UTILIZAÇÃO DO CALOR RESIDUAL DA COMBUSTÃO DE GASES DA CARBONIZAÇÃO PARA SECAGEM DA MADEIRA

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Transcrição:

UTILIZAÇÃO DO CALOR RESIDUAL DA COMBUSTÃO DE GASES DA CARBONIZAÇÃO PARA SECAGEM DA MADEIRA Welliton L.CANDIDO¹*, Angélica C.O. CARNEIRO 1, Marco T. CARDOSO¹, Benedito R. VITAL¹, Mateus A. MAGALHÃES¹, Danilo B. DONATO 1 1-Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil *Welliton.florest@gmail.com Resumo: A queima dos gases da carbonização produz uma quantidade considerável de gás quente que poderia ser reaproveitada para diversos fins, além de melhorar as condições de trabalho nas unidades de produção de carvão e mitigar os seus impactos ambientais. Um dos potenciais usos seria a secagem de madeira na própria unidade. Com isso, o objetivo do presente estudo foi avaliar o potencial de utilização do gás quente combusto da carbonização na secagem artificial de toras de eucalipto, avaliando o efeito da classe diamétrica na taxa e homogeneidade de secagem. O estudo foi realizado em um secador metálico abastecido com gás quente, gerado por um queimador de gases, acoplado a um forno de alvenaria retangular de pequeno porte. Foram avaliadas três classes de diâmetro (8 a 14 cm; 14 a 22 cm e 8 a 22 cm), com duas repetições cada, totalizando seis secagens. O tempo médio de secagem estabelecido foi de 68 horas e a temperatura média do gás de entrada no secador foi de 150 C. De acordo com os resultados, houve uma redução relativa do teor de água médio de 39,34% para Classe 1; 27,43% para Classe 2 e 42,58% para Classe 3. Na análise realizada, não houve diferença do teor de umidade entre as partes das toras, mostrando que as mesmas foram secas homogeneamente. A secagem artificial utilizando gás combusto da carbonização demonstrou ser eficiente e obteve uma redução relativa média de teor de umidade de 36,45% e a secagem foi mais eficiente para toras de diâmetros menores. Palavras-chave: Secagem, fornalha, gás combusto. Abstract: The burning of the carbonization gases produces a considerable amount of hot gas that could be reused for various purposes, as well as improving working conditions in coal production units and mitigate their environmental impacts. One of the potential uses would be the wood drying in the unit itself. With that, the aim of this study was to evaluate the potential use of hot gas combustion of carbonization in artificial drying of eucalyptus logs, assessing the effect of the diameter class in the rate and drying homogeneity. The study was conducted on a metallic dryer supplied with hot gas generated by a gas burner coupled to a small rectangular masonry furnace. We evaluated three diameter classes (8-14 cm, 14-22 cm and 8-22 cm) with two replications each, totaling six drying. The average drying time was set to 68 hours and the average temperature of the inlet gas in the dryer was 150 C. According to the results, there was a relative reduction in the average water content of 39.34% for Class 1; 27.43% for Class 2 and 42.58% for Class 3. In the analysis, there was no difference in moisture content between the parties of logs, showing that they were evenly dry. The artificial drying using combustion of carbonization gas proved to be efficient and scores a relative reduction of moisture content of 36.45% and drying was more efficient for smaller diameter logs. Keywords: Drying, furnace, combustion gas.

1. INTRODUÇÃO O Brasil é o maior produtor e consumidor do carvão vegetal do mundo, sendo Minas Gerais o estado que mais colabora com este cenário, consumindo cerca de 66% do carvão vegetal produzido. Em 2012, o setor que mais consumiu o carvão vegetal foi o setor de produtores independentes de ferro-gusa, com pouco mais de 60% do consumo total, seguido pelas usinas integradas de aço, com 24,5%. O setor doméstico corresponde a aproximadamente apenas 1% do consumo total (AMS, 2013). O carvão vegetal é, portanto, produzido em larga escala, porém a sua produção enfrenta diversos problemas, tais como dificuldade de homogeneização da madeira para conversão, baixa conversão de madeira em carvão, alto custo com manutenção de fornos e emissão de poluentes dentre os quais se destacam o metano (CH4), dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono (CO) e o hidrogênio (H2) (CARDOSO, 2010). A transformação de madeira em carvão vegetal é um processo de decomposição térmica físico-química irreversível, que se inicia com a secagem, com perda de água livre ou capilar e água de adesão. Esta etapa de secagem é a fase da carbonização que requer maior gasto de energia e que demanda maior tempo, o que demostra a importância de realizar uma secagem prévia da madeira para a redução destes inconvenientes. Após a retirada da água, inicia-se a fase de pirólise, com produção de gases condensáveis e não condensáveis. Os gases da carbonização são substâncias combustíveis ricas em carbono e hidrogênio que, sob condições adequadas de temperatura e pressão, são capazes de, na presença de oxigênio, sofrer reações químicas, ocorrendo liberação de energia sob a forma de luz e calor. Em uma combustão completa, as emissões seriam constituídas apenas de CO 2 e vapor de água. Lembrando que tais gases emitidos seriam interessantes uma vez que a florestal será novamente plantada. Sistemas de combustão dos gases da carbonização de baixo custo estão sendo desenvolvidos, para a redução das emissões e também para a geração de energia térmica ou elétrica, reaproveitando o calor liberado neste processo. A energia liberada pelos queimadores de gases pode ser utilizada na própria planta de carbonização para secagem artificial da madeira, contribuindo com o aumento da qualidade e rendimento do carvão vegetal, tendo como consequência aumento da produtividade das unidades produtoras de carvão vegetal (CARDOSO, 2010). Para a construção de uma fornalha deve-se estar atento nos três princípios da combustão temperatura, turbulência e tempo para propiciar uma mistura ar-combustível homogênea, na dosagem ideal e no tempo correto, e permitir o aquecimento do combustível até atingir a sua ignição autossustentável e combustão completa (LOPES, 2002; MELO, 2003). Salienta-se que a umidade média da madeira desejada para produção de carvão vegetal é 30 a 35%. Porém, para a madeira atingir essa umidade a mesma pode ficar mais de 150 dias exposta a secagem ao ar livre, dependendo das condições climáticas do local, do diâmetro da madeira e do empilhamento realizado (CARDOSO, 2010). Além disso, esses fatores ocasionam uma secagem desuniforme ao longo da pilha e na própria tora de madeira (OLIVEIRA, 2012). Portanto, faz-se necessário o desenvolvimento de secadores para madeira em toras, capazes de reaproveitar a energia térmica do sistema de forno-fornalha de carbonização, e que além de reduzirem o teor de umidade, possam gerar toras com poucas, ou menores, variações dessa característica.

2. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Painéis e Energia da Madeira da Universidade Federal de Viçosa. Utilizou-se madeira de Eucalyptus sp., adquiridas de fornecedor local, da cidade de Viçosa-MG, com comprimento médio de 2,0 metros, As toras foram divididas em três classes de diâmetro: classe 1 (8 a 14 cm); classe 2 (14 a 22 cm); classe 3: (8 a 22 cm), sendo essa última uma mistura de madeira pertencente as classes 1 e 2, proporcionalmente. 2.1 Sistema de forno-fornalha O forno utilizado para carbonização da madeira foi o MF/UFV, um forno retangular em escala piloto, com capacidade volumétrica de aproximadamente 9 st de madeira, possuindo 4 aberturas (controladores de ar) em cada lateral, para controle da carbonização. As dimensões internas do forno são: 2,30 m de comprimento; 1,60 m de largura; paredes com 2,00 metros de altura e flecha de copa de 0,60 m. Utilizou-se uma fornalha para queima dos gases da carbonização, sua base construída em alvenaria, com uma abertura lateral para admissão de ar e outra frontal para alimentação do combustível auxiliar. A conexão entre o forno e a fornalha foi feita por um duto metálico com 0,30 m de diâmetro interno e 0,60 m de comprimento. O controle da vazão dos gases da carbonização se deu por válvulas do tipo borboleta e guilhotina, que foram feitas com chapas metálicas instaladas no interior do duto, com movimento horizontal de 360 e vertical, respectivamente. 2.1.1 Transporte dos gases A temperatura dos gases na saída da chaminé foi de aproximadamente 500 C, superior a temperatura utilizada para secagem artificial da madeira, logo se fez necessário a construção de um misturador de ar para reduzir a temperatura dos gases para que os mesmos entrassem no secador com temperatura de aproximadamente 150 C (Figura 1). O misturador de ar foi posicionado na lateral da base da chaminé do forno. A exaustão dos gases foi realizada a 2,20 metros de altura através de um duto ligado a chaminé, sendo direcionada para o misturador por meio tubulações de aço inoxidável, de 2 mm de espessura. O misturador foi construído com tijolos maciços de terra, nas dimensões internas de 0,80 m de largura, 0,80 m de comprimento e 0,80 m de altura. Na parte superior do misturador, ao lado da tubulação que conduz os gases combustos a partir da fornalha, instalou-se a tubulação para efetuar o transporte dos gases até o secador. A tubulação da rede de transporte de gases foi fabricada com chapas galvanizadas, de 2 mm de espessura, com 150 mm de diâmetro interno. A partir do misturador, verticalmente, a tubulação foi feita com altura de 2,50 metros, sendo que a partir daí foi direcionada em 90, horizontalmente em direção ao secador, com comprimento de 7,30 m, fazendo neste ponto uma conversão de 90 em direção ao piso, onde foi conectada a um ventilador centrífugo de 3 CV de potência e 1.725 rpm, responsável por promover a sucção dos gases combustos do misturador. Nessa mesma tubulação, posicionada a 1,5 m do piso, foi feita uma abertura, de 12 x 15 cm, com controle manual de fechamento, para controle da temperatura dos gases na entrada do secador. Na saída do ventilador centrífugo foi conectada uma tubulação, com as mesmas características já descritas, até a altura de 2,00 m do piso, convergindo nesse ponto em 90 para dentro do secador, onde foi conectada ao distribuir dos gases combustos.

Figura1. Vista geral do sistema forno-fornalha e do sistema de secagem, sendo: 1) Secador; 2) forno; 3) fornalha; 4) rede de transporte de gases; 5) misturador 2.2 Secagem artificial da madeira Para a realização das secagens, as toras foram acondicionadas dentro de um secador metálico durante aproximadamente 68 horas, independente da classe diamétrica. Esse tempo foi estabelecido em função do tempo médio total de carbonização da madeira. As carbonizações foram conduzidas da seguinte forma: 14 horas com temperatura até 150 C; 14 horas entre 150 e 275 C; 24 horas entre 275 e 400 C e 20 horas entre 400 e 420 C, totalizando 72 horas de carbonização. Para o controle da carbonização, a temperatura considerada foi a obtida na copa do forno. A temperatura média de admissão dos gases para dentro do secador foi de 150 C. Foram realizadas duas secagens por classe de diâmetro, totalizando 6 unidades amostrais. 2.2.1 Disposição da madeira dentro do secador A pilha de madeira foi disposta horizontalmente dentro do secador, no sentido porta/fundo, tendo altura máxima de aproximadamente 2,0 m, largura de 2,0 m (correspondente ao comprimento das toras) e comprimento de 4,20 metros, sendo mantida uma distância aproximada de 25 cm do final da pilha para o fundo do secador. Para que o fluxo dos gases combustos não fosse preferencialmente conduzido por este vão entre a pilha de madeira e a parede, adaptou-se na tubulação do distribuidor dos gases uma chapa metálica para forçar o fluxo dos gases a percolar a pilha de madeira antes de ser conduzido para fora do secador. 2.2.2 Umidade da madeira Para determinação da umidade, base seca, as amostras controle (cinco toras de madeira) foram pesadas, individualmente, antes e depois da secagem, retirando-se de cada amostra (tora) três discos ao longo do seu comprimento, sendo um disco no centro e os outros dois equidistantes 50% do centro para a extremidade. O teor de umidade foi determinado pelo método da estufa a 103 C até massa constante.

Para estimar a umidade inicial de cada tora de controle utilizaram-se as seguintes expressões: Ms Md /( 1 ( Uf /100) Em que: Ms = massa seca estimada da tora (amostra controle) (kg); Md = massa da tora (amostra controle) depois da secagem (kg); Uf = Umidade média dos discos (%). Uma vez obtido o valor da massa seca, estimou-se a umidade inicial de cada tora de madeira (amostra controle): Ui (( Mi Ms) / Ms)*100 Em que: Ui = umidade inicial estimada (%); Mi = massa da tora de madeira antes da secagem (kg); Ms = massa seca estimada da tora de madeira (kg). 2.2.3 Redução de umidade e velocidade de secagem Para obter a massa total de água eliminada durante a secagem da madeira, pesou-se toda a massa de madeira antes e depois do processo de secagem, utilizando-se uma balança Digi-Tron UDL 3000, com capacidade máxima de 3 toneladas. A taxa de secagem, kg de água/ kg de madeira por hora, foi determinada dividindo a massa média total de água eliminada, por cada classe de diâmetro, pela massa seca de madeira que foi empilhada no secador e por 68 horas. A umidade inicial da pilha de madeira, para cada secagem (tratamento), foi calculada, obtendo a média aritmética das umidades iniciais estimadas de 30 amostras controle e o valor de umidade final, depois da secagem, calculado por meio da média aritmética dos valores de umidade obtidos dos discos retirados da madeira. Para estimar a redução relativa (%) de teor de umidade utilizou-se a seguinte expressão: Ru (%) = ((Ui Uf)/( Ui)) 100 Em que: Ru = redução relativa (%); Ui = umidade inicial (%); Uf = umidade final (%). 2.3 Delineamento Experimental Para avaliar o efeito da classe de diâmetro na redução relativa de umidade o experimento foi instalado segundo um delineamento inteiramente casualizado, com três tratamentos, com duas repetições, totalizando 6 unidades amostrais.

Os dados foram submetidos aos testes de Lilliefors para testar a normalidade, e Cochran para testar a homogeneidade das variâncias. Em seguida, procedeu-se à análise de variância pelo teste F, sendo as médias comparadas pelo teste Tukey. Considerou-se o nível de significância de 5%. As análises estatísticas foram realizadas com o auxílio do programa R versão 2.13.1. Para avaliar a relação entre a umidade inicial e a redução relativa de umidade nas toras de madeira ajustou-se uma regressão linear simples, Y= β0 + β1.x + ε, sendo Y a redução relativa de umidade e X a umidade inicial das toras. A regressão foi avaliada pelo teste F e o parâmetro β1 avaliado pelo teste t, todos ao nível de significância de 5%. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Efeito da classe de diâmetro na taxa de secagem e redução relativa de umidade De modo geral, após a secagem, as toras de madeira reduziram em média 36,45% da sua umidade inicial (Tabela 1). Tabela 1. Parâmetros da madeira, por classe de diâmetro, obtidos após a secagem Classe de diâmetro Massa de água eliminada (kg) Taxa de secagem (kg água/kg madeira.h) Umidade inicial (%) Umidade final (%) Redução relativa (%) 8 a 14 cm 1.281,35 0,00436 70,81 42,96 39,34 a 14 a 22 cm 554,00 0,00183 84,46 61,29 27,43 b 8 a 22 cm 707,10 0,00252 39,99 22,96 42,58 a Médias seguidas de mesmas letras na coluna não diferem entre si ao nível de 95% de probabilidade pelo teste Tukey. Observa-se que a massa de água eliminada da madeira foi maior para aquelas pertencentes à classe 1, com uma taxa de secagem de 0,00436 kg água/kg madeira.h. A Classe 3, que abrange toras com diâmetros das classes 1 e 2 misturados, teve uma taxa de secagem de 0,00252 kg água/kg madeira.h, resultando em uma massa média de 707,10 kg de água eliminada. Observa-se uma taxa de secagem de apenas 0,00183 kg água/kg madeira.h para a madeira da classe 2, mesmo tendo sido eliminada somente água livre. As toras da classe 2 (maior diâmetro) iniciaram o processo com uma umidade maior que as toras das classes 1 e 3. Além disso, as toras da classe 3 apresentavam inicialmente 40% (baixa umidade comparativamente às demais). Verifica-se, ainda na Tabela 1, que houve efeito da classe de diâmetro na redução relativa média da umidade da madeira após a secagem. De acordo com os resultados, as toras de madeira pertencentes as classe 1 e 3 obtiveram maior redução de umidade em relação as toras com maior diâmetro (classe 2) estando de acordo com o estudo realizado por Zanuncio et al. (2013). Segundo esses autores, toras com baixa densidade apresentaram maior taxa de secagem, pois a água livre é mais fácil de ser removida. Ainda segundo os autores, uma alta densidade tem a baixa umidade inicial como fator positivo e a baixa taxa de secagem como negativo. Logo, comparando estes dois fatores foi constatado que a menor umidade inicial se sobrepõe, com isso, toras com alta densidade apresentaram menor umidade após 94 dias de secagem.

Redução (%) de umidade II Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia da Madeira De modo geral, os resultados obtidos demonstram a maior dificuldade de secagem para toras com diâmetros maiores, sendo este fato explicado pela maior distância a qual as moléculas de água (água livre) do interior da tora tem que percorrer para atingirem a superfície. 3.2 Estimativa de redução relativa da umidade da madeira Na Figura 2 são apresentados os valores observados e estimados de redução relativa (%) de umidade em função da umidade inicial das toras. 50 45 40 35 30 25 20 y = 56,24-0,299X R² = 0,682 30 50 70 90 Teor de U(%) inicial Figura 2. Relação entre o teor de umidade inicial e a redução relativa de umidade Observa-se na Figura 2 uma relação inversamente proporcional, indicando que quanto maior a umidade inicial da madeira, menor a redução relativa após a secagem. Entretanto, é importante ressaltar a influência da classe de diâmetro, sendo que os menores valores de redução foram obtidos com a madeira de maiores diâmetros, logo, pode-se concluir que a redução relativa da umidade é menor à proporção em que a umidade inicial e o diâmetro das toras aumentam. O processo de produção de carvão vegetal envolve inúmeras etapas, ocorrendo muitas perdas até que se tenha o produto final. A água na madeira é um dos principais problemas, indubitavelmente, desde o transporte das toras até a unidade de produção de carvão vegetal, até no processo de carbonização, tendo influência inclusive na qualidade do carvão. As unidades de produção de carvão vegetal utilizam madeira com as mais variadas umidades. Em função da grande demanda, não é possível, muitas vezes, aguardar o tempo necessário para secagem natural, realizando a carbonização de madeiras com altas umidades iniciais. Uma utilização prática do gráfico de regressão obtido é a estimativa de redução relativa, consequentemente umidade final, para diferentes umidades iniciais. Para exemplificar, se utilizar madeira com umidade inicial de 50%, secando-a nas mesmas condições de secagem do secador em estudo, tem-se uma redução relativa de 41,29%, ou seja, o teor de umidade final seria de 29,35%. Esse cálculo pode ser realizado para

outras umidades iniciais, e permite um melhor planejamento da operação da carbonização, ao se utilizar a madeira seca artificialmente. 4. CONCLUSÕES O gás quente combusto da carbonização se mostrou operacionalmente viável para a secagem artificial de madeiras em toras. De modo geral, a umidade final após a secagem, em função do diâmetro da tora, foi mais homogêneo para as classes 8 a 14 cm e 14 a 22 cm. Houve diferença de secagem em função da classe de diâmetro, tendo as toras de menor diâmetro obtido maior redução da umidade. 5. AGRADECIMENTOS FAPEMIG, CNPq e LAPEM. REFERÊNCIAS Anuário Estatístico da AMS: ano base 2012. Associação Mineira de Silvicultura. Junho de 2013. Disponível em: http://silviminas.com.br/wp-content/uploads/2013/06/anu%c3%a1rio- Estat%C3%ADstico-AMS.pdf Acesso em: 28/10/2014. CARDOSO, M., T. Desempenho de um sistema de forno-fornalha para combustão de gases na carbonização de madeira. 2010. 89 p. Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. LOPES, R.P. Desenvolvimento e análise de uma fornalha para aquecimento direto e indireto de ar utilizando biomassa polidispersa. 2007. 213 p. Tese (Doutorado em Engenharia Agrícola) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. MELO, F.A.O. Projeto, construção e avaliação de uma fornalha para aquecimento de ar utilizando combustíveis particulados finos. 2003. 91 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. OLIVEIRA, A. C. Sistema forno fornalha para produção de carvão vegetal. 2012. 73 p. Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. PINHEIRO, M. A. Influência das dimensões da madeira na secagem e nas propriedades do carvão vegetal. 2013. 77 p. Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. REZENDE, R. N. Secagem de toras de clones de Eucalyptus empregados na produção de carvão. 2009. 178 p. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia da Madeira) Universidade Federal de Lavras, Lavras.

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