O ESTADO DA ARTE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PARANÁ Anabel de Lima MEA/FURG Karina Luiza de Oliveira Mater Natura - Instituto De Estudos Ambientais Regina S. Peres Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais 1 - RESUMO Entre outubro de 2002 à outubro de 2003, a equipe técnica da REASul, promoveu um diagnóstico do estado da arte da Educação Ambiental nos três estados da região sul. Inicialmente realizou um levantamento e seleção de instituições e educadores em banco de dados fornecidos por diversas instituições. Em seguida, foram efetivados contatos via telefone e/ou e-mail e formulários do SIBEA foram enviados pelo Correio ou por endereço eletrônico. Em função desta estratégia não ter sido eficiente, estabeleceu-se como estratégia realizar reuniões presencias em microregiões com diferentes grupos de atores sociais e a participação em diversos eventos, afim de buscar a articulação com várias instituições. Esta estratégia revelou-se muito eficiente e oportunizou levantar informações para o diagnóstico. A análise ora realizada diz respeito ao Paraná. Todos os dados foram cadastrados no SIBEA e classificados dentro de diversas categorias. Foram cadastradas 44 instituições; 7 cursos, 150 especialistas/educadores/pesquisadores e 92 atividades. Dentre os especialistas, 43 atuam no Ensino Médio e Fundamental, 41 em Órgãos Governamentais, 31 em ONG/OSCIP e 22 em Universidades. Constatou-se que grande parte destas atividades são realizadas na área urbana (56), estão voltados à conscientização e à sensibilização (77) e o tema mais trabalhados foi a conservação da natureza (71). Palavras-chave: educação ambiental, diagnóstico, Paraná, Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental - REASul, Sistema Brasileiro de Informação sobre Educação Ambiental e Práticas Sustentáveis - SIBEA. 2 - OBJETIVO
Promover um diagnóstico do estado da arte em Educação Ambiental (EA) no Paraná para fortalecer e ampliar formas de integração e articulação entre instituições, agentes e educadores ambientais e listas eletrônicas de comunicação e discussão. 3 METODOLOGIA O diagnóstico realizado, foi baseado nos dados coletados no período de outubro de 2002 à outubro de 2003, pela Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental (REASul), referente ao Estado do Paraná, e cadastrados no Sistema Brasileiro de Informação sobre Educação Ambiental e Práticas Sustentáveis (SIBEA), do Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), em um módulo do Sistema implantado no site da REASul. O SIBEA tem como objetivos: a) conhecer a realidade da educação ambiental no país e assim propor ações futuras; b) atender a Política Nacional de EA e sua regulamentação no que diz respeito à difusão de informação e conhecimentos sobre a questão ambiental e experiências locais e regionais bem sucedidas, para a multiplicação destas experiências; c) servir como instrumento de gestão dos programas e ações de educação ambiental. Tais objetivos convergem aos objetivos das redes de EA, sendo que a discussão desta idéia iniciou junto ao Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, elaborado durante a RIO-92, dispõe que: A Educação Ambiental requer a democratização dos meios de comunicação de massa e seu comprometimento com os interesses de todos os setores da sociedade. A comunicação é um direito inalienável e os meios de comunicação de massa devem ser transformados em um canal privilegiado de educação, não somente disseminando informações em bases igualitárias, mas também promovendo intercâmbio de experiências, métodos e valores. A informação é um elemento fundamental para análise do ambiente, e um dos maiores desafios dessa tecnologia é garantir o livre acesso às informações, como forma de autonomia na tomada de decisões e de participação na construção do futuro.
No que diz respeito à questão da integração ao processo educacional das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e do uso de rede, convém retomar o princípio geral explicitado por Belloni (1999) de que aquela só faz pleno sentido se realizada em sua dupla dimensão: como ferramenta pedagógica e como objeto de estudo. Segundo a autora, somente uma abordagem integradora que considere ao mesmo tempo estas duas dimensões (instrumental e conceitual; ética e estética) poderá dar conta da complexidade desta questão e propiciar condições para uma apropriação ativa e criativa destas, objetivando a formação do aprendiz ativo, criativo e crítico em relação às TIC, é a base também para uma educação para a cidadania. Entende-se, assim, que se pode estabelecer um ambiente de aprendizagem cooperativa virtual através do trabalho em redes. Dependendo de sua utilização como ferramenta pedagógica, as redes podem auxiliar os/as educadores/agentes ambientais que o utilizarem a transporem o nível da informação para o da construção de conhecimentos, utilizando esse saber para a organização de projetos de EA voltados à abordagem dos problemas ambientais da própria escola e das comunidades na qual ela está inserida, utilizando as TIC e ambientes de aprendizagem virtuais como suporte. O diagnóstico iniciou-se com uma fase preliminar, quando foi realizado um levantamento e a seleção de diversas instituições e educadores através de bancos de dados contidos na ECOLISTA (MATER NATURA, 1996), no Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas (CNEA), no Conselho Estadual de Meio Ambiente (CEMA/PR), na Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental (CINEA), no Núcleo de EA do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (NEA-IBAMA) de Curitiba. Foram utilizada também as listas de participantes do Grupo de Estudos em Educação Ambiental (GEEA), do Encontro Rede de ONGs Mata Atlântica 1º Encontro Paranaense, da oficina Projetos em Educação Ambiental e Educação para a Cidadania (promovida pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná - SEED), da reunião preparatória do V Encontro Paranaense de EA (realizada na Universidade Livre do Meio Ambiente - UNILIVRE), do Curso de Educação Ambiental à distância, realizado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e ainda das pessoas cadastradas na lista de discussão EA - Paraná.
A 2ª fase concretizou-se através da efetivação dos contatos via telefone e/ou e-mail e envio dos formulários de diagnóstico padrão SIBEA (Conhecendo Instituições; Conhecendo Atividades; Conhecendo Cursos; Conhecendo Educadores/Pesquisadores Anexo 1), utilizando-se o meio eletrônico e Correio. O pequeno retorno de informações fez com que a equipe repensasse a forma de fazer o levantamento de dados e, em maio de 2003, estabeleceu-se a estratégia de realizar reuniões presencias em micro-regiões com diferentes grupos de atores sociais. Além disso, a equipe começou a participar de eventos (encontros, seminários etc.), com o intuito de articular/contactar Instituições Públicas e Privadas, Instituições de Ensino e ONGs. Esta estratégia revelou-se muito eficiente pois oportunizou colher as informações necessárias ao cadastramento, além de evidenciar os benefícios e o trabalho de cada pessoa ou instituição quando ocorre uma integração à uma rede ou estes disponibilizam suas informações em um banco de dados como o SIBEA. A inclusão das informações inseridas no SIBEA foi realizada pela equipe técnica do MATER NATURA, bem como diretamente pelas pessoas contatadas, no caso do acesso on line dos formulários do SIBEA disponibilizados pelo site da REASul. A 3º fase consistiu no tratamento das informações inseridas, sendo estas classificadas dentro de diversas categorias (tabela 1). Os dados inicialmente foram computados conforme a abrangência de cada um dos escritórios regionais do Instituto Ambiental do Paraná IAP, com o intuito de se ter uma amostragem mais específica. No entanto, uma vez que se obteve um grande número de cadastros para as regionais do Litoral e de Curitiba (incluindo Região Metropolitana) e poucas para as demais, optou-se por fazer a análise final dos dados classificando-os somente em 3 regionais: Regional do Litoral, Regional de Curitiba e Regionais do Interior. 4 - CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA Esse diagnóstico torna-se fundamental não só para conhecer problemas locais, mas, também para o aprendizado, buscando a construção de uma sociedade sustentável. Para essa transformação faz-se necessário a (re)construção da consciência humana em relação a sua inserção na natureza, e a conseqüente mudança de atitudes e valores no que diz respeito às complexas interações entre o
ser humano, sua cultura e a natureza em que se insere. Foram cadastradas 44 instituições, (07 da Regional do Litoral, 15 do Interior e 22 de Curitiba figura 1), sendo que ONGs (13) e os órgãos públicos (12), constituídos principalmente das Secretarias Municipais de Meio Ambiente, foram os que apresentaram o maior número de registros. Analisando-se os tipos de ações destas instituições constata-se que a maioria desenvolve atividades voltadas à sensibilização (36), mobilização (26) e capacitação para ensino não-formal (22). Cabe ressaltar que para este item havia possibilidade da instituição assinalar mais de uma opção nos formulários do SIBEA. De um total de 92 atividades cadastradas (figura 2), 61 foram classificados como projetos, 18 como programas e as demais (10) foram divididas entre encontros/seminários, campanhas ou outro tipo de atividade e a maioria das ações (56), são realizadas na área urbana. O público-alvo destas atividades constituiu-se principalmente de alunos do Ensino Fundamental (47), do Ensino Médio (32), da Educação Infantil (17) e professores (23) e, o que demonstra que a grande maioria está voltada para a EA formal. A grande maioria destas atividades envolve processos de conscientização e sensibilização (77) e os temas mais trabalhados foram: conservação da natureza (71), educação (37), problemas ambientais urbanos, como lixo(27), cidadania (19), entre outros. Notou-se que não foram cadastrados projetos voltados à pesquisa em EA, podendo este fato ser reflexo de poucos cadastros de universidades/faculdades do estado. Quando se analisou as atividades desenvolvidas em relação à sua área de abrangência, constatou-se que 65,52% apresentam abrangência local, 19,54% abrangência regional e as demais com abrangência regional ou nacional. Analisando-se os objetivos das atividades cadastradas, pode-se constatar que 63,22% destas atividades são pontuais, isto é, não promovem suas ações de forma articulada e organizada, com resultados mais duradouros do que as campanhas realizadas em datas ecológicas (Semana do Meio Ambiente, Dia da Árvore, por exemplo). Este é um dado preocupante, uma vez que o processo educativo produz efeitos e mudanças significativas somente por meio de ações e programas de médio e longo prazo. Percebeu-se que há falta de uma articulação interinstitucional, pois muitas
instituições trabalham localmente, realizando seus projetos e ações em nichos sem integração ou participação efetiva na interação com outras instituições e redes de educação ambiental. O público-alvo constituiu-se principalmente de alunos do Ensino Fundamental (47), alunos do Ensino Médio (32), professores (23) e alunos da Educação Infantil (17), o que demonstra que a grande maioria dos projetos são voltados para a EA formal. A grande maioria destas atividades (77) envolve processos de conscientização e sensibilização e os temas mais trabalhados são a conservação da natureza (71), educação (37), problemas ambientais urbanos (em especial o lixo) (27), cidadania (19), entre outros. Obteve-se 150 registros de especialistas/educadores/pesquisadores (figura 3), destes 43 atuam no Ensino Médio e Fundamental, 41 em Órgãos Governamentais, 31 em ONGs/OSCIPs e 22 em Universidades, dentre outros, como mostra o gráfico 2. A grande maioria deste profissionais são formados em Biologia (46), seguido de Pedagogia (14) e Geografia (10), mas outras áreas como administração, designer, jornalismo, engenharias, filosofia etc. compuseram este quadro. Com relação à participação em redes constatou-se que 74 profissionais participam de redes (sendo 23 de redes de EA e 37 de outras redes), e 76 não participam de nenhuma rede. Este é um dado interessante, pois a grande maioria dos cadastrados são aqueles que têm acesso à internet, no entanto, somente cerca da metade participa de algum tipo de rede. Também indicam que a cultura de redes ainda é pouco difundida no estado. No que diz respeito às principais demandas identificadas pelo es educadores/ especialistas/pesquisadores, em relação à EA, a mais apontada foi a Capacitação em EA (82) seguidas de Capacitação de Gestores e Capacitação para formadores de opinião, com 52 indicações cada uma; Geração de indicadores em EA (39), além de Financiamento de projetos (37) e Programas e Atividades em EA (19). Foram cadastrados somente 7 cursos (figura 4), sendo a maioria (5) do interior do Estado e caracterizados como não acadêmicos, isto é, desenvolvidos por ONGs/OSCIPs ou associações. A abordagem destes cursos concentrou-se em Capacitação para Professores e Capacitação da Comunidade para Sustentabilidade e tiveram como público-alvo professores do Ensino Fundamental e
Médio (4). Apesar de pouco representativo, a análise destes dados indica que temse desenvolvido um esforço para a capacitação de educadores. No entanto, este ainda é pequeno em relação às reais necessidades, visto que esta ainda é a principal demanda apontada pelos profissionais da área (com 186 registros). Este levantamento assume características de uma pesquisa-ação na educação, e particularmente na EA, ou seja, configura-se como um processo dinâmico em constante progressão: pesquisa => produção => conhecimento -, ou, como afirma Demo (1989), uma atividade pela qual "descobrimos a realidade", partindo do pressuposto de que a realidade não se desvenda superficialmente. A etapa de diagnóstico da situação ambiental ou de questões locais é fundamental para identificar os problemas e para que os atores sociais planejem projetos e ações efetivas para a sua solução ou minimização; processo necessário à construção coletiva de sociedades sustentáveis (DIEGUES, 1996), o qual passa, necessariamente, pela (re)construção da consciência humana em relação a sua inserção no meio natural e social e a conseqüente mudança de atitudes e valores, no que diz respeito às complexas interações entre o ser humano, sua cultura e a natureza em que se insere (GUERRA & TAGLIEBER, 2003). 5 - REFERÊNCIAS BELLONI, M. L. Educação à distância. Campinas: Autores Associados, 1999. BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Tratado de Educação Ambiental. Disponível na internet: <http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/tratea.cfm>. Jan. 2003. DEMO, P.. Pesquisa: princípio científico e educativo. 2. ed.. São Paulo: Cortez, 1989. DIEGUES, A. C. O Mito Moderno da Natureza Intocada. São Paulo: Hucitec, 1996. GUERRA, A. F. & TAGLIEBER, J. E. A inserção da educação ambiental no currículo: O olhar dos pesquisadores de um Programa de Mestrado em Educação. REUNIÃO ANUAL DA ANPED. (25., 2003). Anais eletrônicos. Poços de Caldas: ANPED, 2003 (1 CD ROM). MATER NATURA - Instituto de Estudos Ambientais. ECOLISTA - Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas. Org. Paulo Aparecido Pizzi. Curitiba: WWF, 1996 Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental - REASul. Disponível na internet:
<http://www.reasul.univali.br.
6. ANEXOS CATEGORIAS DESCRITORES 1. INSTITUIÇÕES 1.1 TIPO: associações, ONGs/OSCIPs, órgãos públicos, fundações privadas, fundações públicas, universidades, escolas de ensino fundamental, escolas de ensino médio, empresas, cooperativas, outros. 1.2 ÁREA DE ABRANGÊNCIA: mobilização, capacitação para o ensino formal, sensibilização, capacitação para o ensino não formal; boletim informativo, música e/ou manifestações culturais, outras. 1.3 ÁREA DE PARTICIPAÇÃO: redes de EA, comitês de bacias hidrográficas, conselhos de meio ambiente, comissões, fóruns e câmaras de EA, outras. 2. EDUCADORES/ PESQUISADORES/ ESPECIALISTAS 2.1 TIPO DE INSTITUIÇÃO EM QUE ATUAM: universidades, ensino fundamental, ensino médio, órgão governamental, empresas, ONGs/OSCIPs, associação comunitária, fundações públicas, fundações privadas, outros. 2.2 FORMAÇÃO ACADÊMICA: ensino médio, graduação, especialização, mestrado, doutorado. 2.3 ÁREA DE ATUAÇÃO: associação comunitária, movimento de base, ensino superior, educação infantil, ensino médio, ensino fundamental, melhor idade, educação não formal, empresa, sindicato, consultoria, povos indígenas/populações tradicionais, órgão governamental, organização não governamental. 2.4 ÁREA DE PARTICIPAÇÃO: conselhos de meio ambiente, comissões e câmaras técnicas de EA,
fóruns, comitês de bacias hidrográficas, movimentos de base, redes de EA, lista de discussão, outras. 2.5 DEMANDAS: capacitação de gestores, capacitação em EA, capacitação específica para formadores, geração de indicadores de EA, financiamento de projetos, programas e atividades em EA. CATEGORIAS DESCRITORES 3. ATIVIDADES 3.1 TIPO DE ATIVIDADE: programa, projeto, pesquisa, campanha, encontro/seminário/congresso, outros. 3.2 TEMAS ABORDADOS: conservação em geral, conservação de ecossistema específico, conservação de uma espécie de fauna/flora, problemas ambientais urbanos, lixo/esgoto, ar, água, educação, sensibilização, conscientização, problemas sociais, alternativas de produção, sustentabilidade, unidade de conservação (UC), agenda 21, cidadania, empoderamento da comunidade, resgate cultural. 3.3 ABRANGÊNCIA DA ATIVIDADE: local, estadual, regional, nacional. 3.4 ÁREA DE ATUAÇÃO: urbano, rural, natural. 3.5 PÚBLICO-ALVO: movimento de base (associações comunitárias, sindicatos), ensino superior, educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, professores, melhor idade, empresa, povos indígenas/populações tradicionais, órgão governamental, comunidades, ONGs/OSCIPs, outros. 3.1 CURSOS 3.1.1 TIPO DE CURSO: não acadêmico, extensão, graduação, especialização, mestrado, doutorado. 3.1.2 ABORDAGEM: capacitação de professores em EA, capacitação da comunidade para a sustentabilidade, associativismo para o fortalecimento das comunidades. 3.1.3 PÚBLICO-ALVO: movimento de base (associações comunitárias, sindicatos), ensino superior,
Tabela 1: Categorias de classificação para os dados coletados. educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, professores, melhor idade, empresa, povos indígenas/populações tradicionais, órgão governamental, comunidades, ONGs/OSCIPs, outros.