POESIAS Olavo Bilac. Edição especial para distribuição gratuita pela Internet, através da Virtualbooks.



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POESIAS Olavo Bilac Edição especial para distribuição gratuita pela Internet, através da Virtualbooks. A VirtualBooks gostaria também de receber suas críticas e sugestões. Sua opinião é muito importante para o aprimoramento de nossas edições: Vbooks02@terra.com.br Estamos à espera do seu e-mail. www.terra.com.br/virtualbooks 2

POESIAS Soneto Não és bom, nem és mau: és triste e humano... Vives ansiando, em maldições e preces, Como se a arder no coração tivesses O tumulto e o clamor de um largo oceano. Pobre, no bem como no mal padeces; E rolando num vórtice insano, Oscilas entre a crença e o desengano, Entre esperanças e desinteresses. Capaz de horrores e de ações sublimes, Não ficas com as virtudes satisfeito, Nem te arrependes, infeliz, dos crimes: E no perpétuo ideal que te devora, Residem juntamente no teu peito Um demônio que ruge e um deus que chora. 3

Criação Há no amor um momento de grandeza, que é de inconsciência e de êxtase bendito: os dois corpos são toda a Natureza, as duas almas são todo o Infinito. É um mistério de força e de surpresa! Estala o coração da terra aflito; rasga-se em luz fecunda a esfera acesa, e de todos os astros rompe um grito. Deus transmite o seu hálito aos amantes: cada beijo é a sanção dos Sete Dias, e a Gênese fulgura em cada abraço; Porque, entre as duas bocas soluçantes, rola todo o Universo, em harmonias e em florificações, enchendo o espaço! 4

Língua portuguesa Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela Amo-se assim, desconhecida e obscura Tuba de algo clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: "meu filho!", E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! 5

Última página Primavera. Um sorriso aberto em tudo. Os ramos Numa palpitação de flores e de ninhos. Doirava o sol de outubro a areia dos caminhos (Lembras-te, Rosa?) e ao sol de outubro nos amamos. Verão. (Lembras-te Dulce?) À beira-mar, sozinhos, Tentou-nos o pecado: olhaste-me... e pecamos; E o outono desfolhava os roseirais vizinhos, Ó Laura, a vez primeira em que nos abraçamos... Veio o inverno. Porém, sentada em meus joelhos, Nua, presos aos meus os teus lábios vermelhos, (Lembras-te, Branca?) ardia a tua carne em flor... Carne, que queres mais? Coração, que mais queres? Passas as estações e passam as mulheres... E eu tenho amado tanto! e não conheço o Amor! 6

Um beijo Foste o beijo melhor da minha vida, ou talvez o pior...glória e tormento, contigo à luz subi do firmamento, contigo fui pela infernal descida! Morreste, e o meu desejo não te olvida: queimas-me o sangue, enches-me o pensamento, e do teu gosto amargo me alimento, e rolo-te na boca malferida. Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo, batismo e extrema-unção, naquele instante por que, feliz, eu não morri contigo? Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto, beijo divino! e anseio delirante, na perpétua saudade de um minuto... 7

A um poeta Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma de disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo grego. Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a Beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade. 8

Por estas noites Por estas noites frias e brumosas É que melhor se pode amar, querida! Nem uma estrela pálida, perdida Entre a névoa, abre as pálpebras medrosas Mas um perfume cálido de rosas Corre a face da terra adormecida... E a névoa cresce, e, em grupos repartida, Enche os ares de sombras vaporosas: Sombras errantes, corpos nus, ardentes Carnes lascivas... um rumor vibrante De atritos longos e de beijos quentes... E os céus se estendem, palpitando, cheios Da tépida brancura fulgurante De um turbilhão de braços e de seios. 9

Primavera Ah! quem nos dera que isso, como outrora, inda nos comovesse! Ah! quem nos dera que inda juntos pudéssemos agora ver o desabrochar da primavera! Saíamos com os pássaros e a aurora, e, no chão, sobre os troncos cheios de hera, sentavas-te sorrindo, de hora em hora: "Beijemo-nos! amemo-nos! espera!" E esse corpo de rosa recendia, e aos meus beijos de fogo palpitava, alquebrado de amor e de cansaço... A alma da terra gorjeava e ria... Nascia a primavera...e eu te levava, primavera de carne, pelo braço! ******************* ********** ******* *** 10