Descoberta identidade

Transcrição

1 Descoberta identidade do segundo beneficiário das transferências de Rosalina Caso Feteira Acusação do Ministério Público brasileiro diz que os desvios de dinheiro estiveram na origem do crime de que é acusado Duarte Lima ROSA RAMOS rosa. Além de Duarte Lima, uma outra pessoa terá sido beneficiada pelas transferências milionárias de Rosalina Ribeiro, logo a seguir à morte de Lúcio Tomé Feteira Em 2001, e no espaço de três meses, a ex-secretária do empresário de Vieira de Leiria terá transferido 9 milhões de euros das contas de Feteira na Suíça. Desse montante, mais de 5 milhões terão ido para o advogado Duarte lima O restante dinheiro terá sido dividido em duas transferências - uma (a primeira de todas) a 11 de Março de 2011 e outra a 24 de Abril, no valor de 1,1 milhões. A denúncia das movimentações de dinheiro partiu da filha de Lúcio Tomé Feteira - porque a distribuição da herança do milionário ainda não tinha sido resolvida -, que cedeu às autoridades portuguesas e brasileiras cópias dos extractos do banco suíço ÜBS, uma das instituições onde o empresário guardava o dinheiro. O misterioso segundo titular das transferências, diz Olímpia Feteira de Menezes, "já foi encontrado", mas a herdeira não quer adiantar mais pormenores sobre a identidade do beneficiário. "São assuntos relacionados com o Brasil e que a investigação das autoridades se encarregará de apurar", limita-se a dizer. De qualquer forma Duarte Lima é, como i adiantou em Junho, o único arguido no processo que corre no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), resultante de uma queixa de Olímpia sobre os alegados desvios de dinheiro na Suíça. A primeira transferência de Rosalina recua a 11 de Março de para o tal titular mistério. Só depois terão começado as movimentações para Duarte Lima A l

2 que anos depois de ver o pai morrer de cancro, tornou-se organista na Sé de Bragança. Com 1 6 anos dava explicações para comprar colecções de selos. Aos 18 mudou-se para Lisboa para acabar o liceu e empregou-se numa imobiliária de um tio. Tirou o curso de Direito na Universidade Católica com a ajuda de uma bolsa. É nessa altura que conhece Angelo Correia, do PSD. Nos últimos anos, Duarte Lima raramente foi visto na terra natal. A acusação afirma que Duarte Lima terá assassinado Rosalina por dinheiro TIAGO PETINGA/LUSA Prisão até 30 anos por homicídio A Procuradoria-Geral da República (PGR) adiantou ontem ao i ainda não recebeu "qualquer pedido oficial do Brasil", mas que já contactou "a Procuradoria- Geral" brasileira. Teoricamente, o ex-deputado poderia ser julgado em Portugal, até porque se trata de um crime cometido por um português contra uma cidadã portuguesa. Bastaria para isso que o processo fosse remetido ao Ministério Público (MP). O problema, explicam os especialistas ouvidos pelo i, é que isso implicaria "que fosse produzida nova prova na justiça portuguesa" - o que poderia ser um processo moroso e difícil para a acusação. Por isso, essa hipótese é pouco provável. Duarte Lima deverá mesmo ser julgado no Brasil, com a sua presença ou à revelia. Tendo em conta que Portugal não tem acordo de extradição com o Brasil, o ex-deputado corre maiores riscos num país estrangeiro que em Portugal. Se for condenado no Brasil e estiver em Portugal, a justiça brasileira poderá, em teoria, pedir que a sentença seja "repetida" em Portugal, no Supremo Tribunal, para que depois se proceda à detenção do advogado. No Brasil, Duarte Lima arrisca uma pena de prisão entre 1 2 e 30 anos, por homicídio qualificado.

3 Duarte Lima. As "casas cheias" e as ligações a offshores Duarte Lima terá feito negócios na área do imobiliário com recurso a uma empresa constituída na Suíça por advogados uruguaios Duarte Lima gosta de passar férias na Quinta do Lago, no Algarve, numa casa que diz, recorrentemente, não ser sua. Porém, o i apurou que a habitação, construída por um arquitecto estrangeiro, foi decorada pela ex-mulher do advogado e estará em nome de uma empresa offshore. Uma boa parte dos negócios do ex- -deputado na área do imobiliário, contou ao i fonte ligada a várias investigações levadas a cabo ao seu património, foram realizadas através da Cosmatic Properties, Ltd. A empresa foi constituída na Suíça, em 1994 ou 1995, através de um gabinete de advogados do Uruguai com sede nas ilhas Virgens Britânicas. Em Lisboa, os jantares que Duarte Lima dava na sua casa da Avenida Visconde de Valmor (que ultimamente deixaram de acontecer) tornaram-se famosos. Por lá passaram convidados como João Rendeiro, Manuel Maria Carrilho ou Ricardo Salgado. Só a decoração da casa, adiantava a revista "Sábado" no final do mês passado, terá custado qualquer coisa como 705 mil euros. Mas a riqueza de Duarte Lima levantou sempre dúvidas. Em 2005, quando voltou a ser deputado, eleito pelo PSD, declarou um rendimento anual de 441 mil euros. Quando deixou o cargo, em 2009, declarou 232 mil, além de 207 mil euros num PPR. Poucos meses antes da nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN), Duarte Lima tinha uma dívida de 5,9 milhões de euros ao banco, depois de ter pedido um empréstimo de 6,6 milhões de euros, atribuído sem qualquer garantia em troca. A seguir à nacionalização, o advogado foi obrigado a penhorar as obras de arte que tinha comprado com o empréstimo. Contudo, só em 2011 corrigiu as declarações de rendimentos de 2005 e de onde estes factos não figuravam. Duarte Lima terá omitido também bens de valor superior a 1,5 milhões de euros em acções (da Sociedade Lusa de Negócios, proprietária do BPN) e aplicações financeiras. Antes de ser deputado, em 1983, Duarte Lima tinha um rendimento equivalente a 265 euros por mês. Em Dezembro de 1994, "O Independente" noticiava em manchete que o advogado fugia ao fisco ("Casa Cheia"). Duarte Lima chegou a renunciar ao lugar no parlamento e a pedir uma auditoria às suas contas. O caso foi arquivado em 1997, mas o Ministério Público teria apurado que entre 1986 e 1994 Duarte Lima depositara nas suas contas mais de 5 milhões de euros, um quarto em numerário. Margarida Bon de Sousa e Rosa Ramos Duarte Lima foi investigado por fugas ao fisco e renunciou ao lugar no parlamento

4 O crime Duarte Lima diz que deixou Rosalina Ribeiro em Maricá com uma mulher chamada Gisele, mas a polícia pensa que o advogado nunca esteve nesse local e baseia a tese da acusação em várias multas por excesso de velocidade. 5 de Dezembro de 2009 o ex-deputado aterra no Brasil, em Belo Horizonte, e aluga um carro à empresa Locacar. A polícia estranha que o advogado não voe directamente para o Rio de Janeiro e prefira fazer 460 quilómetros de carro até lá. 21 h3b Lê-se na acusação que Duarte Lima foi detectado em excesso de velocidade ao quilómetro 28 da estrada 1 06, a caminho de Saquarema. 22h00 Hora a que a polícia brasileira diz que Duarte Lima terá assassinado Rosalina Ribeiro, em Saquarema, "de forma livre e consciente, com vontade de matar". 6 de Dezembro. Duarte Lima, lê-se na acusação, marca um encontro com a cliente Rosalina Ribeiro para o dia seguinte e sai de Belo Horizonte com destino ao Rio de Janeiro. No caminho é multado por excesso de velocidade às 1 7h07. 7 de Dezembro, 20h00 O advogado vai buscar Rosalina Ribeiro à esquina do quarteirão onde a cliente vivia. Dois minutos antes, a ex-secretária de Lúcio Tomé Feteira descia no elevador do seu apartamento na Praia do Flamingo, número h37 O ex-deputado é novamente identificado nos radares por excesso de velocidade quando, diz a polícia, conduzia em sentido contrário (desde Saquarema). 23h19 Duarte Lima, diz a polícia brasileira, é novamente detectado em excesso de velocidade. Desta feita no Túnel Rebouças, no centro da cidade do Rio de Janeiro.

5