O livro "Brasil: O País do Futuro" foi escrito pelo romancista histórico Stephan Zweig, em... Mesmo sob a perspectiva de um estrangeiro, foragido do nazismo, numa época de ufanismo nacionalista, a obra deve ser considerada como um relato de nossas enormes potencialidades. Cito o exemplo daquele pensador austríaco para advertir que qualquer observador que pretenda analisar as perspectivas para o Brasil, deve levar em consideração as circunstâncias do seu momento histórico. O analista também deve se esforçar para relatar o mais fiel e amplamente possívcl o cenário sobre o qual fixa seu ponto de vista, sob pena de, tanto ele quanto seus interlocutores, estarem mirando uma mesma realidade sobre óticas - não muito raro - diametralmente opostas. A condição de Senador da oposição, não nos priva de todo, da efetiva participação na solução dos problemas nacionais. Ao contrário, a atividade legislativa nos fornece um novo ângulo para perceber nossa realidade e avaliar as medidas governamentais. A despeito do comportamento do Bloco do Governo no Congresso Nacional, que boicota o diálogo, usa e abusa de manobras que nem mesmo poderiam ser consideradas regimentais, para fazer valer sua posição (vide a reforma da Previdência e as "PEC's paralelas'"), temos nos esforçado para construir uma oposição propositiva, apontando as falhas e indicando soluções. Esta nova forma de oposição, que não privilegia a vesga prática do "quanto pior melhor", torcendo e votando contra, mesmo quando a proposição se mostra justa e necessária, nos remete a uma nova lógica, um no& enquadramento no cenário político.
horizonte preocupante. É desse novo patamar que, infelizmente, percebemos um Neste momento político inédito, tanto pela assunção ao poder de um partido de esquerda, quanto pela existência de uma oposição que se pretende também um instrumento viabilizador de políticas positivas, o primeiro ano do novo governo não inspira, como poderia ser, sinais de que os próximos tempos venham a ser algo muito diferente do que observamos na última década. Esperava-se que, no mínimo, o Governo do PT, historicamente comprometido com bandeiras sociais, avançasse em áreas como educação e saúde, além de incrementar medidas de distribuição de renda e geração de empregos. A "Herança Maldita" que os detratores do governo passado cansaram de reverberar, em discursos que mais parecem desculpas do que algo de concreto na solução dos problemas, foi construída com políticas que o atual governo repete como um aluno obediente, mas sem nenhum talento ou criatividade. Diria até que exagerou na dose de remédios que apesar de necessários, trazem perversos efeitos colaterais. Lembrando nosso alerta inicial, o mesmo observador que estivesse presente ao cenário que se apresentava com a possibilidade da eleição de Lula, em outubro do ano passado (inflação em alta, desemprego, falta de investimentos), não perceberia mudanças no panorama atual. Há de se reconhecer que o governo obteve sucesso na continuidade do controle da inflação, mas o fez aplicando os mesmos métodos da equipe anterior, para
enfrentar, diga-se de passagem, uma situação que o próprio "Risco Lula" havia proporcionado. Não consigo vislumbrar, nem ao longe, o prometido espetáculo do crescimento. Repito, não vai aqui a impressão do oposicionista sem I propósito, a não ser o fracasso da situação. Simplesmente observo que as/ condições estruturantes de nossa economia permanecem inalterad -. - -- se aa linha fisia -..- de poder da antiga oposição para o 1 A verdadeira mudança adviria de uma nova forma de pensar o País, a partir de uma real reforma política, não só do aspecto eleitoral, mas como uma profunda reformulação na relação de poder entre União, Estados e Municípios. A começar pela definição da espécie de Federação que desejamos. O pacto federativo alcançado pela Constituição de 1988, foi uma oportunidade histórica e um dos raros momentos em que se tentou tratar da questão do desenvolvimento regional, como alicerce para o desenvolvimento do país como um todo, desconcentrando renda e gerando emprego em todas as regiões. Uma repartição de tributos com tal orientação, estabelecendo receitas
distribuídas de forma compatível com as atribuições constitucionais dos diversos entes federativos, parecia ser um grande passo no combate as desigualdades. De lá pra cá, entretanto, os governos desvirtuaram os princípios ali pactuados, através de uma indisfxçavel sanha arrecadadora, travestindo tributos sobre a forma de contribuições sociais, concentrando renda e poder na União. União versus Estados versus Municípios. Estados desenvolvidos versus Estados obres. Este conflito se revela de forma emblemática na il discussão da chamada "reforma tributári ibui õ&\.+c u Aos conjuntwais problemas de caixa, os entes federativos respondem com aumento de carga tributária, sem considerar o volume de investimentos e do empreendedorismo privado que se contrai em função desta secular conduta. Sem investimento, não há emprego, nem produção e muito menos arrecadação, perpetuando o problema. Inverter essa lógica tem se mostrado uma missão impossível. Num cenário internacional que se mostra favorável, em que o Brasil esboça iniciativas de liderança, voltando-se para novos mercados, em que se luta para romper barreiras comerciais e ideológicas, talvez seja o momento mais propício a uma verdadeira transformação do Estado Brasileiro.
Estes são, é claro, apenas alguns dos aspectos que uma análise da realidade brasileira deveria considerar, ao se traçar perspectivas para o futuro, mas a constatação de que o governo não dá sinais de nem ao menos reconhecer estas óbvias contradições, projeta um horizonte de estagnação, mesmice e de uma total falta de ousadia, tão necessária em momentos assim. A propósito, Stephan zweíg cometeu suicídio em... por razões até hoje desconhecidas. (Ou, Oxalá, os anjos não digam amém...)