FORMANDO PROFISSIONAIS PARA ATUAÇÃO NA EJA: O PAPEL DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PEDAGOGIA NAS INSTITUIÇÕES E NOS MOVIMENTOS SOCIAIS



Documentos relacionados
CURSO: LICENCIATURA DA MATEMÁTICA DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO 4

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

Licenciatura em Educação Física

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

ESTÁGIO DOCENTE DICIONÁRIO

Pedagogia Estácio FAMAP

ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO

Escola Superior de Ciências Sociais ESCS

INSTITUTO SINGULARIDADES CURSO PEDAGOGIA MATRIZ CURRICULAR POR ANO E SEMESTRE DE CURSO

COORDENADORA: Profa. Herica Maria Castro dos Santos Paixão. Mestre em Letras (Literatura, Artes e Cultura Regional)

Manual do Estagiário 2008

Anexo II CARGOS DE DCA

UM RETRATO DAS MUITAS DIFICULDADES DO COTIDIANO DOS EDUCADORES

UNIVERSIDADE CAMILO CASTELO BRANCO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO PEDAGOGIA. 1. Licenciatura Plena

CURSOS PRECISAM PREPARAR PARA A DOCÊNCIA

RELATO DE EXPERIÊNCIA: PROJETO DE EXTENSÃO PRÁTICA DE ENSINO E FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

CURSO DE GRADUAÇÃO LICENCIATURA EM PEDAGOGIA REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO

FACULDADES INTEGRADAS CAMPO GRANDENSES INSTRUÇÃO NORMATIVA 002/

REGULAMENTO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO DO CURSO DE LICENCIATURA EM FÍSICA

CONSELHO SUPERIOR DO ISEI RESOLUÇÃO Nº 01/ 2007, DE 29 DE JUNHO DE 2007

III-Compreender e vivenciar o funcionamento e a dinâmica da sala de aula.

Dimensão 1 - Organização Didático-Pedagógica do Curso

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL PLANO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO PARA ESTUDANTES DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

2.5 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Área de conhecimento: Economia Doméstica Eixo Temático: Administração, Habitação e Relações Humanas;

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

Currículo do Curso de Licenciatura em Filosofia

PROGRAMA DE ACOMPANHAMENTO DE EGRESSOS DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA

Resolução nº. 01/09. Título I Estágio Supervisionado. Capítulo I. Caracterização do Estágio:

DIREITOS HUMANOS, JUVENTUDE E SEGURANÇA HUMANA

XXV ENCONTRO NACIONAL DA UNCME

PLANO DE TRABALHO Período: 2014/ CONTEXTO INSTITUCIONAL

II. Atividades de Extensão

RELATÓRIO DE TRABALHO DOCENTE NOVEMBRO DE 2012 EREM ANÍBAL FERNANDES

ATIVIDADES COMPLEMENTARES

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

MANUAL DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES PARA O CURSO DE FISIOTERAPIA

PRÁTICA PROFISSIONAL INTEGRADA: Uma estratégia de integração curricular

PROGRAMA DA DISCIPLINA

UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE UNIPLAC PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DE EXTENSÃO E APOIO COMUNITÁRIO

José Fernandes de Lima Membro da Câmara de Educação Básica do CNE

e construção do conhecimento em educação popular e o processo de participação em ações coletivas, tendo a cidadania como objetivo principal.

Faculdade de Alta Floresta - FAF REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE PEDAGOGIA DA FACULDADE DE ALTA FLORESTA - FAF

Fórum Nacional de Diretores de Faculdades/Centros/Departamentos de Educação das Universidades Públicas Brasileiras (FORUMDIR)

Gestão Democrática da Educação

MATRIZES CURRICULARES MUNICIPAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA - MATEMÁTICA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA EM MOGI DAS CRUZES

PROPOSTA PEDAGOGICA CENETEC Educação Profissional. Índice Sistemático. Capitulo I Da apresentação Capitulo II

REGULAMENTO DE ESTÁGIO CURRICULAR DO CURSO DE PEDAGOGIA

FACULDADE ASTORGA FAAST REGULAMENTO ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

O Papel do Pedagogo na Escola Pública CADEP

PROGRAMA ULBRASOL. Palavras-chave: assistência social, extensão, trabalho comunitário.

DIRETRIZES GERAIS DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE PEDAGOGIA

ATIVIDADES COMPLEMENTARES

Bacharelado em Educação Física

OBJETIVO Reestruturação de dois laboratórios interdisciplinares de formação de educadores

Dra. Margareth Diniz Coordenadora PPGE/UFOP

PÓS-GRADUAÇÃO CAIRU O QUE VOCÊ PRECISA SABER: Por que fazer uma pós-graduação?

Educação Integral no Brasil: Avaliação da Implementação do Programa Federal Mais Educação em uma Unidade de Ensino

NÚCLEO DE APOIO DIDÁTICO E METODOLÓGICO (NADIME)

FORMAÇÃO DOCENTE: ASPECTOS PESSOAIS, PROFISSIONAIS E INSTITUCIONAIS

ESTÁGIO SUPERVISIONADO JUSTIFICATIVA:

MATRIZ CURRICULAR CURRÍCULO PLENO

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA - PIBID

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO ESCOLAR (Ênfase em Coordenação Pedagógica) PROJETO PEDAGÓGICO

CURSO: Matemática. Missão

PEDAGOGIA HOSPITALAR: as politícas públicas que norteiam à implementação das classes hospitalares.

TUTORIA DE ESTÁGIO: CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES/AS

Educação a Distância na UFMG: iniciativas na área da saúde. André Santos, Matheus Machado e Pollyanna Moreira

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

Duração: 8 meses Carga Horária: 360 horas. Os cursos de Pós-Graduação estão estruturados de acordo com as exigências da Resolução CNE/CES nº 01/2007.

A construção da. Base Nacional Comum. para garantir. Direitos e Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento

MANUAL DE ATIVIDADES COMPLEME MENTARES CURSO DE ENFERMAGEM. Belo Horizonte

CURSO: EDUCAR PARA TRANSFORMAR. Fundação Carmelitana Mário Palmério Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS ALTAS HABILIDADES / SUPERDOTAÇÃO. Secretaria de Educação Especial/ MEC

ANÁLISE DOS ASPECTOS TEÓRICO METODOLÓGICOS DO CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO

CASTILHO, Grazielle (Acadêmica); Curso de graduação da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (FEF/UFG).

A IMPORTÂNCIA DOS FUNCIONÁRIOS NO PROCESSO EDUCATIVO NAS ESCOLAS

Organização dos Estados Ibero-americanos Para a Educação, a Ciência e a Cultura MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO

DEMOCRÁTICA NO ENSINO PÚBLICO

O Ensino a Distância nas diferentes Modalidades da Educação Básica

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSOS E DESAFIOS

REGULAMENTO DE ESTÁGIO OBRIGATÓRIO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA TÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

3.1 Ampliar o número de escolas de Ensino Médio de forma a atender a demanda dos bairros.

Regulamento dos Estágios Supervisionados do Curso de Educação Física CAPÍTULO I DA REGULAMENTAÇÃO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO CAPÍTULO II DA NATUREZA

Regulamento das Atividades Complementares da Faculdade de Ciências Sociais de Guarantã do Norte

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance SUBPROJETO: PEDAGOGIA

Integrar o processo de ensino, pesquisa e extensão;

Resgate histórico do processo de construção da Educação Profissional integrada ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA)

Bacharelado em Humanidades

Programa de Capacitação

Como mediador o educador da primeira infância tem nas suas ações o motivador de sua conduta, para tanto ele deve:

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO ELEMENTOS PARA O NOVO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

ALGUNS ASPECTOS QUE INTERFEREM NA PRÁXIS DOS PROFESSORES DO ENSINO DA ARTE

crítica na resolução de questões, a rejeitar simplificações e buscar efetivamente informações novas por meio da pesquisa, desde o primeiro período do

REGULAMENTO ESTÁGIO SUPERVISIONADO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA FACULDADE DE APUCARANA FAP

PSICOPEDAGOGIA. DISCIPLINA: Desenvolvimento Cognitivo, Afetivo e Motor: Abordagens Sócio Interacionistas

PRÁTICAS CURRICULARES EDUCAÇÃO FÍSICA

Curso de Educação Profissional Técnica de Nível Médio Subseqüente ao Ensino Médio, na modalidade a distância, para:

Transcrição:

FORMANDO PROFISSIONAIS PARA ATUAÇÃO NA EJA: O PAPEL DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PEDAGOGIA NAS INSTITUIÇÕES E NOS MOVIMENTOS SOCIAIS Jaqueline Luzia da Silva Universidade do Estado do Rio de Janeiro jackluzia@yahoo.com.br RESUMO O trabalho tem como objetivo analisar a prática do Estágio Supervisionado em Pedagogia nas Instituições e nos Movimentos Sociais na formação inicial e na construção da identidade profissional dos alunos e alunas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) para a atuação na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Este estágio não é exclusivamente voltado para a atuação com os sujeitos jovens e adultos, mas pressupõe a oportunidade do trabalho em diversos locais, como em organismos públicos e estatais, em movimentos sociais organizados, em organizações governamentais, não governamentais e instituições privadas. Entretanto, como a área está vinculada ao departamento responsável pela EJA na Universidade e, em sua maioria, os professores supervisores são da área da EJA, a tendência é que os futuros pedagogos sejam incentivados a atuarem neste campo. Possibilitar esta atuação em espaços não escolares significa ampliar o olhar para outras práticas, além daquelas de escolarização. Isso significa oportunizar vivências e experiências aos bacharelandos diferentes das habituais, na ótica do reconhecimento do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida. As questões trazidas no estudo apontam as lacunas da formação e o quanto ainda é necessário aprofundar os estudos e os esforços para a melhoria da mesma. Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos, formação de professores, estágio supervisionado.

1. INTRODUÇÃO O presente texto tem como objetivo analisar a prática do Estágio Supervisionado em Pedagogia nas Instituições 1 e nos Movimentos Sociais na formação inicial e na construção da identidade profissional dos alunos e alunas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) para a atuação na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Esse estágio não se volta exclusivamente para a formação dos educadores de jovens e adultos, mas encontra-se vinculado diretamente ao setor de EJA dentro do Departamento de Educação Inclusiva e Continuada (DEIC) da Faculdade de Educação da UERJ. Esse fato permite que os alunos e alunas, por meio do estágio supervisionado, tenham contato com a EJA, em espaços de educação não-formal. Na formação dos professores essa experiência se torna importante, pois o estágio representa um período de vivência, através da observação e da participação, dos processos de preparação e de integração com o trabalho ou de desenvolvimento participativo e comunitário. A formação do educador de sujeitos jovens e adultos tem sido uma problemática que se tenta enfrentar de várias maneiras, seja pela ação direta em processos de formação inicial e continuada, seja pela produção de subsídios pedagógicos e materiais didáticos. Esse enfrentamento se fundamenta em tendências diversas, tanto de caráter prescritivo e regulador da ação pedagógica, quanto de caráter emancipatório, trabalhando com os saberes, escolhas e práticas dos educadores. Além disso, estudos apontam que é raro que na formação pedagógica inicial nos cursos de pedagogia e licenciaturas sejam oferecidas oportunidades de estudos sobre a EJA e suas especificidades (UNESCO, 2008). E atua na área um número expressivo de educadores sem habilitação específica para a área, contribuindo assim para a baixa qualidade dos cursos oferecidos para o público da EJA. 1 Estas Instituições referem-se a instituições educativas ou que ofereçam qualquer tipo de ação educativa.

No Brasil, são os cursos de Pedagogia que formam os profissionais para atuarem na modalidade da EJA (além dos anos iniciais do Ensino Fundamental, da Educação Infantil, do Ensino Médio para a formação de professores e da Educação Profissional, em alguns cursos). Mesmo assim, a presença da EJA nos cursos de Pedagogia tem ocorrido por meio da extensão, representada pela monitoria em projetos de EJA, iniciação científica, núcleos de alfabetização, prestação de serviços, disciplinas optativas/eletivas etc. (SOARES, 2008). Além de a formação pedagógica inicial ser deficiente quanto às oportunidades de estudos sobre a EJA e suas especificidades, torna-se cada vez mais necessária a formação de um profissional voltado para as necessidades de aprendizagem dos jovens e adultos. E o que se tem visto é que as características específicas da prática ainda são tratadas de forma insuficiente nos cursos de pedagogia e nas diversas licenciaturas. Levando-se em consideração que todo professor poderá vir a atuar com a Educação de Jovens e Adultos, tanto em processos de escolarização como fora da escola, a formação desses educadores se torna uma questão fundamental, pois é necessário que esta considere a realidade da EJA (SOARES, 2002). O estágio supervisionado torna-se, assim, um espaço privilegiado de troca entre aqueles que ensinam e os que aprendem. É um espaço de formação, construção e criação. A EJA é também o espaço para entrar em contato com uma modalidade de ensino diferenciada e, portanto, permeada de significados distintos. O estágio supervisionado não deve ser considerado como menos importante do que as disciplinas teóricas do curso de Pedagogia ou das licenciaturas em geral. Ele precisa ser considerado como imprescindível à formação docente e as universidades e os próprios docentes precisam valorizar este contato com a prática pedagógica ainda durante o curso de graduação. É preciso que o estágio supervisionado considere a pessoa do professor e sua experiência, a profissão e seus saberes e a escola e seus projetos. Possibilitando, assim, a troca profissional e a abertura para mudanças (NÓVOA, 1992).

O que se pode perceber ao longo da história da Educação de Jovens e Adultos, e da constituição de seus fundamentos, é que a conquista do direito à EJA, assim como a mobilização por sua implementação, foi marcada pela forte presença da sociedade civil, através dos movimentos sociais e da prática da educação popular na reivindicação de direitos e de maior participação nos rumos da gestão pública. Isso contribuiu para a conscientização, mobilização e organização da sociedade, e na concepção, monitoramento e avaliação dos programas e políticas governamentais. Dessa forma, o papel da universidade e dos pedagogos na formação de sujeitos jovens e adultos em instituições e movimentos sociais perpassa a pesquisa de alternativas pedagógicas, o resgate e o apoio à sistematização da prática, a divulgação de inovações, a formação de professores e a sua integração com a comunidade escolar para a elaboração de propostas conjuntas de aperfeiçoamento da EJA. 2. O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE PEDAGOGIA NA UERJ O Estágio Supervisionado em Pedagogia nas Instituições e nos Movimentos Sociais na UERJ compõe a grade curricular do curso de Pedagogia desde o ano de 2003 e consiste na inserção dos bacharelandos em espaços educativos não escolares. Em período anterior ao do estágio, os alunos e alunas têm uma disciplina teórica na grade curricular denominada Educação e Movimentos Sociais: aspectos históricos e políticos, como disciplina obrigatória, que serve como base e referência para o estágio em Instituições e Movimentos Sociais. Atualmente, o estágio tem carga horária total de 90 horas, sendo 30 horas teóricas em sala de aula com o professor supervisor de estágio e 60 horas de estágio na prática. Nessa formação os alunos cumprem seu estágio em diversos locais, como em organismos públicos e estatais, em movimentos sociais organizados, em organizações governamentais, não governamentais e instituições privadas. A formação do pedagogo para atuação em instituições e movimentos sociais faz parte de um dos quatro eixos que compõem o curso de Pedagogia, a saber: Pedagogia nas instituições; Pedagogia nos movimentos sociais;

Educação escolar e Educação inclusiva. Tais eixos são comuns à formação na licenciatura e no bacharelado e são transversais a todo o curso de Pedagogia, integrando conhecimentos e práticas desenvolvidos em atividades dentro e fora das salas de aula (PAIVA, 2006). O objetivo das aulas presenciais (ou teóricas) é o diálogo entre o professor supervisor e os alunos sobre as práticas que vivenciam e que servem de subsídio para os temas das aulas, das oficinas e dos debates, retomando questões surgidas nos estágios ou aprofundando o conhecimento sobre elas. Além disso, essas aulas tornam-se momentos oportunos para a troca dos diferentes olhares sobre a prática dos estagiários. Ao longo do estágio são apresentados relatórios parciais sobre o que se tem observado e realizado no mesmo e ao final os alunos e alunas apresentam um relatório integral. O relatório é o instrumento de mediação que o professor estabelece com os estágios de seus alunos, podendo com eles dialogar sobre o que observam, realizam, refletem, a partir da organização que fazem das ideias produzidas sobre o tempo de estágio (UERJ, 2005, p. 21) e também serve como instrumento de avaliação do desenvolvimento do estágio curricular supervisionado. A formação do educador na UERJ tem como premissa, desde as últimas reformulações do curso de Pedagogia, a perspectiva dialética da educação, relacionando a teoria à prática. Além disso, o curso pretende garantir a conciliação entre formação técnica e formação política, objetivando a intervenção do pedagogo na realidade, criticando as políticas voltadas à escola pública e ampliando a concepção de prática educativa, estendendo-a a diferentes espaços da sociedade. Assim, o estágio curricular supervisionado torna-se o lugar de vivenciar experiências pedagógicas e sociais expressivas da realidade brasileira, tanto em espaços públicos quanto privados (PAIVA, 2006, p. 55). Os campos de formação no curso de Pedagogia estão voltados na licenciatura para a Educação Infantil e para os anos iniciais do Ensino Fundamental para crianças, jovens e adultos e no bacharelado para o trabalho nas instituições e nos movimentos sociais. Assim, a ação do pedagogo não se vincula somente à ação docente na sala de aula e/ou na escola, mas

também nos múltiplos espaços educativos encontrados na sociedade, onde se produz conhecimento e transformações pela ação pedagógica. De acordo com o documento norteador do estágio supervisionado no curso de Pedagogia da UERJ, os espaços possíveis de atuação do pedagogo e/ou do estagiário são os seguintes: organizações não-governamentais; organizações sociais; programas de educação comunitária e popular em associações de moradores, associações de classe, sindicatos, cooperativas, federações, associações beneficentes, igrejas; empresas; órgãos públicos (que desenvolvem atividades educativas com os públicos a que atendem, assim como outros que desenvolvem seus próprios recursos humanos); museus; espaços educativos e alternativos de cinema; televisões educativas públicas e privadas, de canal aberto e fechado; centros culturais; bibliotecas públicas e comunitárias etc., podendo ser ilimitado o universo das instituições, em atendimento à dinâmica da sociedade (UERJ, 2005). Os movimentos sociais como campo de atuação dos bacharelandos no estágio supervisionado sinalizam a ideia de movimento, das lutas da sociedade civil pelo acesso à educação. Assim, movimentos como os fóruns (de EJA, da Educação Infantil, do Ensino Médio, da Escola Pública), os comitês, as campanhas educacionais etc. como espaços de atuação do pedagogo, revelam a ação coletiva, a articulação de interesses e de pessoas em torno de ideias comuns para contribuírem para o exercício do diálogo e do poder, constituindo espaços possíveis de prática do estágio supervisionado. Na formação para a atuação nas instituições e nos movimentos sociais a base da ação pedagógica se assenta na ideia principal da educação continuada, pela necessidade de aprender por toda a vida e/ou pela educação dos direitos. Nesse sentido, o estágio supervisionado é o espaço em que os bacharelandos têm contato, através da observação e participação, com experiências não escolares, com atividades educativas além da escola. E isso possibilita o contato com um trabalho em que o pedagogo atua como coordenador/gestor, como planejador e avaliador e não apenas como professor.

Isso não quer dizer que na atuação nas instituições e nos movimentos sociais o pedagogo deixa de ser professor, mas significa que ele pode trabalhar em outros espaços, para além da sala de aula. Por isso é permitido ao estagiário cumprir a carga horária do estágio em programas de educação comunitária e popular em associações, sindicatos, cooperativas, igrejas e em movimentos sociais organizados de diversos tipos. Contudo, o pressuposto básico desse desenho curricular é de uma formação do pedagogo para atuar nas instituições e nos movimentos sociais que esteja organicamente articulada à formação para a docência. 3. METODOLOGIA A metodologia utilizada nesse estudo pauta-se pela observação de estagiários, estudantes de Pedagogia, ao longo de quatro períodos, em seis turmas diferentes, correspondendo a um total de 77 estudantes, durante os anos de 2013 e 2015. O levantamento dos dados apresentados partem dos relatórios (parciais e finais) produzidos por esses alunos durante a disciplina de Pedagogia nas Instituições e nos Movimentos Sociais Estágio Supervisionado. Tanto os relatórios quanto as aulas presenciais trazem à tona todas as experiências vivenciadas por estes estudantes, além de suas angústias, críticas, questionamentos, sugestões e reações surgidas ao longo das horas de contato com as instituições. Os dados mostrados a seguir foram analisados à luz da discussão sobre a formação inicial dos pedagogos na UERJ. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nos relatórios apresentados o que se constata é que praticamente nenhum aluno consegue realizar o estágio em algum movimento social, por falta de informações (por parte dos alunos) ou não aceitação (por parte dos movimentos) de estagiários. Assim, o que se constata é que ao longo do período observado, somente uma aluna conseguiu realizar o estágio em um movimento social, no caso, na União Estadual dos Estudantes (UEE). A imensa maioria realizou estágios em Organizações Não Governamentais ou instituições

religiosas. Alguns ainda em escolas públicas ou privadas. Neste caso, atuando no acompanhamento da gestão e/ou coordenação pedagógica. E outros ainda, em programas da própria Universidade. No quadro a seguir, pode-se ver o número de estudantes e as instituições que frequentaram durante o estágio: Número de alunos Instituição 1 Associação Santa Marta 3 Brinquedoteca do Hospital Pedro Ernesto 1 Casa da Cidadania Florestan Fernandes 1 Casa de Betânia oficina de história e cidadania 1 Casa Solar Bezerra de Menezes 1 CDI Comitê para Democratização da Informática 1 Centro de dança Kleber Guimarães 1 Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré 1 Centro Educacional Caldeira e Ferreira 1 Classe hospitalar do Hospital Pedro Ernesto 1 Colégio Pedro II 1 Coordenação do Curso de Pedagogia/UERJ 1 Creche Odetinha Vidal de Oliveira 7 Escola privada de Ensino Fundamental (gestão e coordenação) 2 Escola pública municipal de Ensino Fundamental (gestão e coordenação) 1 Grupo de capoeira Água Santa 1 Hospital Pedro Ernesto oficinas 1 IARJ Instituto de Administração do Rio de Janeiro 1 INCAFE Alfabetização de idosos 1 Inove UERJ Pós-graduação 1 Instituição religiosa judaica 1 Instituto BEM 1 MEDGRUPO

1 Monitoria de eventos educacionais 1 Museu da Maré 1 NAF Esporte e lazer para crianças 2 NEEI/UERJ Núcleo de Educação Especial e Inclusiva 7 NEIPE/UERJ Núcleo de Estudos da Infância Pesquisa e extensão 1 NETEDU/UERJ Núcleo de Tecnologia Educacional 1 ONG Enraizados Nova Iguaçu 1 ONG Mãos amigas 4 Pré-vestibular social 1 Pré-vestibular social do SINTUPERJ 5 PROALFA/UERJ Programa de Alfabetização, Documentação e Informação 5 PROÍNDIO/UERJ Programa de Estudos dos Povos Indígenas 1 Projeto CEDRO Educação Especial de Adultos 1 Projeto Conexão 1 Projeto Entrejovens (adolescentes) 1 Projovem Belford Roxo 1 REAME Abrigo transitório (unidade de acolhimento) 2 SENAI 1 SESC 1 SESI 1 Tribunal de Justiça 4 UNATI/UERJ Universidade da Terceira Idade 1 União Estadual dos Estudantes A partir do quadro acima, pode-se perceber a diversidade de instituições nas quais os estudantes cumpriram seus estágios. A diversidade de atividades realizadas nestas instituições também é considerável. Nos relatórios, essas diversas experiências foram trazidas e apresentadas pelos alunos, possibilitando uma troca rica de vivências e práticas. Os relatórios trazem uma articulação com a teoria trabalhada nas aulas presenciais e uma análise crítica do

estágio realizado. O relatório parcial é sempre produzido na metade do período letivo e é devolvido ao aluno com contribuições do professor para orientá-lo na produção do relatório final/integral. Outra observação interessante é que boa parte das instituições atende a um público infantil. Ou seja, nem todos os alunos seguiram a orientação de buscar experiências na área da EJA. Ainda assim, a possibilidade de atuação em espaços não-escolares garantiu aos estudantes contribuições significativas para a construção de uma identidade profissional. O Estágio Supervisionado em Pedagogia nas Instituições e nos Movimentos Sociais não é exclusivamente voltado para a atuação com os sujeitos jovens e adultos. Ele pressupõe também a oportunidade do trabalho em programas e projetos destinados à criança, que tenham caráter educativo, como brinquedotecas, museus e centros culturais, parques infantis, propostas de educação ambiental, educação em ambiente hospitalar etc. (UERJ, 2005). O que se espera no estágio em instituições e movimentos sociais é que os alunos e alunas da graduação busquem experiências diferenciadas, além daquelas já conhecidas, com sujeitos diversos, em diferentes espaços. Por isso, os professores supervisores têm incentivado, ao longo dos últimos anos, a atuação dos estagiários em espaços que oferecem práticas educativas voltadas aos jovens e adultos. Aí encontra-se a construção da identidade profissional dos estudantes de Pedagogia que, tendo contato com diferentes espaços de ação, podem compreender e vislumbrar atuações diferenciadas, como profissionais da educação de uma maneira geral e não só nas atividades docentes. Percebe-se, na fala dos alunos e alunas da Pedagogia que procuram tais estágios, uma abertura a novas oportunidades e campos de atuação. E o que mais impressiona é que estes espaços muitas vezes jamais foram pensados pelos estudantes. Eles relatam que os contatos que estabelecem nos estágios, observando e participando das instituições, os levam a ampliação da atuação do pedagogo na sociedade. E a identidade profissional vai se constituindo nesse olhar, que desmitifica certos conceitos preestabelecidos, garantindo uma formação integral dos futuros pedagogos.

Muitos se identificam logo no início com o local de estágio e comentam, durante as aulas teóricas ou nos relatórios, como fazer esse estágio foi importante para a sua formação, vislumbrando outras possibilidades de trabalho após a graduação. Da mesma maneira, a análise crítica desses espaços também é importante e tem sido fomentada nas aulas teóricas e nos relatórios. O que corresponde a compreender o papel das instituições e dos movimentos sociais na educação (de jovens e adultos inclusive), com um olhar crítico que problematize as ações educativas realizadas nesses espaços. Possibilitar a atuação em espaços não escolares significa ampliar o olhar para outras práticas, além daquelas de escolarização. Isso significa oportunizar vivências e experiências aos bacharelandos diferentes das habituais, na ótica do reconhecimento do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida. CONCLUSÕES A análise da prática do Estágio Supervisionado em Pedagogia nas Instituições e nos Movimentos Sociais nos remete a algumas questões instigantes. A primeira diz respeito à formação do educador para a EJA. Tendo em vista que não há no curso de Pedagogia da UERJ habilitação específica para a área, a formação encontra-se diluída na habilitação para o magistério nos anos iniciais (exclusivamente para a escola) e no estágio em Instituições e Movimentos Sociais, cuja atuação na EJA dependerá da escolha do estudante e das possibilidades de estágio na área. Assim, o estudante pode passar todo o seu curso sem um contato direto com a EJA. No mesmo sentido, é interessante questionar como estimulá-lo a buscar a EJA ainda durante a formação e como levá-lo a conhecer melhor esta modalidade de ensino. Outro questionamento relevante diz respeito ao papel do pedagogo nas Instituições e nos Movimentos Sociais. Ainda é necessário articular a docência ao trabalho fora da sala de aula, em espaços não escolares e de educação não-formal. E muitas vezes os próprios

pedagogos ainda necessitam compreender como atuar nas Instituições e nos Movimentos Sociais sem abandonar a função docente, sem deixar de ser professor. Uma crítica que pode e deve ser feita a esse estágio refere-se à pouca atuação dos estagiários em movimentos sociais, restringindo-se somente às instituições educativas. Assim, poucos estudantes têm contato com os movimentos e dificilmente saberão na prática como se organizam e se articulam com as práticas educativas. É necessário rever os motivos que dificultam a atuação dos estagiários nos movimentos sociais e como a Universidade pode interferir nessa questão, por exemplo, buscando e mantendo convênios com os mesmos. Essas e outras questões nos impõem o desafio de trabalhar com o Estágio Supervisionado em Pedagogia nas Instituições e nos Movimentos Sociais, pois apontam as lacunas da formação e o quanto ainda é necessário aprofundar os estudos e os esforços para a melhoria desta formação. Ao mesmo tempo o estágio quer estar a serviço de uma análise crítica da formação de professores e também da Educação de Jovens e Adultos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NÓVOA, A. Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. PAIVA, J. Concepções e movimentos pela formação de pedagogos para a Educação de Jovens e Adultos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. In: SOARES, L. (Org.). Formação de Educadores de Jovens e Adultos. Belo Horizonte: Autêntica/Secad-Mec/Unesco, 2006. SOARES, L. Avanços e desafios na formação do educador de jovens e adultos. In: MACHADO, M. M. (Org.). Formação de educadores de jovens e adultos. Brasília: Secad/MEC, Unesco, 2008.

. Educação de jovens e adultos: diretrizes curriculares nacionais. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. UERJ. Faculdade de Educação. Concepções, normas e procedimentos de estágio curricular supervisionado. Rio de Janeiro: UERJ, 2005. UNESCO. Alfabetização de jovens e adultos no Brasil: lições da prática. Brasília: UNESCO, 2008.