1 Escherichia coli COM ELEVADO PERFIL DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS ISOLADA DA URINA DE UM CÃO COM CISTITE (RELATO DE CASO) DANILO MUNDIM SILVA 1, BRUNO CABRAL PIRES 1, LÍGIA PINHO CUCCATO 1, THAIS FERNANDA MARTINS DOS REIS 1, LAÍS MIGUEL REZENDE 2, ANDREIA ZAGO CIUFFA 2, VANESSA ELISA TENÓRIO DE GODOI 3, ANNA MONTEIRO CORREIA LIMA 4 1- Residente em Medicina Veterinária Preventiva no Programa de Residência Uniprofissional da Universidade Federal de Uberlândia 2- Mestranda no Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU)/bolsitas CAPES 3- Graduanda em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Uberlândia 4- Docente na Faculdade de Medicina Veterinária da UFU Resumo Um desafio para o tratamento de doenças bacterianas constitui-se na possibilidade de ocorrência de resistência por parte de alguns microorganismos contra várias classes de antibióticos utilizados na rotina hospitalar. Diante disso, o objetivo do presente trabalho foi relatar o caso de uma E. coli com elevado perfil de resistência aos antimicrobianos isolada da urina proveniente de um cão com cistite. Palavras-chave: caninos, resistência a antibióticos, infecção do trato urinário Escherichia coli WITH HIGH PROFILE OF ANTIMICROBIAL RESISTANCE ISOLATED URINE OF A DOG WITH CYSTITIS (CASE REPORT) Abstract A challenge for the treatment of bacterial diseases constitutes the possibility of some of resistance of microorganisms against various classes of antibiotics used in the hospital routine. Thus, the aim of this study was to report the case of E. coli with high profile resistance to antibiotics isolated from the urine of a dog with cystitis. 2377
2 Keywords: canines, resistance to antibiotics, urinary tract infection Introdução Um desafio para o tratamento de doenças bacterianas constitui-se no desenvolvimento de resistência contra varias classes de antibióticos utilizados na rotina hospitalar (Wright, 2010). As infecções bacterianas do trato urinário (ITU s) são frequentes em animais, sendo o patógeno mais comumente diagnosticado a Escherichia coli (Carraro-Eduardo e Gava, 2012). Ao longo dos anos, houve uma evolução no perfil de multirresistência em cepas de origem animal, sendo os cães e gatos os mais acometidos (Ball et al., 2008, Gibson et al., 2008). O que constitui um sério problema para a medicina veterinária, portanto o objetivo do presente trabalho foi relatar um caso clínico de um cão da raça Dálmata, com diagnóstico de ITU por E.coli, a qual apresentou elevada resistência a dez dos doze antimicrobianos testados. Relato de Caso Um cão da raça Dálmata, com dois anos, atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia, o qual apresentava histórico de disúria, na anamnese foi observado um aumento de volume na bexiga, a suspeita clínica era ITU ou obstrução, para tanto foram solicitados além do Hemograma, Bioquímica, Creatinina, os exames de Cultura e Teste de Sensibilidade a Antimicrobianos (TSA). O animal foi a óbito antes da conclusão do TSA. Materiais e Métodos 2378
3 Todos os testes utilizados, para identificação do agente infeccioso e suas análises, foram feitos de acordo com o protocolo proposto pelo Manual de Procedimentos Básicos em Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção Relacionada à assistência à Saúde (Anvisa,2010). O teste de sensibilidade a antimicrobianos (TSA) foi realizado com difusão em disco de Kirby e Bauer (1996), onde foram testados 12 antimicrobianos potencialmente prescritos. Resultados No ágar McConkey e no ágar sangue, as colônias se mostraram sugestivas para E.coli, apresentando se com uma coloração rosa, no primeiro e com coloração acinzentadas e mais ressecadas no segundo ágar. Os resultados das provas bioquímicas foram: Motilidade-positivo; Produção de H 2 S-positivo; Indol-positivo; Ureia de Christensen-negativo; Citrato de Simons-negativo; Lisina-positivo; Fermentação da lactose-positivo; Glicose-positivo; Produção de gáspositivo; Fenilalanina-negativo. Os resultados do teste sensibilidade a antimicrobianos (TSA) estão na tabela 1. Tabela 1. Resultado do Teste Sensibilidade aos Antimicrobianos. Princípio Ativo Testado Perfil de Resistência /Susceptibilidade Cefalexina Ceftiofur Ampicilina Sulfametoxazol + Trimetoprim Tetraciclina Neomicina Cefalotina Amoxacilina + Clavulanato Enrofloxacina Tobramicina Gentamicina Sensível Intermediário de 2379
4 Ciproflixacina Discussão: Baseado nos resultados encontrados, a E.coli foi o agente causador da ITU, o que corrobora com Carvalho (2014), o qual encontrou entre a E.coli, presente em 53% das amostras de urina de cães e 70% das amostras de gato com ITU. Seguin (2003) em um estudo retrospectivo com 100 cães com ITU verificou 441 isolados de bactérias, sendo que 47.4% eram de E.Coli, mostrando a importância desse agente nestas infecções. Quando avaliado o perfil de suscetibilidade desta bactéria com os antimicrobianos usados, ela se mostrou sensível somente ao Ceftiofur e uma resistência intermediária ao Tobramicina, sendo resistente aos outros dez antimicrobianos testados, resultado preocupante, pois mostra alta resistência bacteriana, dificultando o tratamento do animal. As drogas consideradas de primeira escolha para o tratamento de ITUs nos cães, são a sulfa+trimetoprim, amoxicilina, cefalexina (BarsantI, 2006) e tetraciclina (Thompson et al., 2011), as quais apresentaram resistência neste trabalho, segundo Santos (2004), o uso indiscriminado de antibióticos, aumenta a pressão seletiva das bactérias facilitando a aquisição de mecanismos de resistência. A enrofloxacina é indicada, quando já existe um quadro estabelecido de resistência às drogas de primeira escolha, porém ela também apresentou resistência neste trabalho, ressaltando a importância da resistência às fluorquinolonas tanto em cepas animais quanto nas de origem humana (Andrade et al., 2006; Barsanti, 2006). Conclusão 2380
A multirresistência verificada deste cão com cistite dificultou a intervenção terapêutica, visto que a E.coli estava com sensibilidade apenas para ceftiofur e sensibilidade intermediária para tobramicina. O óbito do cão poderia ter sido evitado com uma conduta terapêutica adequada e embasada no TSA. 5 Referências ANDRADE, S.S.; SADER, H.S.; JONES, R.N. et al. Increased resistance to first-line agents among bacterial pathogens isolated from urinary tract infections in Latin America: time for local guidelines? Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.101, n.7, p.741-748, 2006. BALL, K.R.; RUBIN, J.E.; CHIRINO-TREJO, M. et al. Antimicrobial resistance and prevalence of canine uropathogens at the Western College of Veterinary Medicine Veterinary Teaching Hospital, The Canadian Veterinary Journal, v.49, n.10, p.985-90, 2014. BARSANTI, J.A. 2006. Genitourinary infections, p.626-646. In: Greene C.E. (Ed.), Infectious Diseases of the Dog and Cat. 2 nd ed. W.B. Sauders, Philadelphia. p.1387. CARRARO-EDUARDO, J.C.; GAVA, I. A. O uso de vacinas na profilaxia das infecções do trato urinário, Jornal Brasileiro de Nefrologia, vol.34, n.2, 2012. CARVALHO, V.M.; et.al.infecções do trato urinário (ITU) de cães e gatos: etiologia e resistência aos antimicrobianos, Pesquisa Veterinária Brasileira, v.34, n.1, 2014. GIBSON, J.S.; MORTON, J.M.; COBBOLD, R.N.; SIDJABAT. et al. Multidrugresistant E. coliand enterobacter extraintestinal infection in 37 dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.22, n.4, p.844-850, 2008. MOURA, L. B.; FERNANDES, M. G. A Incidência de Infecções Urinárias Causadas por E. Coli, Olhar Científico Faculdades Associadas de Ariquemes, v. 01, n.2, p. 411-426. 2010 SEGUIN, M.A.; VADEN, S.L.; ALTIER, C.et al. Persistent urinary tract infections and reinfections in 100 dogs (1989-1999). Journal of Veterinary Internal Medicine, v17, n.5, p.622-631, 2003. THOMSON, M.F.; LISTER, A.L.; PLATELL, J.L.; TROTT, D.J. Canine bacterial urinary tract infection: New developments in old pathogens. Veterinary Journal, n.190, p.22-27, 2011. WRIGHT, G. D. Antibiotic resistance in the environment: a link to the clinic, Microbiology, v. 13, p. 589 594, 2010. 2381