DIREITOS HUMANOS. Estatuto de Roma e o Tribunal Penal Internacional Parte 1. Profª. Liz Rodrigues

Documentos relacionados
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

DIREITO INTERNACIONAL

I - Crimes contra a Humanidade

CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E REPRESSÃO DO CRIME DE GENOCÍDIO, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1948

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E REPRESSÃO DO CRIME DE GENOCÍDIO, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1948

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL: O FIM DA CARTA BRANCA AOS PODEROSOS E O COMEÇO DE UMA ERA DE JUSTIÇA

A questão de gênero nas decisões dos tribunais penais internacionais. Professora Camila Lippi (LADIH- UFRJ) Curso Universitários Pela Paz

AMNISTIA INTERNACIONAL

OAB 1ª Fase Direitos Humanos Emilly Albuquerque

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL: A DIFERENÇA DA CONCEPÇÃO TEÓRICA E ATUAÇÃO PRÁTICA DO BRASIL EM COMPARAÇÃO COM OS EUA

DIREITOS HUMANOS. Estatuto de Roma e o Tribunal Penal Internacional Parte 2. Profª. Liz Rodrigues

SOCIEDADE INTERNACIONAL. SUJEITOS NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. PROFA. ME. ÉRICA RIOS

O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL EM CRIMES DE GUERRA

Tribunal Penal Internacional. Carlos Eduardo Adriano Japiassú

P7_TA(2011)0155 Utilização da violência sexual em conflitos no Norte de África e no Médio Oriente

termos da lei. transferido para a reserva, nos termos da lei complementar. termos da lei. termos da constituição. b) por tribunal especial.

DECRETO Nº 4.388, DE 25 DE SETEMBRO DE 2002.

Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional

AMNISTIA INTERNACIONAL

DIREITO INTERNACIONAL

PROJECTO DE LEI N.º 405/VIII

Divisão de Atos Internacionais

Reconhecendo que crimes de uma tal gravidade constituem uma ameaça à paz, à segurança e ao bem-estar da humanidade,

DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA

Tribunal Penal Internacional

PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

PROJETO DE RELATÓRIO

11) A população do Quilombo da Cachoeira e da Pedreira é surpreendida com o lançamento do Centro de Lançamento de Foguetes da Cachoeira e da Pedreira

DIREITO CONSTITUCIONAL

AMNISTIA INTERNACIONAL

APOSTILA ESQUEMATIZADA SOBRE OS PRINCÍPOS FUNDAMENTAIS E TIPOS PENAIS PREVALENTES NO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL-TPI

PROPOSTA DE LEI N.º 72/IX

OS TRIBUNAIS PENAIS INTERNACIONAIS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS: DE NUREMBERG AO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL (TPI)

Direito Internacional dos Direitos Humanos Nova Mentalidade Emergente Pós Juruá Editora. Curitiba, 2006

DIREITO INTERNACIONAL

Convenção sobre Prevenção e Repressão de Infracções contra Pessoas Gozando de Protecção Internacional, Incluindo os Agentes Diplomáticos.

PÓS GRADUAÇÃO PENAL E PROCESSO PENAL Legislação e Prática aula 1. Professor: Rodrigo J. Capobianco

A proteção internacional dos Direitos Humanos

,%81$/3(1$/,17(51$&,21$/

ESTATUTO DE ROMA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL (TPI) Decreto do Presidente da República n.º 2/2002

DIREITOS HUMANOS. Daniel Gueiros

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição (JusNet 7/1976), o seguinte:

Rights. 1 Introdução. Eneida Orbage de Britto Taquary Catharina Orbage de Britto Taquary RESUMO

DIREITOS HUMANOS. Direito Internacional dos Direitos Humanos. Características dos Direitos Humanos Parte 1. Profª. Liz Rodrigues

CONHECENDO O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL KNOWING THE INTERNATIONAL CRIMINAL COURT

CONFERÊNCIA TRÁFICO DE SERES HUMANOS PREVENÇÃO, PROTECÇÃO E PUNIÇÃO O TRÁFICO DE SERES HUMANOS * ENQUADRAMENTO LEGAL GERAL

ESTATUTO DE ROMA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL (TPI) Decreto do Presidente da República n.º 2/2002

DIREITO PENAL. Crimes decorrentes de preconceito de raça ou cor. Lei nº 7.716/1989. Parte 2. Prof.ª Maria Cristina.

Direitos Humanos na Constituição Brasileira: Avanços e Desafios

Direito Penal. Lei de crimes hediondos. Parte 1. Prof.ª Maria Cristina

PROPOSTA DE RESOLUÇÃO

Direitos Humanos em Conflito Armado

Direito Internacional Público

DIREITOS HUMANOS. Direito Internacional dos Direitos Humanos. Direitos Humanos, Direito Humanitário e Direito dos Refugiados. Profª.

Direito Internacional Público. D. Freire e Almeida

Alteração ao artigo 8.º

UNTAET. UNITED NATIONS TRANSITIONAL ADMINISTRATION IN EAST TIMOR Administração Transitória das Nações Unidas em Timor-Leste REGULAMENTO N 2000/15

Direito Internacional dos Direitos Humanos Gonzalo Lopez

OS MENINOS SOLDADOS DO CONGO: REFLEXOS NO BRASIL. Kelvin de Souza Klein 1, Liliam Radünz 2

DIREITOS HUMANOS. Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos: Instrumentos Normativos

PÓS GRADUAÇÃO PENAL E PROCESSO PENAL Legislação e Prática. Professor: Rodrigo J. Capobianco

Eduardo e outros-col. Leis Especiais p Conc-v45.indd 13 25/11/ :33:53

VIOLAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL

Reconhecendo que esses graves crimes constituem uma ameaça para a paz, a segurança e o bem-estar da humanidade,

AMNISTIA INTERNACIONAL

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

1 INTRODUÇÃO: SOCIEDADE INTERNACIONAL E A SOBERANIA DOS ESTADOS

ESTATUTO DE ROMA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

Direitos Humanos. Professor Marcelo Miranda.

Aula 9-7 de junho! Tribunal Penal Internacional!

O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

Palavras-chave: Tribunal Internacional. Crimes contra humanidade. Direitos humanos.

SALOMÃO ALMEIDA BARBOSA TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL: AFIRMAÇÃO CONTEMPORÂNEA DE UMA IDÉIA CLÁSSICA E SUA RECEPÇÃO NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

h"ps:// /icc- finds- thomas- lubanga- guilty- using- child- soldiers NISC Aula 10! 14 de junho! Caso Lubanga!

O Tribunal Penal Internacional e a definição do crime de agressão após a Conferência em Kampala de 2010

DIREITOS HUMANOS. Sistema Europeu de Direitos Humanos. Profª. Liz Rodrigues

Sumário. PARTE I PARTE GERAL Capítulo I NOÇÕES GERAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS. Capítulo II RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO E DIREITOS HUMANOS

SUMÁRIO. 3. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 3.1 Introdução 3.2 Competência 3.3 Composição do tribunal 3.4 Órgãos do tribunal

Direito Internacional Humanitário (DIH) e Direito Penal Internacional (DPI) Profa. Najla Nassif Palma

CONTATO DO DE LUCA Facebook: profguilhermedeluca Whatsapp: (18)

A Aplicação da Jurisdição Complementar do Tribunal Penal Internacional diante da Decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a Lei de Anistia

A EVOLUÇÃO DA DEFINIÇÃO DOS CRIMES INTERNACIONAIS: UMA COMPARAÇÃO ENTRE O ESTATUTO DE ROMA, O DIREITO FRANCÊS E O DIREITO BRASILEIRO

Implementação do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional em Portugal

A CONSTITUCIONALIDADE DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

O Tribunal Penal Internacional e a definição do crime de agressão após a Conferência em Kampala de 2010

PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

Washington University School of Law Whitney R. Harris World Law Institute Iniciativa sobre os Crimes contra a Humanidade

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE Parlamento nacional

FEDERATION INTERNATIONALE DES FEMMES DES CARRIERES JURIDIQUES

a) Objetivo ou material: é a fixação da prática como habitual, durante período razoável de tempo.

DIREITOS HUMANOS. Política Nacional de Direitos Humanos. Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência. Profª.

TEORIA GERAL DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

XXV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - BRASÍLIA/DF

DECLARAÇÃO SOBRE A PROTEÇÃO DE TODAS AS PESSOAS CONTRA A TORTURA E OUTRAS PENAS OU TRATAMENTOS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES

Conferência de Revisão do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional

Legislação Penal Especial Lei de Tortura Liana Ximenes

Transcrição:

DIREITOS HUMANOS Estatuto de Roma e o Tribunal Penal Internacional Parte 1. Profª. Liz Rodrigues

- A Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (1948) já previa a criação de um tribunal internacional para o julgamento de pessoas, em situações de extrema gravidade. - Porém, apenas em 1998, com o Estatuto de Roma, é que o Tribunal Penal Internacional foi efetivamente criado. - O Estatuto entrou em vigor em 2002 e o TPI foi instalado oficialmente em 2003.

- O Tribunal Penal Internacional é uma instituição permanente, com jurisdição sobre pessoas responsáveis por crimes de maior gravidade, desde que atendidos alguns requisitos. - Este tribunal é complementar e subsidiário às jurisdições penais nacionais. - O TPI tem personalidade jurídica própria, mas pode atuar em cooperação com a Organização das Nações Unidas. Há um acordo específico entre as duas instituições.

- Brasil: participa do TPI desde 2002. - Observe: - Art. 5º, 4º, CF/88: O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.

- A sede do TPI fica em Haia (Países Baixos), mas pode funcionar em outro local, se necessário. - A adesão ao TPI se faz pela ratificação do Estatuto de Roma; não são admitidas reservas. - O Estado pode retirar-se do tratado, mas a denúncia só produzirá efeitos após um ano do recebimento da notificação escrita pelo Secretário-Geral da ONU.

- Competência material: crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes de agressão. A Conferência de Kampala (2010) definiu os crimes de agressão. - Há algumas limitações na atuação do TPI: o tribunal só age em caso de crimes mais graves que afetam a comunidade internacional.

- Em se tratando de crimes contra a humanidade, só quando o ato for parte de um ataque generalizado ou sistemático contra a população civil. - Em caso de crimes de guerra, é preciso que os atos sejam parte de um plano ou de uma política ou como parte de uma prática em larga escala desse tipo de crime.

- Crime de genocídio (art. 6º, Estatuto): exige a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso e inclui as seguintes condutas: - Homicídio de membros do grupo; - Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo; - Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar sua destruição física, total ou parcial;

- Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo; - Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo; - Crime de agressão: o planejamento, a preparação, o início ou a execução, por pessoa em posição efetiva para exercer controle ou dirigir a ação política ou militar de um Estado, de um ato de agressão o qual, pelo seu caráter, gravidade e escala, constitui violação manifesta da Carta das Nações Unidas (Kampala).

- Crimes contra a humanidade (art. 7º, Estatuto): são atos cometidos em um quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, podendo incluir homicídio, extermínio, escravidão, deportação ou transferência forçada de uma população, prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de direito internacional, tortura, agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual.

- Também são crimes contra a humanidade a perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, o desaparecimento forçado de pessoas, o crime de apartheid e outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental.