Análise do Documento de Estratégia Orçamental

Documentos relacionados
Análise do Documento de Estratégia Orçamental maio de 2013

Análise do Documento de Estratégia Orçamental junho de 2014

Conselho da União Europeia Luxemburgo, 12 de junho de 2017 (OR. en)

7.ª alteração à Lei de Enquadramento Orçamental PPL n.º 124/XII

Finanças Públicas: Situação e Condicionantes Apresentação à comunicação social 18 de março de 2015

Recomendação de DECISÃO DO CONSELHO. que revoga a Decisão 2010/288/UE sobre a existência de um défice excessivo em Portugal

Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública. 9 de maio de Intervenção do Ministro de Estado e das Finanças -

Análise da proposta de Orçamento do Estado para 2013

Recomendação de RECOMENDAÇÃO DO CONSELHO. relativa ao Programa Nacional de Reformas de 2015 do Reino Unido

Recomendação de DECISÃO DO CONSELHO

Conselho da União Europeia Bruxelas, 11 de julho de 2016 (OR. en)

Noémia Goulart 23 de Abril IDEFF

Programa de Estabilidade Apresentação na Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa 23 de abril de 2019

Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública. Vítor Gaspar

A Comissão examina os programas de estabilidade da Grécia e de Portugal

Oitava alteração à Lei de Enquadramento Orçamental: Projeto de Lei n.º 550/XII Parecer do Conselho das Finanças Públicas

Fórum para a Competitividade Orçamento do Estado Perspectivas orçamentais Luís Morais Sarmento

Análise da proposta de 1.ª Alteração ao Orçamento do Estado para 2013

TEXTO FINAL da. Proposta de Lei n. 1241XH12.a (GOV)

E depois da troika? Viver com o memorando. Fernando Faria de Oliveira. Caixa Geral de Depósitos

Curso Breve sobre a Reforma do Sistema Orçamental Português

Análise do Documento de Estratégia Orçamental

Conferência Parlamentar sobre a Dívida Pública

Conselho da União Europeia Bruxelas, 2 de agosto de 2016 (OR. en)

PARECER DA COMISSÃO. de sobre o projeto de plano orçamental de Portugal. {SWD(2018) 524 final}

MINISTÉRIO DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GABINETE DO MINISTRO DE ESTADO E DAS FINANÇAS

Recomendação de RECOMENDAÇÃO DO CONSELHO. relativa ao Programa Nacional de Reformas de 2012 de Portugal

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA COMISSÃO DE ASSUNTOS EUROPEUS

CAIS INVEST EMPRESA PARA O DESENVOLVIMENTO DO MUNICIPIO DE SÃO ROQUE DO PICO E.E.M. EM LIQUIDAÇÃO. Relatório de Gestão 2015

Sétima Alteração à Lei de Enquadramento Orçamental: Proposta de Lei n.º 124/XII. Parecer do Conselho das Finanças Públicas

Recomendação de DECISÃO DO CONSELHO. que revoga a Decisão 2009/415/CE sobre a existência de um défice excessivo na Grécia

Recomendação de DECISÃO DE EXECUÇÃO DO CONSELHO. que aplica uma multa a Portugal por não tomar medidas eficazes para corrigir um défice excessivo

9197/16 ll/gd/jv 1 DG B 3A - DG G 1A

GPEARI Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais. Boletim Mensal de Economia Portuguesa.

BASE JURÍDICA OBJETIVOS REALIZAÇÕES

Exmo. Senhor. Dr. António Costa

Investimento, Poupança e Competitividade Os três pilares do crescimento

Quadro 1a. Perspectivas Macroeconómicas nível (10 6 euros) taxa de variação. taxa de variação

Documento de Estratégia Orçamental Errata

ANEXO COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO. Avaliação das medidas tomadas pela ESPANHA, FRANÇA, MALTA, PAISES BAIXOS e ESLOVÉNIA

Revisão da Lei de Enquadramento Orçamental Tópicos para o debate

Prefácio e agradecimentos 5

NOTAS SOBRE O DESAFIO ORÇAMENTAL

Orçamento de Estado para 2017

Recomendação de RECOMENDAÇÃO DO CONSELHO. relativa ao Programa Nacional de Reformas dos Países Baixos de 2017

Curso Breve sobre a Reforma do Sistema Orçamental Português

Sessão de Abertura do X Congresso. Ordem dos Revisores Oficiais de Contas. Ética e responsabilidade. 21 de outubro de 2010

Documento de Estratégia Orçamental:

A sustentabilidade da dívida pública

Recomendação de RECOMENDAÇÃO DO CONSELHO. relativa ao Programa Nacional de Reformas para 2015 de Portugal

II Projeções para a economia portuguesa em 2018

Quadro 1a. Perspectivas Macroeconómicas nível (10 6 euros) taxa de variação

Previsões económicas do outono de 2013: Retoma gradual, riscos externos

ORIENTAÇÕES. (4) Torna-se necessário, por conseguinte, alterar em conformidade a Orientação BCE/2013/23, Artigo 1. o. Alterações

Não vou apresentar uma intervenção estruturada, mas apenas uma reflexão baseada num conjunto de notas soltas segundo o esquema orientador seguinte:

Plataforma para o Crescimento Sustentável. 10 de outubro de 2017

Condições de Estabilidade do Rácio da Dívida Pública

O ORÇAMENTO DO ESTADO 2018 COMO SE ENQUADRA NUMA ESTRATÉGIA DE CRESCIMENTO A MÉDIO PRAZO.

Recomendação de RECOMENDAÇÃO DO CONSELHO. relativa ao Programa Nacional de Reformas da Suécia de 2017

Proposta de Orçamento de Estado 2015 Nota de conjuntura

Barómetro das Crises

9253/15 hs/ag/jv 1 DG B 3A - DG G 1A

10798/1/14 REV 1 grp/jv 1 DG B 4A / DG G 1A

INTERVENÇÃO DO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS NA COMISSÃO DE ORÇAMENTO, FINANÇAS E MODERNIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

CARTA DE MISSÃO. 1. Missão do organismo. 2. Principais atribuições

Proposta de DECISÃO DO CONSELHO. relativa às orientações para as políticas de emprego dos Estados-Membros

Crise e finanças locais e regionais

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA COMISSÃO DE ASSUNTOS EUROPEUS

O ORÇAMENTO DO ESTADO 2019 COMO SE ENQUADRA NUMA ESTRATÉGIA DE CRESCIMENTO A MÉDIO PRAZO

CONJUNTURA ECONÓMICA. - Novembro

Análise do Programa de Estabilidade:

9305/17 nb/ll/ip 1 DG B 1C - DG G 1A

AVISO PARA APRESENTAÇÃO DE CANDIDATURAS

As Estatísticas do Banco de Portugal, a Economia e as Empresas. Teodora Cardoso 1ª Conferência da Central de Balanços Lisboa, 10 Janeiro 2011

Procedimento dos défices excessivos (1ª Notificação de 2019)

Previsões económicas da primavera de 2015: conjuntura económica favorável impulsiona a retoma

Procedimento dos Défices Excessivos (2ª Notificação de 2018)

Recomendação de RECOMENDAÇÃO DO CONSELHO. relativa ao Programa Nacional de Reformas da Hungria de 2017

REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

Análise do Programa de Estabilidade i

Proposta de Programa de Estabilidade:

Pôr fim à austeridade implica pôr fim à instabilidade. Teodora Cardoso 14 de Dezembro de 2015

9258/15 hs/mpm/fc 1 DG B 3A - DG G 1A

Jornal Oficial da União Europeia L 174/5

O ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2012 A POLÍTICA DA DESPESA EM DEBATE

Seminário Os caminhos da política fiscal no Brasil Fundação Getúlio Vargas FGV/IBRE 08/jul/19 Aperfeiçoamento das Regras Fiscais: o Médio Prazo

COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO. Avaliação das medidas adotadas por Portugal e pela Espanha

Budget Watch. OE Resultados Índice Orçamental IPP/ISEG. Miguel St. Aubyn, Manuela Arcanjo, Luís Teles Morais

Aula Teórica nº 1. Apresentação O que é a Macroeconomia?

Conjuntura Macroeconómica Portugal. Setembro 2018

Nota Informativa Efeito da reforma da previdência no crescimento do PIB

Apresentação 1. O que é a Macroeconomia?

Crescimento sustentado e desenvolvimento da economia portuguesa

Relatório do Orçamento do Estado para 2014 Errata

A DINÂMICA DA DÍVIDA PÚBLICA. José da Silva Lopes

Por isso, considero importante salientar, desde logo, que a proposta de OE para 2011 (se concretizada como programado):

Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Excelentíssimas Senhoras e Senhores Deputados,

10431/17 jcc/scm/jcc 1 DG G LIMITE PT

Transcrição:

Análise do Documento de Estratégia Orçamental 2013-2017

Relatório do Conselho das Finanças Públicas n.º 3/2013 Apresentação à Assembleia da República, 5 de junho de 2013

Estrutura do Relatório OBJETIVOS DO RELATÓRIO 1. APRECIAÇÃO GLOBAL E CONCLUSÕES 2. EXECUÇÃO ORÇAMENTAL EM 2012 3. SUSTENTABILIDADE DAS FINANÇAS PÚBLICAS 4. CENÁRIO MACROECONÓMICO 5. PROJEÇÕES ORÇAMENTAIS

Sustentabilidade da dívida pública É a primeira prioridade da política orçamental Exige um esforço significativo e duradouro Só a qualidade e perseverança das políticas pode aliviar esse esforço A economia portuguesa tem de alcançar uma taxa de crescimento tendencial mais elevada que não pode ser alcançada mediante a adoção de políticas tradicionais de estímulo à procura Supõe políticas centradas sobre a prioridade, nas despesas públicas, às dirigidas ao reforço do capital produtivo, a redução da carga fiscal sobre os rendimentos de fatores (trabalho e capital) e a implementação de reformas que resultem num enquadramento favorável ao investimento.

Omissão da estratégia correspondente Tal como o DEO reconhece, a sustentabilidade da dívida exige que o orçamento português registe excedentes primários significativos durante um longo período O documento fica, contudo, aquém de explicitar a estratégia orçamental a seguir com vista a produzir esses excedentes de a articular com a Estratégia para o Crescimento, Emprego e Fomento Industrial 2013 2020 Estas omissões não permitem avaliar as consequências de longo prazo das políticas governamentais, o que prejudica a criação de um consenso em seu redor. As projeções macro-orçamentais apresentadas no DEO estão insuficientemente documentadas Inclusão de quantificação de riscos é uma melhoria face a documentos de programação anteriores Porém, desconhece-se de que modo os riscos identificados no DEO foram tidos em conta nas projeções, que aconselham um considerável grau de prudência

Necessidade de progressos na transparência orçamental Detalhe das medidas contempladas e dos resultados previstos Os planos orçamentais nacionais de médio prazo devem incluir indicações sobre como se espera que as reformas e medidas previstas contribuam para a consecução dos objetivos e dos compromissos... Regulamento (UE) n.º 473/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, 21 de maio de 2013, artigo 4º. Estabilidade da própria estratégia A transparência na definição, acompanhamento e continuidade da estratégia é essencial para suscitar a confiança A qualidade, abrangência e disponibilidade de informação coerente e com o nível de detalhe adequado é condição básica da transparência

Sustentabilidade da dívida 260 210 160 110 60 Evolução da dívida num cenário de ausência de consolidação orçamental adicional face a 2012 (% PIB) 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021 2023 2025 2027 2029 2031 2033 2035 2037 2039 2041 2043 2045 2047 2049 SP = -0,5; r = 4; g = 2 SP = -1,5; r = 4; g = 3,5 Notas: SP designa saldo primário (em % do PIB), r a taxa de juro nominal (em percentagem), g a taxa de crescimento nominal do PIB (em percentagem). Tal como no Quadro 2, assume-se um ajustamento défice-dívida de -8,2% do PIB repartido tal como no DEO/2013. SP = -1; r = 4; g = 3,5 SP = -1,5; r = 4; g = 4 SP = 0; r = 4; g = 3,5 Para que a dívida pública não entre numa trajetória explosiva (crescimento sem limite) são necessários esforços adicionais de consolidação orçamental, para além dos efetuados até 2012, mesmo que se venha a concretizar um nível elevado de crescimento económico Em 2012 Défice primário: Saldo primário (SP) de -2% do PIB (-1,5% do PIB em termos ajustados) Taxa de juro implícita: 3,9% Crescimento nominal: -3,3% DEO 2013-2017 Crescimento nominal 2013: -0,6% SP 2014 = 0,3% PIB Crescimento nominal médio 2012-17 (DEO): 2,2%/ano Média de SP (2013-17): 1,7% PIB

Sustentabilidade a longo prazo No cenário central do DEO/2013 o rácio da dívida será inferior a 60% do PIB em 2037 (ou seja 20 anos após o terminus do horizonte temporal a que se refere o DEO/2013), Permite cumprir a regra de redução do excesso de dívida face ao valor de referência de 60% do PIB (1/20 ao ano) Análise de sensibilidade Excedentes primários inferiores a 2,5% do PIB dificilmente serão compatíveis com a regra de redução da dívida Um menor esforço orçamental inicial tem o custo de exigir a manutenção do esforço de consolidação orçamental durante um período mais prolongado

Evolução do Défice Estrutural O ritmo do ajustamento estrutural a realizar nos próximos anos é alterado face a DEO/2012; O objetivo de médio prazo para o saldo estrutural (2017) e o objetivo de correção do défice excessivo (2015) são adiados por mais dois anos; A revisão das metas orçamentais implicará um contributo mais elevado da despesa para o esforço de ajustamento.

Composição do Ajustamento Orçamental ¾ do ajustamento estrutural 2010/17 assegurado pelo lado da despesa; Contributo crescente da redução da despesa corrente primária (despesas com pessoal e prestações sociais); mas também redução de despesa de capital, o que poderá penalizar a taxa de crescimento potencial da economia A aplicação de medidas permanentes de redução dos gastos públicos, torna o ajustamento menos suscetível de ser revertido no futuro; Não especificação das medidas de consolidação destinadas a sustentar a trajetória de redução da despesa prejudica a transparência, a exequibilidade e a credibilidade das projeções orçamentais; A introdução de uma regra de despesa abrangente e estável seria um elemento crítico para viabilizar o cumprimento do ajustamento estrutural.

Análise do Documento de Estratégia Orçamental 2013-2017