DESAFIOS NA PROMOÇÃO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA: REFLEXÃO A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA DE CAMPO Kenedy Ânderson da Silva Centro Universitário Tiradentes- UNIT Kenedyanderson17@live.com Orientador: Msc. Hélton Walner Souto Santos Universidade Federal de Alagoas- UFAL heltonwalner@hotmail.com Tipo de Apresentação: Comunicação Oral Resumo: O presente trabalho tem por objetivo discutir os desafios na promoção em saúde mental na atenção básica a partir da experiência de estágio realizada com o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) em um município do interior de Alagoas. Nesse contexto, discute-se a despatologização das ações em saúde mental como principal desafio para os/as profissionais da psicologia. Como reflexos dessa discussão, questionam-se a função diagnóstica da psicologia na saúde pública e os princípios éticos e técnicos das intervenções em saúde mental. Trata-se da experiência de estágio básico curricular vinculado ao Centro Universitário Tiradentes (UNIT) e supervisionado pelo psicólogo da equipe NASF municipal. As reflexões acerca do tema proposto surgiram a partir das atividades desenvolvidas junto à equipe, como: atendimentos individuais, visitas domiciliares compartilhadas e participação na campanha Circuito da Mulher, pertencente às ações de promoção em saúde da mulher preconizadas pelo Ministério da Saúde. As discussões aqui desenvolvidas foram apoiadas por debates e artigos de outros profissionais e pesquisadores na área disponibilizados no bancos de dados científicos - SciELO e nos documentos oficiais do Ministério da Saúde e do Conselho Federal de Psicologia. Os critérios de seleção dos 177
artigos foram: período de publicação entre 2010 e 2017 e os descritores saúde mental, atenção básica, atuação da psicologia, NASF. Concluiu-se que a atuação dos/das profissionais da psicologia na saúde pública ainda está vinculada ao modelo ambulatorial individual, que foi considerado como reflexo da patologização da atenção em saúde mental e da crítica à função diagnóstica da psicologia na Atenção Básica. A lógica do matriciamento em saúde mental também foi considerada como um desafio para a psicologia no que se refere ao planejamento de ações mais integradas entre equipes de referência (Atenção Básica) e equipes multiprofissionais (NASF e CAPS). Palavras-chave: Saúde mental, Atenção básica, Atuação da psicologia, NASF. 1. Introdução Compreende-se por NASF uma equipe técnica multidisciplinar composta por profissionais de diversas especialidades que atuam de maneira integrada no apoio às equipes de atenção básica, compartilhando e apoiando as práticas em saúde da família. Segundo o Ministério da Saúde (2014), a organização dos processos de trabalho do NASF deve ter como foco o território sob sua responsabilidade e ser estruturada priorizando o atendimento compartilhado e interdisciplinar, com troca de saberes, capacitação e responsabilidades mútuas, gerando experiência para todos os profissionais envolvidos, visando a ampliação e a qualidade na resolutividade das demandas em saúde. Ainda na perceptiva do Ministério da saúde, a portaria de nº 154, de 04 de janeiro de 2008, regulamenta a criação do NASF com o intuito de ampliar a capacidade de resposta à maior parte dos problemas de saúde na atenção básica. Deste modo, e a fim de possibilitar que qualquer município brasileiro pudesse ser contemplado com essa política e aprimorar o trabalho do NASF, foi criada uma nova portaria, de nº 3.124, de 28 de dezembro de 2012, que define o Núcleo de Apoio à Saúde da Família em três modalidades. O estágio realizado foi em um NASF tipo 1, que tem capacidade de atender de cinco a nove Unidades Básicas de Saúde (UBS). Tendo a equipe de profissionais a obrigatoriedade de cumprir a carga horária de 200 horas semanais, somadas entre todos. 178
A atenção básica é compreendida pelo Ministério da Saúde como a porta de entrada do usuário ao Sistema Único de Saúde (SUS) e seus dispositivos, além de ser caracterizada por ações que abrangem a promoção, prevenção e o cuidado em saúde. A partir das leituras realizadas e da prática vivenciada através do estágio, percebeu-se a necessidade de maior integração entre as equipes da Unidade básica de Saúde e as equipes do NASF e CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), no tocante a organização do fluxo e os processos de acolhimento, encaminhamento e acompanhamento, quando necessários. Outro fator tido como desafio é a não compreensão e atenção dos profissionais em relação aos cuidados em saúde mental. Havendo a necessidade de estudos, orientações e reuniões de discussões de casos. Através da observação das atividades realizadas pelo psicólogo do NASF e a sua inquietude em relação a prática e as adversidades no fazer saúde mental na atenção básica, isso inclui a leviandade da gestão, na oferta de apoio e mediação entre atenção básica e saúde mental, a falta de compartilhamento entre as equipes, no que diz respeito a necessidade de conciliar as diferentes realidades, como também na carência de planejamento no apoio matricial entre a atenção básica e o Centro de atenção psicossocial. Não esquecendo de citar a lógica desenvolvida pelo CAPS que ainda reflete na atenção a doença e no método ambulatorial, uma vez que essa pressão pode ser gerada através da expectativa do usuário, ou pelos próprios profissionais que não enxergam a amplitude de possiblidades da sua atuação. Foi a partir do levantamento desses e outros fatores que permitiu-se chegar a pergunta que norteou esta pesquisa Quais aos desafios existentes na promoção em saúde mental na atenção básica. Por meio desse questionamento suscitado na discussão evidenciouse que dentre os desafios encontram-se: a falta de aprimoramento na promoção da saúde mental na atenção básica; a despatologização em saúde mental; a carência da integração entre as equipes e a prática do apoio matricial. 2. Referencial Teórico 179
A partir dos referenciais teóricos utilizados na formulação deste estudo, foram observados alguns conceitos trazidos pelos autores consultados. A saúde mental por muito tempo foi e ainda é baseada no tratamento da loucura e na intolerância do comportamento do indivíduo, usando como principal ferramenta o aprisionamento, como forma de corrigir o diferente e proteger os demais indivíduos da sociedade. Os hospitais psiquiátricos deixaram de constituir-se como a base do sistema assistencial, abrindo o espaço para uma outra forma de atenção à saúde mental, devendo ser mais dinâmica, aberta, promovendo a integração do indivíduo à sociedade. Porém, essa realidade é algo que ainda está em desenvolvimento. Esse é o objetivo do CAPS, que preconiza o cuidado à saúde mental e a relação entre o sujeito, os serviços de saúde, seus familiares e o meio social. Promover saúde vai muito além de apenas minimizar os sinais e sintomas do indivíduo, mas sim, levar em consideração os aspectos subjetivos, sociais e emocionais trazidos pela pessoa. Despatologizar a saúde mental, é ir além da racionalidade biomédica. O cuidado não se restringe apenas ao biológico, e sim, buscar a concretização de projetos de vida e a singularidade do sujeito. 3. Metodologia A formulação do estudo se deu através da observação da prática aliada a uma revisão bibliográfica com base nos cadernos de atenção básica e da cartilha que norteia a prática do psicólogo na atenção básica, além de artigos científicos, que tratam a atuação dos/das profissionais da psicologia no NASF. Foi encontrado na maioria dos estudos as ações desenvolvidas pela atenção básica e os seus limites, além da importância do diálogo e a troca de saberes entre os profissionais atuantes nos serviços de saúde. Foram utilizados estudos que retratam os objetivos do NASF e a atuação do psicólogo, os desafios da atuação da saúde mental na atenção básica. Foi utilizado como banco de dados a plataforma SciELO, os Cadernos de Atenção Básica nas edições de 2010 e 2014, além da cartilha de Práticas profissionais de psicólogos e psicólogas na atenção básica à saúde mental, desenvolvida pelo Conselho Federal de 180
Psicologia. Utilizou-se como tempo cronológico de pesquisa escritos que datam de 2010 a 2017. Tendo como descritores: saúde mental, atenção básica, atuação da psicologia, NASF. Nos encontros semanais entre o estagiário e o psicólogo do NASF, durante a supervisão, foram discutidas as seguintes temáticas: a despatologização da saúde mental e a medicalização; a atuação do Psicólogo na atenção básica à saúde; o papel do NASF e o apoio matricial. 4. Resultados e Discussões Durante a prática de estágio no Núcleo de apoio à saúde da família, observando o funcionamento da promoção em saúde mental na atenção básica, foi visto que a lógica do olhar além da doença mental, e consideração do usuário como sujeito autônomo em suas múltiplas dimensões de vida, ainda é algo pouco concretizado na atuação dos profissionais em suas práticas. Seguindo por vezes, o modelo hegemônico que se concentra apenas nos fatores patológicos. Essa realidade ainda é seguida pelo CAPS do munícipio, que segue um padrão de acolhimento ambulatorial, voltado para o modelo hospitalocêntrico. Foi observado, que o sistema de saúde do município necessita de uma melhor estrutura para o atendimento as demandas em saúde mental, havendo pouca compreensão dos profissionais acerca do que se trata a saúde mental. Além da lógica do matriciamento, que também é considerada um desafio para a psicologia no que se refere ao planejamento de ações mais integradas entre equipes de referência (Atenção Básica) e equipes multiprofissionais (NASF e CAPS). 5. Considerações finais Foi a necessidade do trabalho focalizado na saúde coletiva com mais rigor, de forma multidisciplinar e interdisciplinar, para a desconstrução do modelo assistencial arraigado até os dias atuais. Evidenciou-se que o trabalho em saúde mental na atenção básica está focado 181
no tratamento da doença mental e na medicalização, esquecendo, por vezes, o olhar ao sujeito e sua integralidade, em seu sofrimento. A saúde mental dentro da atenção básica ainda é pouco difundida e valorizada, além disso, a rede de atenção básica parece ainda não conhecer ou compreender a importância do cuidado em saúde mental. A falta de conhecimento em saúde mental dos próprios profissionais e da gestão torna-se um grande desafio. A articulação entre as redes de atenção é um dos desafios encontrados. Notou-se a necessidade de uma rede de saúde mental mais eficiente, no sentido do acolhimento correto e do encaminhamento especializado. Referências CARDOSO, L; GALERA, S. A. F. O cuidado em saúde mental na atualidade. Rev. Esc. Enfermagem. USP, São Paulo: 2011. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Práticas profissionais de psicólogos e psicólogas na atenção básica à saúde. Brasília: 2010. CORBANEZI, E. R. Saúde mental e depressão: a função política de concepções científicas contemporâneas. UNICAMP, São Paulo: 2015. FURTADO, M. E. M. F; CARVALHO, L. B. O Psicólogo no NASF: potencialidades e desafios de um profissional de referência. Revista Psicologia e saúde. Campo Grande: 2015. LIMA, E. J. B. O cuidado em saúde mental e a noção do sujeito: pluralidade e movimento. Centro Edelstein de Pesquisas sociais. Rio de Janeiro: 2011. 182
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Diretrizes do NASF: Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Cadernos de atenção básica. Brasília: 2010. MINISTÉRIO DA SÁUDE. Núcleo de Apoio à Saúde da Família: Ferramentas para a gestão e para o trabalho cotidiano. Cadernos de atenção básica. Brasília: 2014. OLIVEIRA, I. F; AMORIM, K. M. O; PAIVA, P. A; et al. A atuação do Psicólogo nos NASF: desafios e perspectivas na atenção básica. Temas em Psicologia. Ribeirão preto: 2017. 183