Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE Serviço de Oftalmologia Director: Dr. António Melo



Documentos relacionados
GUIA DE ADAPTAÇÃO DO MÉDICO

LENTES DE CONTACTO EM IDADE PEDIÁTRICA

NOVA ZONA ÓPTICA VARIÁVEL LÍDER MUNDIAL NO TRATAMENTO DO CERATOCONE

3. RESULTADOS DA REVISÃO DE LITERATURA

CERATOCONE. De acordo com a topografia detectada na vídeoceratoscopia, podemos ter 2 tipos de morfologia da ectasia corneana:

CERATOCONE. A palavra ceratocone se deriva de duas palavras gregas : karato que significa córnea e konos que significa cone.

Mini Glossário. B Blefarite Inflamação das pálpebras.

DESENHO PRISMÁTICO KERARING SEGMENTOS DE ARCOS E ESPESSURAS VARIÁVEIS EXCLUSIVO

GLAUCOMA APÓS CIRURGIA DE CATARATA CONGÉNITA

Adaptação de lente de contato gelatinosa especial para ceratocone. Keratoconus special contact lens gel fitting

O que é Avançada técnica cirúrgica com excimer laser que possibilita a correção refrativa da visão.

PRINCÍPIOS BÁSICOS. Histórico:

NOVA ZONA ÓPTICA VARIÁVEL LÍDER MUNDIAL NO TRATAMENTO DO CERATOCONE

CERATOCONE QUANDO SURGE?

Objetivo: O objetivo deste trabalho é estabelecer diretrizes baseadas em evidências científicas para Cirurgia Refrativa.

Óptica Visual e. Instrumentação

PARECER CFM nº 33/15 INTERESSADO: Sr. M.A.G. Dupla sutura corneana para correção de hipermetropia pósceratotomia

Protocolos para exames complementares em oftalmologia

Anatomia e Histologia do Limbo

PARECER CREMEB Nº 05/09

MEDICAÇÃO TÓPICA SEM CONSERVANTES NO GLAUCOMA

Anotadas do 4º Ano 2007/08 Data: 15 de Novembro de 2007 Disciplina: Oftalmologia

PADRÃO DE RESPOSTA. Resposta: Diagnóstico 1. Coriorretinopatia Serosa Central. Exames 1. Angiografia fluoresceínica 2. Tomografia de coerência óptica

LENTES CONTACTO. Nº PESTANEJOS - 9 a 13 pestanejos por minuto - depende da fisio-psicologia e condições ambientais.

LENTES DE CONTATO DESCARTÁVEIS CUIDADOS AO COMPRAR, TAMBÉM É PRECISO ADAPTAR E ACOMPANHAR O USO.

Como avaliar o Astigmatismo. Filomena Ribeiro

VISION IN EVOLUTION A

Estudo das modificações oculares induzidas pelo implante estromal do anel de Ferrara em portadores de ceratocone

Biofísica da visão II. Ondas eletromagnéticas, o olho humano, Funcionamento da visão, Defeitos da visão.

Todo o conjunto que compõe a visão humana é chamado globo ocular.

É um agente físico capaz de sensibilizar os nossos órgãos visuais.

Projeto CAPAZ Básico Ametropias 1 Miopia e Hipermetropia

O que precisa de saber sobre. Lentes de Contacto

Fundo de Olho e Retinopatia Diabética. Prof. Cláudia Gallicchio Domingues Universidade de Caxias do Sul

CONFIABILIDADE é o compromisso da Visiontech

Luis Alberto Perez Alves Contatólogo e consultor Adaptação de lentes de contato rígidas esféricas Capítulo l

Catálogo de Lentes de Contacto 2015

Luz, olho humano e óculos Capítulo 12

Materiais e Equipamentos Contatologia

INNOVATION, QUALITY AND EVOLUTION ARE PART OF OUR VISION

Adaptação de lentes de contato após cirurgia refrativa

AULA 01 INTRODUÇÃO. Eduardo Camargo de Siqueira PROCESSAMENTO DE IMAGENS Engenharia de Computação

Corneal topography for rigid gas permeable lens fitting in keratoconus - technique and preliminary results

O descolamento de retina pode começar em uma pequena área, mas, quando não tratado, pode ocorrer descolamento de toda a retina.

Miopia. Miopia Patológica. pseudomiopia e miopia nocturna. Miopia elevada, associada a mudanças

ÓPTICA GEOMÉTRICA MENU DE NAVEGAÇÃO. LENTES ESFÉRICAS LENTES CONVERGENTES Elementos

INFORMAÇÕES IMPORTANTES PARA OS USUÁRIOS DE LENTES DE CONTATO

QUEIMADURAS OCULARES

Novos Aspectos do Pré Operatório de Cirurgia Refrativa: A importância da Análise da Frente de Onda. Dr. Renato Ambrósio Jr


INFORMAÇÃO PARA O DOENTE PORQUE É IMPORTANTE A HIGIENE PALPEBRAL EM CASO DE DISFUNÇÃO DAS GLÂNDULAS DE MEIBOMIUS?

Óptica Geométrica Ocular Séries de Exercícios 2009/2010

Profa. Dra. Silvia P. S. Kitadai Área Técnica da Saúde Ocular CODEPPS - SMS. Retinopatia da Prematuridade 2006

CEGUEIRA E CATARATA. Perguntas e respostas

Projeto CAPAZ Básico Ametropias 2 Astigmatismo e Presbiopia

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO COMISSÃO DE EXAMES DE RESIDÊNCIA MÉDICA. Nome do Candidato Caderno de Prova 25, PROVA DISSERTATIVA

Lentes de bordas finas: quando as bordas são mais finas que a região central.

Estrutura do OLHO HUMANO:

CAUSAS MAIS FREQUENTES OLHO VERMELHO

Avaliação do filme lacrimal

MELANOMA DA COROIDEIA: DIFERENTES APRESENTAÇOES

PROJETO DE LEI Nº 060/2012

Catálogo de Lentes de Contacto 2014

DuraVision Platinum. Veja mais. Viva mais. Lentes de alta precisão ZEISS. O tratamento antirreflexo mais resistente de todos os tempos*

TÍTULO: RELATO DE CASO - OCT de segmento anterior na avaliação de edema de córnea

CONSULTAS E EXAMES PARTICULARES

Profa. Le:cia Veras Costa- Lotufo. Câmara superautomá:ca Posiciona- se na direção do objeto Poder de foco Regula a sensibilidade do filme

A surdez é uma deficiência que fisicamente não é visível, e atinge uma pequena parte da anatomia do indivíduo.

SABER MAIS SOBRE QUERATOCONE - ANÉIS INTRACORNEANOS

Índice de Refração. c v. n =

Cleusa Coral-Ghanem 1 Milton Ruiz Alves 2 RESUMO INTRODUÇÃO

3ª Edição. Você usa Óculos? Conheça. Lentes de Contato.

Desempenho visual de lentes de contato gelatinosas de diferentes tipos baseado na análise de frentes de onda

SENSIBILIDADE E ESPECIFICIDADE

Instrumentos e Técnicas de Observação. Associação de Astrónomos Amadores da Madeira Marco Joaquim

PROVA ESPECÍFICA Cargo 75

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO DIRETORIA DE ENFERMAGEM SERVIÇO DE EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM

DIPLOPIA DIPLOPIA MONOCULAR

Projeto CAPAZ Biblioteca Comunicação na Ótica

Dr. Renato Neves CATARATA

Técnicas radiográficas. Técnicas Radiográficas Intraorais em Odontologia. Técnicas Radiográficas Intraorais. Técnicas Radiográficas

Lista de Óptica ESPELHOS ESFÉRICOS. João Paulo I

Relatório de Estágio Adaptação de Lente de Contacto Tórica, Olho Seco Severo, Endotropia Parcialmente Acomodativa

Informe ATS Nº 1. Avaliação de Tecnologia em Saúde CIRURGIA A LASER PARA A CORREÇÃO DE MIOPIA, HIPERMETROPIA E ASTIGMATISMO

Relatório Sintético de Procedimentos

LENTES E ESPELHOS. O tipo e a posição da imagem de um objeto, formada por um espelho esférico de pequena abertura, é determinada pela equação

18/06/2012. Magnificação. Postura PRINCÍPIOS DA MICROCIRURGIA OCULAR

BIOMICROSCOPIA ÓPTICA

PARECER CFM nº 30/15 INTERESSADO: C.O.F. Procedimento de Ortoceratologia Cons. José Fernando Vinagre

Quantas vezes o olho humano pisca, por minuto?

CARTILHA DE ORIENTAÇÕES PARA PREENCHIMENTO DE GUIAS DE REFERÊNCIA EM OFTALMOLOGIA. Área de abrangência do DRS XIII

Nuno Lopes MD. FEBO.

Professora Bruna FÍSICA B. Aula 17 Seus Óculos. Página 232

Escoliose: uso de órteses

CRESEMS, CISCOPAR e 20ª. Regional de Saúde Toledo PR PROTOCOLOS CLÍNICOS ESPECIALIZADOS


A baixa visão: apresentação e conceito

Como n lente = n meioa, não há refração. Ou seja, o sistema óptico não funciona como lente.

Exame de Refração: Lâmpada de Fenda: Topografia: Paquimetria: Aberrometria:

Modos de Propagação. Tecnologia em Redes de Computadores 5º Período Disciplina: Sistemas e Redes Ópticas Prof. Maria de Fátima F.

Transcrição:

Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE Serviço de Oftalmologia Director: Dr. António Melo Queratocone e Lentes de Contacto Inês Coutinho, Mário Ramalho, Catarina Pedrosa, Susana Pina, Mafalda Mota, Cristina Santos Dra Cristina Vendrell Amadora, Maio 2014

Queratocone Ectasia corneana Não inflamatória Frequente espessura do estroma central/paracentral com distorção cónica da córnea Bilateral (96%) Assimétrico Inicio: 15-20A Progressiva: 35-40 A

Queratocone Etiologia multifactorial??? Genética + Biomecânica +Bioquímica Factor desencadeante: Trauma ocular Associações sistémicas e OFT: Atopia /S.Down/S.Turner/ S.Marfan/S.Ehlers-Danlos/Prolapso da Válvula Mitral/Osteogénese imperfeita Queratoconjuntivite vernal/ Aniridia/Amaurose congénita de Leber/Retinose pigmentar/ S. Floppy eyelid

Queratocone Critérios de diagnóstico clínico Sintomas AV ou visão distorcida Sinais Refractivos: Astigmatismo miópico irregular Reflexo em tesoura e gota de óleo à esquiascopia Sinais Externos: Sinal de Munson e Rizzuti

Queratocone Critérios de diagnóstico clínico Sinais Biomicroscópicos: Adelgaçamento ápex da córnea Maior visibilidade das fibras nervosas Estrias de Vogt Anel de Fleisher na base Opacidades apicais

Queratocone Critérios de diagnóstico topográficos Mapa de elevação Mapa queratométrico Mapa paquimétrico Sinais Alarme: Km>47D Diferença I/S>1.4D Ponto mais fino <500μm (++ inferior)

Queratocone Classificação Queratométrica: Incipiente (<45D) Moderado (45 a 52D) Avançado (52-60D) Severo (>60D) Asmler-Krumeich: Topográfica: Redondo ou Nipple Cone Oval ou Sagging Cone Globoso Indefinido

Queratocone Opções terapêuticas Óculos LC Anel intra-estromal Crosslinking Queratoplastia

Queratocone e Lentes de Contacto LC não interfere com a evolução da doença mas proporciona melhor AV Pode ser factor desencadeante de progressão Avanços tecnológicos tem permitido a adaptação de LC em quase todos os graus de queratocone

Queratocone e Lentes de Contacto Não existe uma LC ideal para todos os tipos LC ideal Integridade da superfície ocular MAVC Conforto

Queratocone e Lentes de Contacto RGP Corneana Esférica/ Asféricas Bicurva/ Multicurva Piggyback Híbridas Esclerais Hidrófilas: Especiais ou tóricas

RGP 1º OPÇÃO Vantagens: Qualidade óptica, correcção de astigmatismo corneano irregular, boa troca lacrimal, segurança, fácil manuseio, maior durabilidade Desvantagens: pouca estabilidade, desconforto

RGP Adaptação da LC: 1.Curva Base/ Raio de Curvatura ( K ou + plano K) Diâmetro (8 A 10 mm) Cone redondo e apical : LC+ curva (RC =K ) e menor diâmetro (8mm) Cone oval e descentrado: LC + plana (RC=mais plano K)e maior diâmetro (9-10mm)

RGP Adaptação da LC: 1.Curva Base (= K ou + plano K) Diâmetro (8 A 10 mm) 2.Padrão de Fluoresceína -3 Pontos de Toque -Sem Toque apical -Toque apical mínimo de 2 a 3mm

RGP Adaptação da LC: 1.Curva Base (= K ou + plano K) Diâmetro (8 A 10 mm) 2.Padrão de Fluoresceína 3.Movimento e Centragem LC 4.Tolerância 5.Potência - Sobrerefracção e distância Vertex

RGP Especiais Menicom KRC, K3, TCC6 (Optiflex) Menicom S9, B4P,B4PM Renovação 2 anos Custo 150 /lente

RGP Especiais Rose K KeraKone Soflex OP8 (Optiforum) Nissel KII Rigid (Cantor e Nissel)

Piggyback Lente Hidrófila ( em contacto com a córnea) conforto RGP (sobre a hidrófila) boa AV Indicações: +++ Intolerância RGP, Erosão recorrente Pouco usado - solução temporária

Híbridas Saia Hidrófila Centro RGP Vantagens: melhor conforto e centragem da LCHídrofilas + visão nítida das RPG Desvantagens: mais caras Indicação : ++intolerância ou má adaptação com RGP, Cone descentrado

Híbridas Synergeyes Clear Kone Synergeyes UltraHealth (Optiforum) Saia com Silicone Hidrogel Dk Diâmetro= 14.5mm Renovação 6 meses Limpeza: peróxido de hidrogénio

Híbridas Adaptação da LC - Inserir a lente com a ajuda de uma ventosa cortada e com solução salina - Escolha do Vault e Saia (Padrão de Fluoresceína) - Cálculo da Potência Sobrerrefracção e distância Vertex

Híbridas Selecção do Vault 250µ após 3min Ideal = 50/100µ mais alta do que o primeiro toque e com fluorescência total apical Começar com o Vault de 250µ e a Saia Flat Se excesso de fluorescência baixar o vault em passos de 100 µ até observar o primeiro toque Aumente o vault 100µ em relação à lente em que observou o primeiro toque, e verifique se observa fluorescencia total apital Fica escolhido o Vault 150µ (050µ + 100µ = 150µ) 050µ

Híbridas Selecção da saia (levantamento) Começar pelo Vault determinado no passo anterior com a Saia Flat Examinar a fluorescência corneal da Inner Landing Zone (ILZ Zona de Apoio do Bordo da Semi-Rígida) 3-4 minutos após a inserção. Se toque insirir o mesmo vault com a saia Medium e verificar se há ou não toque, se necessário tentar a saia Steep Saia Flat -toque da ILZ Saia Medium toque menor Saia Steep- ideal

Esclerais Indicação: ++ Queratone avançado e descentrado, degenerescência marginal pelucida, intolerância RGP, olho seco 20-24mm Escleral Adaptação da LC - Inserir a lente com a ajuda de uma ventosa cortada e com solução salina SoClear KC (Optiforum) - Sem toque corneano - Filme lacrimal com espessura >100Um

Hidrófilas Especiais Mais espessas e com curvatura interna central maior Tóricas Soflex Soft K (Optiforum) Vantagens: conforto Desvantagens: menor DK baixo, não corrige astigmatismo corneano irregular

Complicações LC Queratite ponteada Erosão epitelial Cicatriz/opacidade corneana Reavaliações frequentes Infecções Neovascularização

Conclusão A escolha da LC é um processo complexo e demorado, podendo ser necessário o ensaio com vários tipos e desenhos de LC A escolha depende do tipo (Localização, forma, diâmetro) e estádio do Queratocone ( queratometria, topografia) Queratocone INCIPIENTE e CENTRADO MODERADO AVANÇADO SEVERO RGP tradicionais LC RGP especiais( Menicom, Rose K, KeraKone) Synergeyes Lentes esclerais

Obrigado!

Bibliografia Barnett M, Mannis MJ. Contact lenses in the management of keratoconus. Cornea. 2011 Dec;30(12):1510-6. Espandar L, Meyer J. Keratoconus: overview and update on treatment. Middle East Afr J Ophthalmol. 2010 Jan;17(1):15-20. Fowler WC, Belin MW, Chambers WA. Contact lenses in the visual correction of keratoconus. CLAO J. 1988 Oct- Dec;14(4):203-6 Netto A, Coral-Ghanem C. Lentes de Contacto.Série Oftalmológica Brasileira, 2º edição. Rio de Janeiro. Cultura Médica:Guanabara, 2011 Nogueira H, Seco J.Queratocone: Diagnóstico e Terapêutica. Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, Vol.37, Nº1-Janeiro-Março 2013 Rathi V, Mandathara P. Contact Lens in Keratoconus. Indian J Ophthalmol. Aug 2013; 61(8): 410-415 Vazirani J, Basu S. Keratoconus: current perspectives. Clin Ophthalmol. 2013;7:2019-2030. Epub 2013 Oct 14. Review http://www.menicon.com/pro/marketing-support/for-professional/brochures/36-main/133-gp-lenses-brochures