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Transcrição:

.?. Revista Brasileira de Geociências -43 ll(4): 227-237, Dez. 1981 - Siio Paulo ESQUEMA EVOLUTIVO DA SEDIMENTACAO QUATERNARIA NAS FEICÕES DELTAICAS DOS RIOS SÃ0 FRANCISCO (SE/AL), JEQUITINHONHA (BA), DOCE (ES) E PARAíBA DO SUL (RJ) c 3 4 JOSÉ MARIA LANDIM DOMINGUEZ*, ABÍLIO CARLOS DA SILVA PINTO BITTENCOURT* e LOUIS MARTIN** 9- ABSTRACT Quaternary sea level fluctuations along the east coast of Brazil played an im- portant role on the development of the coastal plains of the São Francisco, Jequitinhonha, Doce e Paraíba do Sul rivers. The following eight stages have been recognized representing the Quaternary evolution of these features: Stage 1 - Pliocene - deposition of the Barreiras Formation as a series of alluvial fans; Stage 2 - Pleistocene - the Most Ancient Transgression; erosion during its course of the external front of the Barreiras Formation; Stage 3 - Pleistocene - deposition at the foot of the coastal cliffs, carved in the Barreiras sediments by the Most Ancient Transgression; of coalescing alluvial fans; Stage 4-120,000 years B.P. - the Penultimate Transgression partially eroded the Pleistocene alluvial fans; Stage 5 - Drop of sea level, leading to the construction of coastal plains similar those which exist today; Stage 6-5,100 years B.P. - the Last Transgression partially eroded and drowned the Pleistocene coastal plains, which became in part isolated from the open sea by barrier islands; Stage 7 - construction of intralagoonal deltas in the lagoon systems associated with the afore mentioned barrier-islands; and Stage 8 - a regression allowed the development of present day coastal plains. L INTRODUCÁO Atualmente, quase todos os grandes rios que desaguam na costa brasileira apresentam, associada a suas desembocaduras, uma zona de progradação. Bacoccoli (1971), tomando por base a classificação de Fischer (1969), concluiu que essas zonas de progradação constituem deltas, assim identificando-os de norte para 7' Q sul (Fig. 1): a) delta altamente destrutivo, dominado por y marés - Rio Amazonas; b) deltas altamente destrutivos, y! dominados por ondas - rios Parnaíba, Jaguaribe, São _. Francisco, Jequitinhonha, Doce e Paraíba do Sul. No presente trabalho serão discutidas apenas as feições progradantes situadas na costa leste brasileira relacïonadas aos rios São Francisco, Jequitinhonha, Doce e Paraíba do Sul, uma vez que os mesmos têm sido ultimamente objeto de uma série de estudos (Bandeira Jr. et al., 1975 e 1979; Bittencourt et al., no prelo; Dias, 1981; Dias e Gorini, 1980; Dominguez et al., no prelo; e Suguio et al., no prelo), cujos resultados já permitem sintetizar e estabelecer um modelo de evolução para essas feições, durante o Quaternário, objetivo deste trabalho. Os trabalhos de Bandeira Jr. et al. (1975 e 1979), Dias (1981) e Dias e Gorini (1980) - respectivamente, os dois primeiros, para o Rio Doce e, os dois últimos, para o Rio Paraíba do Sul - acompanham Bacoccoli (1971) no sen- tido de classificar como deltas as zonas progradantes nas desembocaduras desses rios, ent6ndendo que os mesmos são os principais responsáveis pelo aporte de sedimentos para o avanço da linha da costa. Por outro lado, Bittencourt et al. (no prelo), Dominguez et al. (no prelo) e Suguio et al. (no prelo) já põem em dúvida o papel desempenhado, respectivamente, pelos rios São Francisco, Jequitinhonha e Doce como principais supridores de terrígenos, entendendo que as zonas de progradação, construidas nas desembocaduras desses rios foram alimentadas principalmente pela deriva litorânea e pelas grandes quantidades de areia que iam sendo expostas na plataforma continental nos episódios regressivos quaternários que atingiram aquelas regiões. Desse modo, no presente trabalho - e tendo em vista principalmente a inexistência, pelo que se conhece, de medidas conclusivas quanto à carga de fundo no baixo curso dos rios da costa leste brasileira, o que possibilitaria avaliar a efetiva contribuição dos mesmos como principais supridores de terrígenos para progradação - sera evitado, de uma maneira geral, o uso do termo "delta" para designar essas feiç6es, preferindo-se a expressão feição deltaica, no sentido de um corpo sedimentar progradante, subaéreo, associado à desembocadura de um rio. * Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geofísica e Instituto de Geociências da UFBa, Roa Caetano Moura, 123, Federação,? CEP 40000. Salvador. Bahia.+** Office de fa Recherche Scientifique et Technique Outre-Mer (ORSTOM), França, e ObservatÓrio@@T@$& m9em&l,fimire l" 586, CEP 20000, Rio de Janeiro, RJ f 7 JUI1. 1995 N"~ht89) o q ~ cote.n

Foz Rio Amozonos B R A S I L ).-- Rio São Francisco Foz Rio Jequilinhonho TESTEMUNHOS DE ANTIGOS NhEIS MARINHOS SI- TUADOS ACIMA DO NíVEL ATUAL DO MAR AO LONGO DA COSTA LESTE BRASILEIRA 0 5 trabalhos desenlolsidos por Bittencourt ef d. (1979~ e b, e em preparaçlio) e hiartin er ul. (19790 e 19800 e b), para a regilio costeira dos E4tadns di Bahia e Sergipe, e por Suguio e hlartin (1978). Suguio et al. (1980) e hiartin ef ul. (19790 e 198Ou), para a regiso co$teira do Estado de São Paulo e a porcgo \u1 da costa do Estado do Rio de Janeiro, compreendendo ilma extenziio de cerca de 1 840 hm do litoral hra\ileiro, permitiram adquirir um cnnhecimento ba\tante sati\fatorio cobre a$ tariacõer climiìticas e do nile1 relati\o do mar, durante o Quaternário, para aquelas regi6ek. Esses autorez, por meio de uma cartografia dc detalhe e dataqöes com C'", reconheceram dois conjuntos de terraços marinhos arenosos, testemunhos de dois importantes episódios tranzgressivos quaternários que afetaram aquelas regiões. Respectivamente, o mais antigo e o mais recente, esses eventos foram chamados em São Paulo de transgressões Cananéia e Santos (Martin et d., 1979bl e, na Bahia, cujas denominaçbes serão adotadas neste trabalho, de penúltima e tíltima transgress2ies (Bittencourt et d.? 197% e h). Na fase terminal da penúltima tramgre5säo e na regretclio sul-rsequente, foram depositados terraços areno- <o< SUJO topo se situa em média de 6 a 10 m acima do ni\ el at tial da preamar. Esses terracm apresentam na superficie coloraclio tranca, que passa m base para marrom-etcuro de natureza secundaria, resultante da impregna@o por dcidoc huniico\ e oxido de ferro, o que confere an sedimento uma certa cimentação. A origem litorânea desses depositas C atestada pela presenqa de tuhos fdsseis de Culliilnussa beni como pela preselisa sobre os terraços r de vestígios de cristas de antigos cordiies litorâneos, separadas por largas zonas intercorddes. Amostras de coral : coletadac numa formaygo recifal imediatamente abaixo de terrasos com essas características, na localidade de Olivença (sul do Estado da Bahia), e datadas pelo metodo IoiU, forneceram idades situadas em torno de 120 000 anos B.P. (hlartin et uf., no prelo), indicando portanto terem esses terraços sido depositados durante o Pleistoceno. Essa idade corresponde também, segundo aqueles autores, ao miximo alcancado pela penúltima t ransgress5o. Por volta de 17 O00 anos B.P., o nivel do mar situavase aproximadamente a 110 m abaixo do nivel atual (Bloom, 19771, portanto próximo h borda da plataforma continental. A partir daí começou a se caracterizar a Última transgressão, holocênica, tendo o nível do mar se elevado progressivamente até.culminar em um nível relativo de cerca de 5 m'acima do nível atual, por volta de 5 000-5 200 anos B.P. (hlartin ct ul., 1980a). Durante a fase final desse evento e na regressilo subseqüente, foram igualmente depositados terraços marinhos arenosos, cujo topo se situa de alguns centímetros até cerca de 4 m acima do nível atual da preamar, A origeni marinha e litorânea desses depbsitos é atestada pela presença de con-." chas, de tubos fdsseis de Cnllianussn, de estruturas sedimentares praiais e de alinhamentos de antigos cordões litorâneos na superfície dos terraços. Esses cord6es li-'*

. torineos, estreitamente próximos e paralelos, de modo diferente dos encontrados nos terracos pleistocênicos, apresentam-se en1 notável estado de conservacão (Bittencourt et al., 1979a). Dataqões com C 4 de pedapos de madeira e conchas encontrados nesses terraços apresentam idades inferiores a 6 O00 anos B.P., indicando portanto terem os mesmos sido construidos durante o Holoceno. Essas dataqões, associadas às obtidas em outros testemunhos deixados pelo movimento regressivo geral subseqiiente (incrustaçbes de vermetideos, corais etc.), permitiram reconstruir no tempo e no espaço antigas posiç6es do nível do mar para diversos setores da região costeira compreendida pelos Estados da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Foram assim construidas, para essa região, curvas de variayho reiaîjva do nivel iilediû dû mar durante aproximadamente os últimos 7 O00 anos (Martin et al., 19790 e 1980~; e Suguio er al., 1980) (Figs. 1 e 2). Essas curvas, de uma maneira geral, exibem grande similaridade de forma e mostram que o nível médio relativo do mar, durante o Holoceno, oscilou, passando por dois maximos e um mínimo na costa paulista e tres máximos e - dois mínimos na costa baiana. A não confirmacão de um segundo minimo e um terceiro máximo em S2o Paulo pode ser devido à ausência de bons testemunhos entre 3 OQO e 2 500 anos B.P. (Martin er ul., 1980~). Cabe aqui mencionar que, embora não se conhecendo depósitos correlativos, Bittencourt er d. (1979~ e h, no prelo e em preparação) reconheceram, para a costa dos Estados da Bahia e Sergipe, um terceiro evento transgres- sivo quaternário anterior aos outros dois aqui mencionados, e por eles denominado de transgressão mais antiga. Os Únicos testemunhos desse episódio são representados por linhas de falésias mortas esculpidas nos sedimentos detriticos da FormaCão Barreiras. Nas regiões de Jlacimirim (prbximo a Salvador) e da metade sul da planicie costeira associada à desembocadura do Rio São Francisco, essa linha de falésias é separada dos terracos marinhos pleistocênicos por um depósito continental, do tipo leques aluviais coalescentes, que foi retrabalhads parcialmente pelo mar durante a peniiltima transgressao uma vez que os testemunhos por ela deixados repousam diretamente sobre esses depósitos (Vilas Boas el al. 1979 e no prelo; e Bittencourt et al., no prelo e em preparação). Coinû apontam esses autcres, esse fato evidencii que, efetivamente, aquelas falésias foram formadas durante um evento transgressivo anterior à penúltima transgressão. Bittencourt er al. (1979~) associaram esse episódio, no sul do Estado da Bahia, à deposicão da Formacão Caravelas (não aflorante). Esta formação, marinha rasa, calcária e rica em fósseis, foi datada em sua parte superior como sendo de idade pleistocenica (Carvalho e Garrido, 1966). DEPdSITOS QUATERNbJW9S DAS FEIGaES DELTAI- CAS DO RIOS SÃ0 FRANCISCO, JEQLJITIFbJHONHA. DOCE E PARAiBA DO SUL Uma característica significativa das zonas de progradacäo associadas hs desembocaduras dos rios São Francisco, Jequitinhonha, Doce e - 1 A I J I I l I I I, n.m.m. 3 7 4,s s 5 4 3 2 I o -5 j.i P IDADES EP I 1000anos (MARTIN et (1111, 1373n)

230 Revisru Brasileira de Geociências Volume 11(4), 1981 Paraíba do Sul (Fig. 3) é o fato de elas terem-se desenvolvido sempre em áreas de ocorrência da Formação Barreiras, que marca em terra, por meio de uma linha de falésia morta, o limite interior da planície costeira. Essas feições deltaicas são constituídas, fundamentalmente, por depósitos associados a terraços marinhos, terraços fluviais, pântanos, mangues e lagunas. Nas planícies costeiras das desembocaduras dos rios Jequitinhonha e São Francisco, além desses, também são encontrados depósitos do tipo leques aluviais coalescentes bem como, ainda na foz do Rio São Francisco, importantes campos de dunas. Terracos marinhos São os depósitos mais abundantes e que definem a conformação da feição deltaica, conferindo à mesma a forma cuspidata que a caracteriza. Nas feições deltaicas, respectivamente, dos rios São Francisco, Jequitinhonha e Doce, Bittencourt et al. (no prelo), Dominguez et al. (no prelo) e Suguio et al. (no prelo) reconheceram terraços marinhos associados à penúltima e a última transgressão, com as mesmas características aqui já descritas anteriormente. Quanto à feição deltaica do Rio Paraíba do Sul (Fig. 3), Dias e Gorini (1980) e Dias (1981) só identificam terraços marinhos relacionados à última transgressão. Contudo, ao se observar em fotos aéreas o aspecto geomórfico dos feixes de cordões litorâneos que aparecem na região de Caboios, sudoeste de São Tomé e a nordeste de Campos, constata-se que os mesmos apresentam características idênticas aos dos relacionados aos terraços da penúltima transgressão mencionados no item anterior. Ademais, observações de campo feitas por um dos autores (J. M. L. Dominguez) conduzem ao mesmo tipo de raciocínio.' O fato do esses cordões arenosos na região a sudoeste de SBo Tomé se situarem praticamente no mesmo nivel altimétrico dos atribuídos à Última transgressão (Dias e Goriiii, 1980; e Dias, 1981) poderia ser explicado por movimentos de subsidência locais posteriores a 120 O00 anos B.P. Sabe-se, por exemplo, que a bacia sedimentar de Campos, onde está situada a zona progradante do Rio Paraíba do Sul, foi afetada por reativamento tectônico durante o Terciario (Schaller, 1973), cujos efeitos provavelmente podem ter continuado sensíveis durante o Quaternário. Desse modo, nos locais anteriormente mencionados, os terraços arenosos são aqui mapeados como associados à penúltima transgressão (Fig. 3). Terracos fluviais São constituídos basicamente de sedimentos de dique marginal, barra de meandro e canal abandonado. Esses terraços colocam-se em discordância erosiva sobre os terraços marinhos; o que é bem exemplificado nas feições deltaicas dos rios São Francisco e Jequitinhonha (Fig.3). Nas zonas progradantes dos rios Doce e Paraíba do Sul, os terraços fluviais estão restritos aos deltas intralagunares construidos por esses dois rios durante uma importante etapa de sua evolução (Fig. 3), conforme será discutido adiante. Mangues Nas desembocaduras abandonadas pelos rios e seus, distributários ou nas regiões protegidas pela presença de ilhas arenosas, o clima quente e úmido que atualmente predomina na costa leste brasileira favoreceu a instalação de manguezais. Essa situação é muito bem ilustrada na metade norte da feição deltaica do Rio Jequitinhonha e nas vizinhanças das desembocaduras dos rios São Francisco e Paraíba do Sul (Fig. 3). Sedimentos lagunares Separando os terraços marinhos holocênicos dos pleistocênicos, são encontradas zonas baixas preenchidas por sedimentos argilosos de cor cinza a preta, ricos em conchas marinhas e lagunares (Ostrea, Anomalocardia, Lucina), e matéria orgânica. Conforme será discutido em seguida, esses sedimentos foram depositados em antigqs lagunas que se formaram naquelas regiões por volta da última transgressão e alcançam maior expressividade nas feições deltaicas dos rios Doce e Paraíba do Sul (Fig. 3). Pântanos Esses ambientes substituíram as lagunas que secaram quando do evento regressivo que se seguiu à Última transgressão. Esses depósitos, onde predominam atualmente acumulações de turfas, ocupam também as i zonas baixas alagadiças intercordões bem como as regiões adjacentes aos diques marginais dos rios, onde i h. constituem os depósitos de várzea. Leques aluviais coalescentes Esses depósitos são sempre encontrados no sopé das encostas da Formação Barreiras, com altitudes variando de 10 a 20 m. Apresentam-se sempre não consolidados e com coloração esbranquiçada, sendo predominantemente arenosos e mal selecionados, contendo de argila a seixos. Dunas Dispondo-se ao longo de quase toda parte ex-, terna da feição deltaica do Rio São Francisco, são encontradas duas gerações de dunas (Fig. 3): uma mais interna, subatual e já povoada pela vegetação, e uma externa, de dunasem franco desenvolvimento, que cobre em parte a primeira. Essas dunas podem atingir altitudes de até * * 30 m. ESQUEMA EVOLUTIVO DA SEDIMENTACÁ0 QUA- TERNARIA NAS FEICÔES DELTAICAS DOS RIOS SA0 FRANCISCO, JEQUITINHONHA, DOCE E PA- RAíBA DO SUL A aplicação dos conhecimentos já adquiridos sobre a evolução da costa brasileira durante o Quaternário, associada a datações absolutas com C14 de amostras coletadas nos diversos subambientes das feições deltaicas aqui analisadas, permitiu traçar um quadro evolutivo para essas feições durante o Quaternário. De uma maneira geral, foi possivel reconhecer oito estágios principais na história do desenvolvimento das feições deltaicas estudadas, embora os.mesmos nem sempre estejam bem representados. Estágio I (Fig. 4A) Corresponde à deposição da Formação Barreiras, durante o Plioceno. Nessa época, um clima mais seco que o atual, sujeito a tempestades esporádicas e violentas, deu lugar à deposição de leques aluviais coalescentes no sopé das encostas, que constituem os depósitos daquela formação (Vilas Boas et al. 1979 e no prelo). Durante a deposição dessa for-, mação, o nível relativo do mar encontrava-se mais baixo que o atual, tendo seus sedimentos recoberto parte da, plataforma continental (Bigarella e Andrade, 1965). u1 r

+ + +41 30' I 41:oo. +++/'O o -C/O O O ZP30'.- TOMÉ 2POO DI a 3 [.-14 =I, m6 1---17 E l 8 m9 mlo1o,ol B I 2 ml3 14 15 16 (sem ordem estrotigrafica)

232 Revisra Brusileiru de Geociêncius Volume 11(4), 1981 Estágio II (Fig. 4B) A deposição da Formação Barreiras foi interrompida quando o clima passou a adquirir características úmidas (Vilas Boas et al., 1979). Esse tempo coincide com o início do episódio transgressivo mencionado por Bittencourt et al. (1979a) como a transgressão mais antiga. Esse episódio erodiu a porção externa da Formação Barreiras, sendo o limite máximo atingido pelo mar representado por antigas linhas de falésias entalhadas nessa formação. Na região da feição deltaica do Rio S2o Francisco, inclusive, esse evento transgressivo teve sua ação erosiva favorecida pelo reativamento de antigas falhas do embasamento cristalino (Bittencourt et al., no prelo). Ainda que Suguio et al. (no prelo), Dias e Gorini (1980), e Dias (1981) não mencionem esse evento para as planícies costeiras dos rios Doce e Paraíba do Sul, é provável que a transgressão mais antiga tenha também afetado essas regiões uma vez que, como foi visto, a costa leste brasileira parece ter-se comportado de maneira bastante homogênea no que diz respeito às variações relativas do nível do mar durante o Quaternário. Conforme foi mencionado anteriormente, a falésia original representativa desse estágio encontra-se preservada apenas na metade sul da planície costeira do Rio São Francisco (Fig. 3); nas demais regiões, as falésias esculpidas pela transgressão mais antiga foram retrabalhadas durante a penúltima transgressão. Estágio 111 (Fig. 4C) Após o máximo alcançado pela transgressão mais antiga, e durante a regressão que se seguiu, o clima voltou a adquirir características semi-áridas, pelo menos para as regiões das planícies costeiras dos rios São Francisco e Jequitinhonha. Essa retomada de condições climáticas semelhantes às prevalecentes durante a deposição da Formação Barreiras propiciou a formação de novos depósitos continentais do tipo leques aluviais coalescentes no sopé das falésias esculpidas na Barreiras durante o evento transgressivo anterior. Tal situação se estendeu por toda a costa dos Estados da Bahia e Sergipe, como apontam os trabalhos de Vilas Boas et al. (1979 e no prelo), Martin et al. (1980b) e Bittencourt et al. (em preparação). Estágio IV (Fig. 4D) Corresponde ao máximo alcançado pela penúltima transgressão (120 O00 anos B.P.). Nessa época, o nível do mar erodiu total ou parcialmente os depósitos continentais colocados durante o estágio anterior. Durante esse evento, os baixos cursos dos rios São Francisco, Jequitinhonha, Doce e Paraíba do Sul foram afogados constituindo estuários. Nessa ocasião, nos locais em que o mar conseguiu erodir totalmente os sedimentos continentais depositados no estágio anterior, as ondas retrabalharam a linha de falésias construida na Formação Barreiras durante a transgresspo mais antiga. Estágio V (Fig. 4E) Esse estágio corresponde ao evento regressivo subseqüente à transgressão anterior. Nessa época, foram construidos então os terraços marinhos pleistocênicos, que possivelmente formaram planícies costeiras semelhantes às atuais. Esthgio VI (Fig. 4F) A última transgressão erodiu e afogou parcialmente, durante seu curso, as planícies as- sociadas aos rios aqui considerados. A rede de drenagem que se havia instalado nos terraços pleistocênicos, favorecida pela descida acentuada do nível de base que caracterizou o evento anterior, foi invadida pelo mar da mesma maneira que o foram alguns valores escavados na Formação Barreiras. Durante o máximo dessa transgressão, os baixos cursos dos rios São Francisco, Jequitinhonha, Doce e Paraíba do Sul foram mais uma vez parcialmente afogados, constituindo estuários. Associado ao afogamento da planície costeira pleistocênica, iniciou-se o desenvolvimento de ilhas-barreiras, que isolaram de um contato direto com o mar o que restou dos terraços marinhos relacionados àquelas planícies. Atrás dessas ilhas instalaram-se sistemas lagunares que em algumas regiões alcançaram dimensões consideráveis, a exemplo das planícies costeiras dos rios Doce (Suguio et al., no prelo) e Paraíba do Sul (observação dos autores). Datações com CI4 de conchas e pedaços de madeira coletados nos sedimentos lagunares das planícies costeiras dos rios São Francisco (A.C.S.P. Bittencourt, comunicação oral), Jequitinhonha (Dominguez et al., no prelo), Doce (Suguio et al., no pielo) e Paraíba do Sul (G.T.M. Dias, comunicação,oral) forneceram idades em torno de 6 O00 anos B.P., indicando portanto que as ilhas-barreiras já se haviam instalado antes de ser alcançado o máximo da última transgressão. As Figs. 5A e 6A mostram, respectivamente, a reconstituição paleogeográfica das planícies costeiras dos rios Jequitinhonha e Doce durante esse estágio. -Estágio VI1 (Fig. 4G) Nas -lagunas instaladas no estágio anterior foram construidos deltas intralagunares pelos rios que nela penetravam. Este estágio encontra-se bem representado nas planícies costeiras dos rios Doce e Paraíba do Sul. Essas feições constituem de fato as Únicas acumulações sedimentares presentes nas planícies costeiras aqui analisadas, que podem ser consideradas como deltas típicos, uma vez que foram construidas a partir dos aportes sedimentares fluviais aprisionados nessas lagunas, exibindo uma morfologia característica dos deltas de domínio fluvial. Na planície costeira do Rio Paraíba do Sul, o delta intralagunar seria representada pelo que Dias (1981) denomina complexo fluvial Campos-São Tomé. Lamego (1955) reconheceu nessa feição um antigo delta do tipo Mississípi. É evidente que um delta desse tipo não se poderia desenvolver em condições de mar aberto devido à elevada energia de onda que predomina no litoral campista. Dias e Gorini (1980), e Dias (1981) reconhecem esse fato mas não esclarecem perfeitamente a natureza daquela feição. Acreditam esses autores que a mesma representa um delta dominado por marés, segundo a classificação de Galloway (1975), e que foi preservado da açã0 erosiva das ondas de alta energia pela existência de ilhasbarreiras. É difícil, entretanto, aceitar que o complexo fluvial Campos-São Tomé represente um delta dominado por marés tendo em vista que a amplitude das marés para a região é inferior a 2 m (DH., 19Sl), enquanto feições desse tipo se desenvolvem de preferência em ambientes de macromaré (> 4 m). Desse modo, é., mais simples atribuir para esse complexo fluvial a categoria de delta intralagunar, semelhante ao observado por SU- ~ guio et al. (no prelo) na planície costeira do Rio Doce. De :, : ~. a. -

Revista Brasileira de GeociZncias Volume 11(4), 1981 233 DEPOSI$Á0 Fm BARREIRAS -- ---- I. -'-- I MÁXIMO ÚLTIMA TRANSGRESS~O, I LEQUES ALUVIAIS PLEISTOCÊNICOS i DELTA INTRALAGUNAR 1 [ MÁXIMO PENÚLTIMA TRANSGRESSÃO I 1 FEI$~O DELTAICA HOLOCÊNICA I I @I.?' Figura 4 - Esquerna evolutivo da sedimen,tapïo quaternária nas feições deltaicas da costa leste brasileira

P 234 Revisto Brusileiru de Geociêncius Volume 11(4), 1981 d O 0 0 5 i-.i. 4

Revista Brasileira de Geociências Volume 11(4), 1981 235,,' (SUGUIO et oli,noprelo) 3800-2900 anorbp&$ i o Figura 6 - Evolução paleogeográfica da feição deltaica do Rio Doce durante o Holoceno (modificado de Suguio et al., no prelo). A linha tracejada indica a posição da linha da costa atual (ver legenda da Fig. 3)

fato, tanto o delta intralagunar quanto o complexo fluvial Campos-São Tomé apresentam as características típicas dos deltas construidos dentro de um corpo de água rasa, com baixos níveis de energia (uma laguna), nos quais, como observa Wright (1977), o predomínio de forças friccionais resulta um elevado número de bifurcações para as construções resultantes. No Rio Doce, o delta intralagunar apresenta um grau extraordinário de conservação, sendo possível reconstituir perfeitamente seu aspecto morfológico original (Figs. 6C e D). Nas planícies costeiras dos rios São Francisco e Jequitinhonha, este estágio não está bem representado, provavelmente devido ao fato de que as lagunas que aí se instalaram apresentavam dimensões bastante reduzidas, tendo sido rapidamente coiinaiadas e 'attslvessadas pot ebbe, rios na busca de um caminho para o mar. Estágio VIII(Fig. 4H) 8 abaivamento do nível relativo do mar, que se seguiu ao máximo transgressivo de 5 lo0 anos B.P. (Martin et al., 198Qa), traduziu-se na formação de terraços marinhos, a partir da ilha-barreira original, o que resultou na progradação da linha da costa. Para a planície costeira do Rio Doce, Suguio et al. (no prelo) mencionam a formação de uma primeira geração de cordões holocênicos entre 5 101) e 3 800 anos B.P. (Fig. 6B). É interessante notar que durante a construção da primeira geração de cordões o Rio Doce ainda não alcançava diretamente o mar, ficando toda sua carga sedimentar retida na laguna, sendo utilizada para a construção do delta intralagunar (Suguio et al., no prelo) (Fig. 6B). Durante essa fase regressiva, Dominguez et al. (no prelo) se referem à formação de uma primeira feiçgo deltaica holocênica para a planície costeira dorio Jequitinhonha (Fig. 5B) e Bittencourt et al. (no prelo), à construção de uma segunda geração de cordões arenosos (a primeira de idade pleistocênica) para a do Rio São Francisco. Nesse estágio, além da construção dos terraços marinhos arenosos, o abakamento do nível relativo do mar provocou também o desaparecimento dos sistemas lagunares, que fo- ram. substituídos por zonas baixas pantanosas. Restos dessas antigas lagunas são representados nos dias atuais por diversas lagoas presentes na planície costeira do Rio Doce (Suguio et al., no prelo) e provavelmente pela Lagoa Feia para a planície costeira do Rio Paraiba do Sul. Os pequenos e relativamente rápidos episódios transgressivos holocênicos, que aparecem representados nas curvas de variações relativas do nível do mar de Suguio et al. (II 980) e Martin et al. (1979a), exerceram um importante papel no desenvolvimento das planícies costeiras aqui consideradas. Para a planície costeira do Rio Doce, Suguio et al. (no prelo) registram uma segunda fase lagunar associada ao evento transgressivo de 3 80-3 600 anos B.P. (Fig. 2j, com formação de novas ilhas-barreiras e afogamento da primeira getaçiio de terraços hoiocênicos (Fig. tic). Na pianície costeira do Rio Jequitinhonha, esses eventos transgressivos rápidos traduziram-se no afogamento das desembocaduras dos rios associado à mudança do curso fluvial por um processo de avulsão. Nas novas desembocaduras ocupadas foram construidas nos eventos regressivos seguintes novas feições deltaicas (Dominguez et al., no prelo). Assim, por exemplo, durante o evento transgressivo de 3 800-3 600 anos B.P. (Fig. 20, a primeira feição deltaica holocênica do Rio Jequitinhonha foi afogada e o curso fluvial se deslocou mais para o sul. Na nova desembocadura ocupada foi construida, no evento regressivo situado entre 3 500 e I? 700 anos B.P., a segunda feição deltaica holocênica desse rio (Fig. 5C). Essa zona de progradação foi afogada durante o episódio transgressivo de 2 700-2 500 anos B.P. (Fig. 20, que forçou tambkm uma mudança no curso do rio para a posição que ocupa atualmente. Na regressão que se seguiu após 2 500 anos B. P. foi construida, desde aquela data até o tempo atual, a terceira e atual feição deltaica do Rio Jequitinhonha (Fig. SQ. Nas planícies costeiras dos rios São Francisco e Paraíba do Sul não se sabe ainda qual o papel desempenhado por esses ripidos episddios transgressivos holochicos, devido principalmente h carencia de dataqões e 9 necessidade de estudos mais detalhados. BIBLIOGRAFIA BACOCCOLI, G. - 1971 - O$ deltas marinhos hnlosinicos brarileiros: uma tentati\a de clacsificac9o. But. TLirn. LCrrohrh 14:5-38. R-ZNDEIRA Jr., A.N., PETRI. S. e SUGL'IO, li. - 1Y75 - Projeto Rio Doce (relatnrio linal). CENPES PctrohrRs, 203 pp. BI\NDEIRZ JI.. A.N., PETRI, S. e SC:GLlIO, K. - 1974 -The Docc river del- ta: an cumple of a Ilighl? dectriisti\e uave-dominated quaternarj delta nn the hrazilian atldntis coactline, State of Espirito Santo. In: K. Suguio, R.R. 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