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Transcrição:

Agência Experimental em Jornalismo Cívico: O avanço empírico na produção em Jornalismo Cívico no Brasil 1 Murillo Nascimento NONATO 2 Flávia Roberta de Souza CARVALHO 3 Halanna Souza ANDRADE 4 Thaís Ariane Ferreira PIMENTA 5 Marcus Antonio Assis LIMA 6 Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitória da Conquista, BA Resumo A Agência Experimental em Jornalismo Cívico é um projeto de pesquisa com traços extensionistas nascido em 2009 na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, que tem como finalidade produzir Jornalismo Cívico a partir da ótica e realidade brasileira. Nesta busca, os estudantes participantes do projeto entram em contato com uma forma cidadã e responsavel socialmente de se pensar e praticar Jornalismo. Palavras-chave Agência Experimental em Jornalismo Cívico; Jornalismo Cívico; Democracia deliberativa; Esfera pública Introdução O Jornalismo Cívico é pouco conhecido no Brasil, e se constitui quanto uma alternativa ao Jornalismo tradicional. Segundo esta modalidade, o jornalismo pode e deve ter um papel no reforço da cidadania, melhorando o debate público e revendo a vida pública (Rosen apud MESQUITA; TRAQUINA, 2003:10). Criado na década de 1990, o Jornalismo Cívico 1 Trabalho submetido ao XIX Prêmio Expocom 2012, na Categoria Jornalismo, modalidade Agência Jr. de Jornalismo. 2 Aluno líder, Bolsista voluntário UESB de iniciação científica, graduando do 5º semestre de Comunicação Social da UESB, e-mail: nonato.murillo@gmail.com 3 Bolsista voluntária UESB de iniciação científica, graduanda do 8º semestre do Curso de Comunicação Social da UESB, email: flavia.comunic@yahoo.com.br 4 Bolsista Fapesb de iniciação científica, graduanda do 8º semestre do curso de Comunicação Social da UESB, email: halanna.andrade@yahoo.com.br 5 Bolsista UESB de iniciação científica, graduanda do 5 semestre do Curso de Comunicação Social da UESB, email: tafpimenta@gmail 6 Orientador do trabalho, Líder de pesquisa da Agência Experimental em Jornalismo cívico, Prof. do Curso de Comunicação da UESB, email: profuesb@hotmail.com 1

envolve em sua teoria fundamental conceitos de Democracia Deliberativa, Esfera pública e Responsabilidade Social para a realização dos seus propósitos cidadãos. Os primeiros estudos relativos à deliberação pública têm sua base fundada por Jürgen Habermas, que enfatizava a função epistêmica do discurso e da negociação. A democrática deliberativa tem por função estabelecer princípios formais de interação que possam garantir normas legais que assegurem alternativas capazes de articular os conflitos de uma sociedade plural. Em vista do cenário atual onde a espetacularização e trivialização da vida pública são consequências marcantes após a fusão da informação com o entretenimento (Correia, 2010:75), a modalidade cívica aponta para um caminho no qual a comunicação seja, de fato, um meio para a resolução das problemáticas públicas. Deste modo, o Jornalismo Cívico tem a função de fornecer informação de qualidade e relevância para a esfera pública, se constituindo uma prática acessível a todas as vozes, inclusive as minoritárias e periféricas. Através dos ideais propostos pela democracia deliberativa, o jornalismo cívico deve agir como facilitador do debate público, no qual todos os cidadãos devem integrar as discussões e chegar à solução mais plural. Para que este processo seja assegurado os princípios básicos devem ser: a) igualdade; b) publicidade; c) reciprocidade; d) acountability; e) reflexividade, f) auotnomia; g) ausência de coerção; h) respeito mútuo (Marques apud Correia, 2010:76). Estas normas garantiriam a todos fossem ouvidos e todas as decisões tomadas justificadas. Ao acompanhar este processo democrático, o jornalismo se aproximaria realmente de seu público, dando fim à agenda noticiosa que privilegia apenas algumas camadas sociais. A partir de tais conceitos, o projeto de pesquisa Agência Experimental de Jornalismo Cívico (AEJC) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, busca um modelo de atuação cívica no Brasil, no qual possa se estabelecer uma mediação comunicacional capaz de formar uma esfera pública de debate e a prática de um Jornalismo com responsabilidade social. Criada em 2009 pelo Prof. Dr. Marcus A. Assis Lima, docente do curso de Comunicação Social da Uesb, o projeto não possuía nenhum suporte técnico que possibilitasse sua realização prática. No final de 2010 a AEJC foi contemplada com recursos do PPP da Fundação de Amparo a Pesquisa da Bahia (Fapesb), o que permitiu a compra de 2

computadores, notebooks, câmeras fotográficas, filmadora e impressora para a montagem da redação da Agência Experimental. Com os recursos adquiridos e laboratório em funcionamento, em 2011 deu-se início a produção de dois boletins impressos, parceria na elaboração do Oficina de Notícias (jornallaboratório do curso de Comunicação Social da UESB), realização de pesquisa de opinião, além das atividades de proposições teóricas como discussões de textos e trabalhos acadêmicos. Objetivo AEJC tem como principal finalidade produzir Jornalismo Cívico segundo a realidade brasileira, a fim de contribuir com o estudo ainda recente sobre a temática no Brasil, assim como fazer jornalismo que sirva verdadeiramente aos cidadãos, os incentivando a participarem e resolverem problemas relacionados à vida pública. Além destas, a Agência Experimental em Jornalismo Cívico tem ainda outras preocupações como: [A] compreensão da prática dos jornais-laboratório e das agências de notícia, e pelo conhecimento da realidade em confronto com as teorias do jornalismo, é possível entender até que ponto o ensino está apenas repetindo o mercado, ou possibilitando um jornalismo mais crítico e comprometido com o bem comum da sociedade (Projeto da Agência Experimental em Jornalismo Cívico, 2009). A partir dessa reflexão, outras questões relacionadas ao futuro do jornalismo brotam: Qual o compromisso do Jornalismo com seu público? De que forma o jornalismo pode contribuir para a resolução dos problemas da vida pública? A procura por formas de responder empiricamente a essas perguntas reside a relevância da participação dos estudantes do curso de Comunicação Social da Uesb, habilitação em Jornalismo, nas produções da AEJC. Justificativa A partir das causas sociais e posturas jornalísticas defendidas pelo Jornalismo Cívico, podemos admitir que ele pode contribuir positivamente para a reconfiguração do jornalismo brasileiro. Com a possibilidade de sanar o afastamento estabelecido entre jornalismo e cidadãos, prestar serviço às comunidades, despertar o interesse da população a assuntos referentes à vida pública. 3

Assim, a Agência Experimental em Jornalismo Cívico se torna importante para pesquisadores em Jornalismo - por trazer dados empíricos da aplicação do pensamento cívico -, estudantes de Comunicação da UESB - por despertá-los a uma possibilidade de atuação profissional socialmente responsável do jornalismo e a comunidade acadêmica da UESB ao discutir temas relevantes e formas de solucionar seus problemas. Com o nascimento da parceria com o jornal-laboratório do curso de Comunicação da UESB Oficina de Notícias os cidadãos de Vitória da Conquista também passaram a ser beneficiados pela produção da AEJC, já que o jornal é distribuído por todo município. Métodos e Técnicas Utilizados Diferente de boa parte dos veículos de comunicação, o critério de noticiabilidade primordial da AEJC é o valor social, a relevância daquela notícia para a comunidade. A partir disso agregar aos valores/notícia tradicionais elementos de análise e de orientação do público quanto a soluções dos problemas (SILVA, 2002, p.04). A forma de trabalho prima pelo abandono da hierarquia. Para tal é preciso delegar autoridade e gerenciamento de baixo para cima (LIMA, 2009, p. 06). As reuniões de pauta seguem o modelo brainstorming, guiados sempre pelo critério de noticiabilidade chave. A divisão de tarefas é proposta conforme as afinidades pessoais e aceita de comum acordo entre os integrantes da equipe. O desafio da equipe é se aproximar o máximo possível das equipes qualificadas circulares (LIMA, 2009, p. 05) que tem como princípio ouvir os cidadãos e seguir a agenda da comunidade, fugindo da realidade atual do jornalismo tradicional (ANDRADE, 2011, p. 6). Ao realizar entrevistas a equipe busca mostrar-se verdadeiramente interessada no que o cidadão tem a acrescentar na discussão e não apenas buscar o que o jornalista quer ouvir para realizar a matéria. Por vezes, os cidadãos são consultados para que a equipe saiba quais suas dúvidas a respeito de um determinado tema para que possam ser esclarecidas pela matéria. Os repórteres são incentivados a se utilizarem do potencial educomunicacional para fazer com que os cidadãos compreendam a natureza do problema e vislumbrem soluções práticas. 4

Para isso, recursos imagéticos são sempre pensados para serem utilizados: fotografias, infográficos, fluxogramas, box explicativos e charges. Descrição do produto ou processo A primeira produção da AEJC se iniciou no mês de abril de 2011, quando a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia junto a outras Universidades estaduais e setores públicos entraram em greve. Devido a urgência de colocar em prática o conhecimento teórico adquirido sobre Jornalismo Cívico e os prazos estipulados pela Fapesb, os estudantes participantes do projeto e o coordenador decidiram começar as atividades mesmo com a greve. Ficou decidido que a produção seriam boletins temáticos, impressos em A4, preto e branco, frente e verso, já que esse era o único recurso disponível no momento para distribuição. As pautas escolhidas necessitavam estar ligadas à conjuntura grevista, já que no momento era o que era relevante à comunidade acadêmica. Sendo assim, Assembleia Universitária e Mandado de Segurança foram os temas debatidos. A assembleia universitária consistiu na maior forma de organização democrática e deliberativa do movimento grevista, onde as três categorias dos três campi da UESB poderiam expressar suas reivindicações e delinear seus próximos passos. O boletim fez um retrospecto sobre Assembleia Universitária na UESB, tendo como fontes atas do antigo tipo de assembleia realizada pela Universidade, opinião de estudantes, funcionários e professores. Como nada sobre o tema era coberto pelos meios de comunicação, o boletim foi de grande utilidade aos grevistas. Para dar continuidade na pesquisa, com o objetivo de atender às necessidades da comunidade acadêmica na resolução dos problemas de sua esfera, a equipe AEJC produziu o boletim 02 sobre Mandado de segurança. Em vista do corte salarial e da ação judicial tomada pelos professores da UESB para a garantia de seus direitos, o boletim 02 trouxe com elementos gráficos e textuais, o passo-a-passo da ação, além de explicar o que era e em qual contexto se inseria esse processo judiciário. 5

Com o término da greve e retorno das aulas em junho, deu-se início a produção de matérias para o jornal-laboratório do curso de Comunicação, o Oficina de Notícias (ON). Essa parceria surgiu através do convite do professor Ms. Dannilo Duarte, responsável pelo jornal, que cedeu a última página do ON para a Agência Experimental em Jornalismo Cívico. A produção para o jornal possibilitou a ampliação da difusão do material feito pela AEJC da comunidade acadêmica da UESB para toda cidade de Vitória da Conquista. Nesta nova configuração, a AEJC produziu matérias sobre o transporte de Vitória da Conquista, orçamento participativo e o sistema de seleção unificada (SISU). A primeira reportagem trouxe o panorama do transporte público do município. A entrevista com o Secretário de Transportes foi elaborada de uma forma diferenciada para a melhor participação dos cidadãos. No terminal de ônibus da cidade, passageiros foram indagados sobre o que gostariam de perguntar ao Secretário de Transportes. No momento da entrevista, o vídeo com os cidadãos foi mostrado para que o secretário respondesse diretamente a eles. O próximo tema abordado foi o orçamento participativo. Aplicado no mandato do atual prefeito de Vitória da Conquista, Guilherme Menezes, este tipo de organização entrou em discussão para ser adotado também na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. A AEJC acreditou que seria um bom tema para o incentivo da discussão, pois se referia a algo que já acontecia na cidade - com pouca participação popular - e algo novo por se tratar da implantação numa Universidade. Desta forma estariam contemplando o público interno da UESB e prestando esclarecimentos à população em geral sobre o funcionamento desse sistema. Para a produção da reportagem foi realizada um levantamento bibliográfico sobre outras experiências de orçamento participativo, como na cidade de Porto Alegre, assim como em outras instituições, como a Universidade Estadual de Feira de Santana, além do estudo detalhado do orçamento 2011 da UESB. Os recursos gráficos pensados foram um fluxograma explicativo do funcionamento do sistema, organograma dos componentes dos conselhos e gráfico sobre os gastos de verba da UESB. 6

O Sistema de Seleção Unificada (SISU) foi selecionado como pauta por ter sido recentemente incorporado no processo de seleção de canditados da UESB modificando o vestibular tradicional. O SISU ainda era desconhecido pela comunidade acadêmica, apesar de já ter sido discutido pelas instâncias burocráticas da universidade, portanto a equipe se destinou a esclarecer como funcionaria o novo processo seletivo, como também publicizar as discussões já realizadas, pontuando seus pós e contras. Além de buscar as expectativas dos futuros universitários diante desta modificação. Apesar do principal critério de noticiablidade da AEJC ser o valor social, segundo os princípios do Jornalismo Cívico, é próprio público que deve escolher o que é de fato relevante para ele. Foi dessa forma que entre os dias 13 e 16 de fevereiro de 2012 foi realizada uma pesquisa de opinião do tipo survey (Babbie, 1999) sobre quais seriam os maiores problemas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia segundo a opinião dos estudantes da própria instituição. Para tal, foram utilizados pequenos formulários de 5x8 cm em que o público-alvo respondeu a proposição aberta Quais os cinco problemas mais graves da UESB?. Os formulários foram distribuídos em salas de aula de todos os cursos do campus de Vitória da Conquista de forma aleatória, depois de uma breve explicação sobre a finalidade da pesquisa. A análise dos dados consistiu no agrupamento dos problemas nas categorias: Infraestrutura; Valores profissionais; Estrutura de Curso; Transporte; Alimentação; Comunicação; Burocracia; Administração; Segurança; Pesquisa, extensão e atividades extracurriculares; e Não soube responder. Essa última categoria foi destinada a cada problema não descrito no formulário. Os questionários foram aplicados em 232 estudantes da Instituição. A análise dos dados consistiu na tabulação de acordo com o número de vezes que determinado problema foi citado pelos estudantes. Agrupados em categorias, problemas relacionados à Estrutura de Curso obtiveram o maior percentual, tendo sido listados 240 vezes, perfazendo 21.5% do total. Infraestrutura foi apontada 225 vezes, ocupando 20.2% das reclamações. Seguida pelas categorias Administração (117 vezes) e Alimentação (108 vezes), ocupando as parcelas 10.5% e 9.7% respectivamente. As categorias Valores Profissionais (70 vezes), Pesquisa, extensão e atividades extracurriculares (54 vezes) obtiveram percentuais menores com 6.3% e 4.8% respectivamente. As últimas categorias 7

Transporte (15 vezes) e Burocracia (13 vezes) atingiram quase o mesmo percentual, com 1.3% e 1.2%. Enquanto as últimas categorias Segurança (oito vezes) e Comunicação (três vezes) não chegaram nem a 1%, num total de 0.7% e 0.3%. Para os questionários incompletos ou com o mesmo problema repetido mais de uma vez, foi criada a categoria Não soube responder que obteve percentual significativo e que ultrapassou todas as outras categorias, com 23.5%, tendo ocorrido 262 vezes nos questionários. A categoria Não soube responder obteve o maior percentual (23.5%), o que demonstrou que os estudantes que participaram do survey, não responderem o formulário completo, deixaram de listar 262 possíveis problemas na Instituição. Tal fato pode ser analisado sob alguns aspectos diferentes. Primeiro, a questão levantada foi aplicada no formulário de forma a permitir somente respostas abertas. Ou seja, os participantes não foram induzidos a assinalarem algum problema pré-determinado pela AEJC. Tiveram que avaliar de fato a Universidade que estudam e devido ao curto tempo para preencher o questionário, ou mesmo por não identificarem cinco problemas, decidiram não responder completamente a pergunta. Segundo, pelo fato do jornalismo ter se afastado do seu público e se abster cada vez mais de seu papel enquanto instrumento de fomento da discussão da esfera pública, os cidadãos têm maior dificuldade em serem críticos, verdadeiros atores da vida pública. Por isso, a pesquisa em jornalismo cívico se faz essencial para a discussão e vislumbre do retorno do jornalismo à responsabilidade social de servir ao interesse público. Considerações finais Em busca de novas linguagens e da construção de parâmetros para a atuação cívica para o jornalismo, a AEJC encontra muitos desafios pela frente. Verifica-se que o Brasil ainda não possui uma cultura de organização coletiva para a resolução dos problemas ligados à vida pública, considerando o jornalismo quanto prática social, pode-se observar que não existe de fato uma proposição cívica dentro deste campo profissional. A AEJC, apesar de buscar coerência e seguir a filosofia do jornalismo cívico, compreende que a prática jornalística dentro do país não está ligada a esses princípios, o que é refletido tanto no público - que não está acostumado a ser tão requisitado para a produção das 8

notícias - quanto nos próprios acadêmicos da área - que desconhecem em sua maioria a importância da atuação cívica e não apresentam a experimentação desta dentro da sala de aula. Os aspectos acima delineados se configuram como os maiores impedimentos para a AEJC, no momento que é necessária a superação da prática tradicional e que esta deve ser realizada com muita responsabilidade social, uma vez que almeja-se um jornalismo que possa de fato contribuir para a esfera pública na resolução de seus problemas. A existência da agência se destina não só ao crescimento do arcabouço teórico do tema, mas à concretização da teoria cívica no Brasil, significando que existem muitos caminhos a serem trilhados. Portanto, a AEJC está numa fase embrionária de experimentação de novas práticas ligadas ao jornalismo cívico e de superação dos formatos tradicionais, sempre buscando o desenvolvimento social de suas práticas, de forma ética e responsável. Referências Bibliográficas ANDRADE, H. S.; LIMA, M. A. A.. Agência Experimental em Jornalismo Cívico: A tentativa da prática de um modelo brasileiro. In: Divisão Temática de Comunicação, Espaço e Cidadania, da Intercom Júnior VI Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Recife, 2011. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2011/resumos/r6-1804-1.pdf BABBIE, El. Métodos de pesquisas de Survey. Trad. Guilherme Cezarino. Ed. UFMG: Belo Horizonte, 1999. CORREIA, João Carlos. Novos jornalismos e vida cívica: limites e possibilidades do jornalismo deliberativo: 2010. Disponível em: http://ubi.academia.edu/joaocarloscorreia/papers/358421/novos_jornalismos_e_vida_civi ca_limites_e_possibilidades LIMA, M. A. A.. Filosofia do jornalismo cívico no jornal-laboratório 'Oficina de Notícias" da UESB: uma proposta de estrutura para a sala de redação In: VIII Ciclo 9

Nacional de Pesquisa de Ensino em Jornalismo, 2009. LIMA, M. A. A.. Indícios para uma 'análise cívica' do jornalismo: a temática da responsabilidade social. Estudos em Comunicação/Communication Studies, 2011. SILVA, L. M.. Jornalismo Público: o social como valor-notícia In: GT de Políticas e Estratégias de Comunicação da Compós, 2002. TRAQUINA, N.; MESQUITA, M.. Jornalismo Cívico. Lisboa: Livros Horizonte, 2003. 10