A epístola de Tiago A obra exigida na epístola de Tiago de quem diz que tem fé (crença) é a obra que a perseverança termina (Tg 1:4), ou seja, é permanecer crendo na lei perfeita, a lei da liberdade (Tg 1:25). Introdução A epístola de Tiago Tiago, o Justo, possivelmente um dos irmãos de Jesus (Mt 13:55; Mc 6:3), é o autor dessa epístola. O irmão Tiago só se converteu após a ressurreição de Cristo (Jo 7:3-5; At 1:14; 1 Co 15:7; Gl 1:19), tornando-se um dos líderes da igreja em Jerusalém, e é apontado como um dos pilares da igreja (Gl 2:9). A epístola de Tiago é datada por volta de 45 d. C., bem antes do primeiro concílio em Jerusalém, que se deu por volta de 50 d. C., o que torna a mais antiga epístola do Novo Testamento. Segundo o historiador Flávio Josefo, Tiago foi morto por volta do ano 62 d. C. Os destinatários da epístola são os judeus dispersos convertidos ao cristianismo (Tg 1:1), daí o tom austero e a linguagem peculiar aos judeus. Quando escreveu esta epístola, Tiago buscou contrapor o ensinamento judaico de ter fé no único Deus, com o ensinamento do evangelho, que é ter fé em Jesus Cristo, pois de nada adianta alguém dizer que crê em Deus, mas que não obedece o mandamento de Deus, que é crer em Cristo.
A abordagem de Tiago nos lembra o ensinado por Jesus: NÃO se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim (Jo 14:1), evidenciando a relevância da matéria abordada em função do público alvo: judeus convertidos ao cristianismo. Entretanto, um entendimento equivocado acerca da epístola de Tiago se difundiu em meio a cristandade, de que ele defendia a salvação pelas obras, opondo-se ao apóstolo dos gentios, que defendia a salvação pela fé. A má compreensão da abordagem de Tiago fez com que Martinho Lutero detestasse a essa epístola, denominando-a epístola de palha. Ele não conseguiu visualizar que o ensinamento de Tiago não difere do ensinado pelo apostolo Paulo. Resumo da epístola de Tiago A epístola de Tiago tem início com exortação à perseverança na fé, vez que na perseverança conclui-se a obra da fé (Tg 1:3-4). Quem suporta as provações sem desvanecer é bemaventurado, vez que receberá de Deus a coroa da vida, que será dada aos que O obedecem (amam) (Tg1:12). Tiago faz uso do termo fé no sentido de crer, acreditar, confiar, diferentemente do apóstolo Paulo, que utiliza o termo tanto no sentido de crer quanto no sentido de verdade, sendo que este último significado é muito mais utilizado que aquele. Em seguida, Tiago apresenta a essência do evangelho, que é o novo nascimento por intermédio da palavra da verdade (Tg 1:18). Após asseverar que é necessário receber como servo obediente a palavra do evangelho, que é poder de Deus para salvação (Tg2:21), Tiago exorta os seus interlocutores a cumprirem o determinado no evangelho, não se esquecendo da doutrina de Cristo (Tg 2:21).
Tiago lembra que quem atenta para a verdade do evangelho e nela persevera, não sendo ouvinte esquecido, é executor da obra estabelecida por Deus: crer em Cristo (Tg 2:25). À vista da obra exigida por Deus, Tiago demonstra que ser religioso sem refrear o que procede do coração, é enganar-se a si mesmo, e a religião desse indivíduo se revela vã (Tg 2:26-27). Novamente Tiago chama os seus interlocutores de irmãos, para então conclama-los a não fazerem acepção de pessoas, já que professavam ser crentes em Cristo (Tg 2:1). Se alguém fala que é crente no Senhor Jesus, deve proceder conforme essa crença: não fazendo acepção de pessoas por causa de origem, língua, tribo, nação, etc. (Tg 2:12) A abordagem de Tiago muda novamente através de um grave: Meus irmãos, para questioná-los se é proveitoso alguém dizer que tem fé, se não tem obras. É possível uma crença sem obras salvar? O termo obra no contexto deve ser compreendido conforme a visão do homem da antiguidade, que é o resultado da obediência a um mandamento. Para os homens à época, mandamento por parte de um senhor e obediência por parte de um servo resultava em obra. A abordagem muda de acepção de pessoas para salvação. Primeiro; Quem tem fé em Cristo não pode fazer acepção. Segundo: Quem diz que tem fé que Deus é um só, se não realizar a obra exigida por Deus, não será salvo. A questão não se trata de alguém que diz ter fé em Cristo, antes se algum que diz ter fé, porém, é fé em um único Deus. Quem tem fé em Cristo será salvo, pois essa é a obra exigida por Deus. Não pode se salvar alguém que diz ter fé em Deus, mas que não crê em Cristo, vez que não é executor da obra. A obra exigida de quem diz que tem fé (crença) é a obra que a
perseverança termina (Tg 1:4), ou seja, é permanecer crendo na lei perfeita, a lei da liberdade (Tg 1:25).. Como os cristãos convertidos dentre os judeus sabiam que a obra exigida por Deus é crer em Cristo, ao argumentar que não basta diz que tem fé, Tiago estava enfatizando que é inócuo crer em Deus e não crer em Cristo. A abordagem no capítulo 3 muda novamente quando é dito: meus irmãos (Tg 3:1). A instrução tem em vista aqueles que queriam ser mestres, porém, para esse exercício ministerial é imprescindível ser perfeito. Ser perfeito no contexto é não tropeçar na palavra da verdade (Tg 3:2), e assim estará apto a conduzir o corpo (os instruendos). Após exemplos do que a palavra é capaz de promover, novamente a abordagem é mudada, para tratar da impossibilidade de proceder mensagens distintas de uma mesma pessoa, contrapondo o conhecimento de Deus versus a sabedoria e tradição humana (Tg 3:10-12). Por fim, a instrução é para que os cristãos convertidos dentre os judeus não falassem mau um dos outros (Tg 4:11), e, por figura (ricos), faz referência aos judeus que mataram o Cristo. A epístola é encerada tratando do tema inicial: perseverança (Tg 5:11), encorajando os crentes a serem pacientes no sofrimento. Os Principais equívocos de interpretação 1. Entender que Tiago está preocupado com temas como justiça social, distribuição de renda, ações caridosas, etc; 2. Considerar a repreensão severa aos ricos que acumulam bens como sendo uma repreensão a quem detinha riquezas
materiais é não observar que o termo rico é uma figura que se aplica aos judeus; 3. Entender que a carta de Tiago é antagônica ao ensinamento do apóstolo Paulo, que apresenta a salvação pela fé em Cristo Jesus. Na verdade, Tiago evidencia que crer em Deus não é o que Deus exige para salvação, e sim, crer que Jesus é o Cristo, a obra da fé; 4. Entender que boas ações é o exigível para se autenticar quem tem fé genuína. Quem tem fé em Cristo conforme as Escrituras, tem fé genuína, pois essa é a obra exigida por Deus; 5. Confundir boas obras com o fruto pelo qual se identifica a árvore.