A NECESSIDADE DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL FRENTE Á VIOLÊNCIA URBANA



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Transcrição:

A NECESSIDADE DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL FRENTE Á VIOLÊNCIA URBANA SUMÁRIO Luis Fernando Lapa do Nascimento 1 Wellington Cesar de Souza 2 Introdução. 1 Maioridade Penal. 2 Breves noções acerca do direito penal. 2.1 Crime. 2.2 Imputabilidade Penal. 2.3 Culpabilidade. 2.4 Da maioridade. 2.5 Crescimento da violência entre os jovens. 2.6 Possibilidade de redução da maioridade penal. 2.7 Estudo comparativo com a legislação de outros países. Considerações finais; Referencias das fontes citadas; RESUMO A presente Obra Científica têm como objetivo principal discorrer sobre A Necessidade da Redução da Maioridade Penal Frente á Violência Urbana, trazendo, também, algumas considerações acerca do atual Código Penal e por fim, tratando a proteção de jovens delinquentes como um problema de segurança pública. De acordo com tais apontamentos, é possível concluir que a redução da maioridade pode ser a resposta para a redução da criminalidade juvenil. Se uma pessoa, menor de 18 anos pode trabalhar, contratar, casar, testar e votar, porquê não pode responder criminalmente? Importante se faz ressaltar, conforme demonstram estudos, que países como os Estados Unidos e alguns países da Europa possuem índices baixos de violência urbana cometida por menores infratores, devido à idade inferior de imputabilidade penal neles adotados. Para o desenvolvimento da pesquisa, utilizou-se o método indutivo e foram acionadas as técnicas do referente, da categoria, do conceito operacional, do fichamento e da pesquisa bibliográfica. Palavras-chave: Maioridade penal. Menor infrator. Violência urbana. INTRODUÇÃO O presente artigo tem como objetivo específico discorrer primeiramente sobre algumas considerações acerca o atual Código Penal, em seguida realizará uma análise breve sobre a necessidade de redução da maioridade 1 Acadêmico do 9 período do Curso de Direito pela Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI, Campus Balneário Camboriú SC. ² Advogado Criminal. Atualmente é professor de Direito Penal e Processo Penal da Universidade do Vale do Itajaí, atuando nas áreas afins. 694

penal, e, por último, tratará da proteção de jovens delinquentes 2 problema de segurança pública. como um O interesse pela referida pesquisa surgiu diante da crescente onda de criminalidade com a participação de menores de dezoito anos em crimes que vão desde furtos até crimes hediondos e a sociedade brasileira revoltada, exige mudanças na imputabilidade penal do atual Código Penal. O artigo está dimensionado em alguns momentos principais. Inicialmente far-se-á breves noções acerca do Direito Penal, posteriormente será tratado do conceito analítico de crime, segundo finalismo mundial. Ainda, serão tratados dos conceitos de culpabilidade e imputabilidade penal abordando ambas de uma forma clara e direta e na sequência será abordada a questão da menoridade, desde o conceito até opiniões de doutrinadores. Para finalizar, será exposta a real necessidade da redução da maioridade penal frente ao alto nível de violência. Tendo como a questão problema tratada nessa pesquisa: A necessidade da redução da maioridade penal frente à violência urbana praticada no Brasil é a solução? A hipótese apresentada é a seguinte: Em razão da banalidade da violência praticada nos centros urbanos brasileiros por menores infratores, e a eficácia dessa redução perante grandes potencias mundiais constatou-se a necessidade de Redução da Maioridade Penal. Em pesquisa, realizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), 57,4% (cinquenta e sete vírgula quatro por cento) dos nossos juízes são favoráveis à redução de 18 para 16 anos da maioridade penal. Em pesquisa realizada pelo Ibope e divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), aponta que 75% (setenta e cinco por cento) da população entrevistada é a favor da redução da maioridade penal para 16 anos, ou seja, a maioria dos nossos magistrados é a favor, uma maioria esmagadora da nossa população é a favor, portanto a reflexão: vamos continuar andando na contra mão? 2 Delinquente: Característica do que ou de quem infringe uma lei e/ou certas normas morais pré-estabelecidas. Pessoa que praticou um delito, criminoso. Fonte: Dicionário On Line de Português. Disponível em: http://www.dicio.com.br/delinquente/. Acesso: 05 de julho de 2013, às 17h:30min. 695

A solução exige tempo e determinação. Para atingir o objetivo final temos que começar com a redução da maioridade penal, acabando com a impunidade por parte dos menores infratores que agem cada vez com mais frieza e agressividade. 2 MAIORIDADE PENAL 2.1 Breves noções acerca do direito penal Importante se faz iniciar o presente artigo fazendo uma breve apresentação do Direito Penal. Não há como dar entrada ao tema sem antes entendermos o Direito Penal atual. Segundo Fernando Capez 3 a missão do Direito Penal é proteger os valores fundamentais para a subsistência do corpo social, tais como a vida, a saúde, a liberdade, a propriedade etc., denominados bens jurídicos. E o autor leciona: O direito penal é o segmento do ordenamento jurídico que detém a função de selecionar os comportamentos humanos mais graves e perniciosos à coletividade capazes de colocar em risco valores fundamentais para a convivência social, e descrevê-los como infrações penais, cominando-lhes, em consequência, as respectivas sanções, além de estabelecer todas as regras complementares e gerais necessárias à sua correta e justa aplicação. 4 Para Nilo Batista 5, a missão do Direito Penal é a proteção dos bens jurídicos, através da cominação, aplicação e execução da pena. Neste contexto, Figueiredo Dias 6 nos lembra que os bens jurídicos protegidos pelo Direito Penal devem considerar-se concretizações dos valores constitucionais expressa ou implicitamente ligados aos direitos e deveres fundamentais. 3 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Parte Geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 19. 4 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Parte Geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 01. 5 BATISTA, Nilo. Introdução crítica do Direito Penal Brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2007, p. 48. 6 FIGUEIREDO DIAS, Jorge de. Temas Básicos da Doutrina Penal. Questões Fundamentais do Direito Penal Revisitadas (Título referente à edição brasileira) Coimbra: Coimbra, 2001. p. 47-48. 696

Para Assis Toledo 7, bens jurídicos são valores ético-sociais que o direito seleciona, com o objetivo de assegurar a paz social, e coloca sob sua proteção para que não sejam expostos a perigo de ataque ou a lesões efetivas. Vêm dessa necessidade de proteger os bens jurídicos mais importantes, o surgimento de leis, organizadas em forma de Códigos, entre eles, o Código Penal. O que se mostra contrário ao estabelecido na lei, é chamado ilícito e encontra no ordenamento sanções previstas a cada infração, que podem variar desde a restrição da liberdade, com a inclusão do autor do ilícito no sistema prisional, a medidas de segurança e penas restritivas de direitos. É por esse motivo, que iniciamos o trabalho abordando a temática da expansão do direito penal na sociedade contemporânea. 2.2 Conceito analítico do crime finalismo mundial O conceito analítico do crime, segundo a maioria dos autores que defendem a corrente finalista mundial, precisa ser: típico, ilícito e culpável. Portanto, o primeiro elemento do crime, sob o ponto de vista analítico, é chamado de fato típico, que é composto de quatro elementos: conduta humana voluntária (dolosa ou culposa), nexo causal, resultado normativo ou jurídico e adequação típica ou tipicidade. 8 Como um dos elementos formadores do fato típico, descreve-se o nexo causal, a ligação existente entre a conduta praticada pelo agente e o resultado jurídico ou normativo. Significa dizer que, se existe nexo causal, foi aquela determinada conduta que praticou o determinado resultado. O dispositivo legal que preceitua a causalidade é o artigo 13 do Código Penal 9, que dele se extrai: O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 7 TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal. 4 ed. São Paulo: Saraiva,1991, p. 22. 8 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 96-97. 9 BRASIL. Código Penal. In Vade M ecum. 12. Ed. São Paulo: Rideel, 2012, p.13. 697

Sobre o nexo de causalidade foram desenvolvidas inúmeras teorias, sendo a adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro e a única que iremos trabalhar aqui, a teoria da equivalência, que conclui que tudo aquilo que contribuiu para o resultado é causa. O segundo elemento do crime, sob aspecto analítico é a ilicitude ou antijuridicidade que, segundo ensina Bitencout, significa: a contrariedade existente entre o fato típico e o ordenamento jurídico. 10 A ação que se encontra tipificada no Código Penal só será lícita se o agente estiver atuando com amparo em algumas das excludentes de ilicitude, que podem ser também encontradas na Parte Geral do Código Penal. São elas: legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular do direito. Estão elas previstas no artigo 23 do Código Penal 11 que preceitua: Não há crime quando o agente pratica o fato: I em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular do direito. Para Rogério Greco 12, a culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime é estudada após a comprovação da ilicitude da conduta do agente, para configurar se há possibilidade ou não de censurá-lo pelo fato praticado. Assim pode-se concluir que não se trata de elemento do crime, mas pressuposto para imposição de pena, porque, sendo um juízo de valor sobre o autor de uma infração penal, não se conceber possa, ao mesmo tempo, estar dentro do crime, como seu elemento, e fora, como juízo externo de valor do agente. Para censurar quem cometeu um crime, a culpabilidade deve estar necessariamente fora dele. 2.3 Culpabilidade A culpabilidade é a possibilidade de se considerar alguém culpado pela prática de uma infração penal. Por essa razão, costuma ser definida 10 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 209-210. 11 BRASIL. Código Penal. In Vade M ecum. 12. Ed. São Paulo: Rideel, 2012, p.13. 12 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal, Parte Geral, Volume I, 14. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2012. p.67. 698

como juízo de censurabilidade e reprovação exercido sobre alguém que praticou um fato típico e ilícito. Nesse sentido, conclui Heleno Cláudio Fragoso 13 que: Consiste na reprovabilidade da conduta ilícita (típica e antijurídica) de quem tem a capacidade genérica de entender e querer (imputabilidade) e podia, nas circunstâncias em que o fato ocorreu, conhecer a sua ilicitude, sendo-lhe exigível comportamento que se ajuste ao Direito. Nesse mesmo sentido, para Luiz Regis Prado 14 ressalta que: A culpabilidade é a reprovabilidade pessoal pela realização de uma ação ou omissão típica e ilícita. O delito, analiticamente, é a ação ou a omissão típica, ilícita e culpável. Segundo Doutrina Majoritária, culpabilidade é sempre o fundamento (pois, liga-se à noção de retributividade prevista no artigo 59, in fine, do Código Penal 15 ) e limite de pena (prende-se ao princípio da culpabilidade), sendo possível sua gradação. Para Roxin 16, a culpabilidade é apenas limite da pena, em função da prevenção geral e especial, não sendo o fundamento da pena. A culpabilidade seria apenas uma das condições necessárias para a imposição da pena, ao lado da necessidade preventiva da sanção penal. A culpabilidade deve recair sobre o fato individual e não sobre uma conduta de vida individual (culpabilidade de caráter ou de autor). 2.4 Imputabilidade penal Nucci 17, em comentários ao Código Penal, critica a posição atual do Brasil com relação a imputabilidade penal, alegando que: A responsabilidade penal foi inserida no capítulo da família, da criança, do adolescente e do idoso, e não no contexto dos direitos e garantias individuais (Capítulo I, art. 5.º da CF). Não podemos 13 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal: a nova parte geral, 14. ed. revista e atualizada por Fernando Fragoso, Rio de Janeiro: Forense 1993, p. 196 14 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume 1: Parte Geral. 7ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 408. 15 BRASIL. Código Penal. In Vade M ecum. 12. Ed. São Paulo: Rideel, 2012. P. 557. 16 ROXIN, Clauss. Culpabilidad y Prevención em Derecho Penal. ed. Reus, Madrid, 1981. p. 50. 17 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2007. p. 265. 699

concordar com a tese de que há direitos e garantias humanas fundamentais soltos em outros trechos da Carta, por isso também cláusulas pétreas, inseridas na impossibilidade de emenda previstas no art. 60, 4.º, IV, CF, pois sabe-se que há direitos e garantias de conteúdo material e direitos e garantias de conteúdo formal. Bastos e Martins 18, comentam em sua obra que, em outras palavras, o legislador constituinte acolheu a ideia que a irresponsabilidade pode identificar-se com o sistema político democrático brasileiro. O legislador constituinte pátrio, preocupado com a proteção da criança e do adolescente, estabeleceu no artigo 228 da Constituição Federal de 1988 19 que: São penalmente inimputáveis os menores de 18 anos, sujeitos às normas da legislação especial. Para José Frederico Marques 20, a imputabilidade é elemento componente da culpabilidade. É um dos dados que devem compor o caráter reprovável do fato típico e antijurídico. Já na visão de Nucci 21, ao definir imputabilidade, ensina que: [...] é o conjunto das condições pessoais, envolvendo inteligência e vontade, que permite ao agente ter entendimento do caráter ilícito do fato, comportando-se de acordo com esse conhecimento. Discorre Aníbal 22 sobre imputabilidade: Imputável resulta ser o homem mentalmente desenvolvido e mentalmente são, que possui a capacidade de entender o caráter criminoso do seu ato e de determinar-se de acordo com esse entendimento, capacidade que o homem adquire progressivamente, com o desenvolvimento físico e mental, até atingir o seu pleno crescimento 18 BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários à Constituição do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 2. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 1103. 19 BRASIL. Código Penal. In Vade M ecum. 12. Ed. São Paulo: Rideel, 2012. p. 86. 20 MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal. 2 ed., atual. Campinas: Bookseller, 1997. p. 110. 21 NUCCI, Guilherme Souza. Manual de Direito Penal. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 287. 22 ANÍBAL, apud MARQUES, 1997. p.209. 700

Ainda, sobre esta questão, Antonio Carlos da Ponte 23 ensina que: A imputabilidade pode ser definida como a aptidão do indivíduo para praticar determinados atos com discernimento, que tem como equivalente a capacidade penal. Em suma, é a condição pessoal de maturidade e sanidade mental que confere ao agente a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinase segundo este entendimento. imputabilidade: Julio Fabbrini Mirabete 24 esclarece o que se entende por De acordo com a teoria da imputabilidade moral (livre-arbítrio), o homem é um ser inteligente e livre, podendo escolher entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, e por isso a ele se pode atribuir a responsabilidade pelos ilícitos que praticou. Essa atribuição é chamada imputação, de onde provém o termo imputabilidade, elemento (ou pressuposto) da culpabilidade. Imputabilidade é, assim, a aptidão para ser culpável. Em sua obra Direito Penal, Damásio de Jesus 25 diz que a imputabilidade não se confunde com a responsabilidade penal, que corresponde às consequências jurídicas oriundas da prática de uma infração. Direito Penal, Damásio 26 Em um outro momento, em obra voltada para parte geral do menciona que imputar é o ato de atribuir a alguém a responsabilidade de alguma coisa e, define imputabilidade penal, como sendo o conjunto de condições pessoais que dão ao agente capacidade para lhe ser juridicamente imputada a prática de um fato punível. Reforçando sobre o assunto, Noronha 27 ensina, ainda: Responsabilidade é a obrigação que alguém tem de arcar com as consequências jurídicas do crime. É o dever que tem a pessoa de prestar contas de seu ato. Ela depende da imputabilidade do indivíduo, pois não se pode sofrer as consequências dos fatos criminosos (ser responsabilizado) senão o que tem a consciência de sua antijuridicidade e quer executá-lo (ser imputável). 23 PONTE, Antonio Carlos da. Inimputabilidade e processo penal. São Paulo: Atlas, 2001. p. 26. 24 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 25. ed., rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2007. p. 217. 25 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal. 21. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 466. 26 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral. 10ª ed. São Paulo: Saraiva, 1985. 1 v. p. 407. 27 NORONHA, Edgard Magalhães. Direito Penal. 36. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 164. 701

Por fim, de acordo com Julio Fabbrini Mirabete 28 : [...] há vários sistemas ou critérios nas legislações para determinar quais os que, por serem inimputáveis, estão isentos de pena pela ausência de culpabilidade. O primeiro é o sistema biológico (ou etiológico), segundo o qual aquele que apresenta uma anomalia psíquica é sempre inimputável, não se indagando se esta anomalia causou qualquer perturbação que retirou do agente a inteligência e a vontade do momento do fato. É evidentemente, um critério falho, que deixa impune aquele que tem entendimento e capacidade de determinação apesar de ser portador de doença mental, desenvolvimento mental incompleto etc. 2.5 Da menoridade menoridade: O Dicionário Jurídico 29 conceitua da seguinte maneira a Derivado do latim minor, gramaticalmente é, como adjetivo, comparativo de pequeno. No sentido técnico-jurídico, empregado como substantivo designa-se a pessoa que não tenha ainda atingido a maioridade, ou seja, não atingiu a idade legal para que se considere maior e capaz. Palomba 30, psiquiatra forense, critica a questão da menoridade penal, argumentando que: Sobre esta questão da menoridade há nevoeiros perpétuos enublando o entendimento correto do problema, a ponto de os legisladores esquecerem os mais comezinhos princípios da natureza, despautério esse que não se prende somente aos brasileiros, uma vez que, nos principais países do mundo, as falhas se repetem. Talvez a mais grave seja o fato de se passar da inimputabilidade para a imputabilidade, sem a admissão de uma zona fronteiriça entre ambas. Com efeito, hoje juridicamente, aqui no Brasil, um indivíduo com 17 anos, 11 meses e 29 dias, se cometer um delito, por mais hediondo que seja, é absolvido do crime, por força da lei (artigo 27 do Código Penal). Se esse indivíduo praticasse o mesmo crime um dia depois, ou seja, com 18 anos, sofreria consequências jurídicas completamente diferentes, podendo resultar em condenação com a pena de reclusão, por longo tempo. Assim, passa-se do nada para 28 MIRABETE, Júlio Fabbrini; FABBRINI, Renato Nascimento. Manual de direito penal. 24. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2007. p. 34. 29 SILVA, Plácido. Vocabulário Jurídico. 15. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1999. p.420. 30 PALOMBA, Guido Arturo. Tratado de Psiquiatria Forense Civil e Penal. São Paulo: Atheneu, 2003. p. 509. 702

o tudo, da inimputabilidade para a imputabilidade, da absolvição para a condenação, cujo maniqueísmo agride frontalmente as leis da natureza e da vida. Na natureza, nada se dá aos saltos (natura no facit saltus), ou seja, quando terminar a noite não é exatamente naquele momentos que começa o dia: há entre ambos, a aurora. Por analogia, entre a criança, que não tem controle das funções intelectuais e emocionais, e o adulto que o tem, há a adolescência. Para José Frederico Marques 31, menor é a pessoa que não atingiu a idade legal para a maioridade, sendo assim, considerada incapaz ou isenta de responsabilidade para praticar atos regulados pela idade legal. Sugere Guido Arturo Palomba 32, que do aspecto psiquiátrico forense, os indivíduos deveriam ser assim classificados: do nascimento aos 12 anos de idade deveriam se considerados inimputáveis (menoridade), dos 13 aos 18 anos deveriam se considerados semi-imputáveis (menoridade relativa) e os maiores de 18 anos deveriam ser considerados imputáveis (maiores). Frente a isso, Salienta Damásio 33 : O Código prevê presunção absoluta de inimputabilidade. Acatado o critério biológico, não é preciso que, em decorrência da menoridade, o menor seja inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse procedimento. A menoridade (fator biológico) já é suficiente para criar a inimputabilidade: o Código presume de forma absoluta que o menor de 18 anos é inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. A presunção não admite prova em contrário. Fica difícil entender como pode esse menor inimputável possuir, constitucionalmente, direito político ativo, vale dizer, capacidade eleitoral ativa. Como pode um inimputável penal votar em eleições, plebiscitos e referendos? O Procurador Geral de São Paulo Elival da Silva Ramos que é o cérebro por trás do projeto enviado pelo governo de São Paulo ao Congresso Nacional propondo alteração no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em entrevista declarou que, o sistema jurídico precisa ter coerência de punições e como 31 MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal. Campinas: Bookseller, 1997. P.81. 32 PALOMBA, Guido Arturo. Tratado de Psiquiatria Forense Civil e Penal. São Paulo: Atheneu, 2003. p. 510. 33 JESUS, Damasio E. de. Direito Penal: parte geral. 21ª ed., ver. e atual. São Paulo:editora Saraiva, 1998. p. 321. 703

um todo ele indica que é um absurdo fixar a idade em 18 anos. Aos 16, vota-se para presidente da República. O Código Penal fixou a maioridade em 18 anos na década de 1940. O jovem de hoje tem uma percepção do mundo muito mais aguçada. Tanto que no tratamento de delitos como sedução de menores, o Judiciário adaptou jurisprudência a isso 34. 2.6 Crescimento da violência entre os jovens delinquência juvenil que: Munir Cury 35 salienta, em sua última obra, a respeito da [...] a conduta da criança ou do adolescente, quando revestida de ilicitude, repercute obrigatoriamente no contexto social em que vive. E, a despeito de sua maior incidência nos dias atuais, sobretudo nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, tal fato não constitui ocorrência apenas deste século, mas é nesta quadra da história da Humanidade que o mesmo assume proporções alarmantes, principalmente nos grandes centros urbanos, não só pelas dificuldades de sobrevivência como, também, pela ausência do Estado nas áreas da educação, da saúde, da habitação e, enfim, da assistência social. Para Moreno Izquierdo, apud TRINDADE 36, delinquente é todo aquele que infringe qualquer das leis sancionadas pelo código. Trata-se da aplicação de uma normativa vinculada a uma conduta considerada contra a lei. afirma: De forma complementar aos estudos, José Frederico Marques 37 [...] o problema do menor delinquente é fundamental na luta contra o crime. Nas crianças mal encaminhadas e que da sociedade nada têm recebido a não ser a sorte madrasta reservada aos párias, é que a delinquência recruta o grande contingente dos criminosos incorrigíveis e dos infratores perigosos que tanto perturbam a vida em comunhão. Infelizmente, ainda não pudemos aplicar, com eficiência devida, os salutares preceitos consignados na legislação pátria para a solução do problema da delinquência juvenil e da infância. Falta-nos o aparelho necessário, 34 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2013/5/9/se-vota-jovem-pode-ser-preso-dizprocurador 35 CURY, Munir. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: comentários jurídicos e sociais. 8. ed., São Paulo: Malheiros, 2006. p.338. 36 TRINDADE, Jorge. Delinquência Juvenil. 2. ed. Porto Alegre: Liv. do Advogado, 1996. p. 39. 37 MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal. 2. ed., atual. Campinas: Bookseller, 1997.p.228. 704

e, em consequência, os textos legais constituem letra morta ou regras programáticas à espera de aplicação oportuna. 2.7 Possibilidade de redução da maioridade penal Salienta Luiz Antonio Miguel Ferreira 38, que a revolta comunitária configura-se porque o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é muito tolerante com os jovens e não intimida os que pretendem transgredir a lei. Conforme ensinamentos de Nucci 39, que aborda a redução da maioridade penal ao tecer comentários ao artigo 27 do Código Penal 40, essa providência se mostra necessária nos dias de hoje, porém inaplicável por conta da superlotação do sistema carcerário. Para ele, a única forma para contornar o fato de a maioridade penal ser atualmente um preceito constitucional seria: [...] por meio de emenda constitucional, algo perfeitamente possível, tendo em vista que, por clara opção do constituinte, a responsabilidade penal foi inserida no capítulo da família, da criança, do adolescente e do idoso, e não no contexto dos direitos e garantias individuais (Capítulo I, artigo 5º, Constituição Federal). Não podemos concordar com a tese de que há direitos e garantias humanas fundamentais soltos em outros trechos da Carta, por isso também cláusulas pétreas, inseridas na impossibilidade de emenda prevista no artigo 60, 4º, IV, Constituição Federal, pois sabe-se que há direitos e garantias de conteúdo material e direitos e garantias de conteúdo formal. O simples fato de ser introduzida no texto da Constituição Federal como direito e garantia fundamental é suficiente para transforma-la, formalmente, como tal, embora possa não ser assim considerada materialmente. É o caso da proibição de identificação criminal para o civilmente identificado ou mesmo para o julgamento pelo tribunal do júri, que são garantias fundamentais apenas porque foram colocados dentro do artigo 5º, embora não façam parte de direito internacionalmente reconhecido como fundamentais [...]. Por isso, a maioridade penal, além de não ser direito fundamental em sentido material, em nosso entendimento, também não o é no sentido formal. Assim, não há qualquer impedimento para a emenda constitucional suprimindo ou modificando o artigo 228 da Constituição. 38 FERREIRA, Luiz Antonio Miguel. Direito da Criança e do adolescente. 2. ed. São Paulo: editora Lumarte, 2001. p. 14. 39 NUCCI, Guilherme Souza. Manual de direito penal. 3. ed. Rev., atual. e Ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.p.121. 40 BRASIL. Código Penal. In Vade M ecum. 12. Ed. São Paulo: Rideel, 2012, p.355. 705

Atualmente o que se tem discutido e apontado pela doutrina é basicamente uma adequação a um critério biopsicológico, em que se unem a idade mínima para imputabilidade penal, com a capacidade de entendimento do ato criminoso, aferidos através de exame competente, conforme dispõe Barbosa: O melhor critério é o biopsicológico, considerando-se que a idade de dezesseis anos é a idade de aquisição facultativa dos direitos políticos, [...] se a mulher casada se emancipa civilmente com o casamento aos dezesseis anos e se projeto de lei visa a que o maior de dezesseis anos possa dirigir veículos, não se compreende que não possa responder pelos atos ilícitos que porventura praticar. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em opinião do Desembargador Yussef Cahali, vem se posicionando a favor da redução, por motivos de política criminal, por uma exigência social, como o foi na extensão do voto aos jovens de 16 anos de idade. Até mesmo crianças pequenas sabem que não se pode matar, que machucar o outro é errado ou que não é permitido tomar para si o objeto do outro. Posiciona-se favorável à redução da maioridade penal, o jurista Guilherme de Souza Nucci 41, defendendo a possibilidade de Emenda à Constituição Federal para redução da maioridade penal, reforçando: Não é admissível acreditar que menores entre 16 anos ou 17 anos, não tenham condições de compreender o caráter ilícito do que praticam, tendo em vista que o desenvolvimento mental acompanha, como é natural, a evolução dos tempos. 2.8 Estudo comparativo com a legislação de outros países Inicia-se com uma breve colocação do Promotor de Justiça Doutor José Ribamar Costa Assunção 42 : Somente o Brasil, a Colômbia e o Peru, na América Latina, países atrasados educacionalmente, com discutível ou baixa qualidade de vida, como mostra o Relatório de Desenvolvimento Humano (RHD) de 2006, têm maioridade 41 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2007. p. 294. 42 http://farm1.static.flickr.com/173/406317906_0212a5de20_b.jpg5 706

penal aos 18 anos. Os demais países, a exemplo da Argentina e do Chile, têm maioridade aos 16 anos; e, fora do continente, os grandes países civilizados, como a Alemanha, a Itália e a Rússia têm maioridade aos 14 anos; a França e a Polônia é aos 13 anos; a Noruega, a Suécia, a Dinamarca e a Finlândia, é aos 15 anos. E há casos de países com alto grau de cultura, como a Inglaterra, ou bom nível de vida, como os Estados Unidos, onde a maioridade penal é aos 10 anos. Nos EUA, em alguns estados, chega a menos de 10 anos. Na Ásia, destaque para o Japão, um país altamente industrializado, inegável potência mundial, e a China, outro gigante entre as potências mundiais, onde a maioridade penal é aos 14 anos. Nesse sentido pode-se citar como o exposto, a China, cujo sistema judicial juvenil, dependendo do caso, é tão rígido quanto o sistema judicial comum; os países desenvolvidos da Europa, principalmente a França, Inglaterra e Escócia; e os Estados Unidos que é mundialmente reconhecido pela sua rigidez no sistema prisional (tanto juvenil quanto o comum). Um grande exemplo dessa rigidez citada anteriormente é o estado americano do Texas, onde o menor infrator é encaminhado para unidades de internação, onde o mesmo é reeducado e disciplinado por instrutores vindos do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, tendo o menor uma rotina diária árdua, onde lhe são exigidos respeito para com os instrutores e cumprimento de todas as medidas que lhe são impostas pela instituição e pela pena decretada em juízo. Caso não as cumpra de forma satisfatória, o menor é cada vez mais penalizado dentro da instituição, para que o mesmo seja intimidado a mudar de comportamento e assim adequar sua conduta ao que a instituição determina. Este é um típico tratamento de choque que visa reeducar o menor infrator e caso esse objetivo não seja alcançado até a idade da maioridade, o mesmo pode acabar sendo transferido para uma penitenciária comum 43. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo possibilitou analisar a possibilidade ou não da redução da maioridade penal, segundo o entendimento de alguns doutrinadores supracitados nesta pesquisa. 43 http://www.investidura.com.br/biblioteca-juridica/artigos/direito-penal/162953-reducao-da-maioridade-penal-danecessidade-da-reducao-da-maioridade-penal-para-fins-de-combate-a-violencia-juvenil-no-brasil 707

Discorreu acerca do Direito Penal e a sua finalidade, posteriormente analisando o crime e seu conceito, tratando de ressaltar da imputabilidade penal dos menores de 18 anos e as divergências entre os doutrinadores além da necessidade da maioridade penal e a existência da redução nas maiores potencias mundiais. Posteriormente seguiu-se analisando a menoridade penal em si, conceituando e dando o parecer de diversos doutrinadores e, em seguida, mostrando este grande mal que nos atinge, além do crescimento da violência entre os jovens. Ficou evidente, após a leitura dos livros e artigos expostos ao longo desse trabalho, a existência da questão problema, que a redução da maioridade penal é o primeiro passo para resolver a questão da violência e marginalidade que a sociedade está exposta, assim confirmando, também, a hipótese anteriormente citada. Ao menos quatro, entre cinco brasileiros, concordam com a redução da maioridade penal para 16 anos, revela a pesquisa "Retratos da Sociedade Brasileira: Segurança Pública" feita pelo Ibope e divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Mostram-se totalmente a favor da medida 75% dos entrevistados e parcialmente a favor, 11%. Os que são contrários, total e parcialmente somam 9%, ou seja, o povo está cansado dessas barbaridades praticadas por menores infratores que usam um sistema frágil para se protegerem com relação aos próprios delitos. Os principais países do mundo já adotam essa medida há anos e com isso vêm evoluindo cada vez mais, pois a violência urbana acaba por atrapalhar o desenvolvimento de qualquer nação. Assim sendo necessárias as mudanças cabíveis para que o Brasil adote essa medida e possa se desenvolver com mais facilidade e se livrar desse mal que nos atormenta, ou pelo menos amenizá-lo de forma significativa. Além de tomar esse primeiro passo, teria-se que investir mais em educação e em sistemas prisionais adequados para receber essa geração de infratores. Com o melhoramento da educação a criminalidade dos menores diminuiria, e com isso, menos delinquentes iriam para os sistemas prisionais. 708

Porém, os que ainda, por algum motivo, cometessem delitos deveriam ser recebidos por um sistema que os educassem e que não os deixassem querer voltar, mas não pelo medo, e sim pela educação e reabilitação lá dentro recebida, com a conscientização de que o crime não compensa. Cabe ressaltar aqui que não é objetivo do presente trabalho esgotar todas as considerações sobre a temática tratada, e sim, realizar uma análise sucinta sobre os pontos mais importantes, de maneira a esclarecer da melhor maneira possível á hipótese exposta ao longo deste trabalho. Espera-se que este artigo possa contribuir para o preenchimento da lacuna causada pela delinquência juvenil, servindo de base para outros pesquisadores que se interessem pelo assunto. Apesar da existência de outras pesquisas envolvendo o tema, há ainda, fatos a serem destacados na problemática deste estudo. REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários a Constituição do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 2. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2000. BATISTA, Nilo. Introdução Crítica do Direito Penal Brasileiro. 11 ed. Rio de Janeiro: Revan, 2007. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Parte Geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. CARNEIRO MMM. A redução da menoridade penal na Legislação Brasileira. Revista do Conselho de Criminologia e Política Criminal: 1997. Disponível em:http://www.revistavirtual.net/index1.asp?qm=p&ed=2&c=23464k www.revistavirtu al.net/index1.asp?qm=p&ed=2&c=234-64k. Acesso em: 13 de Out, 2012. DICIONÁRIO On Line de Português. Disponível em: http://www.dicio.com.br/delinquente/. Acesso: 05 de julho de 2013, às 17h:30min. CURY, Munir. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: comentários jurídicos e sociais. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. FERREIRA, Luiz Antonio Miguel. Direito da Criança e do Adolescente. 2. ed. São Paulo: Lumarte, 2001. 709

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