PREPARAÇÃO DE ARGILAS ORGANOFÍLICAS E DE NANOCOMPÓSITOS DE POLIPROPILENO Martha Fogliato S. Lima 1*, Vinicius G. do Nascimento 1, Denise M. Lenz 1, Flavia Schenato 1 1 - Universidade Luterana do Brasil ULBRA Programa de Pós-graduação em Engenharia: Energia, Ambiente e Materiais Campus de Canoas, Canoas-RS mfsl@ulbra.br Resumo: O presente trabalho tem como objetivo a preparação e caracterização de nanocompósitos de polipropileno (PP) a partir de uma argila montmorilonítica comercial nacional (MMT), previamente modificada com três diferentes sais de amônio comerciais (Dodigen, Genamin e Praepagen ), visando obter propriedades térmicas superiores à matriz polimérica pura, além de verificar a influência do sal de amônio nestas propriedades. Os nanocompósitos de PP/MMT foram preparados pelo método de intercalação no estado fundido. Foram obtidas amostras de três diferentes nanocompósitos, incorporando-se 3% em peso de cada uma das argilas modificadas à matriz de polipropileno, sendo estes processados por injeção. A caracterização térmica (TGA) em atmosfera inerte e oxidativa indicou que houve aumento da estabilidade térmica de todos os nanocompósitos de PP/MMT em relação ao polipropileno puro, sendo que o maior aumento foi observado para o nanocompósito de PP-MMT-praepagen. Palavras-chave: nanocompósitos, polipropileno, montmorilonita, organofilização Preparation of organophilic clays and polypropylene nanocomposites Abstract: Polypropylene/montmorilonite nanocomposites were prepared by the melt intercalation technique. The clay was organically modified with different quaternary ammonium salts to obtain the organoclay. The modified clays with the quaternary ammonium salts were introduced in a polypropylene matrix with 3 wt. % of clay. The interlayer distance (d001) of the clay particles were obtained by X- ray diffraction and the thermal stability of the systems were investigated by thermogravimetry. The organoclay presence in the polymer matrix increased the degradation temperature in relation to the pure polymer. Keywords: nanocomposites, polypropylene, montmorilonite, organophilization Introdução Nos últimos anos, os nanocompósitos poliméricos (NCP) vem se destacando como uma nova classe de materiais [1-2], devido a diversidade de aplicações e significativas melhorias nas propriedades quando comparados aos compósitos convencionais. Um dos tipos de nanocargas mais utilizados em nanocompósitos poliméricos são as argilas do tipo montmorilonita (MMT), que são sólidos inorgânicos constituídos por silicatos em camadas, com grande área superficial e elevada razão de aspecto. A incorporação de pequenas quantidades (<5%) de argila montmorilonita na matriz polimérica origina materiais com maior resistência mecânica, maior estabilidade térmica ou com propriedades ópticas, magnéticas ou elétricas superiores, além de melhorar significativamente a resistência à chama e propriedades de barreira em relação ao polímero que constitui a matriz. Além disso, a preparação de nanocompósitos poliméricos permite em muitos casos uma redução de 4822
custos, devido à utilização de menor quantidade de carga e um elevado nível de desempenho, que pode resultar da sinergia entre os componentes [3]. O Brasil é um país com grandes reservas de argilas que tem diversas aplicações, inclusive como carga, mas sua utilização em tecnologias nacionais de produção de NCP é ainda incipiente. Para essa aplicação, a argila deve ser modificada e um dos aspectos decisivos para seu emprego como nanocarga em nanocompósitos é o seu grau de hidrofobia e o aumento da distância entre as camadas. Para promover uma melhor compatibilidade é necessário modificar quimicamente a carga inorgânica (MMT), tornando-a organofílica, o que é conseguido através da troca de íons na camada intermediária, isto é, os íons Na + presentes devem ser substituídos por cátions orgânicos, como por exemplo, íons de amônio alquilados. Desta forma, as montmorilonitas tornam-se insolúveis em água e apresentam capacidade de inchamento em meio orgânico, além de permitir a dispersão através de cisalhamento durante o processamento [4-8]. O polipropileno (PP) é um termoplástico de natureza apolar que encontra-se entre os polímeros mais amplamente utilizados e com maior crescimento devido ao seu custo relativamente baixo, facilidade de processamento, reciclabilidade e larga faixa de aplicações. Este trabalho tem como objetivo a preparação e caracterização de nanocompósitos de polipropileno (PP) a partir de uma argila montmorilonítica comercial nacional (MMT), previamente modificada com três diferentes sais de amônio comerciais, visando obter propriedades térmicas superiores à matriz polimérica pura, além de verificar a influência do sal de amônio nestas propriedades. Experimental A nanocarga utilizada foi uma argila montmorilonítica (MMT) comercial nacional, fornecida pela Buntech Tecnologia. Foram empregados os seguintes sais quaternários de amônio comerciais, fornecidos pela Clariant: Dodigen (cloreto de alquila dimetil benzil amônio), Genamin (cloreto de cetil trimetil amônio) e Praepagen (cloreto de estearil dimetil amônio). A matriz polimérica empregada foi um polipropileno (PP) comercial de médio índice de fluidez (H306), fornecido pela BRASKEM. Inicialmente, a metodologia consistiu na modificação da argila, utilizando-se três diferentes sais quaternários de amônio (organofilização). Foram preparadas três dispersões aquosas da argila, com agitação mecânica, e a cada uma delas foi adicionado um dos sais de amônio. Em seguida, os recipientes foram fechados e mantidos à temperatura ambiente por 24h. Após esse tempo, cada uma das soluções foi filtrada, lavada com água destilada e secada em estufa a (50 ± 5) o C, por 48 h. Por 4823
fim, os aglomerados secos foram desagregados em almofariz e passados em peneira ABNT n o 200 (D = 0,074 mm). A caracterização da argila montmorilonita (MMT), sem tratamento e após tratamento com os sais de amônio, foi realizada através da técnica de difração de raios-x (WAXD). As análises foram realizadas em um equipamento da marca Rigaku, utilizando-se radiação Kα do cobre a 40kV e 40mA, varredura entre 2θ de 1,5 a 60º, passo de 0,05º e tempo de 3 s/grau. Foram obtidas amostras de três diferentes nanocompósitos de PP/MMT, incorporando-se 3% em massa de cada uma das argilas modificadas ao polímero, realizando-se inicialmente uma prémistura através de moldagem por compressão em prensa hidráulica de bancada (Eka) a 170 o C. Posteriormente, cada uma destas amostras foi triturada em uma cortadora de plásticos (SEIBT) e após processada por injeção (injetora Himaco 80T) em uma faixa de temperatura de (170-180) o C, curso de dosagem de 55 mm e pressão de 90 bar. Foi realizada a caracterização térmica por análise termogravimétrica (TGA). As condições experimentais foram de taxa de 10 o C/min, na faixa de (30-800) o C, em atmosfera inerte e oxidativa. Resultados e Discussão O difratograma da argila sem tratamento (Fig. 1) demonstrou que trata-se de uma montmorilonita sódica, com pequenas quantidades de quartzo, e promissora para o desenvolvimento dos nanocompósitos. Após realizadas as etapas de organofilização da argila com os sais de amônio, e realizadas novas análises de WAXD, os resultados mostraram uma boa intercalação dos sais quaternários nas posições interlamelares da montmorilonita, evidenciando uma boa organofilização, com deslocamentos dos planos basais e aumento nas reflexões (001). O pico característico para o plano (001) da argila não tratada aparece em aproximadamente 5,7 o 2θ e corresponde ao espaçamento basal (d001) de 15,2 Å. O aumento do espaçamento basal variou de acordo com o tipo de sal introduzido na argila, conforme mostrado na Fig. 2 e Tabela 1. Figura 2- Difratograma da argila sem tratamento. 4824
140000 130000 39.2 39.2 Å 120000 110000 100000 90000 Intensidade (u.a.) 80000 70000 60000 50000 40000 30000 20000 19.0 Å 26.7 Å 24.5 Å 16.3 Å 15.2 Å Argila + Praepagen Argila + Genamin Argila + Dodigen 10000 0 AST 2 4 6 8 10 12 14 2-Theta Figura 3 - Difratogramas da argila sem tratamento (AST) e tratada com os sais Dodigen, Genamin e Praepagen. Tabela 1 - Distância interplanar basal d001 das amostras de argila sem tratamento e tratadas com os sais quaternários de amônio. Amostra Espaçamento basal (Å) Argila sem tratamento 15,2 Argila + Dodigen 24,5 Argila + Genamin 26,7 Argila + Praepagen 39,2 As figuras a seguir apresentam as curvas termogravimétricas (TGA) do polipropileno puro e dos nanocompósitos de PP-MMT realizados em atmosfera inerte (Fig. 4) e atmosfera oxidativa (Fig. 5) 4825
Figura 4- Curvas de TGA (atmosfera inerte) dos nanocompósitos de PP/MMT. Figura 5- Curvas de TGA (atmosfera oxidativa) dos nanocompósitos de PP/MMT. Os resultados de TGA em atmosfera inerte indicaram que houve aumento da estabilidade térmica de todos os nanocompósitos de PP/MMT em relação ao polipropileno puro, aumento este de até 30 o C no caso do nanocompósito de PP com a argila modificada com o sal de amônio Praepagen (PP/MMT-praepagen). Os resultados de TGA em atmosfera oxidativa também demonstraram aumento da estabilidade térmica dos nanocompósitos em relação ao PP puro, sendo que este aumento foi de até 110 o C no caso do nanocompósito PP/MMT-praepagen. Conclusões Os resultados de difração de raios-x mostraram que a argila utilizada no estudo é uma montmorilonita sódica, promissora para o desenvolvimento dos nanocompósitos. Após o tratamento 4826
com os sais foi demonstrado que estes foram intercalados nos espaços interlamelares da argila sódica, tornando-a organofílica. Foram observados deslocamentos de pico para ângulos menores e um aumento na distância interlamelar basal de 15,2 Å para valores de até 39,2 Å, no caso da argila tratada com o sal Praepagen. Os resultados de TGA em atmosfera inerte e oxidativa indicaram que houve aumento da estabilidade térmica de todos os nanocompósitos de PP/MMT em relação ao polipropileno puro. O maior aumento foi observado para o nanocompósito de PP-MMT-praepagen, provavelmente devido ao maior espaçamento basal provocado pela introdução do sal Praepagen na argila, que pode favorecer uma melhor intercalação e dispersão no polímero, melhorando assim sua estabilidade térmica. Agradecimentos Os autores agradecem à Clariant pela doação dos sais de amônio, à Buntech Tecnologia pela doação da argila e à ULBRA pelo auxílio financeiro. Referências Bibliográficas 1. S. J. Komarneni J. Of Mater. Chem. 1992, 2, 1219. 2. A.C.C. Esteves; A. B. Timmons; T. Trindade Química Nova 2004, 27, 798. 3. R. Barbosa; E. M. Araújo; L. F. Maia; O. D. Pereira; T.J A. Melo Polímeros: Ciência e Tecnologia 2006, 16, 246. 4. P. Souza Santos, Ciência e Tecnologia de Argilas, Edgard Blücher, São Paulo, 1992. 5. G. E. Christidis; P.W. Scott; A.C. Dunham, Applied Clay Science, Elsevier, London,1997. 6. H. H. Murray, Applied Clay Mineralogy: occurrences, process, application of kaolins, bentonites, palygorskite-sepiolite and common clays, Elsevier, London, 2007. 7. E. M. Araújo et al. Polímeros: Ciência e Tecnologia 2006, 16, 38. 8. C. L. Vieira; C. A. Pinto; F. R. Valenzuela-Díaz; P. M. Buchler in Anais do 46 o Congresso Brasileiro de Cerâmica, São Paulo, 2002, Vol. 1, 1685. 9. H. Hamada; K. Fujihara; A. Harada Comp. Part A. 2000, 31, 979. 10. N. V. Patil Adv. Mater. & Proc. 2005, 12. 4827