Retrospectiva: Conheça parte da História do Sistema Saúde Escola das Faculdades de Ciências da Saúde e de Medicina da UnB no contexto do SUS

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Transcrição:

Informativo mensal do Sistema Saúde Escola das Faculdades de Ciências da Saúde e Medicina/UnB Março/2015 Edição Especial nº05 Retrospectiva: Conheça parte da História do Sistema Saúde Escola das Faculdades de Ciências da Saúde e de Medicina da UnB no contexto do SUS Passado e presente: alunas estudam sob os olhares de grandes personalidades da educação mundial. Foto: Ádria Albarado. A comunidade da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (FS/UnB) vive um momento de grandes esforços para a implementação e efetivação do Sistema Saúde Escola (SSE). O objetivo da nova gestão da Faculdade é garantir que as ações e o trabalho do Sistema sejam permanentes. Para tanto, parcerias dentro e fora da UnB têm se tornado frequentes a exemplo da integração com a Coordenação de Estágios e de Extensão, bem como os cursos da FS e o de Medicina; serviços de saúde por meio da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF), níveis regional e central e, do Hospital Universitário de Brasília (HUB); Programa Saúde Escola (PSE); Decanato de Extensão e de Graduação da UnB; e, Ministério da Saúde (MS). Essas parcerias buscam fortalecer e aprimorar ações da integração ensino-serviço-comunidade e, concomitantemente, reorientar os modelos de formação em saúde. Todavia, esse não é um movimento recente dentro da FS/UnB e tampouco menores ou mais simples são seus desafios. Por isso, o Bemte-vi traz uma reportagem especial sobre parte da história do SSE das FM-FS/UnB nesta edição. Faculdade de Medicina tem nova matriz curricular e aposta em formação por eixos e no fortalecimento do SUS >> p.09 Pesquisadores lançam livro sobre avanços e desafios da Hanseníase >> p.10 Parcerias do Sistema Saúde Escola promovem a saúde bucal de crianças e adolescentes do Zilda Arns >> p. 12 Professores do SSE participam de reunião com nova gestão da Regional de Saúde do Paranoá >> p.14

Conheça parte da História do Sistema Saúde Escola das Faculdades de Ciências da Saúde e de Medicina da UnB no contexto do SUS Na década de 80, surgiu no Brasil o programa de Integração Docente Assistencial (IDA), um modelo de ensino-assistência, com foco na reformulação do sistema de saúde definido pelo Programa Geral de Desenvolvimento de Recursos Humanos para a Saúde. O programa IDA contava com o apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), dentre outros. De acordo com a coordenadora do SSE FM- FS/UnB, Dais Rocha, a Universidade de Brasília foi precursora desse projeto. Ela recorda que antes do IDA, o curso de Medicina que fazia parte da FS e foi o primeiro curso da Faculdade a ser reconhecido, em 1972 - era estruturado no cenário real do serviço, ou seja, a comunidade que, na época, era a Regional de Sobradinho. Por conta dessa experiência, a UnB foi convidada a participar do projeto União com a comunidade uma nova iniciativa na formação dos profissionais de saúde, o UNI Kellogg. Depois é que surgiu o HUB, do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) e o cenário de prática foi todo para lá, desvinculando-se do cenário de Atenção Primária. Dais comentou ainda que a diferença do IDA para o UNI é que o primeiro era centrado no serviço e na universidade e o UNI integrou a comunidade a esta dupla, pois, naquela época já havia ficado claro que não bastava ouvir apenas a expertise da universidade ou a técnica dos serviços, era preciso ouvir a comunidade. Em 1988 o Brasil viveu um momento histórico com a promulgação da Constituinte. A Lei Magna confirmou a saúde como um direito universal e em seu artigo número 200, inciso III, estabeleceu que ao Sistema Único de Saúde compete ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde. Todavia, a construção do SUS teve início no início da década de 70, alinhado com as diretrizes da assembleia geral ocorrida em 1978, em Alma-Ata, na ex- República Socialista Soviética hoje República do Cazaquistão e propôs a reorganização dos sistemas de saúde de modo que fossem nacionais, hierarquizados, descentralizados e cuja estratégia de organização fosse a Atenção Básica. Afinal, como explica o professor Carlo Zanetti, o modelo antes disseminado pelo mundo era o proposto pelo Relatório Flexner, hospitalocêntrico e no qual o capitalismo de mercado era tão pujante que diversos países do mundo afirmaram não servir-lhes, principalmente durante a crise mundial do Petróleo, que teve início na década de 70. Carlo Zanetti é professor do curso de Odontologia da FS/UnB há 20 anos e teve a oportunidade de integrar o projeto UNI, desenvolvido a partir de 1990, em 23 cidades da América Latina, seis delas no Brasil: Botucatu, Brasília Londrina, Marília, Natal e Salvador, com o apoio da fundação americana W. K. Kellogg. O projeto tinha como principal objetivo estimular o desenvolvimento simultâneo da educação, da assistência à saúde e de ações comunitárias, criando e difundindo modelos passíveis de replicação nestes campos. Zanetti conta que em 1994 as atividades do UNI Kellogg estavam se iniciando na UnB e eram apoiadas no tripé: universidade - sistema local de saúde - sociedade civil organizada, como estratégia para a construção de parcerias permanentes e de fortalecimento do caráter tripartite da iniciativa UNI, elementos básicos à construção de uma democracia participativa no setor saúde. A realidade daquele período era totalmente nova. Havia a esperança da realização de todas as promessas para a Nova República, contudo, o País estava falido após a Ditadura Militar. Na FS, a situação era mesma, afinal a universidade estava quebrada como todo o Brasil. Segundo o professor Zanetti, a forte expressão dos pro- fessores Paulina de Freitas Targino e Mourad Belaciano com a prática extensionista e de querer formar em cenários que não fossem exclusivamente hospitais ou clínicas, foi colocada em prática com o projeto UNI Kellogg e foi, também, um elemento a mais na ruptura das duas faculdades, pois a FM era mais conservadora quanto à formação de seus futuros médicos. No contexto de uma Nova República, início do SUS e dinheiro de financiamento da Fundação Kellogg dentro da FS, pudemos experimentar coisas orientadas para o que se sonhava para Nova República. Fizemos coisas transformadoras, porque hoje, ao falarmos de projetos grandes e inovadores, não temos esperança de dar certo, pois as promessas são muitas, mas na verdade as condições de efetivação são mínimas, mas naquela época não, naquela época podíamos sonhar, relembra o professor. Para Zanetti, o modelo proposto pela Fundação Kellogg focou em questões mais radicais, experimentais e de mundo. A ideia era que experimentássemos uma formação na qual o profissional tivesse a oportunidade de se colocar frente ao mundo com a sua realidade social e política de terceiro mundo. Era um modelo muito mais avançado que o SUS, pois pressupunha que se você quisesse formar na realidade, ela lhe colocaria atores e instituições externas com os quais você tinha que lidar e dialogar, que eram as instituições sociais e políticas, destaca. Ainda de acordo com ele, o elemento comunitarismo existente no modelo tinha um caráter muito forte de desenvolvimento social, pois colocava em nível de igualdade três segmentos: serviço universidade comunidade, o que, na opinião dele, não ocorre em projetos como o Pró-Saúde e PET Saúde, porque põem as instituições locais apenas como necessárias ao funcionamento do programa e, já no modelo Kellogg, a comunidade sentava junto e não por causa do conhecimento técnico, mas pelo saber de vivência, pelo saber empírico. É como se dissesse: A minha existência pressupõe isso. Olha para mim do jeito que sou e dialoga comigo de verdade. Não venha trazer modelos da Inglaterra, Cuba ou Canadá, ou pelo menos discuta e reelabore estes modelos comigo porque eu tenho a minha crítica, a partir da minha realidade, exemplifica. Denise Furlanetto é doutoranda do Programa de Pós- Graduação em Psicologia Clínica e Cultura, do Instituto de Psicologia da Faculdade de Ceilândia da UnB e desenvolve pesquisa sobre os programas Pró e PET Saúde, além de ter sido contratada para realizar uma avaliação dos programas na FS/UnB. Para ela, o ensino superior em saúde também continua tradicionalmente influenciado pelo paradigma flexneriano, apesar das transformações ocorridas nas sociedades e o advento de novas demandas em saúde ao longo do tempo. Atualmente busca-se obter um profissional com o perfil que atenda a essas mudanças e que possa alcançar as necessidades das pessoas, comenta. Denise ressalta ainda que essas discussões têm ocorrido em nível mundial e ganharam força no Brasil durante o Movimento da Reforma Sanitária, com a criação do SUS. Na tentativa de induzir mudanças na formação em saúde, o governo tomou algumas iniciativas cujo marco foi a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de saúde, a partir de 2001. Já em 2002, o Governo Federal lançou o Programa de Incentivo às Mudanças Curriculares das Escolas Médicas, o Promed, para cursos de Medicina, dentre os quais não estava o da UnB. 02

Em 2005, foi publicado o edital do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró- Saú-de para os cursos de Medicina, Enfermagem e Odontologia, programa do qual a UnB também não fez parte. De acordo com o professor Zanetti, cada curso fez sua proposta olhando para uma oportunidade de financiamento. Óbvio que porque estávamos desarticulados como proposta e também, politicamente, demos com os burros n água, revela o professor. Na Odontologia, fizemos uma proposta do tamanho das nossas pernas. O nosso desafio era fazer uma reforma curricular que está em curso de forma que tivéssemos condição institucional de nos inserirmos num cenário de prática efetivo, como memória e arremedo do que vivenciamos no UNI Kellogg, mas já com uma crítica: éramos poucos professores, não tínhamos necessariamente a rede ao nosso lado, e mesmo que a tivéssemos escancarada para nós, não teríamos como acompanhar os alunos, por isso, fizemos uma proposta de um centro de saúde escola e levamos um não, continua Zanetti. Uma questão importante na orientação dos Sistemas Saúde-Escola país a fora é o fato de, por meio da Política Nacional de Educação Permanente, de 2003, o Ministério da Saúde garantiu diretrizes para que o mundo do trabalho contribuísse para a formação. No artigo 200 da CF está dito que o SUS é responsável pela ordenação dos recursos humanos da saúde, mas não como deve ser feito. Então eles foram na Lei nº 8080, que dispõe que deverão ser criadas Comissões Permanentes de Integração Ensino Serviço (CIES) de saúde e as instituições de ensino profissional e superior, ressalta Dais Rocha. As comissões e os Polos de Educação Permanente primórdios da CIES -, foram o primeiro esboço para se ter financiamento para projetos. Na época que lançaram a política, se definiu que para conseguir dinheiro do Ministério da Saúde para ter uma Especialização ou uma Residência Multiprofissional em Saúde da Família, você precisaria de um programa de interiorização do trabalhador da saúde e, para tanto, teria que pactuar isso com as CIES, compostas, por sua vez, pelas secretarias de saúde, trabalhadores, comunidade e universidade. A universidade não podia mais chegar e Calendário achar que a de secretaria ações para era balcão, 2015.1 pois a instituição teria que avaliar se era relevante, se havia necessidade epidemiológica e ouvir outros atores, explica Dais Rocha. Após ter percebido que não apenas a pós-graduação, mas também a graduação é responsabilidade do SUS e que o envolvimento de apenas três cursos da área da saúde não era suficiente para gerar mudanças na formação, em 2007, o Ministério da Saúde divulgou o Pró-Saúde II para todas as 14 profissões da área e com uma novidade: os projetos deveriam estar integrados. Zanetti esclarece que os professores da FS formaram uma comissão e tiveram a assessoria do professor Luiz Carlos Galvão Lobo, que foi o primeiro diretor da FS/UnB (1966 a 1970). Ele nos trouxe a memória da criação da FS e nós tínhamos a experiência do UNI Kellogg. Os cursos achavam que estavam soltos, mas sabiam que para ter financiamento para os projetos era preciso trabalhar integrado aos outros cursos, ressalta. E assim a FS/UnB conseguiu fazer parte do programa: Ingressamos no Pró-Saúde II com esse formato e a missão de mudar a formação e todo um conjunto de valores, pois tínhamos uma instituição, um contexto para fazer o alinhamento das coisas, o SUS, relembra. Conforme a documentação referente aos programas, disponíveis na secretaria da direção, a FS/UnB tinha mais de 50 projetos para concorrer ao edital, mas foi feita a integração de projetos com áreas e interesses afins e a redução para 21 projetos, dos quais sete foram selecionados pelo Ministério da Saúde. De acordo com o edital, o objetivo geral do Pró-Saúde II era a integração ensino - serviço, visando a reorientação da formação pro- Linha de atenção I - Cuidado Integrado e Redes de Atenção Rede de Urgência e Emergência Rede de Atenção Psicossocial, Cuidados em Saúde Mental Saúde da Mulher, Saúde do Homem, Saúde da Criança, Saúde do Adolescente e Saúde do Idoso Estratégia Saúde da Família e as Redes de Atenção Linha de atenção II - Promoção de Saúde e Qualidade de Vida Promoção da Saúde e Prevenção de Agravos e Doenças, com ênfase no estímulo às atividades físicas e alimentação saudável Linha de atenção III - Gestão, Educação e Comunicação em Saúde Gestão do Sistema Único de Saúde Processos de educação permanente em saúde fissional, assegurando uma abordagem integral do processo saúde-doença com ênfase na Atenção Básica, promovendo transformações nos processos de geração de conhecimento, ensino e aprendizagem e de prestação de serviços à população. O plano elaborado por mais de 40 pessoas, dentre elas representantes da SES-DF, Conselho de Saúde Regional do Paranoá, Faculdades de Medicina e de Ciências da Saúde, por sua vez, tinha o objetivo geral de instituir o Sistema Saúde Escola, articulado e integrado ao SUS. Nessa época foi proposto um plano de trabalho que, dentre outras realizações, previa a constituição do Núcleo de integração das equipes de ensino e serviço, visando articular uma Rede de Atenção Integral à Comunidade. Para tanto, foi organizado o I Encontro Pró-Saúde UnB- SES/DF (Regional de Saúde do Paranoá-RSPa)-MS, cuja plenária apresentou e definiu competências, diretrizes de trabalho e estrutura do Colegiado Gestor do Sistema Saúde- Escola das FM-FS/UnB, SES/DF-RSPa, as quais orientam-no até hoje. Em 2011, foi lançado o edital do Pró-Saúde III já articulado ao PET Saúde - instituído em 2007 cujos pressupostos eram: a consolidação da integração ensinoserviço-comunidade e a educação pelo trabalho. O PET possui como princípio a educação para o trabalho e funciona como dispositivo para fortalecer o Pró-Saúde nas áreas da Saúde da Família; Vigilância em Saúde; Saúde Mental; e Saúde da Rede. O edital esclarecia que a articulação visava à reorientação da formação profissional, assegurando uma abordagem integral do processo saúde-doença, promovendo transformações nos processos de geração de conhecimentos, ensinoaprendizagem e de prestação de serviços de saúde à população; e a fomentar grupos de aprendizagem tutorial em áreas estratégicas para o serviço público de saúde caracterizando-se como instrumento para qualificação em serviço dos profissionais da saúde, bem como iniciação ao trabalho e formação de estudantes de cursos de graduação da área da saúde, tendo em perspectiva a qualificação da atenção e a inserção das necessidades dos serviços como fonte de produção de conhecimento e pesquisa nas IES [Instituições de Ensino Superior]. Para concorrer ao edital o colegiado gestor do SSE FM-FS/UnB-SES/DF-RSPa apresentou sete subprojetos, dividindo-os sob a lógica de três linhas de atenção, conforme o quadro acima. Este é o edital que ainda está em vigor para alguns subprojetos e do qual Dais Rocha e Adriano Lima assumiram a coordenação em agosto de 2014, já cientes do término das bolsas. Para ela, o fato da direção reconhecer o quão necessário é esse saber ser integrado ao mundo do serviço, buscando convergência com a comunidade para produção de saberes, pode diminuir o tempo em que o saber científi- 03

co se torna realidade nos serviços e, o tempo que os problemas dos serviços são percebidos pela universidade. Os dispositivos federais são mecanismos de apoio e incentivo, porém o desafio da integração ensino-serviço-comunidade; de saber produzir e preparar profissionais que tenham tanto o universo do mundo do trabalho, quanto o da universidade, é uma agenda permanente. Com ou sem o dinheiro, é uma agenda. Quando olhamos para tudo que realizamos e estamos construindo, percebemos o quanto conquistamos com o financiamento, porém temos que ter consciência que não pode parar com o término das bolsas, afirma Dais. Ao questioná-la sobre o porquê de fazer uma retrospectiva da caminhada das FM e FS/UnB sobre a integração ensinoserviço-comunidade neste início de ano, obtivemos a seguinte resposta: O que aprendemos com a História fundamentalmente é reconhecer que os projetos vigentes já tiveram diagnósticos e propostas e algumas coisas avançaram, outras não. Todavia, também podemos relembrar o que já caminhamos e o quanto ainda falta conquistar. A outra dimensão é a aprendizagem, pois temos que olhar para essas experiências e perceber quais foram as lições aprendidas: Será que os fatores críticos daquele período são os mesmos de hoje? E como aprendemos com o que foi superado?. Penso que as principais resistências, de um modo geral, serão sempre as mesmas: é mais difícil mudar o professor e o valor que se atribui ao serviço público, afinal, o projeto hegemônico ainda é o do formato da carreira privada, individual e das especialidades. Desse modo, fortalecer a Atenção Primária e a Promoção da Saúde ainda não é expectativa e nem objetivo da maioria, mas podemos aprender resgatando a história para não repetirmos os mesmos erros Dais Gonçalves Rocha, coordenadora do SSE FS-FM/UNB Para Zanetti, programas como o Pró e o Pet Saúde devem ser elogiados, pois enfrentam o modelo automático e hospitalocêntrico. No entanto, o Pró e o Pet Saúde não comportam todo o desafio, pois, na opinião dele, abrangem apenas um nicho do exercício da prática profissional e não todo o conjunto que a sociedade demanda. Todos os programas que ampliam na direção de tornar a formação sensível à condição de cidadania, devem ser elogiados. Porém, uma coisa é você ser cidadão consumidor e outra coisa é você ser cidadão e, ponto. Olhar num cidadão uma oportunidade é restringir fortemente a condição de cidadania que é muito mais ampla que a condição de direitos e deveres, pois apenas cidadania é pouco para o que temos de desafio, diz. O professor continua: A minha relação com as pessoas durante atendimento no exercício profissional - em sala de aula, ou quer que seja - e a minha vivência com essas pessoas ultrapassam as dimensões de direitos e deveres pois, o que edifica direitos e deveres ergue uma cidadania, mas a igualdade constrói uma nação e, quando reconheço que os outros são iguais a mim, sem me importar se nascidos no extremo sul ou norte, minha identificação, meu conjunto de valores, compromisso, respeito, vontade de conviver com o outro e de tirá-lo de qualquer que seja a situação de vulnerabilidade, mudam. Com esse distanciamento da institucionalidade, do jurídico-político, perdemos uma dimensão de existência muito maior: que é de construir uma nação que se indigne com as diferenças. Carlo Zanetti, professor do Departamento de Odontologia FS/UnB 8 de Março - Dia internacional da Mulher Uma homenagem do Sistema Saúde Escola a todas as mulheres que colaboram para a integração ensino-serviço-comunidade na FS e FM/UnB, RSPa e SES-DF. 04

Bem-te-vi entrevista... Elioenai Alves Dornelles é professor titular aposentado do Departamento de Enfermagem da FS/UnB e professor permanente nos programas de pós-graduação em Ciências da Saúde Enfermagem e pesquisador sênior da instituição. Em 2014, o professor recebeu o prêmio de Excelência em Educação do Departamento de Enfermagem. O mestre é reconhecido por seu forte e antigo envolvimento com a integração ensino-serviço-comunidade e o desenvolvimento de atividades de extensão e reorientação da formação profissional na comunidade da Regional do Paranoá. Ano passado, durante evento em que estavam o governador, o reitor da UnB, dentre outras autoridades do Distrito Federal e da UnB, o professor recebeu os agradecimentos da representante da Regional do Paranoá-Itapoã, Maria de Lourdes Santos. Segundo ela, os avanços da comunidade ocorreram graças ao trabalho de professores como Elioenai. Bem-te-vi: Qual era o cenário/contexto da FS e da FM na época dos projetos IDAS e UNI Kellogg? Elioenai Alves - As comunidades do Paranoá, Varjão e Itapoã, pertencentes a regional norte de saúde, há muitos anos estavam vinculadas a UnB com projetos individuais de professores, ora de extensão, ora de pesquisas, mas estávamos lá. Minha participação ocorreu a partir de 1989 com o projeto Estudo das Necessidades Humanas Básicas em Saúde que resultaram em atividades de extensão, como cursos básicos de promoção da saúde e na pesquisa que concluiu-se em um diagnóstico do perfil epidemiológico dos moradores no Paranoá DF. Bem-te-vi: Em que consistia cada um destes projetos e quais suas principais diferenças e semelhanças? Elioenai Alves - Eram projetos de extensão aprovados pelo DEX/UnB como programas ou projetos apenas. Dentre as principais diferenças, saliento a ênfase da unidisciplinaridade. Após os projetos IDA e UNI, financiado pela Fundação Kellogg, o enfoque da interdisciplinaridade foi priorizado dentro de uma linha filosófica transdisciplinar. Bem-te-vi: Quem fazia parte deles? Elioenai Alves - Os cursos de Enfermagem, Educação e Medicina. Posteriormente, com o UNI Kellogg, todos os cursos da área de saúde. Bem-te-vi: Em que comunidades atuavam e de que forma? Elioenai Alves - O projeto UNI Kellogg contemplou as comunidades do Varjão, Paranoá e Vila Planalto com financiamento a partir de 1992. O destaque de participação ficou aos cursos, treinamentos e oficinas sobre promoção da saúde e qualidade de vida nos diferentes ciclos da vida. Bem-te-vi: Levando em consideração sua experiência nestes projetos, o que o senhor tem a dizer sobre o Pró-Saúde e PET Saúde? Elioenai Alves - Ao meu ver esses projetos dão continuidade e fortalecem o que já estávamos realizando: a interdisciplinaridade, a priorização dos temas promoção da saúde, qualidade de vida e inclusão social. Além disso, a união dos pesquisadores e demais profissionais envolvidos na temática. Dessa vez o serviço e a comunidade ficam mais fortalecidos. Bem-te-vi: A integração ensino-serviço-comunidade permite aprendizagem significativa e trocas de saberes que nem sempre são valorizadas. A que o senhor atribui essa desvalorização ou incompreensão e falta de reconhecimento da importância desse movimento? Elioenai Alves - Ao fato de nossa formação ainda ser médicocentrica e hospitalocêntrica e, de os modelos dos projetos dos cursos, mesmo com as reformas curriculares, fortalecerem essas práticas, dificultando as mudanças. Bem-te-vi: Pela sua experiência nestes projetos é possível avaliar se houve, efetivamente, mudança na formação em saúde nas Faculdades de Ciências da Saúde e Medicina da UnB? Elioenai Alves - Não há dúvidas. Todo projeto contribui de alguma forma. O PET Saúde deixará sua contribuição histórica com relação a inúmeras tentativas de mudanças, muitas alcançadas através da inserção dos cursos na prática comunitária e coletiva, buscando o fortalecimento das políticas públicas existentes e do controle social em saúde para que se cumpram com efetividade e justiça social. Bem-te-vi: Quais contribuições esses projetos lhe trouxeram enquanto profissional e cidadão e, que contribuições esse mesmo profissional e cidadão fez às comunidades em que atuou e atua? Elioenai Alves - Dentre as inúmeras contribuições desse projeto posso destacar: Prática interdisciplinar dos cursos que passam a incluir a Saúde Coletiva; ênfase na temática promoção da saúde e qualidade de vida; continuidade dos projetos há mais de cinco anos permanência; envolvimento efetivo da comunidade através do controle social em saúde; e, comprometimento do serviço no projeto. Bem-te-vi: Algumas das bolsas de incentivo do Pró e PET Saúde acabam este mês, mas a atual gestão da FS/UnB e a coordenação do Sistema Saúde Escola da faculdade já deixaram claro que a integração ensino-serviço-comunidade é uma agenda permanente na instituição. O senhor acredita no sistema e que ele possa contribuir para o fortalecimento do SUS? Por quê? Elioenai Alves - A luta pelo fortalecimento do SUS vem de décadas. Toda agenda desvela o compromisso individual ou coletivo para esse fortalecimento. Há um compromisso da UnB através das faculdades de Medicina e Saúde para esse fortalecimento, iniciado pela inserção dos alunos numa prática e modelo de atenção inovadores. Basta um envolvimento maior e acreditarmos. 05

Avaliação aponta avanços e desafios da integração ensino-serviço-comunidade Com a integração ensino-serviço-comunidade como agenda permanente e após sete anos de participação no Pró e PET Saúde, chegou a hora de diagnosticar a evolução obtida desde a implementação das propostas nos cursos de graduação das FS e FM/UnB. Para tanto, a coordenação conta com o apoio da doutoranda Denise Furlanetto e dentre os resultados esperados da avaliação realizada por ela, está a apresentação de um panorama com os avanços e a atual situação das faculdades que permita compartilhar experiências e desafios; equacionar as necessidades dos atores do programa; redirecionar as ações; e contribuir para uma maior aproximação entre os cursos. A avaliação se dá por meio de um estudo quali-quantitativo feito através de análise comparativa dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) dos cursos das Faculdades de Medicina e Ciências da Saúde/UnB, no período de 2008 e 2014. Como o Pró-Saúde é norteado por três eixos de transformação - orientação teórica, cenários de prática e orientação pedagógica - Denise elaborou também uma escala de Likert, um instrumento no qual os perguntados especificam níveis de concordância com afirmações baseadas nos eixos temáticos propostos no programa. Ao lado de Dais Rocha, à direita da foto, Denise Furlanetto acompanha a explanação da avaliação realizado pelos bolsistas. Foto: Ádria Albarado. O instrumento foi aplicado a preceptores e bolsistas e, de acordo com Denise, ainda há confusão quanto ao propósito do Pró-Saúde por parte dos bolsistas. Alguns estudantes demonstraram que não possuem uma clareza quanto aos objetivos do Pró-Saúde. Há o entendimento por parte de alguns de que o programa tem a finalidade de integrar a academia ao serviço para promover saúde. Todavia, poucos conseguem visualizar, de maneira mais macro, o espaço de ensino e prática que o Pró-Saúde visa proporcionar como meio de reorientar a formação do profissional de saúde. Já quanto aos preceptores, a maior queixa é quanto a estrutura das unidades de saúde que recebem os estudantes e a falta de integração entre os projetos e atores do Pró-Saúde, esclarece. Os eixos do Pró-Saúde possuem norteadores que são chamados de vetores. Abaixo, algumas das inquietações da avaliação realizada por Denise com base nesses vetores: Na comparação dos PPPs o trabalho demonstra que alguns cursos têm mais dificuldade de reformular seus currículos que outros. A Faculdade de Medicina, por exemplo, só conseguiu atualizar seu PPP conforme orientado pelas diretrizes nacionais de 2001 e 2014, este ano, comenta. Temos que ter em mente que trata-se de um conjunto de valores que se arrasta há um século pelo mundo [modelo flexneriano], por isso precisamos compreender que se as pessoas não vestirem a camisa, não haverá mudanças. Todavia, há várias discussões e movimentos para que elas ocorram e elas estão acontecendo sim, diz Denise. É uma conquista de trabalho com questões internas e não de protocolos. É necessário sensibilizar e isso está acontecendo com a atual gestão da FS e coordenação do SSE incentivando e promovendo discussões de extrema importância, pois em algum momento haverá reflexão sobre o que é discutido, ressalta. 06

Em busca da sustentabilidade Com a confirmação da integração ensino-serviçocomunidade como uma agenda permanente, a coordenação do SSE FS-FM/UnB trabalha para que além de permanente, a agenda seja sustentável. De acordo com os coordenadores Dais Rocha e Adriano Lima, desde o segundo semestre de 2014 acontece um levantamento dos fatores que favorecem a sustentabilidade dos projetos das FS e FM/UnB. Dais explica que com a identificação dos desejos e resultados comuns e engajamento de líderes institucionais; o alinhamento das agendas e objetivos comuns de trabalho dos gestores e políticas públicas; uma difusão estratégica de informação de forma permanente e que promova expansão e transferibilidade; capacidade e instrumentos de monitoramento e avaliação; e, ainda, a existência de um coletivo para troca de informação, suporte profissional e práticas políticas de transformação e mudança, é possível fortalecer e tornar as ações dos projetos existentes nas faculdades de Ciências da Saúde e de Medicina sustentáveis. Em 2014 a dupla, com o apoio da gestão da FS/UnB e outros parceiros, realizou uma série de atividades que visam esse fortalecimento e sustentabilidade. No início do semestre 2014.2, estudantes, professores e outros servidores das FS e FM, dentre outras da Universidade de Brasília, tiveram uma palestra memorável do professor doutor Naomar de Almeida Filho que os instigou a pensarem com ousadia em Novos Modelos de Formação em Saúde. Foi neste início de semestre também que o informativo mensal do SSE das faculdades passou a ser publicado mensalmente no site fs.unb.br. No boletim são divulgados os bons frutos dos trabalhos realizados por professores, estudantes e preceptores que se dedicam às novas formas de ensino-aprendizagem em busca de excelência técnica e ações sociais efetivas. O nome Bem-te-vi foi escolhido para mostrar quantos benefícios e melhorias os projetos têm gerado à comunidade acadêmica, aos profissionais de saúde e moradores da Regional do Paranoá/Itapoã. Já em meados do semestre passado a coordenação do SSE FS-FM/UnB inseriu-se nas discussões acerca da construção e implementação do Centro de Aprendizagem Social do Paranoá (CAIS-Paranoá), um espaço reservado para integrar ações acadêmicas e comunitárias em torno de situações problemas e também atividades inovadoras de ensino, pesquisa e extensão, bem como de integração ensino-serviço-comunidade. Essa inserção ocorreu também em instâncias como a Coordenação de Estágios e de Extensão e Planejamento Estratégico da FS/UnB. Junto à comunidade, a coordenação e demais professores do sistema passaram a apoiar o Conselho de Saúde do Paranoá em sua agenda de educação permanente com apresentação de pesquisas, intercâmbio de experiências, minicursos, dentre outras ações. Em outubro, em parceria com a SES/DF, o Grupo Gestor Intersetorial do Programa Saúde da Escola da Regional do Paranoá/Itapoã e o Ministério da Saúde, o SSE FS e FM/UnB realizou o I Encontro do PSE na regional sob o tema: Promoção da Equidade Racial na Regional Paranoá-Itapoã: Potencialidades e desafios para a formação interprofissional e intersetorial. A programação do evento incluiu diversas atividades cultu- Palestra Novos Modelos de Formação em Saúde, com Naomar de Almeida Filho. Agosto de 2014. Foto: Ádria Albarado. Reunião com o GT de estágios da FS/UnB. Setembro de 2014. Foto: Ádria Albarado. Conselho Regional de Saúde do Paranoá em atividades de educação permanente. Outubro de 2014. Foto: Ádria Albarado. Diretora técnica de graduação do DEG, Fátima Brandão, em explanação sobre o Cais, em evento do Pró-Pet Saúde. Setembro de 2014. Foto: Ádria Albarado. 07

I Encontro do PSE no Paranoá discutiu a equidade racial. Outubro de 2014. Foto: Ádria Albarado. Mostra Pró-Pet Saúde Darcy Ribeiro. Novembro de 2014. Foto: Ádria Albarado. Mostra Pró-Pet Saúde Faculdade de Ceilândia/UnB. Novembro de 2014. Foto: Ádria Albarado. Encontro de estudantes bolsistas do Pró-Pet Saúde para avaliação do programa. Dezembro de 2014. Foto: Ádria Albarado. rais, de saúde e educativas e envolveu tutores, preceptores e bolsistas da UnB que participam dos projetos Pró-Pet Saúde. Participaram também os estudantes da disciplina Gestão e Promoção da Saúde do Departamento de Saúde Coletiva e professores, diretores, orientadores, coordenadores pedagógicos e escolares do oitavo e nono ano das escolas públicas do Paranoá-Itapoã, integrantes do Juventude Viva e da comunidade em geral. Novembro foi o mês em que tutores, preceptores e bolsistas do Pró-Pet Saúde das faculdades de Ciências da Saúde, de Medicina e ainda, da Ceilândia (FS-FM- FCE/UnB) e da SES/DF participaram da I Mostra Pró-Pet Saúde das FS-FM-FCE/UnB. A Mostra ocorreu durante a Semana Universitária da Universidade de Brasília e consistiu no relato das experiências vivenciadas por estudantes, professores e profissionais que atuam nos serviços de saúde e integram projetos do Pró-Pet Saúde das instituições. No evento, ocorreu ainda uma roda de conversa sobre a preceptoria e a integração ensinoserviço-comunidade com a professora Eliana Cláudia Ribeiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mais ao final do ano, foi a vez de reunir os estudantes e os preceptores para realizar a avaliação dos programas Pró e Pet Saúde da qual falamos na matéria anterior. Para 2015, há uma agenda preliminar que inclui atividades em praticamente todos os meses do primeiro semestre. A agenda estratégica elaborada pela coordenação do SSE FS-FM/UnB em busca da sustentabilidade prevê a: - Implementação das ações estratégicas da agenda do Programa de Extensão Sistema Saúde Escola, cadastrado no SIEX/UnB; - Pactuação das ações 2015 do SSE nos colegiados e instâncias de tomada de decisão da FS e FM/UnB; - Articulação de uma agenda com áreas técnicas do nível central e regional da SES/F e HUB para avançar nas linhas de cuidados e execução financeira dos recursos; - Submissão de projetos para captação de novos recursos; - Inserção de outros cursos da UnB como Pedagogia, Psicologia, Serviço Social para avançar na multiprofissionalidade e intersetorialidade; - Encontro dos Núcleos Docentes Estruturantes da FS e FM; - Realização de ações de planejamento, monitoramento e avaliação nos espaços da UnB e nos territórios da Regional Paranoá/Itapoã; - Fortalecimento das iniciativas de educação permanente, espaços de troca, registro e sistematização mediante o lançamento de um número temático da Revista Tempus Actas em Saúde Coletiva com artigos e experiências do Pró-Pet Saúde; a realização das Mostras Pró-Pet Saúde Paranoá/Itapoã e Distrito Federal; o apoio à escrita de resumos e artigos, participação em eventos e outras iniciativas de disseminação das metodologias e resultados. Com essas ações, a gestão e a coordenação do SSE FS-FM/UnB espera resultados como o Sistema consolidado; grupos tutoriais multidisciplinares implementados; implementação da integração dos projetos e cursos via linhas de cuidado; o planejamento conjunto das ações ensino-serviço-comunidade; a implementação de um sistema de acompanhamento e avaliação; cuidado integral em saúde qualificado na comunidade; a identificação da vulnerabilidade e riscos locais; realizações de capacitações em metodologias ativas da aprendizagem; a estruturação da educação permanente visando a integração ensino-serviçocomunidade; e os currículos da FS e FM reestruturados. 08

O Programa Mais Médicos e a integração ensino-serviço-comunidade Criado em 2013, o Programa Mais Médicos tem a missão de ampliar a assistência na Atenção Básica e fixar médicos nas regiões com dificuldade de inserção de profissionais. Conforme dados do Ministério da Saúde, por meio desta iniciativa, 14.462 mil médicos passaram a atender a população de 3.785 mil municípios do Brasil, o equivalente a 68% das cidades do país e os 34 Distritos Sanitários Indígenas (DSEIs). No que se refere à infraestrutura, o governo federal diz estar investindo na expansão da rede de saúde. A iniciativa prevê também a expansão do número de vagas de medicina e de residência médica, além do aprimoramento da formação médica no Brasil. A intenção é criar 11,5 mil novas vagas de graduação em medicina até 2017 e 12,4 mil vagas de residência médica para formação de especialistas até 2018, com o foco na valorização da Atenção Básica e outras áreas prioritárias para o SUS. Professores do curso de Medicina da UnB serão tutores dos médicos que atuarão no programa. Foto: Divulgação. A Faculdade de Medicina da UnB é uma das instituições que está nesta missão. A professora Elza Noronha é quem coordena as ações do programa na FM/UnB. De acordo com ela, além do aumento no número de vagas na graduação passaram de 30 para 60 o Mais Médicos estabelece a adesão dos cursos de medicina às novas diretrizes curriculares. As diretrizes discorrem sobre o perfil dos médicos a serem formados - profissionais humanizados, capazes de solucionar parte dos problemas de saúde do país, focando na questão do SUS. Essas diretrizes tratam, ainda, quanto à inserção dos estudantes nos cenários de práticas do SUS desde a Atenção Primária até a alta complexidade e da obrigatoriedade de pelo menos 30% da formação ocorrer na Atenção Básica, explica. O Mais Médicos se articula com o serviço e a comunidade pela necessidade da construção de uma integração para que as mudanças ocorram efetivamente, em especial à construção dos cenários e constituição das responsabilidades para a formação de profissionais preparados para atuar no SUS. O trabalho dos professores da UnB consiste em tutoria e supervisão e, segundo Elza, muitos dos médicos que atuarão em Brasília, foram formados pela UnB. Ainda de acordo com Elza, esses conflitos foram solucionados com debates e o apoio do movimento estudantil. Conseguimos aprovar a adesão ao programa, mas ainda há certa rejeição. Começaram a surgir os benefícios, o debate foi se estabelecendo e se colocando com uma necessidade premente. Ultrapassamos a questão da adesão e da ampliação de vagas e quando chegou a hora da mudança curricular, houve novo desconforto, revela. Mas devemos muito ao movimento estudantil, pois conseguimos uma espécie de acordo e vamos, a partir do segundo semestre de 2015, implementar o novo currículo. Não podemos dizer que houve uma mudança na cabeça de todos os professores da Medicina, pois isso não é verdade, mas temos conseguido vitórias. A nossa grande batalha é envolver as pessoas para que elas entendam que podem fazer diferente Elza Noranha, Professora da Faculdade de Medicina da UnB Médicos que atuarão no programa são recepcionados na UnB. Foto: Ádria Albarado. 09

Faculdade de Medicina tem nova matriz curricular e aposta em formação por eixos e no fortalecimento do SUS Movimento estudantil e professores da Medicina Social contribuíram para as mudanças no currículo do curso de Medicina da UnB. Foto: Ádria Albarado. A tão esperada mudança curricular do curso de Medicina da UnB saiu do âmbito das discussões para o cumpra-se. A previsão da Coordenação de Graduação do curso é implementar a nova grade curricular no máximo, no primeiro semestre de 2016, mas de acordo com o professor Gabriel de Oliveira, se tudo continuar dando certo, a partir do semestre que vem o novo currículo já estará em uso. O Projeto Político Pedagógico (PPP) do curso já foi encaminhado para o Decanato de Ensino de Graduação (DEG). Como dissemos na matéria anterior, as mudanças são concomitantes ao Programa Mais Médicos e às Diretrizes Curriculares de junho de 2014 para as Faculdades de Medicina. Segundo o coordenador de graduação da FM, as tradicionais aulas de livro-texto em lâminas do powerpoint estão com os dias contados. A intenção a partir de agora é que o tempo em sala de aula seja aproveitado de forma mais criativa e favorável ao ensinoaprendizagem. Gabriel explica que a ideia é pensar um novo formato de ensinar medicina. Esperamos que com o novo modelo curricular e com o trabalho que devemos realizar em sequência, os docentes possam trabalhar com metodologias mais ativas e estudos dirigidos, dando o mesmo conteúdo, mas otimizando o tempo. Dentre as mudanças, o curso de Medicina dará fim ao currículo engessado composto pelos ciclos básico e clínico e o internato. A grade agora possuirá três grandes eixos: Morfofuncional, Saúde da Família e Comunidade e Conhecendo a si e ao outro. Estes eixos devem ser integrados entre eles e os cenários de práticas, nos quais os estudantes de Medicina deverão estar desde o início do curso. Para o êxito do primeiro eixo, os professores trabalham para extinguir a duplicidade dos conteúdos e para que ocorra diálogo e integração entre as disciplinas. Por exemplo, se a morfologia está lecionando sobre a parte morfológica do aparelho cardiovascular, a fisiologia daria a parte fisiológica desse sistema, ou seja, o estudante teria o mesmo tema de diferentes perspectivas, comenta Gabriel. Quanto ao eixo Conhecimento de si e do outro, Gabriel informa que terá disciplinas de Psicologia Médica do primeiro ao oitavo semestre. Vamos trabalhar o desenvolvimento de empatia, respeito, habilidades de comunicação e sociais, conteúdos como a finitude da vida e outras questões emocionais e psicológicas que são importantes para a formação de um bom médico. Já o eixo Saúde Coletiva e Comunidade também seguirá durante toda a graduação para que formação nessa área seja mais sólida. Tem um eixo de optativas com introdução à Antropologia, Filosofia, Psicologia e outras disciplinas que aumentam a visão de mundo dos estudantes. Outra mudança explícita é a mudança na quantidade de créditos por semestre, que será de, em média, 30. Segundo o coordenador do curso, dessa forma o aluno terá mais tempo para estudar, fazer projetos de extensão, monitoria e participar do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). Coordenador de graduação da Faculdade de Medicina, o professor Gabriel de Oliveira espera mais união do corpo docente para o sucesso do novo currículo. Foto: Ádria Albarado. Outra ideia que vem surgindo constantemente nas nossas reuniões é de avaliações e seminários conjuntos, nos quais se integrem conteúdos de diferentes disciplinas do mesmo semestre, informou o coordenador. E para que as mudanças ocorram de fato, não é necessário mudar apenas o currículo, mas também o corpo docente da faculdade. Segundo Gabriel, o NDE do curso trabalhará com mais ênfase na sensibilização e preparação dos professores para essa nova forma de ensinar. Ele destaca que todas as mudanças propostas para o curso de Medicina estão amparadas nas DCN e sua expectativa é de que essa mudança traga uma união maior entre o corpo docente em torno de um projeto que faz sentido para todos, já que foi construído com professores e estudantes. A expectativa que tenho é que as pessoas trabalhem com mais gosto, que nosso médico saia mais competente, tecnicamente falando, inclusive para seguir num processo de educação continuada e com atitudes psicológicas e emocionais necessárias para tratar bem os pacientes, com a humanidade que a medicina e os pacientes necessitam. 10

Professores reúnem-se em I Encontro NDE 2015.1 das FS e FM/UnB Professores fizeram exposições dialogadas e participaram de grupos de trabalho. Fotos: Ádria Albarado. A coordenação do Sistema Saúde Escola das Faculdades de Ciências da Saúde e de Medicina promoveu o I Encontro dos NDE 2015.1 nos dias 2 e 3 de março. Durante o encontro professores que integram os NDEs puderam identificar situação atual da reformulação dos cursos de graduação das faculdades, mapear interfaces e possibilidades de sinergia na parceria ensino-serviço-comunidade e a integração multidisciplinar entre os cursos no contexto do Planejamento Estratégico- Situacional da FS/UnB. Os coordenadores dos programas Pró e Pet Saúde tiveram a oportunidade de analisar as mudanças curriculares na perspectiva dos objetivos e estratégias pactuados com os Ministérios da Saúde e da Educação e compartilhar os resultados da avaliação realizada segundo a visão dos estudantes e preceptores. Os participantes do encontro ainda dialogaram sobre os avanços e os desafios do ensino-aprendizagem. A integração ensino-serviço-comunidade e a interdisciplinaridade e interprofissionalidade são alguns desses desafios, mas de acordo com a apresentação dos representantes de curso, tem ocorrido gradualmente em diversos cursos da FS/UnB e na Faculdade de Medicina. Dentre os encaminhamentos da reunião, está a necessidade de realizar o encontro periodicamente. O próximo encontro deve ser agendado para o fim do mês de abril deste ano, com a presença da consultora Léa Anastasiou. Pesquisadores lançam livro sobre avanços e desafios da Hanseníase Atualizar conhecimentos dos profissionais de saúde, promover a sedimentação de conhecimentos e técnicas estabelecidas para melhor abordagem e acompanhamento aos portadores de Hanseníase e, estimular a interdisciplinaridade profissional, esses são alguns dos objetivos da pesquisa de pós-doutorado realizada pelos doutores Telma Leonel Ferreira e Isaias Nery Ferreira, junto ao Núcleo de Estudos em Educação e Promoção à Saúde da Universidade de Brasília (Nesprom/UnB). O trabalho foi iniciado em 2012 e deu origem ao livro: Hanseníase: avanços e desafios, lançado no dia 6 de fevereiro. De acordo com Isayas, o projeto de pesquisa teve por finalidade a coordenação de uma obra coletiva na qual profissionais experientes e comprometidos com o portador da hanseníase apoiassem em suas áreas de conhecimento e assuntos relacionados à doença. A compilação da obra visa informar, atualizar, levantar questionamentos e sugerir ações com uma visão humanista da doença, destaca. Telma Ferreira explica que outro diferencial do trabalho é que profissionais que prestam atendimento a portadores de Hanseníase responderam uma enquete sobre quais assuntos gostariam de ter informações e quem deveria escrevê-las. Versão do livro em formato pdf está disponível para download no site da FS/UnB. Foto: Divulgação. A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, cujo principal agente causador é o Mycobacterium leprae (M. Leprae). Essa bactéria tem a capacidade de infectar grande número de indivíduos. A doença atinge pele e nervos periféricos, podendo levar a sérias incapacidades físicas. No livro, organizado também pelo doutor Elionai Dornelles Alves, professor do Departamento de Enfermagem da FS/UnB, é feita uma abordagem interdisciplinar da doença, o que segundo Telma: favorece a troca de informações e um entendimento global e amplo de uma enfermidade que possui várias facetas e pode gerar muitos tipos de comprometimentos distintos (social, psicológico, profissional, físico, familiar). A proposta, ainda de acordo com a pesquisadora, é trazer à tona e promover a discussão dessas várias facetas de forma a contribuir para a formação de acadêmicos, graduados e pós-graduados, bem como para outros setores que contribuem na atuação e controle da doença. Foram impressos mais de mil exemplares do livro, parte deles foi distribuída durante o lançamento e outra será doada a profissionais e instituições que prestam atendimento a pessoas portadoras de Hanseníase. O arquivo em PDF será disponibilizado na internet. Em nossa opinião trata-se de uma valiosa contribuição aos serviços profissionais, pois nosso livro tem uma abordagem reflexiva além de uma atualização sobre temas relacionados à doença. Livros técnicos são caros e este será distribuído gratuitamente, explica Isayas. 11

Parcerias do Sistema Saúde Escola promovem a saúde bucal de crianças e adolescentes do Zilda Arns Consultório Itinerante ou Carreta Odontológica é mais um espaço de integração ensino-serviço-comunidade de Sistema Saúde Escola da FS/UnB. Foto: Ádria Albarado. Nunca fui atendida por dentistas antes, só aqui mesmo e achei muito bom, pois eles se importam com a saúde dos alunos, disse Karolayne Vital da Silva, aluna do 9º ano da Escola Zilda Arns, após receber atendimento odontológico no Consultório Itinerante comandado por professores e estudantes de Odontologia da FS/UnB, em parceria com uma dentista e uma técnica em saúde bucal do Hospital Universitário de Brasília (HUB). O consultório está estacionado na escola há um ano e de acordo com a professora Heliana Mestrinho, a escola localizada no Itapoã foi escolhida porque já recebe outras frentes de trabalho da UnB, tornando-se, então, mais um espaço de ensino-aprendizagem tanto para a Graduação quanto para a Pós-graduação. Os Consultórios Itinerantes são caminhões baú com consultórios ligados a carretas e fazem parte do Programa Saúde na Escola (PSE), criado pelo Governo Federal. O projeto visa garantir a saúde bucal de crianças e adolescentes, uma vez que a dor de dente é uma das causas do baixo aproveitamento do ensinoaprendizagem. A ação é resultado de uma parceria entre os Ministérios da Saúde (MS) e da Educação (MEC), na qual o responsável pela compra e manutenção dos caminhões é o MEC e, o MS pela manutenção dos consultórios e dos materiais que são utilizados. O atendimento é realizado por dentistas e estudantes de hospitais e universidades federais que, ao dividirem o espaço, também compartilham experiências. A carreta atrai interesses de diversos atores que constroem o Sistema Saúde Escola, bem como a integração ensino-serviçocomunidade. Magmara Marques, estudante do 5º período de Odontologia da FS/UnB, por exemplo, confessou que começou a atender na carreta primeiramente por interesse nas práticas pois, segundo ela, no terceiro período do curso ainda não há contato com os pacientes. No início é só teoria, teoria e teoria, aqui pude ter contato com as crianças da escola, exercer, na prática, alguns conteúdos que já havia aprendido. E sem contar que no consultório itinerante aprendemos muito sobre o social, pois lidamos com pessoas mais carentes e que muitas vezes nunca foram ao dentista, porque não têm condições, comentou. Heliana conta que o atendimento no consultório do Centro de Ensino Fundamental Zilda Arns foi implementado em fevereiro do ano passado, quando foi estabelecido um programa de saúde bucal para as crianças e adolescentes da escola. Atualmente a equipe é composta por estudantes de Graduação e Pós-graduação do curso de Odontologia, com o apoio da dentista Lorena Pires Carneiro e de uma técnica em saúde bucal. Segundo a professora, o programa de saúde bucal deve ser permanente, por isso a importância da inserção de outros alunos e professores nas atividades. 12

Conforme a professora, o trabalho está sendo desenvolvido em uma comunidade considerada vulnerável. Na carreta são realizados diversos procedimentos e quando não é possível realizálos, há uma parceria com a SES- DF, que permite encaminhar os pacientes ao Hospital Regional do Paranoá. Além do atendimento diário, três vezes por ano a equipe vai para as salas de aula falar sobre o processo de desenvolvimento da cárie e os cuidados a serem tomados, ou seja, um trabalho de educação e promoção em saúde bucal. Há ainda a distribuição de kits de escovação, fornecidos graças à parceria com as Secretarias de Educação e Saúde do Distrito Federal. De acordo com Heliana, Magmara e Lorena, o trabalho em parceria traz benefícios para todos os envolvidos e, principalmente, para as crianças e adolescentes atendidos. Karolayne, personagem com quem abrimos esta matéria, por exemplo, revelou que nunca tinha sido atendida por dentistas antes de ir ao Consultório Itinerante. Lorena Pires Carneiro, dentista do HUB, diz que atuar na carreta é uma forma de oferecer o trabalho dela a quem mais precisa. Avalio a minha atuação na carreta como uma forma de disponibilizar o meu trabalho para a comunidade, afinal sempre tive vontade de trabalhar com quem mais precisa. Aqui vi também a oportunidade de contribuir com os estudantes de graduação que estão iniciando os atendimentos, pois como eles veem muito a parte teórica, então compartilho meus conhecimentos sobre a parte prática com eles. A professora Heliana conta que os pais das crianças e adolescentes atendidos também são envolvidos nos trabalhos e ficam entusiasmados. Durante as reuniões de pais e mestres orientamos quanto aos cuidados que devem ser tomados no dia a dia, pois o que queremos é melhorar a condição de saúde dessas crianças, afirma. Teve um caso aqui de uma mãe e um filho que não moram mais no Itapoã e, mesmo assim, fizeram questão de continuar o tratamento, pois agora sabem da importância dos cuidados com a saúde bucal. Então, essas coisas nos motivam, ver que de alguma forma, transformamos a vida das pessoas, contou Magmara, estudante de Odontologia. Com olhos marejados e voz embargada, Heliana Mestrinho conta o quanto é importante para ela atuar na carreta: Adoro realizar esse trabalho porque oferecemos condições para as pessoas melhorarem sua saúde bucal. Para mim, o mais importante é inseri-las nos serviços de atendimento e de atenção odontológica, pois muitas vezes elas não têm acesso a eles. Ela diz ainda que é preciso uma maior colaboração dos professores e estudantes de outros cursos da FS/UnB para contribuírem com a transformação da realidade dessa comunidade escolar. *Luana Dias contribuiu para a elaboração desta reportagem. Professora Heliana Mestrinho e estudante de Odontologia orientam quanto a escovação bucal durante atendimento. Foto: Ádria Albarado. SSE FS e FM/UnB agora tem uma sala e conta com apoio de nova colaboradora O SSE FS e FM/UnB contará com um ponto de referência para atendimentos e desenvolvimento de seus trabalhos administrativos. A sala, na entrada da direção da Faculdade de Ciências de Saúde, será este lugar de referência para o Sistema Saúde Escola e as coordenações de estágios e extensão. É lá também que vão atuar a jornalista que vos escreve, Ádria Albarado, e a administradora Márcia Souza, a mais nova colaboradora do SSE. A administradora Marcia Souza agora é colaboradora do SSE FS e FM/UnB. Foto: Ádria Albarado. Márcia ingressou na UnB em 2010 e atuava na Clínica Odontológica do HUB. Nascida em Unaí-MG, a administradora morou em Posse - GO e veio para Brasília em 2002, quando iniciou sua graduação. Formou-se em Administração e Administração Pública na UnB. Em 2010, foi nomeada como estagiária técnica do Departamento de Odontologia, todavia, foi cedida ao HUB. Ela conta que quando surgiu a oportunidade de voltar à FS para atuar no SSE, percebeu a abertura para novas aprendizagens. Há cerca de um mês na labuta conosco ela conta como se sente: Tudo é muito novo, mas a minha expectativa é atuar na minha área, contribuir para o planejamento e organização do Sistema, atuar na tramitação de processos, aprender coisas novas. No ambiente de trabalho, Márcia valoriza a boa convivência, o respeito, a colaboração para o crescimento pessoal e profissional. Nas folgas, ela gosta de viajar e de estar em contato com a natureza. Mergulho e escalada são algumas das atividades realizadas por ela. 13

Professores do SSE participam de reunião com nova gestão da Regional de Saúde do Paranoá Reunião foi realizada na Coordenação da Regional de Saúde do Paranoá e contou com a presença de diversos gestores que cooperam para a integração ensino-serviçocomunidade. Foto: Ádria Albarado. Na última semana a coordenação do SSE FS e FM/UnB, os professores Gustavo Nunes e Elza Noronha, dos cursos de Gestão em Saúde Coletiva e Medicina, estiveram no Paranoá para uma reunião com a novo gestor da Regional de Saúde, Afonso Henriques Fernandes. Na pauta, assuntos como a logística e a rotina da ida de estudantes das faculdades à RSPa, o funcionamento dos programas Pró e Pet Saúde e o amparo dessas e demais atividades por meio do convenio da UnB com o Governo do Distrito Federal, que segue até 2017. Dais Gonçalves ressaltou a necessidade de uma parceria para o desenvolvimento das atividades, bem como do uso dos recursos disponíveis para a realização de melhorias na estrutura das Unidades de Saúde para recepcionar bolsistas e estagiários da FS e FM. A questão também foi abordada pelo professor Gustavo Nunes que enfatizou a importância da integração com os gestores para a realização das atividades nos cenários de prática, além de disponibilizar-se, juntamente com seus alunos de Gestão em Saúde Coletiva, a colaborar com o coordenador da regional para captar e gerenciar financiamentos para o desenvolvimento da RSPa. A professora Elza Noronha falou sobre o Programa Mais Médicos e do novo currículo da FM. Ela também destacou a necessidade do diálogo para que os estudantes de medicina e os recém formados tenham onde atuar, bem como realizar residências na Atenção Básica (AB), uma vez que a nova grade curricular prevê a atuação dos alunos em pelo menos 30% nesta área. Outros temas levantados pela coordenação do SSE foram a urgência em institucionalizar a Comissão Integradora Ensino Serviço (CIES) da regional e a criação do Centro de Aprendizagem e Inovação Social (CAIS), que está em fase de elaboração planta e deverá ser construído na Regional. Viviane Peterle, coordenadora da Comissão e Residência do Hospital da RSPa, comentou que vê com bons olhos o momento de diálogo e a formalização da parceria. Já Afonso Fernandes, concordou que há necessidade de alinhar os planos para que a integração ensino-serviço-comunidade ocorra da melhor forma possível. Para a efetivação dessa formalização e agilidade nos encaminhamentos, os coordenadores participarão da próxima reunião do Colegiado Gestor do SSE das FS e FM, marcada para o próximo dia 24 de março, na RSPa.