(b) entressafra Entreaberto Entrecortado Entredizer Entrenó Entreolhar-se Entrepor Entreouvir Entrevista Entreposto
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- Amadeu Manuel Rios Guimarães
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1 34 5 Avaliação das discussões no corpus proposto Neste capítulo, vamos analisar dados do nosso corpus a partir das propostas: (1) postulação de variantes de uma mesma forma, isto é, postulação da análise de formas (prefixos, preposições, etc.) como homônimas; (2) postulação de formas combinatórias, isto é, formas que apresentam comportamento determinado e previsível, colocandose como iniciais ou finais em combinações de base presa. Em relação à proposta (1) destacamos os vocábulos que apresentam o mesmo morfema em sua estrutura: (a) contrabando contrário contrabaixo contra-ataque contramestre contracepção contrapeso contracheque contramão contraproposta contrabalançar (b) entressafra Entreaberto Entrecortado Entredizer Entrenó Entreolhar-se Entrepor Entreouvir Entrevista Entreposto (c) sobrecarta sobreaviso sobrenome sobrenatural sobremesa sobretudo sobrevivente sobrevoar sobreloja sobrecarga Ao visualizar essas formações, tomamos a atitude de classificá-las primeiramente como prefixações, já que são constituídas por um elemento inicial que se classifica como prefixo nas gramáticas e nos manuais de ensino. Contudo, não podemos afirmar que todas as formações dos grupos apresentam as mesmas características quanto à carga semântica dos afixos. No grupo (a), por exemplo, contra- em contramestre, contracheque e contrabalançar não demonstra o mesmo significado de contra-ataque, contracepção e contramão. Nesses últimos vocábulos é clara a análise do afixo com sua significação usual, que é ação contrária, oposta, ou seja, realmente nesses casos contra-, apresenta seu papel de prefixo com clareza: contra-ataque é um ataque em ação contrária, contraproposta é algo que vem ser contra uma proposta, uma proposta oposta, ou em resposta, a anterior e contramão é a mão de
2 35 uma via em sentido oposto. Nos primeiros exemplos - contramestre, contracheque e contrabalançar - não é viável classificar o elemento como prefixo que carrega o sentido de ação contrário, oposta. Contramestre, não é um mestre que é contra algo, mas o mestre que vem ajudar, auxiliar o mestre principal no serviço. Contracheque também é um exemplo de não-uso de contra- como elemento significativo de ação contrária, contracheque é um documento em que se declara o salário de um empregado e não um cheque contrário e contrabalançar, por sua vez, não é balançar contrário, é equilibrar, igualar o peso. No grupo (b) o mesmo acontece. Entre-, quando tomado como prefixo, tal qual a sua preposição, apresenta o significado de posição medial. Em entressafra, entreaberto e entrepor, percebe-se essa significação nas formações. Entretanto, nas palavras entrevista, entredizer e entreolhar-se não há esse sentido de entre-. Entredizer e entreolhar-se oferece o sentido de reciprocidade, enquanto que entrevista perdeu a origem do significado de entre- tanto preposicional quanto de reciprocidade, atribuindo o valor de conferência, conversação com alguém a fim de obter informações. O grupo (c) também sofre essa diferença de significado do afixo. Sobrenome, sobrevoar e sobreloja apresentam a significação do prefixo como lhe é atribuído, posição acima, no espaço ou numa escala, posição anterior. Em sobrenatural, sobrevivente e sobrecarga, no entanto, isso não acontece. Nesses vocábulos não há noção de posição, mas um sentido diferente, que atribui intensidade, excesso, com a idéia de além de (além do natural, excesso de carga e em sobrevivente aquele que vive além de alguma circunstância). Ao recorrermos a Amiot (2005), podemos afirmar que, dentre as características principais da autora para diferenciar os prefixos dos elementos formativos, encontramos o fato de que os elementos entre-, sobre- e contra-, conforme comentado, apresentam ao menos um significado diferente da preposição homomórfica. Outro fator é que esses morfemas formam não só nomes de nomes o que vem a ser uma característica específica dos elementos que mantêm as propriedades das preposições a que se originam formando adjetivo de adjetivos (sobrenatural e sobrevivente) e verbos de verbos (entreolhar-se e entredizer); além dos significados serem endocêntricos (entredizer é dizer, entreolhar-se é olhar, contramão também significa mão, no que se refere ao
3 36 trânsito, contra-ataque é um ataque). Com tais características, dessa forma, esses elementos devem ser classificados igualmente aos seus relativos no francês (contre-, entre- e sur-), ou seja, como prefixos reais e não elementos formativos. Ao usarmos os critérios de Amiot para classificar esses itens, não temos mais divergências em relação ao uso desses elementos demonstrarem aspectos semelhantes a de bases, como certa autonomia e até mesmo o uso de alguns como um elemento central/núcleo de uma formação, como contra em contrário. Definindo contra-, entre- e sobre- como prefixos reais, não podemos duvidar de sua função de afixo, pois o maior questionamento estaria no fato de esses morfemas apresentarem idiossincrasias que os distinguiria dos outros prefixos (in-, pré-, trans-, ante-, per- etc.), como um significado diferente da preposição, o que, no estudo de Amiot seria, na verdade, uma das características para a confirmação do item ser um prefixo real. Em relação ao item (2), as formas combinatórias de Warren, agrupamos as seguintes palavras para discussão: (d) agricultura Aeromoça Biodíesel Bípede Bisavô Cinerama Demagogo Eco-feira Fotofobia Geografia Hidrofobia Homicida Macroeconomia Megalomaníaco Micro-chip Minissaia Monólogo Multifaces Neurologia Pseudointelectual Pedagogo Psicologia (e) aerofagia Antropofagia Demagogo Febrífugo Geografia Hipódromo Hidrofobia Homicida Monólogo Neurologia Pedagogo Psicologia Velódromo vermífugo
4 37 O grupo (d) apresenta em sua formação elementos que tendem a estar na posição inicial de um vocábulo e os do grupo (e) os elementos tendem a aparecer na posição final, o que seria para Warren as do grupo (d) as formas combinatórias iniciais e do grupo (e) as formas combinatórias iniciais, ficando assim divididas para melhor visualização: FCI Agri, aero, bio, bis, cine, dema, eco, geo, hidro, macro, mega, micro, mini, mono, multi, pseudo, psico FCF Fagia, gogo, fugo, fobia, grafia, dromo, cida, logo, logia Lembrando que, de acordo com Warren, as formas combinatórias são as que podem ocorrer tanto em compostos quanto em derivados. Essas formas vêm responder o fato de existirem itens na composição que se comportam como prefixos, que seria o caso das FCIniciais e as que se comportam como sufixos, que seriam as FCFinais. A proposta de Warren vem resolver esse fato, colocando a forma combinatória como solução para esse impasse. Não é necessário buscar um enquadramento desses morfemas como prefixo ou como radical; as FCs constituem um grupo a parte. Sendo assim, as formações classificadas como formações de base presa são aquelas que fazem uso das formas combinatórias. A autora ainda declara que FCs iniciais podem se ligar a FC finais (biologia, biólogo, biografia, demagogia, demagogo). Não ocorre tal semelhança entre os afixos *hiperecer, *antieza. Os afixos são formas gramaticalizadas e não semanticalizadas, enquanto que as FCs são o contrário, semânticos mas não gramaticais. Formando-se, então, o seguinte quadro de características: Característica afixos Radicais FC Semânticos Gramaticais Lexicais - + +
5 38 O interessante na nossa avaliação é que os itens analisados apresentam realmente características de não serem gramaticalizados, ou seja, eles não apresentam características de atribuírem classificação gramatical, serem lexicalizados e necessitarem serem combinados a outros para completarem o sentido na língua, ou seja, não são semanticamente plenos. Tal qual às soluções de Basílio e Amiot, que fugiram das limitações dos estudos até então realizados, sobre prefixos e preposições constituírem formas homônimas, aqui também se oferece uma alternativa: já que as formas combinatórias não são nem radicais nem afixos, mas morfemas que permeiam o caminho desses dois elementos, a formação produzida exclusivamente por elas pode ser caracterizada de formação por combinação, uma vez que se formam por FCs e não por derivação ou composição. Já quando a formação é feita por uma forma combinatória e uma base, opta-se por classificá-la como uma composição, uma vez que há pelo menos uma base semanticamente completa que ajudará a FC a fazer uso mais de suas características de radical, de suas atribuições semânticas e lexicais na formação: sociolingüística e agro-negócio, por exemplo. A autonomia dos elementos que aparecem na segunda posição permite que se classifique como composição a estrutura, porém, sendo os dois itens não-bases, mas FCs, teríamos uma combinação.
(1974). Segmentação e classificação de morfes. In: Cadernos de Lingüística e Língua Portuguesa. Série Letras e Artes. Cadernos da PUC/RJ. Nº15.
41 7 Referências Bibliográficas ALI, M. Said (1966). Gramática Histórica da Língua Portuguesa, 6ª edição, São Paulo: Melhoramentos. AMIOT, Dany.(2005) Between compounding and derivation: Elements of wordformation
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