Atividades Típicas, Exclusivas e Essenciais ao Estado: Definições

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Transcrição:

Atividades Típicas, Exclusivas e Essenciais ao Estado: Definições Elaboração: Departamento de Estudos Técnicos Brasília-DF, setembro de 2016

Diretoria Executiva Nacional Presidente Cláudio Márcio Oliveira Damasceno 1 a Vice-Presidente Maria Cândida Capozzoli de Carvalho 2º Vice-Presidente Luiz Henrique Behrens França Secretário-Geral Rogério Said Calil Diretor-Secretário Pedro Egídio Alves de Oliveira Diretor de Administração e Finanças Albino Dalla Vecchia 1º Diretor-Adjunto de Administração e Finanças César Araújo Ramos 2º Diretor-Adjunto de Administração e Finanças Cloves Francisco Braga Diretor de Assuntos Jurídicos Sebastião Braz da Cunha dos Reis 1º Diretor-Adjunto de Assuntos Jurídicos Carlos Rafael da Silva 2º Diretor-Adjunto de Assuntos Jurídicos Sérgio Santiago da Rosa Diretor de Defesa Profissional Daniel Saraiva Magalhães Diretor-Adjunto de Defesa Profissional Dagoberto da Silva Lemos Diretor de Estudos Técnicos Wagner Teixeira Vaz Diretor-Adjunto de Estudos Técnicos Edison de Souza Vieira Diretora de Comunicação Social Pedro Delarue Tolentino Filho Diretor-Adjunto de Comunicação Social Mário Luiz de Andrade Diretora de Assuntos de Aposentadoria, Proventos e Pensões Nélia Cruvinel Resende Diretor-Adjunto de Assuntos de Aposentadoria, Proventos e Pensões José Castelo Branco Bessa Filho Diretor do Plano de Saúde Roberto Machado Bueno Diretor-Adjunto do Plano de Saúde Agnaldo Neri Diretor de Assuntos Parlamentares José Devanir de Oliveira Diretor-Adjunto de Assuntos Parlamentares Maíra Giannico Diretor de Relações Internacionais e Intersindicais Luiz Gonçalves Bomtempo Diretor de Defesa da Justiça Fiscal e da Seguridade Social Assunta di Dea Bergamasco Diretor-Suplente Genidalto da Silva Paiva Diretor-Suplente Leonardo Picanço Cruz Conselho Fiscal Membros Titulares João Luiz dos Santos Armando Domingos Barcelos Sampaio Elias Carneiro Júnior Membros Suplentes Marchezan Albuquerque Taveira Pérsio Rômel Macedo Ferreira Roney Sandro Freire Correa DIRETORIA DE ESTUDOS TÉCNICOS Wagner Teixeira Vaz Diretor de Estudos Técnicos Edison de Souza Vieira Diretor-Adjunto de Estudos Técnicos Equipe Técnica: Álvaro Luchiezi Júnior Economista, Gerente de Estudos Técnicos Alexandre Rodriguez Alves Coelho Economista, Assessor de Diretoria III Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil SDS - Conjunto Baracat - 1º andar - salas 1 a 11 Brasília/DF - CEP 70392-900 Fone (61) 3218 5200 - Fax (61) 3218 5201 www.sindifisconacional.org.br e-mail: estudostecnicos@sindifisconacional.org.br É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte

Atividades Típicas, Exclusivas e Essenciais ao Estado: Definições As exatas definições das expressões atividade ou carreira típica de Estado ; exclusiva de Estado e essencial ao Estado são controvertidas na doutrina e na legislação brasileiras. A fim de buscar os corretos entendimentos sobre tais expressões, em especial que tocam à Administração e às Autoridades Tributárias, bem como aos servidores de apoio administrativo que exercem suas atribuições na Administração Tributária, colhe-se inicialmente a dicção dos dispositivos constitucionais seguintes. A administração fazendária e seus servidores fiscais terão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência sobre os demais setores administrativos, na forma da lei (art. 37, XVIII, CR/1988). As administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas, terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio. (art. 37, XXII, CR/1988; EC 19/2003). A fiscalização e o controle sobre o comércio exterior, essenciais à defesa dos interesses fazendários nacionais, serão exercidos pelo Ministério da Fazenda (art. 237, CR/1988) "Art. 247. As leis previstas no inciso III do 1º do art. 41 e no 7º do art. 169 estabelecerão critérios e garantias especiais para a perda do cargo pelo servidor público estável que, em decorrência das atribuições de seu cargo efetivo, desenvolva atividades exclusivas de Estado. Parágrafo único. Na hipótese de insuficiência de desempenho, a perda do cargo somente ocorrerá mediante processo administrativo em que lhe sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa." (art. 247, CR/1988; EC 19/98).(grifo nosso) A Constituição da República não define nem menciona o que seriam atividades ou carreiras típicas de Estado. Mas a doutrina e a jurisprudência tem entendido que carreiras típicas de Estado são aquelas cuja existência somente encontra razão ou sentido dentro da estrutura do Estado, não havendo similaridade no setor público. São exemplos carreiras do Judiciário (magistrados e servidores); do Ministério Público (Procuradores e servidores); da Administração Tributária (Auditores-Fiscais e servidores administrativos); das Polícias (Delegados e servidores, como são as 3

os Escrivães, Agentes); da Advocacia Pública (Advogado da União, Procurador da Fazenda; servidores de apoio das procuradorias). Historicamente, pode-se sintetizar essa concepção da seguinte forma: a Lei 6.185, de 1974, definiu que em algumas áreas (não cargos) era imprescindível a exigência de concurso público para a contratação. Naquele tempo o concurso não era obrigatório para o ingresso em cargo público. Essas áreas eram as de Segurança Pública, Diplomacia, Tributação, Arrecadação e Fiscalização de Tributos Federais e Contribuições Previdenciárias, e o Ministério Público. Em 1976 foi incluída a área da Procuradoria da Fazenda Nacional e, em 1980, a do Controle Interno. Essas áreas, conforme o artigo 2 o. da referida Lei, realizavam "atividades inerentes ao Estado como Poder Público sem correspondência no setor privado". Esse foi o primeiro, e por décadas, o único critério de distinção para uma carreira típica de Estado, dentre as demais: realizar atividades inerentes ao Estado e, em especial, sem correspondência no setor privado. Observe-se, no excerto do julgado abaixo, a concepção de tal definição (os grifos foram ora acrescidos): Os Conselhos de Fiscalização Profissional têm como função precípua o controle e a fiscalização do exercício das profissões regulamentadas, exercendo, portanto, poder de polícia, atividade típica de Estado, razão pela qual detêm personalidade jurídica de direito público, na forma de autarquias. Sendo assim, tais conselhos não se ajustam à noção de entidade de classe, expressão que designa tão somente aquelas entidades vocacionadas à defesa dos interesses dos membros da respectiva categoria ou classe de profissionais." (STF, ADPF 264 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 18/12/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-036 PUBLIC. 25-02- 2015); (TRF1 - AG 0041459-89.2015.4.01.0000). Já por carreiras ou atividades exclusivas de Estado se deve entender as que, além de típicas, somente podem ser exercidas por quem pertença à estrutura do Estado, não podendo ser terceirizadas, e ainda que pertencem ao chamado Núcleo de Atividades Exclusivas, que é o setor em que são prestados serviços que só o Estado pode realizar, ou seja, em que se exerce o poder extroverso do Estado, que envolve poder de decisão do 4

Estado - o poder de regulamentar, fiscalizar, fomentar. São exemplos: cobrança e fiscalização de tributos; polícia; diplomacia. Há, na doutrina administrativa brasileira, contudo, quem defenda que atividade (ou carreira) exclusiva de Estado seja sinônimo de atividade (ou carreira) típica de Estado. Discorda-se, s.m.j., e com toda a vênia, de tal posição, por duplo motivo. Primeiro, que constitui regra de interpretação jurídica (exegese do Direito) que as palavras, na lei, não são empregadas de modo vulgar ou desnecessário. Assim, se há na lei tanto a expressão carreira típica de Estado quanto exclusiva de Estado, é porque o legislador entende que se cuidam de institutos distintos. Segundo, que o exemplo que há no Direito Brasileiro sobre carreira (ou cargo) exclusivo de Estado evidencia se cuidar de instituto diverso. Veja-se: o art. 2 o.-a da Lei nº 9.266, de 15 de março de 1996, incluído pela Lei 13.047/2014, estatui, em seu parágrafo único, in verbis: Os ocupantes do cargo de Delegado de Polícia Federal, autoridades policiais no âmbito da polícia judiciária da União, são responsáveis pela direção das atividades do órgão e exercem função de natureza jurídica e policial, essencial e exclusiva de Estado (grifos ora acrescidos). Da observação da letra da lei acima trasladada, pode-se extrair, de plano, duas conclusões: a uma, que essencial e exclusiva são características distintas, pois na lei não há verborragia (termos desnecessários ou redundantes); a duas, que essencial e exclusiva, além de possuírem sentidos diversos, também não se confundem com típica de Estado. E aqui se faz tal intepretação não apenas em face da literalidade da lei (que não utilizou no citado dispositivo o termo típico de Estado ), mas também porque ela própria (a Lei 9266/96) utilizou, em outro dispositivo (em seu art. 10), a expressão típica de Estado (ao invés de exclusiva, por exemplo), ao prescrever que: Art. 10. A Carreira de que trata esta Lei é considerada como típica de Estado. Nota-se de modo claro que a referida lei considera carreira típica a que inclui os cargos de Delegado e de Perito Criminal (cargos regulados pela lei 5

em comento), mas apenas o cargo de Delegado é, além de típico, exclusivo e essencial ao Estado. Portanto, a lei entende que se cuidam de institutos diversos, não sendo sinônimas as expressões atividade (ou carreira) exclusiva de Estado e atividade (ou carreira) típica de Estado Por derradeiro, as carreiras ou atividades essenciais ao Estado são aquelas indispensáveis à sua manutenção, vale dizer, sem as quais o Estado não existiria. Aqui ocorre a distinção entre os cargos que exercem atividades essenciais, ou seja, aquelas sem as quais o órgão ou a própria atividade de Estado não existiria, e os que exercem atividades administrativas ou de apoio. Colhendo-se o exemplo da Polícia Federal, os Delegados exercem atividade essencial, são um cargo essencial, pois sem eles a Polícia não existira. Já os Peritos, Agentes e Escrivães, embora desempenhem por vezes atividade-fim, e de fundamental importância para pleno funcionamento do órgão, não são qualificados na lei como essenciais. Isso porque o poder de decisão, dentro dos órgãos policiais, pertencem aos Delegados de Polícia que, em última análise, podem por certo, em tese, avocar para si as atribuições dos agentes e escrivães, o que demonstra que essencial e exclusivo de Estado seriam, no âmbito das polícias, as atividades desenvolvidas pelos Delegados, apenas. Por extensão, pode-se então concluir que o conceito jurídico de essencial ao Estado está relacionado com o poder de decisão e o conceito de autoridade de Estado. Em apertada síntese, no caso da Administração Tributária Federal, ou seja, da Receita Federal do Brasil, é cediço que os Auditores-Fiscais são as autoridades do órgão, são os que exercem as atribuições privativas de lançamento (referidas no art. 142 do CTN), de decisão em processos fiscais, de desembaraço aduaneiro. Os Analistas Tributários exercem atividades de apoio, preparatórias e acessórias às atribuições privativas dos Auditores- Fiscais (art. 6 o. da Lei 10593/2002). São estes portanto carreira típica de Estado, mas não essenciais e exclusivas de Estado. 6

É o que se observa da simetria da legislação que rege os cargos da Administração Tributária Federal (a Receita Federal do Brasil) com a legislação que rege os cargos da Polícia Federal, i.e., a definição legal constante do art. 2 o.-a da Lei no 9.266, de 15 de março de 1996, incluído pela Lei 13.047, de 2014. Ressalte-se e se ressalve, contudo, que tais definições, em especial de exclusiva e essencial ao Estado, ainda são esparsas e relativamente incipientes no Direito Constitucional e Administrativo Brasileiro. * * * 7