Revisitando o conceito de angústia em Freud



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Transcrição:

Revisitando o conceito de angústia em Freud Silvia Lira Staccioli Castro Primeiro tempo: neurose de angústia libido represada Pretendo, neste trabalho retomar a construção do conceito de angústia na psicanálise, partindo dos primeiros trabalhos de Freud, inclusive de alguns que foram escritos na época em que os pressupostos teóricos, balizadores da psicanálise, como o conceito de recalque e de defesa, ainda não haviam sido formulados. Cito o artigo de 1895[1894] intitulado Sobre os fundamentos para destacar da neurastenia uma síndrome específica denominada neurose de angústia, no qual se localiza germes do pensamento freudiano contido no artigo Além do princípio de prazer (1920), desenvolvido quase trinta anos mais tarde. Segundo Freud (1895[1894]), o surgimento da neurastenia e da neurose de angústia estaria relacionado a uma vida sexual anormal, isto é, em que não houvesse descarga suficiente da libido, como no caso da prática do coito interrompido ou da abstinência sexual. Dessa forma, verifica-se que no início da sua produção teórica, Freud tomou a sexualidade num âmbito muito mais restrito do que tomaria posteriormente, como sinônimo de genitalidade. Em 1917b(1916)/1996, afirmou não ser tarefa fácil determinar qual seria a definição da expressão sexual. Segundo ele, talvez a única definição acertada fosse tudo o que se relaciona com a distinção entre os dois sexos 1. Em 1895[1894], o quadro clínico da neurose de angústia foi apresentado da seguinte forma: 1) Irritabilidade geral seria o indício de um acúmulo de excitação (acúmulo absoluto) ou de uma incapacidade de tolerar tal acúmulo (acúmulo relativo); 2) Expectativa angustiada haveria um quantum de angústia em estado de livre flutuação que controlaria a escolha das representações quando uma expectativa se apresentasse, estando sempre pronto a se ligar a qualquer conteúdo representativo adequado. A expectativa angustiada, quando ligada, se abrandaria e se transformaria em angústia normal. Este estado psicológico poderia ser entendido como um estado de alerta, no qual se esperaria que ocorresse sempre o pior. Segundo o autor, ela seria reconhecida pelo próprio paciente como uma compulsão; 3) Angústia 2 a angústia seria latente em relação à consciência 3. Assim, na maior parte do tempo, restaria à espreita. Deste modo, a angústia poderia irromper repentinamente, sem que fosse despertada por uma seqüência de representações, provocando um ataque, ou poderia comparecer acompanhada da interpretação que estivesse mais à mão. O sentimento de angústia poderia estar vinculado ao distúrbio de uma ou mais funções corporais, como a atividade cardíaca e a respiração. Portanto, uma diferenciação entre a angústia como descarga somática e a angústia como sinal já estava sendo delineada. Para comprová-la, basta observar o seu comentário sobre a expectativa angustiada. A angústia, sob a dimensão protetora estaria vinculada a 26

uma representação, enquanto aquela que vem abruptamente, constituindo um ataque, seria indicativa de uma cota de afeto livre, isto é, desligado de qualquer idéia. Freud fez os seguintes comentários sobre os três fatores que compõem o quadro clínico da neurose de angústia: Não se poderia precisar a proporção com que esses três elementos se misturam num ataque de angústia, em virtude da grande variabilidade; Apesar de terem sido apresentados associados, todos os sintomas descritos acima poderiam, por si só, constituir o ataque de angústia. Nesta via de raciocínio, poderia-se formular a seguinte hipótese, se o sujeito viesse a vivenciar uma situação que não lhe propiciasse descarga suficiente da libido, ele provavelmente desenvolveria uma neurose de angústia, em virtude da energia represada que teria se acumulado. O mecanismo presente nas neuroses atuais era atribuído a uma deflexão da excitação sexual somática da esfera psíquica e ao emprego anormal dessa excitação. Portanto, sua causa estaria localizada fora do campo psíquico, ou seja, fora do campo das representações. Daí a afirmação de Freud de que a neurose de angústia(...) é produto de todos os fatores que impedem a excitação sexual somática de ser psiquicamente elaborada 4. Assim, as neuroses atuais, a saber, a neurastenia e a neurose de angústia, se diferenciariam das psiconeuroses 5, neurose obsessiva e histeria, por não terem nenhuma causalidade psíquica. Seriam causadas meramente por fatores sexuais conforme indicou Freud, em seu rascunho: Pode-se tomar como fato reconhecido que a neurastenia é uma conseqüência freqüente da vida sexual anormal. Contudo, a afirmação que quero fazer e comprovar por minhas observações é que a neurastenia é sempre apenas uma neurose sexual 6. A neurose de angústia, por exemplo, teria como fonte de excitação, leia-se causa precipitante do distúrbio, algo puramente somático e não psíquico, seria, conforme Freud esboçou no rascunho E, uma questão de acumulação física de excitação isto é, uma acumulação de tensão sexual física ; 7 enquanto a histeria e a neurose obsessiva seriam decorrentes de um conflito psíquico. Somente mais tarde, com a ampliação da noção de sexualidade, que ultrapassou os limites da genitalidade e rompeu com o determinismo biológico, Freud chegou a estabelecer que as psiconeuroses teriam uma etiologia sexual. Essa citação abaixo indica uma reflexão de Freud a respeito desse tema: Sem dúvida terão ouvido falar, senhores, que na psicanálise, o conceito daquilo que é sexual foi indevidamente ampliado, a fim de dar suporte às teses da causação sexual das neuroses e do significado sexual dos sintomas. Agora os senhores estão em condições de julgar por si mesmos se essa ampliação é injustificada. (...) Fora da psicanálise, o que se denomina sexualidade refere-se apenas a uma vida sexual restrita, que serve ao propósito da reprodução e é descrita como normal. 8 Em 1915, o autor postulou que o recalque atuaria sobre o representante da pulsão, ou seja, sobre uma idéia ou um grupo de idéias investidas de afeto, e assim, separaria um do outro. Como conseqüência da incidência do recalque sobre o representante da pulsão, a quota de afeto por ora livre poderia ter três destinos: 27

I. ser suprimido, de forma que não fosse mais encontrado (como se verifica numa conversão histérica); II. aparecer como um afeto que de uma maneira ou outra é qualitativamente colorido 9, pois se torna deslocado. Nesse caso, o afeto se liga a outra representação; III. ou ser transformado em angústia. Nesta via de raciocínio, Freud foi levado a pensar que a angústia era resultante do recalque. Mostrarei mais adiante que essa noção será revista pelo autor alguns anos mais tarde, mais precisamente em 1926. Por ora, continuarei a expor o desenvolvimento da teoria freudiana a respeito da relação entre o recalque e a angústia e incluirei também nesta equação a fobia, a partir do que Freud observou no caso Hans. No encontro com o desamparo: surge a angústia Numa das conferências de 1917, intitulada O estado neurótico comum, Freud diferenciou a angústia realística da angústia neurótica. A primeira seria racional e inteligível, enquanto a segunda seria desvantajosa. Neste trabalho, a angústia realística foi definida como uma reação à percepção de um perigo externo isto é, de um dano que é esperado e previsto. Está relacionada ao reflexo de fuga e pode ser visualizada como manifestação da pulsão 10 de autopreservação 11. Ela não era tida por Freud como inata, mas decorrente do processo de desenvolvimento da espécie, pois era adquirida a partir da educação, haja visto que as crianças não têm este tipo de angústia. Temem o escuro e a solidão, mas, por outro lado, se expõem a toda sorte de perigo que ameaça sua vida. Portanto, a angústia advém da situação em que a mãe está ausente. Assim, esse termo foi conceitualizado por Freud dentro da categoria da filogenética, isto porque ele acreditava que a própria evolução dos seres vivos havia levado ao desenvolvimento deste estado afetivo que protegia o animal, garantindo sua sobrevivência. Desta forma, quanto mais o aparecimento da angústia se limitasse a um início meramente frustrado a um sinal 12, mais chance teria o sujeito de reagir adequadamente a situação de perigo. Dentro deste panorama, a angústia realística seria extremamente vantajosa para o homem. Ela era chamada desta forma numa aparente investida do autor em distinguir a realidade material da psíquica, pois ela seria indicativa da existência de um perigo real, enquanto a angústia neurótica seria produzida sem que houvesse um perigo aparente que causasse ameaça. A vantagem da angústia realística seria possibilitar a fuga ou a defesa frente à ameaça à vida. Entretanto, ao mesmo tempo, Freud argumentou que este tipo de angústia não poderia ser tão forte a ponto de aterrorizar o sujeito, impedindo, neste caso, que reagisse à ameaça externa. Nessa linha de pensamento, não haveria lugar para a angústia, seria melhor que ela não tivesse surgido, comentou Freud; já que se ela for excessivamente grande, ela se 28

revela inadequada no mais alto grau; paralisa toda ação, inclusive, até mesmo, a fuga. (...) Assim, é-se tentado a afirmar que a geração de angústia nunca é coisa apropriada" 13. Ainda nesta conferência, Freud retomou a idéia de expectativa angustiada, enunciada a primeira vez em 1895[1894], também chamada de angústia expectante. Caracterizada nesta época mais tardia como uma espécie de angústia livremente flutuante, que está pronta para se ligar a alguma idéia que seja de algum modo apropriada a esse fim 14. Haveria então, em conformidade com o que foi escrito neste trabalho de Freud, duas formas de angústia, a primeira, seria livre, e a segunda, psiquicamente ligada, ou seja, vinculada a uma determinada idéia, a qual se apresenta nas fobias 15, sobre a qual Freud teceu o seguinte comentário: A angústia das fobias é efetivamente avassaladora. E às vezes temos a impressão de que aquilo que os neuróticos temem não são absolutamente as mesmas coisas e situações que, em determinadas circunstâncias, podem causar angústia entre nós, e que eles descrevem com as mesmas palavras. 16 Para o autor, toda fobia de adulto remonta à fobia infantil, que está sempre relacionada à angústia neurótica. Com Hans, Freud aprendeu que há uma estreita relação entre a angústia de castração e a constituição de uma fobia. A angústia diante dos cavalos surgiu nesta criança, quando as proibições de mexer no pipi impostas pela mãe começaram a incomodá-lo, isto é, quando o complexo de castração começou a se formar. Freud então localizou o momento de aquisição deste complexo, descrito como restrito àquelas excitações e conseqüências da perda do pênis 17, e manifesto nos meninos pela angústia e, nas meninas, pela inveja do pênis, quando se iniciaram as ameaças maternas de chamar o médico para cortar fora o pênis de seu filho, se ele não parasse com aquelas brincadeiras. Inicialmente, devo lembrar que a ameaça de punição da mãe foi recebida de forma muito tranqüila. Desse modo, ela somente passou a ter efeito num momento posterior, chegando a tamanha angústia que impedia Hans de sair de casa. Assim, observa-se que a angústia de castração se constituiu num a posteriori, quando Hans passou a acreditar na ameaça de castração. Esta é uma prova de que a formação do complexo de castração conta com a participação ativa da criança, conforme indica este pequeno trecho da obra freudiana: (...) as crianças constróem para si mesmas esse perigo, utilizando os mais indiretos indícios, os quais jamais deixarão de existir 18. Sobre este caso clínico, Lacan se deteve longamente inclusive no que concerne à formação da angústia e ao estabelecimento subseqüente de um quadro fóbico. Este autor destacou, em sua análise, a natureza da relação que é estabelecida entre uma criança e sua mãe no plano imaginário, isto é, no momento anterior à entrada do pai como função de interdição da relação de completude entre os dois. Lacan localizou na negação da mãe da diferença sexual a formação do quadro clínico de Hans e o despertar de sua angústia. A forma como ela respondeu à pergunta de seu filho sobre ter ou não um pipi prendeu Hans numa armadilha de ordem imaginária e real. Na medida em que ela confirmou ter também um pênis, tornou-se um objeto ameaçador, capaz de engoli-lo. O pequeno Hans, como todas as demais crianças, ignorava a diferença entre os sexos, acreditando na existência de um pênis materno, crença que foi reforçada por sua mãe, conforme indica este diálogo entre eles: 29

Noutra ocasião, ele estava olhando insistentemente sua mãe despida, antes de ir para a cama. Para que você está olhando para mim desse modo?, ela perguntou. Hans: Eu só estava olhando para ver se você também tem um pipi. Mãe: Claro. Você não sabia? Hans: Não. Pensei que você era tão grande que tinha um pipi igual ao de um cavalo. 19. Curioso notar que a última fala de Hans é bem interessante na medida em que revela que ele não somente julgava que a mãe possuía um pênis, como de que esse era enorme, como o dos cavalos. E nesse sentido, sua mãe respondeu positivamente à sua expectativa, de forma a confirmar sua imagem fálica. Essa posição, em que ela se colocou, levou à seguinte formulação de Lacan: A mãe, observem, em relação ao Pequeno Hans, acha-se numa posição ambígua. É proibidora, desempenha o papel castrador que poderíamos ver atribuído ao pai real, diz-lhe: Não mexa aí, isso é nojento o que não a impede, no plano prático de deixar o filho entrar em sua intimidade, e não apenas de lhe permitir que exerça a função de seu objeto imaginário, mas de encorajá-lo a isso. Ele, com efeito, presta-lhe os melhores serviços, encarna perfeitamente o falo para ela, e assim se vê mantido na posição de assujeito. Ele é assujeitado, e essa é toda a fonte de sua angústia e sua fobia. 20 Logo, como conseqüência da fala materna, Hans ficou inteiramente capturado no que Lacan chamou de paraíso do engodo 21, preso na armadilha que ele próprio criara, angustiado com a hiância que existe entre satisfazer uma imagem e ter algo de real para apresentar: apresentar cash, se posso dizer 22. Sem o pai para barrar o gozo da mãe, Hans se transformou em mero objeto desse Outro, todo-poderoso e devorador; situação que motivou sua fobia. Lacan localizou o surgimento de toda fobia na avidez da mãe em relação aos cuidados com o filho, em comparação a Freud, que por sua vez tomou o cavalo, objeto de representação da fobia de Hans, como um substituto do pai; como indica esta passagem retirada da obra lacaniana: Mesmo que seja qualquer cavalo o objeto de sua fobia, é sempre de um cavalo que morde que se trata. O tema da devoração é sempre encontrável, por qualquer lado, na estrutura da fobia 23. Para o autor, a eficácia do tratamento clínico realizado por Freud, através do pai de Hans, se deveu ao fato do psicanalista ter encarnado o pai e, portanto, ter se interposto na relação entre Hans e sua mãe, permitindo à criança, em primeiro lugar, confrontar-se com a falta do Outro, e subseqüentemente, com a castração. Assim, cabe reproduzir o seguinte comentário feito por Lacan sobre o sucesso da terapêutica freudiana: Se a fobia alcança uma cura das mais satisfatórias (...) é na medida em que interveio o pai real, que havia intervindo tão pouco até então, e que aliás só pôde fazê-lo porque teve atrás de si o pai simbólico, que era Freud. 24 No artigo O ego e o id (1923), Freud formulou a notória idéia de que o eu é a sede real da angústia 25. Neste trabalho, Freud localizou a origem da angústia na separação da mãe protetora. Essas duas noções foram preciosas para a teoria psicanalítica, sobretudo porque permitiu a Freud avançar bastante neste campo, como se verifica em trabalhos mais tardios. 30

Refiro-me primeiramente ao artigo Inibição, Sintoma e Angústia (1926[1925]), no qual se observa uma virada no pensamento freudiano. Pois a angústia não é mais tomada como um destino da libido, isto é, como um afeto transformado. Desta forma, a angústia não é mais tida como conseqüência do recalque, mas reconhecida como uma de suas principais forças motrizes. Ainda em 1926, Freud deu outro grande passo no avanço da psicanálise, pois dissolveu a diferenciação feita por ele mesmo, anteriormente, entre angústia realística e neurótica, afinal um perigo interno pode ser sentido como se fosse de fora, conforme fica explícito nesta passagem: Em alguns casos as características da angústia realística e da angústia neurótica se acham mescladas. O perigo é conhecido e real, mas a angústia referente a ele é supergrande, maior do que nos parece apropriado. É esse excedente de angústia que trai a presença de um elemento neurótico. 26 Também neste trabalho, Freud manteve a distinção estabelecida desde a invenção da psicanálise, entre angústia automática (involuntária e explicada sob fundamentos econômicos) e angústia como sinal (produzida pelo eu diante da ameaça de perigo), articulando essas duas faces da angústia a partir do trauma e do desamparo, conforme procurarei esclarecer a partir de agora. Um comentário sobre o primeiro tipo de angústia, encontrado nesta obra, auxilia a compreensão destas noções: O determinante fundamental da angústia automática é a ocorrência de uma situação traumática; e a essência disto é uma experiência de desamparo por parte do eu face de um acúmulo de excitação, quer de origem externa quer interna 27, com que não se pode lidar 28. A angústia automática passa a ser vista como reprodução da angústia de castração, que pode ser entendida como o estado afetivo decorrente da separação da mãe 29. Na verdade, trata-se de uma reação engendrada por uma determinada situação de perigo, vivida como traumática, que evoca o desamparo. E aqui, incluo uma passagem um tanto enigmática retirada da obra freudiana: a angústia não é criada novamente no recalque; é reproduzida como um estado afetivo de conformidade com uma imagem mnêmica já existente(...). Os estados afetivos têm-se incorporado na mente como precipitados de experiências traumáticas primevas, e quando ocorre uma situação semelhante são revividos como símbolos mnêmicos. 30 Seria essa imagem a da castração do Outro, da mãe? Penso que sim, pois a castração da mãe remete à própria castração do sujeito. Devo adverti-los que essa noção da angústia como relacionada a uma repetição de uma experiência significativa anterior, que remonta à infância, já havia sido ensaiada em 1917, época em que Freud observou ser este estado afetivo o precipitado de uma reminiscência 31. Contudo, ele situava esse período primitivo, no qual a situação traumática teria sido vivida pela primeira vez, na pré-história da espécie. Por outro lado, em outros momentos, Freud citou o nascimento como protótipo do trauma original 32, assim, toda experiência de angústia remontaria ao momento de separação da mãe, vivida no parto, conforme indica esse trecho retirado de sua obra: Do mesmo modo, reconhecemos como altamente significativo que esse primeiro estado de angústia surgiu quando da separação da mãe 33. Sobre esta teoria, sustentada por Rank e apoiada durante alguns anos por Freud 34, Adler fez a seguinte observação: Não é necessário 31

aventurar-se a ir tão longe como Freud, que vê angústia no processo de nascimento; mas a angústia pode remontar à infância 35. O desamparo biológico se transforma em desamparo psicológico, por isso a criança não pode prescindir do outro, de acordo com o que enunciou Freud: a angústia é um produto do desamparo mental da criança, o qual é um símile natural de seu desamparo biológico 36. Em realidade, o fator biológico cria as primeiras situações em que a vida do bebê se encontra em perigo, daí a sua dependência da mãe, que constrói a necessidade de ser amado. Nesta medida, a criança se angustiará a cada ausência da mãe por se ver, nestes momentos, ameaçada quanto a sua própria existência. E essa angústia vai acompanhá-la por outras tantas vezes, sempre que algo dessa ordem se anunciar, como sinal de um perigo iminente, provocando desprazer, conforme afirmou Freud: logo que o eu reconhece o perigo da castração dá o sinal de angústia 37. Na verdade, este tipo de angústia protege o sujeito do encontro com a castração, já que indica a possibilidade de ocorrência de algo terrível, que ameaça não só a sua vida física como também psíquica. Nas fobias, a angústia, ligada a uma representação, sinaliza ao sujeito onde se encontra o perigo, que deve ser evitado. Daí a percepção freudiana de que a angústia [Angst] 38 tem inegável relação com a expectativa: é angústia por algo 39. Deste modo, a inibição, frente a esse tal objeto, protege o fóbico de seu encontro com a castração. Para citar o clássico caso analisado por Freud, Hans temia a vingança do pai por seus desejos incestuosos dirigidos para a mãe, daí o temor que sentia de que um cavalo pudesse mordê-lo. Sua fobia encobria os dois principais impulsos edipianos, da hostilidade em relação ao pai e de excesso de afeição para com a mãe. Esta noção permitiu a Freud desistir da idéia de que a angústia seria explicada apenas em termos econômicos, considerada como descarga da libido, conforme está explícito nesta citação: O ponto de vista que numa fobia o eu é capaz de fugir à angústia por meio de evitação ou de sintomas inibitórios ajusta-se muito bem à teoria de que a angústia é apenas um sinal afetivo e de que não ocorreu nenhuma alteração econômica. 40 É bem verdade que desde 1923, quando Freud postulou que o eu era a sede única da angústia, não lhe era mais possível sustentar que a angústia provinha da descarga de libido represada. E visto que a energia que o eu emprega é dessexualizada 41, não se pôde mais manter a ligação entre angústia e libido. Para Freud, a maioria das fobias estaria relacionada a uma angústia sentida pelo eu no tocante às exigências pulsionais, que poria em movimento o recalque. Por isso sua afirmação de que A angústia neurótica é angústia por um perigo desconhecido 42, que a análise revelou ser um perigo pulsional. Desta forma, a força motriz do recalque seria a angústia sentida frente à castração iminente. Daí a célebre afirmação freudiana: Foi a angústia que produziu o recalque e não, como eu anteriormente acreditava, o recalque que produziu a angústia(...). A angústia jamais surge da libido recalcada 43. Na situação traumática, a angústia não apenas emitiria sinais como afeto de desprazer, mas também seria recriada automaticamente diante do medo evocado pela situação de encontro com o desamparo. Sendo assim, A angústia, por conseguinte, é, por um lado, uma expectativa de um trauma e, por outro, uma repetição dele em forma 32

atenuada(...), sendo reproduzida depois da situação de perigo como um sinal em busca de ajuda 44. Portanto, Freud dedicou muitos anos de pesquisa na busca da compreensão acerca da angústia e do trauma. Espero ter conseguido fazê-los refletir sobre a existência de posições teóricas que foram revistas e, por outro lado, pontos nodais que foram mantidos. Acredito que esta re-leitura de Freud seja necessária àqueles que querem se dedicar ao estudo destes temas na teoria lacaniana, tarefa que deixarei para cumprir num trabalho futuro. NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Freud, S. Conferência XX. A vida sexual dos seres humanos. In Obras Completas, v. XVI. Rio de Janeiro, Imago Ed., 1917b[1916-17])/1996, p.309. 2. Embora no artigo, em português, tenha sido empregado o termo ansiedade, opto por substitui-lo ao longo de todo este trabalho por angústia. 3. Neste momento da psicanálise, vale lembrar, Freud ainda não havia adotado a hipótese da existência de processos mentais inconscientes, segundo nota do editor das Obras Completas. 4.. Sobre os fundamentos para destacar da neurastenia uma síndrome específica denominada neurose de angústia. In Obras Completas, v. III. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1895[1894]/1996, p.110. 5. Cabe lembrar que a primeira vez que Freud utilizou este termo numa publicação foi em 1896 no artigo A hereditariedade e a etiologia das neuroses, porém antes teria-o empregado no Projeto (1895), segundo nota do editor da Edição Standard Brasileira. 6.. Extratos dos documentos dirigidos a Fliess: Rascunho B. In Obras Completas, v. I. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1950a[1893]/1996), p.223. 7.. Extratos dos documentos dirigidos a Fliess: Rascunho E. In Obras Completas, v. I. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1950b[1894]/1996, p.237. 8.. Conferência XX. A vida sexual dos seres humanos. In Obras Completas, v. XVI. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1917b[1916-17])/1996, p.324. 9. Repressão. In Obras Completas, v. XIV. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1915/1996, p.158. 10. No original das edições completas da Imago, consta o termo instinto, contudo decidi substituí-lo por pulsão ao longo da tese ao longo da tese. 11.. Conferência XXIV. O estado neurótico comum. In Obras Completas, v. XVI. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1917e[1916-17]/1996, p.395. 12. Ibid., p.396. 13. Ibid., p.395. 14. Ibid., p.399. 15. Cabe lembrar que neste texto, Freud classificou as fobias como histerias de angústia. 16.. Conferência XXIV. O estado neurótico comum. In Obras Completas, v. XVI. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1917e[1916-17]/1996, p. 400. 17.. Análise de uma fobia de um menino de cinco anos. In Obras Completas, v. X, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1909/1996, nota de rodapé, p.18. 18. Ibid., nota de rodapé, p.18. 33

19. Ibid., p.19. 20. Lacan, J. O seminário, Livro 5: as formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1957-1958/1999, p.199. 21.. Oseminário, Livro 4: a relação de objeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1956-1957/ 1995, p.232. 22. Ibid., p.232. 23. Ibid., p. 233. 24. Ibid., p.235. 25. Freud, S. O ego e o id. In Obras Completas, v. XIX, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1923/1996, p.69. 26.. Inibições, Sintomas e Ansiedade. In Obras Completas, v. XX, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1926[1925]/1996, p.161. 27. Isto porque, como já foi dito anteriormente, o eu trata certos impulsos pulsionais provenientes do isso como verdadeiros perigos. 28.. Inibições, Sintomas e Ansiedade. In Obras Completas, v. XX, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1926[1925]/1996, p. 85. 29. De fato, essa idéia já é encontrada em 1923, no artigo O ego e o id. 30.. Inibições, Sintomas e Ansiedade. In Obras Completas, v. XX, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1926[1925]/1996, p. 97. 31.. Conferência XXIV. O estado neurótico comum. In Obras Completas, v. XVI, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1917e[1916-17]/1996, p.397. 32. Esta teoria foi abandonada mais precisamente em 1926[1925], momento no qual Freud afirmou que no nascimento não há vivência subjetiva de separação, pois o bebê não se distingue da mãe como objeto. 33.. Conferência XXIV. O estado neurótico comum. In Obras Completas, v. XVI, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1917e[1916-17]/1996, p.398. 34. Inclusive Freud chegou a afirmar que essa teoria foi originalmente sua (Freud, 1926[1925], p.157). 35.. Conferência XXIV. O estado neurótico comum. In Obras Completas, v. XVI, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1917e[1916-17]/1996. Adler apud Freud, Ibid., p.398-399. 36. Ibid., p.136. 37.. Inibições, Sintomas e Ansiedade. In Obras Completas, v. XX, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1926[1925]/1996, p.125. 38. Esta palavra em alemão se encontra no texto freudiano, portanto não é minha nota. 39.. Inibições, Sintomas e Ansiedade. In Obras Completas, v. XX, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1926[1925]/1996, p.160. 40. Ibid., p.126. 41. Ibid., p.157. 42. Ibid., p.160. 43. Ibid., p.111. 44. Ibid., p.161-162. BIBLIOGRAFIA: FREUD, S. Resposta às críticas a meu artigo sobre a neurose de angústia. ESB, v. III, Rio de Janeiro: Imago, 1895. (impressão1996).. A hereditariedade e a etiologia das neuroses. ESB, v. III, Rio de Janeiro: 34

Imago, 1896a.(impressão1996).. Observações adicionais sobre as neuropsicoses de defesa. ESB, v. III, Rio de Janeiro: Imago, 1896b. (impressão1996).. Minhas teses sobre o papel da sexualidade na etiologia das neuroses. ESB, v. VII, Rio de Janeiro: Imago, 1906[1905]. (impressão1996).. Conferência XVIII. Fixação em traumas o inconsciente. ESB, v. XVI, Rio de Janeiro: Imago, 1917a[1916-17]). (impressão1996).. Conferência XXII. Algumas idéias sobre desenvolvimento e regressão etiologia. ESB, v. XVI, Rio de Janeiro: Imago, 1917c[1916-17]. (impressão1996).. Conferência XXIII. Os caminhos da formação dos sintomas. ESB, v. XVI, Rio de Janeiro: Imago, 1917d[1916-17] (impressão 1996).. O estranho. ESB, v. XVII, Rio de Janeiro: Imago, 1919 (impressão 1996).. Além do princípio de prazer. ESB, v. XVII, Rio de Janeiro: Imago, 1920 (impressão 1996).. O seminário, Livro 10: a angústia, INÉDITO, 1962-1963.. O seminário, Livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1964 (impressão 1998). 35