QUALIDADE DA ÁGUA UTILIZADA PARA CONSUMO HUMANO DE COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE BANDEIRANTES PR



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Transcrição:

QUALIDADE DA ÁGUA UTILIZADA PARA CONSUMO HUMANO DE COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE BANDEIRANTES PR 1 Farmacêutico Bioquímico - Pesquisador A - Embrapa Gado e Leite de Juiz de Fora, MG, Gestão Ambinetal e Recursos Hídricos; 2 Técnico de Análises Físico-químicas e Microbiológicas do Serviço Autônomo de Água e Esgoto SAAE Bandeirantes-Pr; 3 Estudante de Biologia da Faculdades Luiz Meneghel FFALM, Estagiária de Análises Físico-químicas e Microbiológicas do Serviço Autônomo de Água e Esgoto SAAE Bandeirantes-Pr; 5 Técnica de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.; 6 Técnico de Análises físico-químicas e microbiológicas do Serviço Autônomo de Água e Esgoto - SAAE Bandeirantes - PR. Recebido em: 8/02/2006 Aceito em: 12/01/2007 OTENIO, RESUMO Henrique Otenio 1 Clézio Ravanhani 2 Elis Marina Turini Claro 3 Maria Imaculada da Silva 4 Thiago Junqueira Roncon 5 A água humano pode ser obtida de diferentes fontes. Uma dessas fontes, o manancial subterrâneo, que em função do baixo custo, facilidade de perfuração, captação de água do aqüífero livre (poço raso) é mais freqüentemente utilizada no Brasil. O bom aspecto da água proporciona aos consumidores uma sensação de pureza, levando-os a não tratarem a água, nem pelo menos por um processo de desinfecção, o que certamente minimizaria o risco de veiculação de enfermidades. A água microbiologicamente contaminada pode transmitir grande variedade de doenças infecciosas. O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade da água relacionando o consumo de medicamentos para DIP (Doenças Infecto Parasitárias). Foram avaliados 385 laudos de água de Bandeirantes - PR, provenientes de poços artesianos ou rasos (água bruta), foi avaliado também o consumo de medicamentos para DIP da Secretaria Municipal de Saúde - Farmácia do SUS de Bandeirantes - PR. Os resultados obtidos evidenciaram que as águas apresentaram 189

elevado percentual de amostras com presença de Coliformes. Destas, 47,79% indicavam água imprópria para o consumo humano. A pouca variação mensal do consumo dos medicamentos pode referenciar a uma característica de endemicidade das DIP. A filtração e a cloração das águas junto com um processo de educação ambiental e sanitária, para a população da zona rural, pode prevenir a ocorrência de doenças de veiculação hídrica e diminuir o consumo de medicamentos. Palavras-chave: qualidade de água; saneamento rural; contaminação de poços; doenças de veiculação hídrica. INTRODUÇÃO OTENIO, A garantia de consumo água segundo padrões de potabilidade adequados é questão relevante para a saúde pública. No Brasil, a norma de Qualidade de água para Consumo Humano, na portaria 518/GM/2004 do Ministério da Saúde, define os valores máximos permissíveis para as características bacteriológicas, organolépticas, físicas e química da água potável (BRASIL, 2004). A água humano pode ser obtida de diferentes fontes. Uma dessas fontes, o manancial subterrâneo, é um recurso utilizado por ampla parcela da população brasileira. A água subterrânea pode ser captada no aqüífero confinado ou artesiano, que se encontra entre duas camadas relativamente impermeáveis, o que dificulta a sua contaminação, ou ser captada no aqüífero não confinado ou livre que fica próximo a superfície, e está portanto, mais suscetível a contaminação. Em função do baixo custo, a facilidade de perfuração, a captação de água do aqüífero livre é mais freqüentemente utilizada no Brasil (SILVA; ARAUJO, 2003). Limitando-se o poder filtrante do solo, as fontes ficam expostas à contaminação principalmente pelas águas de escoamento superficial e pelas que infiltram no solo (AMARAL et al, 2003). O bom aspecto da água proporciona aos consumidores uma sensação de pureza e acredita-se que esses fatos impeçam que seus consumidores agreguem juízo de valor no sentido de tratar essa água, pelo menos por um processo de desinfecção, o que certamente minimizaria o risco de veiculação de enfermidades (Ibid). As doenças de veiculação hídrica constituem o grupo no qual o agente patogênico é ingerido junto com a água. A prevalência das doenças de veiculação hídrica, notadamente na América Latina, África e Ásia, constitui um forte indicativo da fragilidade dos sistemas públicos de saneamento. Tal fragilidade materializa-se na ausência de redes coletoras de esgotos e, principalmente, na qualidade da água 190

OTENIO, distribuída à população, quando os sistemas de abastecimento se fazem presentes. A conjunção desses fatos concorre, embora não isoladamente, para a manutenção dos índices de mortalidade infantil no Brasil entre os mais elevados do continente (DANIEL, 2001). Os serviços de abastecimento nas áreas rurais ainda estão bem defasados em relação aos centros urbanos. Mas, prover abastecimento de água, a um custo acessível, para as áreas urbanas mais pobres e cada vez mais populosas, também tem sido um desafio (OPAS, 2001). A água microbiologicamente contaminada pode transmitir grande variedade de doenças infecciosas, de diversas maneiras: diretamente pela água (provocada pela ingestão de água contaminada); causadas pela falta de limpeza e de higiene com água e causadas por parasitas encontrados em organismos que vivem na água. Os Critérios de Qualidade de Água Potável, da OMS, dão ênfase à qualidade microbiológica da água potável, já que este é o tipo de contaminação responsável pelas principais doenças infecciosas e parasitárias (Ibid). A cada oito segundos, uma criança morre devido a uma doença relacionada à água (Ibid). O desinfetante mais comumente utilizado na desinfecção para a produção de água potável é o cloro, líquido ou gasoso. Ele tem sido empregado como desinfetante primário na vasta maioria das estações que trata água superficial ou subterrânea, tanto como pré-desinfetante como pós-desinfetante (manutenção de residual na rede). Todos os agentes químicos utilizados para desinfecção têm a função precípua de controlar doenças de veiculação hídrica e inativas os organismos patogênicos na potabilização das águas (DANIEL, 2001). A primeira medida para minimizar os riscos de contaminação consiste na proteção da borda do poço por meio do revestimento das paredes em alvenaria ou concreto, impedindo o carreamento das águas pluviais para o interior do mesmo e evitando o desmoronamento das paredes. Uma segunda escavação com 10 cm de largura, ao longo de 3 m iniciais da parede a ser preenchida, preferencialmente por concreto ou argila, minimizará a possibilidade de contaminação do poço. Por fim, a instalação de uma tampa de concreto e o emprego de bombas manuais ou elétricas - evitando o uso de baldes e cordas (Ibid). OBJETIVO O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade bacteriológica da humano proveniente de mananciais 191

subterrâneos utilizados pelas e famílias da zona rural do Bandeirantes - PR, relacionando o consumo de medicamentos distribuídos pela Farmácia Pública do SUS municipal para Doenças Infecto Parasitárias (DIP). MATERIAL E MÉTODOS Bandeirantes têm hoje cerca de 33 mil habitantes, está localizada na região norte do Estado do Paraná distando a 430 km de Curitiba e a 450 km de São Paulo, com vocação agrícola para Cana-de-Açúcar, e agroindústria canavieira. O levantamento da qualidade microbiológica da pelas e famílias da zona rural foi realizado através de pesquisa no acervo dos laboratórios, de controle de qualidade de água e esgoto do Serviço Autônomo de Água e Esgoto - SAAE, laudos de água de Bandeirantes - PR, provenientes de poços artesianos ou rasos. As amostras datam de janeiro de 1998 à dezembro de 2003 e o estudo dos laudos foi feito no segundo semestre de 2005. Para avaliar o consumo de medicamentos para DIP foi consultado o controle de dispensação da Secretaria Municipal de Saúde - Farmácia do SUS de Bandeirantes - PR de janeiro a dezembro de 2003. OTENIO, RESULTADOS Após a coleta de dados e análise dos laudos, chegou-se aos resultados apresentados na Tabela 1. Tabela 1 - Número e porcentagem de Coliformes em amostras de águas subterrâneas das propriedades rurais (água bruta) do Ano Positivos % Negativos % Total de Laudos 1998 39 60 26 40 65 1999 24 34,78 45 65,22 69 2000 14 37,84 23 62,16 37 2001 41 55,41 33 44,59 74 2002 30 38,46 48 61,54 78 2003 36 58,06 26 41,94 62 Total 184 47,79 201 52,21 385 Foi levantado que 47,79% das amostras apresentaram contaminação por Coliformes, indicando água imprópria humano. 192

OTENIO, A presença de Coliformes Fecais indica a possibilidade de contaminação por fezes e, conseqüentemente, de microorganismos patogênicos existentes nas mesmas (SILVA; ARAUJO, 2003). A Tabela 2 apresenta dados do consumo de medicamentos relacionados a DIP, podendo ser considerado diretamente proporcional a incidência destas doenças no Município. A pouca variação mensal do consumo dos medicamentos estudados pode referenciar a uma característica de endemicidade das DIP, o que quase sempre é negligenciado nos Serviços de Saúde quanto a sua ocorrência. Tabela 2 - Levantamento dos medicamentos dispensados pela Farmácia Pública do SUS do Bandeirantes-PR, 2003. Medicamento Mês Antibiótico Vermífugo S.R.O. Janeiro 4739 2387 243 Fevereiro 5069 365 231 Março 3896 1960 143 Abril 5726 1757 176 Maio 3764 2961 181 Junho 5819 2605 91 Julho 5252 2972 177 Agosto 8011 2069 294 Setembro 4753 2063 379 Outubro 6495 2576 370 Novembro 5332 1819 144 Dezembro 6039 1598 96 Total 64895 25132 2525 * Os medicamentos levantados foram: Antibióticos: Sulfa, Cloranfenicol e Gentamicina; Vermífugo: Albendazol, Mebendazol e Metronidazol; S.R.O. (Soro de Reidratação Oral). Ocorrem no mundo 4 bilhões de casos de diarréia por ano, com 2,2 milhões de mortes, é a maioria entre crianças de até cinco anos. A água segura, que nesse contexto, uma oferta de água que não representa um risco significativo à saúde, higiene e saneamento adequados podem reduzir de um quarto a um terço os casos de doenças diarréicas (OPAS, 2001). A portaria 518/GM/04 do Ministério da Saúde estabelece que em água humano incluindo fontes individuais como poços, não é permitida a presença de Coliformes Fecais ou termotolerantes em 100ml da água (SILVA; ARAUJO, 2003). Das 385 amostras analisadas, 184 indicavam água imprópria para o consumo humano. 193

CONCLUSÃO O estudo realizado, a partir de análises bacteriológicas de amostras de água captada em poços da zona rural de Bandeirantes - PR, aponta contaminação da água do manancial subterrâneo. A água não atende aos padrões de potabilidade recomendado na portaria 518/ GM/2004 do Ministério da Saúde. Portanto, o consumo ssa água pode representar risco e agravos à saúde (BRASIL, 2004). A inexistência de algumas fontes, de todos os fatores de proteção que são preconizados como de grande importância para a preservação da qualidade da água, evidencia a necessidade de um trabalho de orientação às pessoas que utilizam essas águas, com o objetivo de manter sua qualidade (AMARAL, et al, 2003). A filtração e a cloração das águas junto com um processo de educação ambiental e sanitária, para a população da zona rural, podem prevenir a ocorrência de doenças de veiculação hídrica e conseqüentemente diminuir o consumo de medicamentos. Encarregar o próprio consumidor de controlar a qualidade de água é uma postura incorreta, uma vez que o seu conhecimento quanto aos riscos que a água pode oferecer à saúde é praticamente inexistente. Depreende-se, portanto, que um trabalho intensivo deve ser realizado no sentido de efetuar a vigilância da qualidade da água utilizada no meio rural e implementar ações que visem ao esclarecimento dessa população, a fim de mudar seu comportamento. O consumo de medicamentos pode estar diretamente relacionado à incidência das DIP, podendo este ser um indicativo da ausência de Saneamento Rural no Município. OTENIO, AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto SAAE de Bandeirantes - PR. o apoio ao trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, Luiz A. do; FILHO, Antonio N.; JUNIOR, Oswaldo D. R.; FERREIRA, Fernanda L. A. BARROS, Ludmilla S. S. Água de consumo humano como fatos de risco à saúde em propriedades rurais. Revista Saúde Pública, v. 37 n. 4, p. 510-514, 2003. 194

OTENIO, [BRASIL] - Portaria n o 518/ GM - Ministério da Saúde 25 de março de 2004. DANIEL, L. A. Processos de Desinfecção e Desinfetantes Alternativos na Produção de água Potável. RIMA, ABES, p. 155, Projeto PROSAB, 2001. OPAS Organização Pan-Americana da Saúde Água e Saúde. 2001 <<http://www.opas.org.br/sistema/fatos/agua/ pdf>>, acesso em 24/01/06. SILVA, Rita de C. A.; ARAUJO, Tânia M. de água do manancial subterrâneo em áreas urbanas de Feira de Santana (BA). Ciência & Saúde Coletiva, v. 8 n. 4, p. 1019-1028, 2003. UNIÁGUA - Doenças de veiculação hídrica, sua prevenção e medidas de cloração no Brasil. 2004 <<http://www.uniagua.org.br/website/default.asp>>, acesso em 28/11/2005. 195