HOSPITALIDADE Conceitos básicos
Etimologia Hospitalitas-atis (lt.) = ato de acolher, hospedar; a qualidade do hospitaleiro; boa acolhida; recepção; tratamento afável, cortês, amabilidade; gentileza. Hospedare (lt.) = hospedar, acolher temporariamente
O mito da hospitalidade Júpiter, o deus criador e seu filho Hermes, quiseram saber como andava o espírito de hospitalidade entre os humanos. Travestiram-se de pobres e começaram a peregrinar pelo mundo afora. Foram maltratados por uns, expulsos por outros. Depois de muito peregrinar tiveram de cruzar por uma terra cujos habitantes eram conhecidos por sua rudeza. As divindades sequer pensavam em pedir hospitalidade. Mas à noitinha passaram por uma choupana onde morava um casal de velhinhos, Báucis e Filêmon. Qual não foi a surpresa, quando Filêmon saiu à porta e sorridente foi logo dizendo: Forasteiros, vocês devem estar exaustos e com fome. Entrem. A casa é pobre mas aberta para acolhê-los. Báucis ofereceulhes logo um assento enquanto Filêmon acendeu o fogo. Báucis esquentou água e começou a lavar os pés dos andarilhos. Com os legumes e um pouco de toucinho fizeram uma sopa suculenta. Por fim, ofereceram a própria cama para que os forasteiros pudessem descansar. Nisso sobreveio grande tempestade. As águas subiram rapidamente e ameaçavam a região. Quando Báucis e Filêmon quiseram socorrer os vizinhos, ocorreu grande transformação: a tempestade parou e de repente a pequena choupana foi transformada num luzidio templo dourado. Báucis e Filêmon ficaram estarrecidos. Júpiter foi logo dizendo: por causa da hospitalidade quero atender um pedido que fizerem. Báucis e Filêmon disseram unissonamente: o nosso desejo é servir-vos nesse templo por toda a vida. Hermes não ficou atrás: quero que façam também um pedido. E eles, como se tivessem combinado responderam: depois de tanto amor gostaríamos de morrer juntos. Seus pedidos foram atendidos. Um dia, quando estavam sentados no átrio, de repente Filêmon viu que o corpo de Báucis se revestia de folhagens floridas e que o corpo de Filêmon também se cobria de folhas verdes. Mal puderam dizer adeus um ao outro. Filêmon foi transformado num enorme carvalho e Báucis numa frondosa Tília. As copas e os galhos se entrelaçaram no alto. E assim, abraçados, ficaram unidos para sempre. Os velhos, até hoje, repetem a lição: quem hospeda forasteiros, hospeda a Deus.
Hospitalidade Acolhimento As bases do bom acolhimento segurança, generosidade, discrição, compaixão O acolhimento gracioso e o acolhimento comercial A dádiva e a sua relação com o acolhimento O trinômio DAR RECEBER RETRIBUIR As bases históricas da hospitalidade A virtude da hospitalidade e a hospitalidade como negócio as bases da hotelaria moderna
Sócio-antropologia da hospitalidade Leitura da hospitalidade como um fenômeno social de relações temporárias que se estabelecem entre visitantes e comunidades receptoras (Barretto, 2000) O estudo parte da escola francesa (Derrida, Mauss, Gotman, Godboud, Caillé e Montandon), que baseia seus trabalhos no conceito do ir e vir e no trinômio darreceber-retribuir A escola francesa contrapõe-se à escola americana (Walker, Guerrier, Chon & Sparrowe), que enxerga a hospitalidade como um fenômeno comercial, baseada no contrato de troca firmado entre hóspede e anfitrião, muitas vezes intermediado (agências)
As escolas britânica e brasileira/portuguesa têm buscado ir além e estabelecer interações e pontos de contato entre as escolas americana e francesa Os principais autores da escola britânica são Lashley, Bell, Lynch, Lugosi, Morrison, McNeill, O Gorman e Taylor No Brasil, destacam-se Dias, Dencker, Grinover, Wada, Bastos, Cruz e Camargo - este, em seu livro Hospitalidade, revê a teoria apresentada por Lashley (vertentes comercial, social e doméstica da hospitalidade ) e apresenta uma matriz que contrapõe os TEMPOS e os ESPAÇOS sociais da hospitalidade, vistos como as práticas sociais e os ambientes onde o processo acontece, criando os 16 domínios da hospitalidade Para o autor, a perspectiva da COMUNIDADE ANFITRIÃ é o que diferencia a hospitalidade do turismo, este visto como um fenômeno notadamente estudado desde o ponto de vista do visitante. Por isso, ele sugere que o estudo da hospitalidade pela ótica do anfitrião é capaz de resgatar as verdadeiras virtudes da hospitalidade
Dimensões da hospitalidade (Lashley) Doméstico ou Privado Público ou Social Comercial ou Profissional
Dimensões da hospitalidade (Camargo) Recepcionar Hospedar Alimentar Entreter Doméstica Receber em casa Oferecer pouso e abrigo em casa Receber em casa para refeições Receber para festas Pública Receber em espaços públicos de livre acesso Hospitalidade do lugar na cidade, no país Gastronomia local Espaços públicos de lazer e eventos Comercial Receber profissionalmente Hospitalidade profissional em MH, hospitais, presídios Restauração profissional Eventos em espaços privados Virtual Receber na net a net-etiqueta Hospedagem de sites Gastronomia eletrônica Jogos e entretenimento eletrônico OS TEMPOS E ESPAÇOS SOCIAIS DA HOSPITALIDADE - Fonte: Adaptado de CAMARGO (2005)
Doméstica ou privada em casas de parentes e amigos Social ou pública espaços sociais públicos Comercial espaços privados, mesmo que com a proposta de uso parcial como espaço público Empreendimentos hoteleiros (formais) e extra-hoteleiros ou pára-hoteleiros (informais) - classificação aceita pelos órgãos oficiais ou de classe (que nem sempre têm valor comercial) Virtual espaço virtual
Fully Filled In Dimensões da hospitalidade (Gorman) Guest Relações gerais de hospitalidade Domestic Discourse Performance Types and Sites Inclusion / Exclusion Laws Host Politics of Space Social and Cultural Expectations Transactional Expectations Expectational Norms in the Hospitality Relationship Location and Context in the Hospitality Relationship Symbolism in the Hospitality Relationship O Gorman, The Origins of Hospitality and Tourism, Goodfellow Publishing 2010
Hospitality: a social lens (Lashley et al, 2007) O Gorman, The Origins of Hospitality and Tourism, Goodfellow Publishing 2010
O Gorman, The Origins of Hospitality and Tourism, Goodfellow Publishing 2010
Determinantes da hospitalidade A natureza do comportamento determinada pelas associações entre as formas e os lugares, as leis, os processos de inclusão/exclusão e o discurso e a performance em ambiente privado A natureza do relacionamento determinada pelas associações entre as formas e os lugares, as leis, os processos de inclusão/exclusão, as dinâmicas comerciais, a política do espaço e as dimensões sociais e culturais do universo moral das relações entre hóspedes e anfitriões O nível de intimidade determinado pelas associações entre as dinâmicas comerciais, a política do espaço, as dimensões sociais e culturais do universo moral das relações entre hóspedes e anfitriões e o discurso e performance por eles descritos O Gorman, The Origins of Hospitality and Tourism, Goodfellow Publishing 2010
Relações de hospitalidade em ambiente doméstico Expectational Norms in the Hospitality Relationship Location and Context in the Hospitality Relationship Symbolism in the Hospitality Relationship O Gorman, The Origins of Hospitality and Tourism, Goodfellow Publishing 2010
Guest Relações de hospitalidade em ambiente público Domestic Discourse Performance Types and Sites Inclusion / Exclusion Host Social and Cultural Expectations Transactional Expectations Laws Politics of Space Expectational Norms in the Hospitality Relationship Location and Context in the Hospitality Relationship Symbolism in the Hospitality Relationship O Gorman, The Origins of Hospitality and Tourism, Goodfellow Publishing 2010
Guest Relações de hospitalidade em ambiente comercial Domestic Discourse Performance Types and Sites Inclusion / Exclusion Laws Host Politics of Space Social and Cultural Expectations Transactional Expectations Expectational Norms in the Hospitality Relationship Location and Context in the Hospitality Relationship Symbolism in the Hospitality Relationship O Gorman, The Origins of Hospitality and Tourism, Goodfellow Publishing 2010
Hospitalidade, por Henri Nowen Hospitalidade não significa mudar as pessoas, e, sim, oferecer-lhes o espaço necessário para que as transformações possam ocorrer. ( ) O paradoxo da hospitalidade é que seu objeto é criar um vazio, onde o peregrino possa penetrar e se descobrir como um ser criado livre. Livre para cantar suas próprias músicas, falar sua língua, dançar suas danças. Livre para até mesmo para viver de acordo com as suas próprias vocações. A hospitalidade não é um convite sutil ao hóspede para que adote o estilo de vida de seu anfitrião, mas é a concessão ao hóspede, de encontrar seu próprio estilo de vida Para transformar a hostilidade em hospitalidade, é necessário a criação de um espaço vazio, onde podemos demonstrar interesse por nossos semelhantes e convidá-los a um relacionamento diferente dos que já mantinham. Henri Nouwen, Reaching Out
Para saber mais... CAMARGO, Luiz Octávio de Lima. Hospitalidade. São Paulo: Aleph, 2004. DENCKER, Ada de Freitas Maneti, BUENO, Marielys Siqueira. (orgs.). Hospitalidade: cenários e oportunidades. São Paulo: Thomson, 2003. DIAS, Célia Maria de Moraes (org.). Hospitalidade: reflexões e perspectivas. São Paulo: Manole, 2002. GODBOUT, Jacques T. O espírito da dádiva. Lisboa: Instituto Piaget, 1997. LASHLEY, Conrad e MORRISSON, Alison. Em busca da hospitalidade. Barueri: Manole, 2004. MONTANDON, Alain (org.). O livro da hospitalidade. São Paulo: Senac, 2011. O GORMAN, Kevin. The origins of tourism and hospitality. London: Goodfellow Publishers, 2010.