A energia elétrica no



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Transcrição:

1capítulo A energia elétrica no Brasil

A Energia Elétrica no Brasil Fortaleza do Abunã (RO) 29

Guascor 10 anos Uma história de conquistas O desenvolvimento de uma No Brasil, mais de 11 milhões de pessoas nação pode ser medido 6% do total da população vivem sem pela sua capacidade energia elétrica. De acordo com dados do de gerar, transmitir, Ministério de Minas e Energia (MME), as distribuir e comercializar pessoas sem eletricidade concentram-se energia elétrica. Do simples acendimento de nas localidades de menor IDH e integram uma lâmpada às mais complexas produções famílias de baixa renda, sendo que 90% industriais, no campo e na cidade, em delas possuem renda inferior a três salários casas, escolas e hospitais, de motocicletas a mínimos e 80% estão no meio rural. A meta aeronaves, boa parte das atividades humanas do governo federal era eliminar a exclusão depende deste recurso estratégico. A energia elétrica até 2008. Por meio do Programa elétrica está intrinsecamente relacionada a Luz para Todos, instituído em 2003, o indicadores econômicos, como o PIB (Produto poder público pretendia atender cerca Interno Bruto), e sociais, como o Índice de de 10 milhões de brasileiros que moram Desenvolvimento Humano (IDH). Em geral, no campo. Até o momento, infelizmente, quanto mais acesso a população tem à energia, o cumprimento desta meta está muito mais desenvolvido é o país. distante. 30

A Energia Elétrica no Brasil Figura 1 - Vista noturna do continente sul-americano a partir de imagens de satélite 31

Guascor 10 anos 32 Figura 2 - Taxa de eletrificação domiciliar em 2000 (por municípios)

A Energia Elétrica no Brasil Ainda que não tenha atingido a universalização da energia elétrica, o Brasil está entre os maiores mercados do mundo. Em 2006 o consumo total no país chegou a 415.865 GWh (ou 415,9 terawatts/hora), com aumento de 3,86% em relação ao registrado em 2005. Segundo levantamento da empresa britânica BP feito em 2005, o consumo brasileiro fica atrás apenas do consumo dos Estados Unidos (4.239 TWh), China (2.475 TWh), Japão (1.134 TWh), Rússia (952 TWh), Índia (679 TWh), Alemanha (619 TWh), Canadá (594 TWh) e França (594 TWh). Desde os seus primórdios, no fim do século 19, o sistema elétrico brasileiro apóia-se em dois modelos de geração: hidráulica (com as usinas hidrelétricas ou UHE) e térmica (com as usinas termelétricas ou UTE). Em 1º de dezembro de 1887 foi inaugurada a Usina Termelétrica da Fiat Lux, em Porto Alegre (RS). O jornal local A Federação assim descreveu o pioneiro empreendimento: A iluminação da oficina é produzida por 15 lâmpadas, de 10 e 16 velas sistema Edison; o motor é uma máquina a vapor demi fixe, Compound, de força elétrica de 50 c.v., com descarga automática (Paxman), e foi construída em Colchester (Inglaterra)... colocou-se na entrada da rua duas lâmpadas a arco Gramme, ou lâmpadas reguladoras de 300 velas. Pode-se admirar todas as noites a luz elétrica das lâmpadas Gramme. (...) Breve terá o público o gosto pelo mesmo benefício no Jardim da Praça Conde D Eu.... Dois anos depois foi a vez de entrar em funcionamento a primeira hidrelétrica de grande porte: a Usina Marmelos Zero, a 6 quilômetros de Juiz de Fora (MG). Integração nacional Até os anos 1940, o setor elétrico era controlado pelo capital estrangeiro, por meio de empresas canadenses e norte-americanas. Predominavam as usinas termelétricas e pretendia-se alcançar a auto-suficiência elétrica em cada município. Em 1943 foram criadas as primeiras companhias estaduais e federais, em parceria com acionistas 33

Guascor 10 anos internacionais. Na década seguinte, no governo de Juscelino Kubitschek, nasciam as grandes usinas hidrelétricas, como Itaipu, no Paraná. Elas respondiam ao esgotamento das plantas térmicas frente ao ritmo de crescimento do país e otimizavam o aproveitamento dos recursos hídricos, selando a vocação natural do país para este tipo de geração, nota o engenheiro Mario Fernando de Melo Santos, presidente do conselho de administração da Endesa Brasil e ex-diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Ao longo da década de 1960 o setor elétrico foi gradativamente nacionalizado e transferido ao Estado. Este passou a monopolizar todo o processo: planejamento, investimentos, produção e distribuição. O controle estatal contribuiu para definir um modelo que permanece inovador e singular no panorama internacional até os dias de hoje. Ele é marcado pela interdependência de hidrelétricas de grande porte de várias regiões, que operam em conjunto, sob coordenação nacional e com o apoio estratégico de termelétricas. A experiência nos mostrou que a integração elétrica resulta em uma produção mais econômica, maior facilidade de expansão do sistema e tarifas menores, aponta Santos. A dificuldade em destinar recursos públicos para a expansão do sistema conduziu a um amplo programa de privatização a partir dos anos 1990. À certa altura o setor ficou completamente livre do Estado e vimos, em função da crise energética de 2001, que faltou planejamento para acompanhar a demanda, pondera. Há cerca de dez anos impera um esquema híbrido, que combina o esforço de empresas estatais e privadas, e é coordenado pelo ONS. A iniciativa privada detém cerca de 25% da geração do país e 90% da distribuição, com exceção da região Norte, onde as concessionárias estatais são maioria. Não obstante a redução do papel do Estado em comparação com o período de 1960-1990, o modelo elétrico nacional manteve a sua natureza interdependente. 34

A tecnologia de co-geração A Energia Elétrica no Brasil As usinas termelétricas oferecem a possibilidade de aplicar a tecnologia de co-geração. Esta tecnologia consiste na geração simultânea de energia térmica e elétrica por meio de um único combustível convencional (diesel, gás natural, carvão, entre outros) ou de biomassa (resíduos de madeira, bagaço de cana, casca de arroz, etc). No processo de geração térmica, cerca de 70% da energia contida no combustível é transformada em calor e dissipada no meio ambiente. Esta perda ocorre independentemente do combustível ou motor utilizado. Com o uso da co-geração é possível aproveitar o calor que seria perdido, transformando-o em vapor, eletricidade, força motriz e frio. Desta forma, a energia gerada pode ser empregada nos setores comerciais, industriais e agrícolas. As vantagens da co-geração são várias: auto-suficiência energética; alta qualidade da energia elétrica; eficiência energética de até 80%; redução dos impactos ambientais. Em 2003, segundo registros da Aneel, havia 37 centrais de co-geração em operação no Brasil, 5 em construção e 16 já outorgadas pela entidade. 35

Guascor 10 anos Hoje, o Sistema Elétrico Nacional é formado pelo Sistema Interligado Nacional (SIN), composto majoritariamente por hidrelétricas, e por Sistemas Isolados, que são as centrais termelétricas. Quanto aos agentes envolvidos no setor, o Atlas de Energia Elétrica do Brasil resume as suas competências da seguinte forma: a) ao Poder Executivo (compete) a formulação de políticas e diretrizes...; b) ao Poder Concedente, (compete) os atos de outorga de direito de exploração dos serviços de energia elétrica; c) ao regulador, a Agência Nacional de Energia Elétrica, (cabe) a normatização das políticas e diretrizes... e a fiscalização dos serviços; d) ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)... (cabe) a coordenação e a supervisão da operação centralizada do sistema interligado; e) à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE)... (cabe) a comercialização de energia elétrica; f) à Empresa de Planejamento Estratégico (EPE)... (compete) a realização de estudos necessários ao planejamento da expansão do sistema elétrico e g) aos agentes setoriais (geradores, transmissores, distribuidores e comercializadores) (compete) a prestação de serviços... aos consumidores finais. Creio que esta estrutura é bastante madura, adequada às nossas necessidades e repleta de profissionais competentes, que participaram da implantação de um sistema elétrico inigualável e visto como referência entre os países mais desenvolvidos, ressalta Santos. A integração atingida pelo Sistema Elétrico Nacional é ímpar. Mesmo entre os líderes mundiais no segmento, como os Estados Unidos, não se vê um parque gerador e transmissor com o grau de interdependência obtido no Brasil. Aqui, regiões tão distantes quanto o Sul e o Norte estão conectadas e se beneficiam mutuamente. 36

A Energia Elétrica no Brasil Tipos de centrais no Brasil 79,09% - hidrelétricas 18,51%- termelétricas 2,37% - termonucleares 0,03% - outras Figura 3 Lições para o futuro Mas outros desafios se apresentam no horizonte brasileiro. O mercado nacional de energia elétrica tem crescido aproximadamente 4,5% ao ano e estima-se que a sua potência instalada superou os 300 mil MW em 2008. O Instituto Acende Brasil, formado por empresas que acompanham o nível de oferta de energia, calcula que para atender o dinamismo da demanda serão necessários investimentos da ordem de R$ 15 bilhões ao ano. Outras entidades avaliam a necessidade de cerca de R$ 20 bilhões anuais. Os recursos e novas obras serão fundamentais para evitar o ocorrido em 2001, quando 37

Guascor 10 anos decretou-se o racionamento no consumo por 13 meses. Naquela ocasião, a ameaça de apagão foi fruto da falta de planejamento, mencionada anteriormente, acrescida de uma conjunção de fatores. Santos enumera: Houve atraso na construção de usinas, condições hidrológicas desfavoráveis e falta de regras e de coordenação entre os agentes do setor para administrar a situação. Hoje, diz ele, o país encontra-se melhor preparado para detectar períodos difíceis e contorná-los. Foi uma lição dura, mas que muito ensinou a todos do setor elétrico. Especialistas prevêem que a partir de 2010 o quadro possa ficar novamente delicado. O risco de desabastecimento no Sudeste e Centro-Oeste, as regiões que mais consomem energia, deve chegar a 5% em dois anos, passando para 8% em 2010 e pode atingir 14% em 2011. Uma das soluções para elevar a capacidade instalada nos próximos anos é a diversificação da matriz energética. Construídas em prazos e com investimentos menores que as hidrelétricas, as usinas termelétricas devem fazer significativa diferença em médio prazo. O combustível pode ser armazenado e os recursos hídricos, não. Portanto, ter um mix de fontes energéticas é positivo do ponto de vista de segurança de fornecimento, analisa Santos. A aposta na geração térmica também atende a importantes questões ambientais. Estamos perto de esgotar as possibilidades de construção de hidrelétricas sem que isso comprometa o desenvolvimento sustentado, acrescenta Fernando Pinho, diretor de operações da Guascor do Brasil. Em um cenário mais distante existe o sonho da integração energética não só elétrica entre o Brasil e os países vizinhos. A interligação regional desenvolvida dentro do país pode ser reproduzida externamente, em relação à América Latina, indica Santos. Nesta hipótese, desenham-se dois grandes sistemas: 38

A Energia Elétrica no Brasil Participação de fontes renováveis e não renováveis no Brasil Renováveis 83%, sendo Não renováveis 17% 79% de hidrelétricas e 4% de outros tipos Figura 4 um entre o Sul, Sudeste e Centro-Oeste com o Cone Sul (Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai) e outro ao Norte e Nordeste com a Bolívia e Venezuela. A imponência do SIN As hidrelétricas e algumas termelétricas constituem o Sistema Interligado Nacional (SIN). O SIN representa 75% da matriz energética do país e atende as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte do Norte. Caracterizado pela imensa quantidade de hidrelétricas de grande porte, é considerado um 39

Guascor 10 anos dos mais impressionantes sistemas elétricos do mundo, com potência instalada que ultrapassa 100 mil MW. A sua malha de transmissão possui 4 mil quilômetros de extensão, distância existente entre Lisboa (Portugal) e Moscou (Rússia). Em 2003 havia 517 hidrelétricas em operação, sendo mais da metade constituída por usinas de pequeno porte. Assim como Itaipu, no Paraná, as usinas de Paulo Afonso, na Bahia, e de Tucuruí, no Pará, são alguns ícones da magnitude das hidrelétricas brasileiras. Situadas onde as condições geográficas destacam-se pela riqueza de recursos hídricos, este tipo de usina quase sempre está distante dos centros consumidores, dado que são construídas próximas de bacias hidrográficas. Esta característica, associada às dimensões continentais do país, resultou na necessidade de se expandir permanentemente a rede de transmissão, que leva a energia gerada até onde está quem as consome moradores, indústrias, comércio, etc. Construídas em seqüência ao longo de diversas bacias, as usinas hidrelétricas obtêm uma a sinergia nos processos de geração e transmissão dependendo de sua posição a jusante ou a montante no curso fluvial. Santos explica: É como se as usinas fossem várias contas de um colar, cuja jóia principal é Itaipu, para onde todos os rios convergem. Em períodos de seca ou em horários de pico, um reservatório de água pode ser abastecido por um de outra cidade ou Estado, garantindo a regularidade no suprimento nacional. Já em caso de estiagem prolongada ou mesmo de algum acidente, as termelétricas são usadas como alternativa. 40

A Energia Elétrica no Brasil Figura 5 - Mapa com representação simplificada da integração entre os sistemas de produção e transmissão para o suprimento do mercado consumidor 41

Guascor 10 anos 42 Figura 6 - Centrais elétricas que compõem os Sistemas Isolados - situação em outubro de 2003

A Energia Elétrica no Brasil Sistemas Isolados, uma solução de longo alcance Conforme dados da Aneel, os Sistemas Isolados, segmento no qual a Guascor atua, compreendem 345 centrais elétricas, que se distribuem da seguinte forma: 304 na região Norte; 36 em Mato Grosso; 5 em Pernambuco, Bahia, Maranhão e Mato Grosso do Sul. Estas centrais reúnem usinas térmicas (em sua maioria movidas a óleo diesel), mas também algumas UHEs, Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e unidades que operam com fontes de energia eólica ou solar. Os Sistemas Isolados representam uma importante solução em regiões onde não é possível instalar extensas redes de transmissão, esclarece Pinho. É o caso de boa parte da Amazônia Legal brasileira, onde a grandiosidade dos rios e floresta oferece obstáculos instransponíveis a projetos de energia interligados. As seguintes características estão associadas aos Sistemas Isolados: garantia de fornecimento, pois fontes renováveis, como a água, estão sujeitas a imprevistos, como os ligados às condições climáticas; custo de instalação e de operação acessíveis; atendimento eficiente a localidades de difícil acesso ou suscetíveis a intempéries; flexibilidade, já que permitem rápida adaptação às variações da demanda. Diversas capitais da região Norte abrigam Sistemas Isolados: Manaus (AM), Porto Velho (RO), Macapá (AP), Rio Branco (AC) e Boa Vista (RR). O interior da região também é majoritariamente abastecido por UTEs: são cerca de 230 usinas deste tipo. Pode ser que um dia algumas das capitais do Norte sejam interligadas ao sistema nacional, via Mato Grosso ou Goiás. Mas em algumas localidades, devido à sua geografia, é muito difícil pensar nesta integração, observa Pinho. 43

Guascor 10 anos Linha do Tempo 1879 - Iluminação de Estrada de Ferro D. Pedro II 1881- Iluminação da Praça XV e Praça da República 1883 - Primeiro serviço público de iluminação elétrica do Brasil e da América do Sul 1885 - Primeiro serviço de iluminação de São Paulo 1887- Entrada em operação da Usina Termelétrica da Fiat Lux 1889 - Entrada em operação da Usina Marmelos Zero, a primeira hidrelétrica de grande porte no país 1899 - Criação da São Paulo Light. Entrada do capital estrangeiro no setor 1905 - Criação da Rio Light, do mesmo grupo financeiro da São Paulo Light 1907- Entrada em operação da Usina São de Fontes da Rio Light, a maior do mundo na época 1920 - Capacidade instalada de energia elétrica do Brasil: 360 MW 1927 - Inicio das atividades do grupo Americano Amforp 1930 - Capacidade instalada de energia elétrica do Brasil: 780 MW 1934 - Promulgação do Código de Águas, atribuindo à União competência exclusiva como poder concedente para os aproveitamentos hidrelétricos destinados ao serviço público 1940 - Capacidade instalada de energia elétrica do Brasil: 1.250 MW 1943 - Início da criação das diversas empresas estaduais e federais do setor: CEEE (RS), Chesf (MG), Cemig (MG), Copel (PR), Celesc (SC), Celg (GO), Cemat (MG), Escelsa (ES), Furnas (Sudeste), Cemar (MA), Coelba (BA), Ceal (AL), Energipe (SC), entre outras 1950 - Capacidade instalada de energia elétrica do Brasil: 1.900 MW 1960 - Criação do Ministério das Minas e Energia - Capacidade instalada de energia elétrica do Brasil: 4.800 MW 1961- Criação da Eletrobrás, que foi constituída em 1962 44

A Energia Elétrica no Brasil 1963 - Entrada em operação da usina de Furnas, que interliga o Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo 1964 - Aquisição das empresas do Grupo Amforp pelo governo federal 1968 - Constituição do Comitê Coordenador de Operação Interligada 1970 - Capacidade instalada de energia elétrica do Brasil: 11.460 MW 1973 - Criação dos Grupos Coordenadores de Operação Interligada 1979 - Compra da Light Serviços de Eletricidade pelo governo federal 1980 - Capacidade instalada de energia elétrica do Brasil: 31.300 MW 1982 - Criação do Grupo Coordenador de Planejamento dos Sistemas Elétricos - GCPS 1984 - Entrada em operação da usina de Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo. Conclusão do Sistema interligado Norte e Nordeste 1985 - Criação do Procel (Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica) 1986 - Entrada em operação do Sistema Interligado Sul e Sistema Interligado Sul-Sudeste 1990 - Capacidade instalada de energia elétrica do Brasil: 53.000 MW 1996 Criação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) 1998 Criação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e do Mercado Atacadista de Energia Elétrica (MAE) 2000 - Capacidade instalada de energia elétrica do Brasil: 72.200 MW 2001 - Crise no abastecimento de energia e racionamento de energia elétrica no Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte até 2002 Fonte: Escelsa (Espírito Santo Centrais Elétricas S.A) e Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine) 45

Guascor 10 anos A Ilha de Marajó (PA) é outro caso ilustrativo. Como seria possível a comunidade ter energia elétrica? A construção de uma linha de transmissão que atravessasse a baía de Marajó resultaria em custos e tarifas exorbitantes, além de um impacto ambiental de proporções inimagináveis, afirma Pinho. Ao contrário do SIN, os Sistemas Isolados são móveis e podem ser instalados perto dos centros de consumo. Por isso dispensam redes de transmissão de grande abrangência. Não fossem os Sistemas Isolados, localidades inacessíveis e grandes cidades do Norte estariam ainda privadas dos benefícios da energia elétrica. A falta de energia ocasiona a exclusão social. Uma situação marcante a respeito disso ficou em minha memória. Foi na cidade de Oriximiná, no Pará. A escola municipal ficou fechada vários anos por falta de luz. Com a implantação de uma UTE, as atividades da escola voltaram ao normal e os alunos e professores realizaram uma festa na usina, recorda Pinho. Todos festejavam o direito de ter a escola funcionando plenamente e a chance de construir o futuro. 46

A Energia Elétrica no Brasil 47