REVOLUÇÃO RUSSA: CRÍTICA E AUTOCRÍTICA
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- Luiz Guilherme Malheiro Minho
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1 BPI Biblioteca Pública Independente MAL-BH Movimento Anarquista Libertário REVOLUÇÃO RUSSA: CRÍTICA E AUTOCRÍTICA CEADP (Coletivo de Estudos Anarquistas Domingos Passos) Niterói, novembro de Não podemos passar sem uma análise da Revolução Russa e das Contra-Revoluções que a dissolveram, seus fracassos e vitórias, sem criticar os militantes e ideologias envolvidas. Um primeiro passo de análise seria o processo de construção da Revolução, e dois pontos importantes seriam a organização de base na marinha russa e a organização de base também do operariado especialmente através dos conselhos, sovietes, ocorrendo ambos principalmente a partir da província de Petrogrado. Outro passo seria estudar melhor a revolução de fevereiro, que é considerada muitas vezes de forma extremamente simplista apenas em seu caráter burguês, não analisando as conseqüências desta revolução em relação à perda de autoridade da Estrutura Estatal, que a burguesia aparentemente tinha poucas forças para manter, e em relação à ação direta promovida pelo próprio povo através de inúmeras expropriações de campos e fábricas e da ressurgência dos sovietes. As revoluções de fevereiro e outubro são ambas parte de um mesmo processo que não está simplesmente protagonizado por alguns partidos políticos, mas por uma grande reorganização social e mobilização popular. Devem ser lançadas as críticas mais ferrenhas seja a Socialistas de Esquerda, Bolcheviques, Mencheviques ou Anarquistas. Não são
2 apenas os bolcheviques que devem ser responsabilizados pelos rumos da revolução, mas também muitos anarquistas, por omissão. Na Rússia desse período os anaquistas estavam muito mal organizados, além de serem poucos, mas tinham um campo bastante fértil. Por exemplo, o trabalho de uma meia dúzia de anarquistas na Ucrânia, por estarem dispostos e organizados, rendeu uma cadeia de vitórias revolucionárias pouco vistas na história. A formação de um exército insurgente revolucionário, formado pelos próprios campesinos e operários em armas, uma série de expropriações e de ocupações de campos e fábricas e uma construção buscando o máximo de horizontalidade deram tom à experiência provavelmente mais revolucionária durante todo aquele processo. Mas em geral, parte significativa das tendências ácratas das organizações populares como do operariado, do campesinato ou da marinha em momentos de maior tensão com a Estrutura Estatal, mantida posteriormente a outubro pelos bolcheviques, era resultado menos do trabalho de anarquistas e muito mais do próprio desenvolvimento da luta de classes, quando as classes trabalhadoras, conscientes de seu protagonismo, conflitavam com os interesses de Estado dos bolcheviques, que buscavam manter o Poder Político de decisão e da violência nas mãos de uma nova classe dirigente. Nela figuravam Lenin, Trotsky, Stalin, Zinoviev e outros membros do Comitê Central. Se tornava cada vez mais claro o conflito de interesses entre o Comitê Central e as classes trabalhadoras. Surgia um novo conflito, uma nova luta entre Revolução e Contra-Revolução, entre as classes trabalhadoras e exploradas e a nova classe dirigente. A revolução de outubro, protagonizada pelos trabalhadores, peca ao não destruir definitivamente a Estrutura Estatal opressora, mas sim entregá-la nas mãos de seus futuros novos carrascos. Os conflitos posteriores se dão claramente em dois níveis. Um conflito de ambas partes, trabalhadores e dirigentes, contra a reação, seja burguesa ou csarista. E outro entre as classes trabalhadoras e a nova burocracia estatal. É importante frisar que ainda não estamos falando de estalinismo, mas de um período em que os bolcheviques
3 têm como grande mentor intelectual o próprio Lênin, tão idolatrado até os dias de hoje. Outra figura desse período que até hoje se mantêm por traz de uma máscara é um dos grandes responsáveis pela formação da polícia secreta russa, a Tcheka, e é mais conhecido como León Trotsky. Uma de suas façanhas foi formar o exército vermelho, que tão bravamente lutou contra a reação dos brancos. Com essa mesma façanha criou a estrutura interna militarizada, policialesca e alienante que permitiu a parte significativa do mesmo exército se jogar contra o próprio povo. Foi com esse mesmo braço armado sem cérebro próprio, mas com o cérebro de um Comitê Central, obviamente alheio aos anseios populares, que Trotsky reprimiu os operários de Moscou, Petrogrado, e a Terceira Revolução, verdadeiramente operária, em Kronstadt, e operários de outras grandes cidades que lutavam pelo direito ao pão e por participar e decidir dentro dos sovietes que eles mesmos criaram, e que agora eram dominados militarmente pelos bolcheviques. Foi assim que reprimiu os marinheiros que lutavam pelo direito de apontar os próprios oficiais, revogáveis, e que agora o Comitê Central queria apontar. Foi assim que reprimiu as organizações camponesas que lutavam por autonomia, igualdade, terra e liberdade. Foi assim que derrotou a Revolução na Ucrânia. A crítica e auto-crítica se impõem. A crítica segue pela tomada e manutenção da Estrutura Estatal, fundada sobre o monopólio do poder e da violência, fundada sobre a manutenção da estrutura histórica de opressão e portanto de desigualdade, oferece todas as condições para a Contra-Revolução. A ideologia fundada sobre a tomada do poder estatal se coloca em cheque, tanto na teoria como na prática. Na teoria a trágica profecia de Bakunin, quanto à manutenção de um Aparato Estatal prevista por Marx como um passo rumo à Revolução Social, mas que Bakunin acusa como um passo contra-revolucionário, que cria uma nova sociedade de classes. Bakunin defende a destruição total do Estado, sendo a Revolução Social levada até o fim. Na prática, através da experiência bolchevique, e a formação real e sinistra de uma nova sociedade de
4 classes, de uma enorme renovada diferença social, e de uma opressão tão nefasta quanto a de outros regimes totalitários contemporâneos. Parte significativa da política no mundo se vê entre duas opções, ambas abomináveis, o capitalismo e o totalitarismo. Não existem totalitarismos de esquerda e direita, ambos são extrema-direita se utilizamos esse tipo de classificação, assim como o sistema capitalista. A auto-crítica segue em relação à derrota dos partidários da Revolução Social construída pelo próprio povo, sejam eles elementos anarquistas, entre os quais muitos se omitiram quanto a construção de uma alternativa política aos bolcheviques, ou os movimentos sociais que protagonizaram todas as experiências revolucionárias na Rússia, mas que entregaram o ouro ao bandido. Procurando a crítica e auto-crítica no sentido construtivo podemos nos utilizar de referências práticas e teóricas. Em relação ao anarquismo o fracasso da revolução gera uma série de debates em todo o mundo em torno da auto-organização como única forma de libertação do povo da tirania e da desigualdade. Algumas referências tanto teóricas como práticas são a Plataforma dos Comunistas Libertários, as obras de Nestor Makhno, de Errico Malatesta, e as experiências da FAI e principalmente da Coluna Durruti durante a Revolução Espanhola. No sentido dos Movimentos Sociais a referência segue pela histórica luta por autonomia e democracia direta. A derrota dos sovietes como instrumentos revolucionários se deu através do apoio que deram operários, marinheiros, soldados, artesãos e camponeses a uma direção externa no momento em que mais necessitava garantir sua direção própria, construída pelo próprio povo. A história se repete posteriormente em relação aos sindicatos, em que muitos perdem seu caráter revolucionário com a ascenção do populismo e dos Partidos Comunistas alinhados à URSS em todo o mundo. Para terminar, a teoria e a prática revolucionária não podem ser obra de um pequeno grupo se o que se pretende é a Revolução Social. A Revolução Social não é uma revolução para a minoria, e sim, para
5 todos que desejam o comunismo e a liberdade, elementos fundamentais para a justiça social, e portanto, deve ser obra dos mesmos. O Socialismo só pode ser alcançado se construído pelo próprio povo.
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