140 ANOS DA REVISTA ESPÍRITA

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Transcrição:

140 ANOS DA REVISTA ESPÍRITA Eliseu da Mota Júnior motajunior@uol.com.br No dia 1º de janeiro de 1858 circulava em Paris, a florescente capital francesa, a edição inaugural da Revista Espírita Jornal de estudos psicológicos, publicada sob a direção de Allan Kardec, que, orientado pelos Espíritos superiores, financiou praticamente sozinho os primeiros números daquele veículo de informação espírita. Acontece que a Doutrina Espírita ainda estava no seu berçário, porque ela havia nascido no dia 18 de abril de 1857, com o lançamento oficial da primeira edição de O Livro dos Espíritos, de onde podemos deduzir que a Revista Espírita circulou fora do movimento espírita, que na verdade ainda nem existia. Desse modo, a Revista foi posta à venda nas melhores livrarias da França e mesmo da Europa, porque logo depois contaria com expressivo número de assinantes, conforme revela uma simples pesquisa na coleção daquele que é o principal repositório do admirável trabalho jornalístico desenvolvido por Allan Kardec. Sendo assim, quando estamos comemorando, neste dia 1º de janeiro de 1998, o 140º aniversário da Revista Espírita, coincidindo com as profundas modificações que estão sendo operadas na Casa Editora O Clarim, fundada por Cairbar Schutel e responsável pela edição da RIE - Revista Internacional de Espiritismo, que brevemente também estará nas principais livrarias e bancas de jornais do país, vamos investigar, na introdução publicada por Allan Kardec no primeiro número da Revista Espírita, quais teriam sido os seus propósitos com a publicação de uma revista com o subtítulo de jornal de estudos psicológicos. Vejamos. Página 1

P. Qual a utilidade de uma revista para a Doutrina Espírita? R. Seria desnecessário contestar a utilidade de um órgão especial, que ponha o público a par do progresso desta nova Ciência e a premuna contra os exageros da credulidade, tanto quanto do ceticismo. É uma tal lacuna que nos propomos preencher com a publicação desta Revista, com o fito de oferecer um meio de comunicação a todos quantos se interessam por estas questões e de ligar, por um laço comum, os que compreendem a Doutrina Espírita sob o seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade evangélica para com todos. P. Uma revista espírita deve conter apenas uma coleção de fatos? R. Se se tratasse apenas de uma coleta de fatos, fácil seria a tarefa; estes se multiplicam em toda parte com tal rapidez que não faltaria matéria; mas os fatos, por si sós, tornam-se monótonos pela repetição e, principalmente, pela similitude. O que é necessário ao homem que pensa é algo que lhe fale à inteligência. Faz poucos anos que se manifestaram os primeiros fenômenos e já estamos longe das mesas girantes e falantes, que representavam sua infância. Hoje é uma ciência que descobre todo um mundo de mistérios, que patenteia as verdades eternas, apenas pressentidas por nosso espírito; é uma doutrina sublime que mostra ao homem o caminho do dever e descobre o mais vasto campo jamais apresentado à observação do filósofo. P. Quais as linhas mestras da Revista Espírita? Por que o subtítulo de jornal de estudos psicológicos? Página 2

R. No que concerne às manifestações atuais, relataremos todos os fenômenos patentes que testemunharmos ou que chegarem ao nosso conhecimento, sempre que nos parecerem merecedores da atenção dos nossos leitores. Do mesmo modo faremos em relação aos efeitos espontâneos, por vezes produzidos entre pessoas alheias às práticas espíritas, que ora revelam um poder oculto, ora a independência da alma. Tais são as visões, as aparições, a dupla vista, os pressentimentos, os avisos íntimos, as vozes secretas etc. Ao relato dos fatos juntaremos a explicação, tal qual ressalta do conjunto dos princípios. A este respeito faremos notar que esses princípios são decorrentes do mesmo ensino dado pelos Espíritos, e que faremos sempre abstração de nossas próprias idéias. Não se trata, pois, de uma teoria pessoal, mas da que nos foi comunicada e da qual seremos simples intérpretes. Largo espaço será igualmente reservado às comunicações escritas ou verbais dos Espíritos, desde que tenham um fim útil, assim como às evocações de personagens antigos ou atuais, conhecidas ou obscuras, sem desprezar as evocações íntimas que, muitas vezes, nem por isso são menos instrutivas. Numa palavra: abarcaremos todas as fases das manifestações materiais e inteligentes do mundo incorpóreo. A Doutrina Espírita oferece-nos enfim a solução possível e racional de uma porção de fenômenos morais e antropológicos, que testemunhamos diariamente, e cuja explicação inutilmente buscaremos em todas as doutrinas conhecidas. Nesta categoria colocaremos, por exemplo, a simultaneidade de pensamentos, as anomalias de certos caracteres, as simpatias e antipatias, os conhecimentos intuitivos, as aptidões, as propensões, os destinos que parecem marcas da fatalidade e, num quadro mais geral, o caráter distintivo dos povos, seu progresso ou sua degenerescência etc. À citação dos fatos juntaremos a pesquisa das causas Página 3

que as poderiam ter produzido. Da apreciação dos atos brotarão, naturalmente, ensinamentos úteis, quanto à linha de conduta mais conforme à sã moral. Em suas instruções os Espíritos superiores têm sempre o objetivo de despertar nos homens o amor do bem pela prática dos preceitos evangélicos: por isso mesmo traçam-nos o pensamento que deve presidir à redação desta coletânea. Como se vê, nosso quadro compreende tudo quanto se liga ao conhecimento da parte metafísica do homem. Estudá-la-emos no seu estado presente e no futuro, pois estudar a natureza dos Espíritos é estudar o homem, por isso que este um dia participará do mundo dos Espíritos. Eis porque adicionamos ao título principal, o subtítulo jornal de estudos psicológicos, a fim de dar a compreender toda a sua importância. Nota : Allan Kardec acrescentou, no final da introdução à Revista Espírita, na edição de 1º de janeiro de 1858, uma nota que, com a única adaptação de referir-se a obras brasileiras no 10º item, terá inteira aplicação à RIE - Revista Internacional de Espiritismo, a partir do número de fevereiro de 1998. Eis a nota na sua íntegra: Por mais abundantes que sejam nossas observações pessoais e as fontes onde as colhemos, nem dissimulamos as dificuldades da tarefa, nem nossa insuficiência. Para a suplementar, contamos com o concurso benévolo de todos quantos se interessam por esses problemas. Seremos, pois, gratos pelas comunicações que nos forem transmitidas sobre os diversos assuntos de nossos estudos. Neste propósito chamamos a atenção para os dez pontos seguintes, sobre os quais nos poderão fornecer documentos: 1.º) Manifestações materiais ou inteligentes, obtidas em reuniões a que estiverem presentes; Página 4

2.º) Fatos de lucidez sonambúlica e de êxtase; 3.º) Fatos de segunda vista, previsões, pressentimentos, etc.; 4.º) Fatos relativos ao poder oculto atribuído, com ou sem razão, a certas pessoas; 5.º) Lendas e crenças populares; 6.º) Fatos de visões e aparições; 7.º) Fenômenos psicológicos particulares, que por vezes ocorrem no momento da morte; 8.º) Problemas morais e psicológicos a resolver; 9.º) Fatos morais, atos notáveis de devotamento e abnegação, cuja propagação pode servir de exemplo útil; 10.º) Indicações de obras antigas ou modernas, brasileiras ou estrangeiras, nas quais se encontrem fatos relativos à manifestação de inteligências ocultas com a designação e, se possível, a citação das passagens. O mesmo no que concerne à opinião emitida sobre a existência dos Espíritos e suas relações com os homens, por autores antigos ou modernos, cujo nome e saber lhes dão autoridade. Só publicaremos o nome das pessoas que nos enviarem comunicações se recebermos formal autorização. o (coluna originalmente publicada na Revista Internacional do Espiritismo, Janeiro de 1998) Página 5