Exame de Prática Processual Penal 12 de Abril de 2008 I IDENTIFIQUE COMO VERDADEIRAS OU FALSAS CADA UMA DESTAS AFIRMAÇÕES, INDICANDO UMA SÓ NORMA PROCESSUAL JUSTIFICATIVA DA RESPECTIVA OPÇÃO: 1 O Assistente tem direito a acusar autonomamente por crimes de natureza particular. 2 O Assistente, enquanto tal, pode sempre interpor recurso da sentença condenatória. 3 O Assistente tem direito a requerer a declaração de impedimento do juiz. 4 A falta de assistência por defensor quando ela seja obrigatória constitui nulidade insanável 5 Em audiência de julgamento o defensor pode recomendar ao Arguido que deixe de responder perante o juiz a questões relativas a factos que lhe são imputados pela acusação. 6 O Arguido pode constituir mais do que um mandatário forense no mesmo processo. 7 O Arguido, no decurso do inquérito e após se ter recusado a prestar declarações, pode apresentar ao Ministério Público um memorial relatando a sua versão dos factos participados 8 O Arguido pode em audiência de julgamento seleccionar as questões a que quer responder relativamente aos factos que lhe são imputados. 9 O Arguido tem o dever de se sujeitar a provas dactiloscópicas ou fotográficas. 10 Só através de requerimento subscrito por defensor, nomeado ou constituído, pode o Arguido requerer a substituição da medida de coacção. 11 O prazo de interposição de recurso é sempre de 20 dias 12 Em caso de notificação pessoal, ao prazo legal acresce a dilação de 5 dias 13 O prazo para contestar o pedido de indemnização civil é sempre de 20 dias. 14 Num crime de denegação de justiça, o Assistente pode acusar em 10 dias, nos termos do disposto no artigo 284º, sendo-lhe permitido tal acto. 15 Em Processo comum e Tribunal singular a documentação dos actos da audiência só tem lugar quando requerida. (Cotação: 0,4 valores cada)
II Com referência às disposições legais aplicáveis diga a quem dirige as seguintes peças processuais: 1 Requerimento para a constituição como Assistente na fase do julgamento. 2 Requerimento do assistente apresentado em fase de inquérito para abertura do correio electrónico do arguido. 3 Pedido de indemnização civil. 4 Motivações de recurso de decisão final penal condenatória em pena de 5 anos de prisão efectiva, proferida pelas Varas Criminais do Porto?. (Cotação: 0,50 valores cada) III No dia 20 de Março de 2008, na cidade de Matosinhos, durante um desafio oficial de futebol em que se defrontavam as equipas do Sport Casados do Porto e do Solteiros e Livres da Baixa, um espectador, António, empunhava um cartaz onde se lia O ARBRITO ESTÁ VENDIDO AOS SOLTEIROS. Agastado, Bernardo, o arbitro da partida, dirigiu-se a Carlos, agente da PSP que ali se encontrava em serviço, transmitindo-lhe a vontade em apresentar queixa contra António. Carlos de imediato procedeu à detenção de António e à apreensão do cartaz. António foi conduzido à esquadra da PSP onde, após Bernardo ter formalizado a queixa, António foi constituído Arguido sendo de seguida presente ao MP que, sem o ouvir, de imediato validou aquela constituição e promoveu o seu julgamento em Processo Sumário. O julgamento iniciou-se às 15h.30m do próprio dia. No inicio da audiência, Bernardo requereu a sua constituição como assistente, o que foi admitido. No decurso do julgamento, em que não se procedeu à documentação da prova, o defensor de António requereu a junção aos autos de uma impressão de uma mensagem de correio electrónico enviada em 15/03/08 a um dirigente do SLB na qual Bernardo agradecia a fruta e solicitava 1.500,00 para que tudo corresse bem na quinta-feira. O juiz ordenou a comunicação ao MP para os fins tidos por convenientes, tendo-se procedido à extracção de certidão do requerimento e da mensagem. No final do julgamento António foi absolvido.
Entretanto, e já na posse da certidão emitida que continha o requerimento e a mensagem apresentados por António, o MP determinou a imediata instauração de inquérito, constituiu Bernardo como Arguido e procedeu imediatamente ao seu interrogatório sem que o respectivo defensor estivesse presente. Bernardo recusou prestar declarações pelo que o MP ordenou a sua detenção e condução ao TIC para primeiro interrogatório judicial de arguido detido e aplicação de medida de coacção. Interrogado pelo JIC, agora já na presença de defensor, Bernardo recusou prestar declarações. O Juiz, face aos elementos do processo, entendendo existirem fortes indícios da prática do crime de corrupção passiva para acto ilícito (art. 372º, nº1 do CP), e porque entendeu também verificado o perigo de continuação da actividade criminosa, por promoção do MP aplicou-lhe a medida de coacção de proibição de contacto com os dirigentes do SLB (art. 200º, nº1, al. d), tudo ficando a constar do auto. Responda justificada e sucintamente mas com expressa menção das disposições legais aplicáveis 1 Aprecie a legalidade: a) da realização do Julgamento de António em processo sumário; (3 valores) b) da não documentação da prova produzida nesta audiência de Julgamento; (1 valor) 2 Caso Bernardo pretendesse recorrer da Sentença que absolveu António até quando o poderia fazer? (3 valores) 3 Aprecie a legalidade: a) da instauração de inquérito contra Bernardo; (1 valor) b) da detenção de Bernardo; (1 valor) c) da medida de coacção aplicada; (3 valores)
GRELHA DE CORRECÇÃO Grupo I Questão nº Resposta Justificação Cotação 1 V 69º, nº2, al. b) 0.4 2 F 401º, 1, a. b) à contrario e nº2 0.4 3 V 41º, nº2 0.4 4 V 119º, al.c) 0.4 5 V 345º, nº1 0.4 6 V 62º, nº2 0.4 7 V 98º, nº1 0.4 8 V 61º, nº1, al. d); 345º, nº1 0.4 9 V 61º, nº3, al. d) 0.4 10 F 212º, 4 0.4 11 F 411º, nº4 0.4 12 F 113º 2 e 3 à contrário 0.4 13 F 107º, nº6 0.4 14 V 68º, nº1, al. e) 0.4 15 F 363º 0.4 6 Grupo II Questão nº Resposta Justificação Cotação 1 Juiz (de julgamento) 68º, nº3 0.5 2 JIC 269º, nº1, al. e) 0.5 3 Juiz (de julgamento) 377º, nº1 0.5 4 T. da Relação do Porto 432º, à contrário, 427º, 0.5 2 Grupo III 1
a) A realização do Julgamento foi legal pois verificam-se todos os pressupostos de que depende a possibilidade de realização do julgamento em processo sumário: 1- A detenção em flagrante delito era possível (crime de difamação assume a natureza de crime semi-público face à qualidade do ofendido e o titular exerceu atempadamente o direito de queixa), e foi efectuada por uma entidade policial; 2- O crime é punível com pena de prisão com limite máximo não superior a 5 anos; 3- António foi constituído Arguido, esta constituição foi devidamente validada e foi apresentado ao MP; 4- O interrogatório do Arguido pelo MP não é obrigatório, 5- A audiência iniciou-se antes de decorridas 48h sobre a detenção; Arts. 180º/1, 184, 132º/2/L e 188º do CPenal e 255/1/a/3, 256, 58/1/c/3, 381/1/a, 382/1/2 e 387/1 do CPP 3 b) Hipótese a) A documentação da prova em processo sumário só existe se for requerida pelo que não existe qualquer vicio Arts. 386/1 e 389/3 do CPP Hipótese b) O processo sumário não consagra qualquer excepção quanto ao registo da prova pelo que este é obrigatório Sob pena de nulidade a arguir antes que o acto esteja terminado. Arts. 386/1, 389 à contrario, 363 do CPP 1 2 Sentença proferida verbalmente e ditada para a acta em 20/03/08 estando todos presentes. Notificação pessoal. Corre em férias; Primeiro dia do prazo 21/03; Prazo 20 dias (não pode haver reapreciação de prova gravada porque não há gravação); ultimo dia do prazo 09/04; com multa 10/11/14 (12/13 sábado/domingo) Arts. 389/6, 113/1, 103/2/c, 411/1/c, 107/5 do CPP e 145/5 CPC 3 3 a) os factos constantes do documento apresentado por António no
decurso do julgamento configuram notícia de crime público que chega de forma imediata ao conhecimento do MP pelo que devem dar lugar a abertura de inquérito. Arts. 372/1 do CP e 241, 262/2 do CPP 1 b) Bernardo é detido fora de flagrante delito por mandado do MP mas, embora o crime cuja prática lhe é imputada admita, em abstracto, a aplicação da medida de coacção de Prisão Preventiva, certo é que nenhuma razão é dada que leve a supor que Bernardo se não apresentaria espontaneamente perante a autoridade judiciária no prazo que lhe fosse fixado. Assim a sua detenção é ilegal. Arts. 372/1 do CP e 202/1/a, 256 à contrario, 257/1 do CPP 1 c) Dado que Bernardo recusou prestar declarações o único indicio da prática de crime constante do processo é a impressão da mensagem de correio electrónico. Hipótese a) Nada permite concluir que António tomou conhecimento da mesma com consentimento quer do seu emissor quer do seu destinatário. Tendo sido obtida mediante intromissão nas telecomunicações fora dos casos ressalvados na Lei tal prova é proibida, sendo nula não podendo ser utilizada. Assim inexistem os fortes indícios da prática de crime doloso que são requisito essencial para aplicação desta medida de coacção. Arts. 125, 126/3, 200/1 do CPP Hipótese b) Nada permite concluir que António tomou conhecimento do e-mail por meios ilegítimos. Assim a reprodução desta mensagem electrónica, não sendo ilícita nos termos da lei penal, é admissível como prova e configura os fortes indícios da prática de crime doloso que são requisito desta concreta medida de coacção. O Crime é punível com pena de prisão de máximo superior a 3 anos; Existe perigo de continuação da actividade criminosa A medida é necessária, adequada e proporcional
Arts. 125, 164/1, 167/1, 193, 200/1, 204/c do CPC e 372/1 do CP 3 20 Nota: Na correcção dos Grupos I e II Na falta de indicação da norma legal que justifica a opção a resposta deverá ser tida como errada.