AVALIAÇÃO DA GERMINAÇÃO DA ALFACE ROXA SUBMETIDA A DIFERENTES NÍVEIS DE SALINIDADE Begevane Cunha Rodrigues 1, Yasmim Sabino Nepomuceno Barroso 2, Aneli Eugênio Sampaio 2, Maria Luciana da Silva Mesquita 2, Lucélia Saboia Parente 3. RESUMO: A alface (Lactuca sativa L.) é uma das hortaliças mais difundidas atualmente, principalmente, devido a grande divergência genética existente entre as cultivares utilizadas pelos produtores. Os efeitos salinos sobre as plantas estão associados às dificuldades de absorção de água e toxicidade de íons específicos, afetando o crescimento das plantas e a disponibilidade de água, podendo provocar desequilíbrio nutricional ou toxidade iônica. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a germinação de sementes de alface roxa (Lactuca sativa L.) submetidas a diferentes níveis de salinidade da água de irrigação. O experimento foi conduzido no laboratório de Fitossanidade do Instituto Federal do Ceará Campus Sobral. Foram aplicados cinco tratamentos correspondendo aos níveis de salinidade 0,0; -0,2; -0,4; - 0,6 e -0,8 MPa e quatro repetições de 15 sementes cada. Os sais utilizados foram o cloreto de sódio (NaCl), o cloreto de cálcio (CaCl) e o cloreto de potássio (KCl). As variáveis avaliadas foram: germinação (%), comprimento da parte aérea (cm), comprimento da raiz (cm), peso seco da parte aérea (g) e peso seco da raiz (g). Observou-se que todas as variáveis estudadas foram afetadas significativamente pelos níveis salinos de -0,6 e -0,8 MPa. Os resultados mostraram que os diferentes tipos de sais não influenciaram significativamente as variáveis. PALAVRAS-CHAVE: irrigação, sais, Lactuca sativa L. EVALUATION OF GERMINATION OF PURPLE LETTUCE SUBMITTED TO DIFFERENT LEVELS OF SALINITY ABSTRACT: Lettuce (Lactucasativa L.) is one of the most widespread vegetables today, mainly due to the great genetic divergence between the cultivars used by the producers. Saline effects on plants are associated with the difficulties of water absorption and specific ion toxicity, affecting plant growth and water availability, which may lead to nutritional imbalance or ionic toxicity. The objective of the present work was to evaluate the germination of seeds of purple lettuce (Lactucasativa L.) submitted to different levels of irrigation water salinity. The experiment was conducted at the Phytosanitary laboratory of the Federal Institute of Ceará - Campus Sobral. Five treatments were applied corresponding to the salinity levels 0,0; -0.2; -0.4; -0.6 and -0.8 MPa and four replicates of 15 seeds each. The salts used were sodium chloride (NaCl), calcium chloride (CaCl) and potassium chloride (KCl). The evaluated variables were: germination (%), shoot length (cm), root length (cm), shoot dry weight (g) and root dry weight (g). It was observed that all variables studied were significantly affected by saline levels of -0.6 and -0.8 MPa.The results showed that the types of salts did not significantly influence the variables. KEY WORDS: irrigation, salts, Lactuca sativa L. 1 Graduanda no curso de Tecnologia em Irrigação e Drenagem, IFCE/Sobral, CEP 62480-000, Moraújo-Ce. Fone (88) 992354515, e-mail: begivanerodrigues@hotmail.com 2- Graduandas do curso de Tecnologia em Irrigação e Drenagem, IFCE/Sobral. 3- Prof. Mestre do Eixo de Recursos Hídricos, IFCE/ Sobral
INTRODUÇÃO A alface (Lactuca sativa L.) é uma das hortaliças mais difundidas atualmente, sendo cultivada por todo país, devido, principalmente, a grande divergência genética existente entre as cultivares utilizadas pelos produtores (Sousa et al., 2007), a alface roxa é muito utilizada para o preparo de saladas mistas conferindo maior atratividade para o consumidor (Costa & Sala, 2005). Os efeitos da salinidade sobre as plantas estão associados às dificuldades de absorção de água e toxicidade de íons específicos (Silva et al., 1999), inibindo o crescimento das plantas, restringindo a disponibilidade de água, podendo, ainda, ocasionar toxicidade iônica, desequilíbrio nutricional, ou ambos (Boursier & Lauchli,1990). O processo de germinação inicia-se com a absorção de água pela semente e termina com o início do alongamento de eixo embrionário, podendo ser identificado pela protrusão da radícula do embrião (Bewley & Black, 1982). A concentração salina que causa o atraso e a redução no número de sementes germinadas depende da tolerância à salinidade de cada espécie individual (Ungar, 1982). Segundo Ayers&Westcot (1999), a alface é moderadamente sensível à salinidade, tendo a produção decrescida em 13%, por aumento unitário de condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes) acima de 1,3 ds m-1; em termos de condutividade elétrica de água (CEa) o limiar seria de 0,9 ds m-1. Diante da necessidade de estudos sobre os efeitos da salinidade da água de irrigação na germinação da alface roxa, este trabalho teve como objetivo verificar a tolerância de sementes de alface roxa à salinidade durante a germinação. MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho foi conduzido no laboratório de Fitossanidade do Instituto Federal do Ceará (IFCE), campus Sobral. O teste de germinação com sementes de alface (Lactuca sativa L.) foi realizado em um conjunto de placas de Petri com substrato de filtro qualitativo. Este conjunto foi esterilizado previamente. O experimento foi composto de cinco tratamentos (0,0; -0,2; - 0,4; -0,6 e -0,8 MPa) com três sais (NaCl, KCl e CaCl) e quatro repetições de 15 sementes cada, totalizando 900 sementes. Posteriormente as sementes foram mantidas em câmara de germinação tipo BOD a 25 C. Foram realizadas duas avaliações, a primeira aos quatro dias de experimento determinou o número de sementes germinadas, em cada concentração, a segunda avaliação foi realizada aos 10 dias após a semeadura. As variáveis analisadas na segunda avaliação foram comprimento da parte aérea (cm), comprimento da raiz (cm), peso seco da parte aérea (g), e peso seco da raiz (g).
Tabela 1. Quantidade de cada sal (em gramas) para cada concentração avaliada, Cloreto de Sódio, Cloreto de Potássio e Cloreto de Cálcio. SAIS Potenciais osmóticos (MPa) 0,0-0,2-0,4-0,6-0,8 NaCl (g.lˉ¹) 0,0 2,95 6,00 8,95 11,95 KCl (g.lˉ¹) 0,0 3,57 7,15 10,73 14,3 CaCl (g.lˉ¹) 0,0 5,32 10,64 15,95 21,27 NaCl (PM 58,44 g/mol), KCl (PM74,56 g/mol) e CaCl (PM 110,9 g/mol). Tabela 2: Croqui do ensaio Sais (PA) Potenciais osmóticos (MPa) 0,0-0,2-0,4-0,6-0,8 NaCl 111; 112; 113 121; 122; 123 131; 132; 133 141; 142; 143 151; 152; 153 KCl 211; 212; 213 221; 222; 223 231; 232; 233 241; 242; 243 251; 252; 253 CaCl 311; 312; 313 321; 322; 323 331; 332; 333 341; 342; 343 351; 352; 353 As quantidades de NaCl, KCl ecacl para se obter os referidos potenciais foram calculados a partir da equação de Van thoff, citada por Salisbury& Ross (1992): Ψπ= -i*c*r*t (01) em que: Ψπ- é o potencial osmótico, em bar; i- é o coeficiente isotônico; C- é a concentração da solução, expressa em moles de solução por Kg de água; R- é a constante universal dos gases (0,0831) kg bar Kˉ¹ molˉ¹); T- é a temperatura, em ºK. RESULTADOS E DISCUSSÕES As variáveis analisadas foram de modo geral, afetadas significativamente pelos níveis de salinidade, como mostra a tabela 3, sendo o peso seco da raiz a variável que mais sofreu interferência da salinidade da água (representadano gráfico 1). Os níveis -0,6 e -0,8 MPa foram os que mais interferiram na germinação, no comprimento da parte aérea e da raiz e no peso seco da parte aérea e da raiz. As hortaliças no caso são consideradas as plantas cultivadas mais sensíveis à salinidade, pequenos aumentos nas doses de sal podem diminuir a produção destas culturas, tanto em quantidade quanto em qualidade. Lira et al. (2011) trabalhando com manjerição, observaram as concentrações salinas utilizadas (0,17; 2; 3; 4; 5 e 6 ds m-1) influenciaram significativamente os resultados da variável porcentagem de germinação nas condições de estudos avaliadas. Visto que o excesso de sais solúveis provoca uma redução do potencial hídrico, induzindo menor capacidade de absorção de água pelas sementes.
Peso (mg) Tabela 3: Resumo da análise de variância da germinação (GER), comprimento da parte aérea (CP PA), comprimento da raiz (CP RAIZ), peso seco da parte aérea (PS PA) e peso seco da raiz (PS RAIZ) de alface roxa em função da salinidade da água. Fonte de Variação GL Quadrados Médios GER (%) CP PA (cm) CP RAIZ (cm) PS PA (g) PS RAIZ (g) SAL 2 60,228 ⁿˢ 4,498** 0,783* 0,096 ⁿˢ 0,00044 ⁿˢ Níveis sais 4 8346,654** 43,676** 18,884** 0,702** 0,0327** Int. S x N 8 35,540 ⁿˢ 2,747** 0,496 ⁿˢ 0,037ⁿˢ 0,001612 ⁿˢ Erro 30 46,414 0,544 0,226 0,037 0,005025 CV(%) - 33,08 32,96 36,04 63,92 168,51 ** Significativo a 1,0% de probabilidade, pelo teste de F; * significativo ao nível de 5% de probabilidade (.01 =< p <.05) ns Não significativo pelo teste de F. A Peso seco Raiz A Concentração (MPa) B B B Fifura 1. Análise do peso seco da raiz da alface roxa em função da concentração de sais da água. A cultivar expressa na figura 1, se desenvolveu melhor apenas nos dois primeiros tratamentos que continham mínima concentração de sais. Sendo assim, mostrou-se com pouco rendimento na sua massa. Torres (2007) também observaram redução dos parâmetros de massa seca e comprimento para plântulas de melancia de acordo com o aumento da condutividade elétrica, dessa forma, efeitos adversos nas maiores concentrações desta solução na germinação e no desenvolvimento de plântulas. CONCLUSÃO A salinidade da água diminuiu a germinação da alface roxa; A parte aérea foi a variável mais afetada pelos níveis salinos;
Os menores valores de germinação, comprimento da parte aérea, comprimento da raiz, peso seco da parte aérea e peso seco da raiz foram encontrados à medida que os níveis de sais iam aumentando; Os tipos de sais não afetaram significativamente as variáveis. REFERÊNCIAS AYERS, R.S.; WESTCOT, D.W. A qualidade da água na agricultura.estudos FAO: Irrigação e Dre-nagem, 29 Revisado 1. 2 ed. Campina Grande: UFPB, 1999. 153p. BEWLEY, J. D.; BLACK, M. Physiology and biochemistry of seed in relation to germination: viability, dormancy and environmental control. Berlin: Springer-Verlag, 1982. 375 p. BOURSIER, P.; LAUCHLI, A. Growth responses and mineral nutrient relations of saltstressed Sorghum.Crop Science, Madison.v.30, p.1226-1233, 1990. COSTA, C.P.; SALA, F.C. A evolução da alfacicultura brasileira (artigo de capa). Horticultura Brasileira, v.23, n.1, 2005. SILVA, E. F. F., DUARTE, S. N., FURLAN, R. A., FERREIRA, Y. R. P.,; MIRANDA, J. H. Utilização de águas com diferentes níveis de salinidade na irrigação da alface. Revista de Horticultura Brasileira, Brasília, v.17, n.3, 327. 1999. LIRA, J. de V. de; ELOI, W. M.; SALES. M. A. de L.; RIBEIRO, A. A.; NOGUEIRA, S. L. Efeito de diferentes níveis de salinidade na germinação de sementes de manjericão. IN: XXXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Uberlândia, MG, 2011. SOUSA, C. S.; BONETTI, A. M.; GOULART FILHO, L. R.; MACHADO, J. R. A.; LONDE, L. N.; BAFFI, M. A.; RAMOS, R. G.; VIEIRA, C. U.;KERR, W. E. Divergência genética entre genótipos de alface por meio de marcadores AFLP. Bragantia, v.66, p.11-16, 2007 TORRES, S.B. Germinação e desenvolvimento de plântulas de melancia em função da salinidade. Revista Brasileira de Sementes, v.29, n.3, p.77-82, 2007. UNGAR, I.A. Germination ecology of halophytes. In: D.N. SEN; K.S. RAJPUROHIT, editors, Contribuition to the ecology of halophytes. Asks for vegetation science, v.2, S.1. W. Junk Publishers, The Hague, Netherlands, 1982. p.143-154.