durante os séculos, enfatiza os desenhos de Maria e do menino Jesus, assim ele relata que estes documentos ilustram o cotidiano da infância: Salientemos aqui apenas o fato de que a criança se tornou uma das personagens mais freqüentes dessas pinturas anedóticas: a criança com sua família, a criança com seus companheiros de jogos, muitas vezes adultos; a criança na multidão, mas ressaltada no colo de sua mãe ou segurada pela mão, ou brincando, ou ainda urinando; a criança no meio do povo assistindo aos milagres ou aos martírios, ouvindo prédicas, acompanhando os ritos litúrgicos, as apresentações ou as circuncisões, a criança aprendiz de um ourives, de um pintor etc., ou a criança na escola, um tema freqüente e antigo, que remontava ao século XIV e que não mais deixaria de inspirar as cenas de gênero até o século XIX (ÁRIES,1981, p.53) A mortalidade infantil inexiste na atualidade, porém ÁRIES (1981) explica o sentimento de perda da criança diante desta realidade na idade média. Ele faz um paralelo entre o medo atual da perda e o comum abandono que os romanos e chineses praticavam diante das crianças recém-nascidas que não lhes pareciam perfeitas física ou mentalmente, portanto aquelas que não teriam nenhuma utilidade na sociedade. Compara a pequena distância que há entre essa realidade e a precocidade do surgimento do sentimento de infância. Essa conclusão, essencialmente obtida através da análise dos retratos e pinturas da época, mostra o nascimento do reconhecimento da fragilidade da criança, ainda que fossem tidas como pequenos seres divertidos, aos quais não se conotavam qualquer tipo de definição sobre a sua personalidade e papel na sociedade. Assim, O gosto novo pelo retrato indicava que as crianças começavam a sair do anonimato em que sua pouca possibilidade de sobreviver as mantinha. Independente do alto nível de mortalidade, Áries (1981) percebe que começa a surgir uma preocupação com as crianças, no sentido de preveni-las de doenças e prolongar suas vidas. Segundo ele, esse interesse pela criança e importância dada à sua personalidade se dá devido à consciência cristã. Essa consciência faz com que as pessoas tenham certa preocupação com a saúde das crianças e passem a vaciná-las contra a varíola, doença que dizimava na época. Estes zelos e

16 precauções culminaram na diminuição da mortalidade infantil e conseqüente controle de natalidade. Continuando seu estudo, Áries (1981, p 73 e 74) afirma que em algumas pinturas ilustravam as brincadeiras das crianças, revelando então a essência da infância, que é o ato de brincar. Dessa forma, seu estudo permite afirmar que as crianças sempre procuraram se espelhar nos adultos, visto que seus brinquedos se apresentavam em miniaturas ou cópias dos elementos e objetos relevantes para a sociedade. Assim como atualmente existes telefones celulares e computadores de brinquedo, sempre se reproduziu este universo para brincar, e assim desenvolver a inteligência e habilidade para se transformar em adulto. Áries (1981), ainda analisando a visão da infância, discorre sobre o nascimento da preocupação com a instrução às crianças, antes do século XX. Diz que a sociedade passa a se preocupar mais com a instrução moral e o interesse psicológico das crianças. Em textos estudados por ele, percebe descrições da personalidade dos jovens e crianças, todas com caráter negativo. Porém, na visão de Áries, estes textos, mesmo com ênfase negativa, já são o início de uma análise dos educadores da época, que a partir destes relatos, objetivam conhecer os jovens e crianças para saber como lidar com eles. Pois as crianças eram vistas pela maioria como seres inocentes, e por isso muito protegidas. Porém, a necessidade de educar esta além de considerá-las indivíduos inocentes e imagem de cristo, mas assim como cristo, mostrar-lhes o caminho da educação e desenvolver-lhes um caráter racional e cristão. Kramer (1995, p. 19) conceitua o sentimento de infância: O sentimento de infância resulta, pois numa dupla atitude com relação à criança: preservá-la da corrupção do meio, mantendo sua inocência, e fortalecê-la, desenvolvendo seu caráter e sua razão. Áries (1981, p 139), fala sobre os dois sentimentos de infância:

17 O primeiro sentimento de infância caracterizado pela paparicação surgiu no meio familiar, na companhia das criancinhas pequenas. O segundo, ao contrário, proveio de uma fonte exterior à família: dos eclesiásticos ou dos homens da lei[...] Os estudos de Philippe Áries foram muito importantes para que toda a sociedade pudesse compreender através de fatos históricos o pensamento das sociedades diante do sentimento de infância. Cada qual no seu contexto e numa gradativa evolução. Sonia Kramer (1995, p.19), concordando com os estudos de Philippe Ariés, sobre o surgimento da infância, afirma que o que o determina, nada mais é, do que a história e suas várias modificações nas formas de organização social. Dessa forma, assim como no período feudal exercia papel produtivo direto, participando da produção, do plantio e colheita nos campos feudais, na sociedade capitalista, urbano-industrial, em que a mão de obra é basicamente intelectual ou mecanicista, as crianças passam a ser cuidadas e educadas para exercerem outro papel social, o de adultos capazes de se organizarem em fábricas e indústrias, enfim, modelos puramente capitalistas de organização social. Ambos, ao analisarem a história do sentimento de criança, concordam com o fato de que a crianças é o reflexo da sociedade, é ela quem determina o papel que a criança representa no contexto social e de família, e qual o seu significado e idéia. Como o adulto vê a criança? Kramer (1995) diz que o adulto vê a criança como um ser dependente tanto natural como social. No entanto, a dependência social, imposta por sua autoridade, é o fato que determina esta relação e sentimento que o adulto tem sobre a criança. O vê como um ser que não desempenha papel na sociedade, que está sempre às margens, por não participar da produção dos bens materiais e nem das decisões que precisam ser tomadas em sociedade, dentro do âmbito familiar. Depois de compreender como a sociedade percebe a criança, vamos entender a história da pré-escola no Brasil.

18 II.2 O SURGIMENTO DA PRÉ-ESCOLA NO BRASIL Trata-se de uma educação para crianças que surge na Europa, inicialmente como compensatória. Segundo Kramer (1981) este modelo originou-se no pensamento de Pestalozzi e Froebel e foi expandido por Montessori e McMillan. A educação compensatória é aquela que supre principalmente as necessidades básicas das crianças, é aquela que supre a miséria, a pobreza e a negligência das famílias. Sendo assim: Cinco conjuntos são, em geral, apresentados como responsáveis pela expansão da pré-escola nos últimos anos, bem como por seu caráter de educação compensatória: os de ordem sanitária e alimentar; os que dizem respeito à assistência social; os relacionados com as novas teorias psicológicas e sua divulgação ou renascimento; os referentes às diferentes culturais e os fatores propriamente educacionais. (KRAMER 1981, p.26) Segundo Kramer (1981) durante a Segunda Guerra Mundial, a pré-escola se fortaleceu e virou sinônimo de assistencialismo social, já que maioria das mães trabalhava em indústrias bélicas e muitos de seus pais haviam sido convocados para a guerra. Kramer (1981, p. 27) relata ainda que A atenção de professores se voltava para as necessidades afetivas da criança e para o papel que o professor deveria assumir, dos pontos de vista clínico e educacional. Segundo Duarte (1993), a educação compensatória é definida como aquela que visa compensar as necessidades afetivas, intelectuais e escolares das crianças que pertencem às classes sociais marginalizadas, objetivando a preparação para um futuro com equivalência de oportunidades às demais classes da sociedade. Oliveira (2002) relata como surgiu a educação compensatória. Afirma que com a Revolução Industrial, a sociedade agrário-mercantil transforma-se em urbanomanufatureira. Com esta transformação as crianças se tornam vítimas de abandono e maus-tratos. A partir de então, e com o objetivo de mudar esta situação, surgem instituições para atender e suprir as necessidades destas crianças.

19 Sendo assim, Kramer (1981, p. 29) diz que a pré-escola era apontada como solução para os problemas da escola elementar: fatores médico-nutricionais, assistenciais, psicológicos, culturais e educacionais. Relatando a história do atendimento à criança no Brasil, é possível compreender porque é vista como assistencial até os dias atuais. Segundo Kramer (1995), a educação compensatória também ocorre no Brasil, até 1889. Diz que existiam projetos elaborados por médicos, que tratavam especificamente das necessidades médicas. Como estes projetos não se concretizaram, progrediram os projetos no âmbito da higiene infantil, médica e escolar. No final do século XIX, com o ideário liberal, inicia-se um projeto de construção de uma nação moderna. A elite do país assimila os preceitos educacionais do Movimento das Escolas Novas, elaboradas nos centros de transformações sociais ocorridas na Europa e trazidas ao Brasil pela influência americana e européia. Surge no Brasil a idéia de jardim-de-infância que foi recebida com muito entusiasmo por alguns setores sociais, mas gerou muito discussão, pois a elite não queria que o poder público não se responsabilizasse pelo atendimento às crianças carentes. Com toda polêmica, em 1875 no Rio de Janeiro e em 1877 em São Paulo, eram criados os primeiros jardins-de-infância, de caráter privado, direcionados para crianças da classe alta, e desenvolviam uma programação pedagógica inspirada em Froebel (OLIVEIRA, 2002). Kramer (1971) relata a história da educação pré-escolar no Brasil. Enfatizo o atendimento público: [...] Coordenação de Educação Pré-Escolar (COEPRE), DO Ministério da Educação e Cultura, de caráter público federal, tendo, pois, influencia direta na determinação das diretrizes do atendimento ao pré-escolar desenvolvido a nível das Secretarias Estaduais. Sendo assim, Kramer (1995) expõe que, no início de 1975, houve uma mobilidade do governo, representado pelo Ministério da Educação, no sentido de atender às crianças de zero a seis anos. Isto ocorre após o Presidente da República defender a

20 importância dos primeiros anos de vida e solicitar providencia ao Ministério. Este Ministério empenhou-se neste sentido e, após relatar as conseqüências irreversíveis que as carências nutricionais acarretam no desenvolvimento físico e mental das crianças, desenvolveu pesquisas em todo o país com o objetivo de compor um plano de educação pré-escolar. Vale ressaltar que desde o inicio o sistema governamental se mostra conhecedor da importância da educação infantil para o desenvolvimento da criança e a necessidade de sua implantação pelo poder público. Segundo Kramer (apud CAMPOS, 1979, p. 53): De esquecido e ignorado, o pré-escolar foi repentinamente colocado sob os holofotes de educadores, sanitaristas, assistentes sociais, jornalistas e autoridades. No inicio de forma discreta, e depois cada vez mais insistentemente, ele tem-se tornado o alvo de inúmeros programas governamentais, projetos de pesquisa, reivindicações de grupos privados É fato que a educação infantil nasceu na forma de uma educação pré-escolar puramente compensatória. Para Kramer, a difusão das pré-escolas emerge da necessidade de compensar as deficiências da sociedade e não de formar e preparar as crianças para o ensino regular. Nesse sentido, os poderes públicos estaduais e municipais, bem como entidades empresárias e comunitárias, se emprenharam em desenvolver programas de educação compensatória. (PARECER CFE nº 2,018 apud KRAMER) Como visto, pode-se concluir que a educação infantil surge numa sociedade que relutou em reconhecer a criança como ser pensante e sujeito de direitos, e dessa forma, reluta até os dias atuais para reconhecer a transformação garantida que a primeira etapa da educação básica promove na vida das crianças. O fato de a préescola ser vista pela maioria dos pais de alunos de comunidades carentes como simples local seguro onde depositar os filhos enquanto vão ao trabalho, é algo histórico visivelmente explícito por Sonia Kramer quando esta expõe a história da educação infantil e sua política intrinsecamente compensatória. É cultural pensar na creche e pré-escola como ambiente puramente dedicado ao cuidar e não ao educar.

21 Neste trabalho, o objetivo é transformar este pensamento afirmando que a educação infantil é a base e sendo assim, é tão importante quanto as demais etapas da educação.

22 CAPÍTULO II ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO E COGNITIVO NA PRIMEIRA INFANCIA A escola de Educação Infantil surgiu com a função de educação compensatória como foi descrito no capítulo anterior, e esta idéia persiste no conceito da sociedade, quando notamos nos pais a intenção de enviar os filhos para a pré-escola sem uma consciência de que aquele é um ambiente educacional. O que se pretende, portanto, é reafirmar que esta etapa educacional é de grande importância para o desenvolvimento da criança. Pois este é o período em que ela está completamente disposta a absorver conhecimentos, e por ser a pré-escola o ambiente propício a fornecer uma gama de estímulos e propor estes conhecimentos e experiências. Conforme o RCNEI (1998, p.17): Modificar essa concepção de educação assistencialista significa atentar para várias questões que vão muito além dos aspectos legais. Envolve, principalmente, assumir as especificidades da educação infantil e rever concepções sobre a infância, as relações entre classes sociais, as responsabilidades da sociedade e o papel do Estado diante das crianças pequenas. E assumir as especificidades da educação infantil significar que a classe docente precisa pesquisar e aprofundar o conhecimento acerca de tudo o que implica educar crianças em idade pré-escolar. Significa que o órgão governamental responsável pelo financiamento da educação infantil, neste caso os municípios, promova um ambiente educacional de qualidade, no que diz respeito à estrutura das escolas, materiais de uso e consumo etc. A especificidade da educação também está ligada à formação dos professores e à consciência da comunidade. Rever concepções sobre a infância significa conscientizar a comunidade de que a educação infantil é mais do que mera façanha assistencialista do governo, de que a criança merece e necessitada de assistência não somente à saúde, mas principalmente à educação.

23 Dessa forma, este capítulo, ao tratar das fases do desenvolvimento cognitivo da criança, bem como a relação da afetividade com o surgimento da inteligência, procura afirmar que a infância é o período ideal para se educar. A infância sendo a primeira etapa da vida do individuo, requer atenção e uma preparação de qualidade para ser realmente base da educação, fundamento. Assim como uma casa que precisa de uma base sólida, a criança também precisa de uma boa iniciação educacional. A criança precisa viver em um ambiente saudável, ter atenção e carinho para se desenvolver. E para tanto há de ser de qualidade e há de ser devidamente apoiada pelos pais e bem realizada pelos educadores. A escola de educação infantil atualmente não deve ser vista como instituição que agregue subsídios como saúde, alimentação e o cuidar, pelo fato de o governo atual prover esses bens básicos à população através de programas como o Bolsa Família 1, campanhas de vacinação dentre outros programas bem executados pelo governo atual. Assim, a educação infantil tem condição de alcançar o seu objetivo que é o de educar as crianças em idade pré-escolar. Salvo de promover a compensação das dificuldades básicas da sociedade, as creches e pré-escolas tem a oportunidade de realmente cumprir o seu papel de ambiente facilitador da aprendizagem com foco educacional e preparatório para o Ensino Fundamental. Para consolidar este pensamento, Saltini defende a mudança do enfoque educacional atual, com o objetivo de alertar a sociedade quanto ao novo olhar do sistema educacional (1998, p. 94) Diante de toda esta mudança também não devemos esquecer que a relação com os pais dos alunos deve ter outro enfoque. Enquanto se criava uma escola para satisfação dos pais, hoje cria-se uma escola para o desenvolvimento do pensar da criança. Para isso passa-se a mostrar aos pais os objetivos e metas da educação, o que nunca fora feito anteriormente. A escola de educação infantil de hoje é livre para cumprir o seu dever de educar. Pois a sociedade também está livre do pensamento de educação compensatória. 1 O Bolsa Família atende mais de 12 milhões de famílias em todo território nacional. O 4 Relatório Nacional de Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio aponta queda da pobreza extrema de 12% em 2003 para 4,8% em 2008.