AS PINTURAS MURAIS INTERNAS DOS PRÉDIOS ECLÉTICOS PELOTENSES 1. INTRODUÇÃO
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- Victor Gabriel Carvalhal Fonseca
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1 AS PINTURAS MURAIS INTERNAS DOS PRÉDIOS ECLÉTICOS PELOTENSES FÁBIO GALLI ALVES 1 ; CRISTINA ROZISKI 2; CARLOS ALBERTO AVILA SANTOS 3 1 UFPEL fabiogallirestauro@uol.com.br 2 IFSUL crisroz@hotmail.com 3 UFPEL betosant@terra.com.br 1. INTRODUÇÃO O trabalho desenvolve inventário das ornamentações pictóricas dos interiores de nove construções ecléticas pelotenses, com funções privadas, públicas e semipúblicas. De uso originalmente privado são as antigas residências: de Alfredo Gonçalves Moreira, filho do Barão de Butuí; do Barão de São Luis; do Conselheiro Francisco Antunes Maciel; do Senador Joaquim Augusto Assumpção; da família Vidal. De uso semipúblico: o Clube Caixeiral; a Biblioteca Pública Pelotense; o Teatro Guarani. De uso público: o Paço Municipal. Os limites temporais da pesquisa são os anos de 1878 e A moradia do Conselheiro Maciel determinou a data inicial, o casarão da família Vidal definiu a data final. As técnicas referem-se às pinturas artísticas, às pinturas executadas com a técnica do estêncil, às escaiolas, à marouflage e aos efeitos em tromp l oeil. Esses bens integrados ao patrimônio edificado de Pelotas carecem de uma política clara e específica para a sua salvaguarda, para que não se percam esses testemunhos característicos do ecletismo historicista, que se desenvolveu na cidade entre os anos de 1870 e 1931 (SANTOS, 2007). Em arquitetura, o universo das artes decorativas e os temas que lhe são correlatos estão agregados às caixas murais às fachadas e às superfícies das paredes interiores das edificações. Dentre esses, nos interessa o estudo dos motivos, das técnicas e dos materiais utilizados nos diferentes procedimentos pictóricos. Esses bens expressam os valores econômicos, culturais, estéticos e ideológicos daqueles que idealizaram os prédios os proprietários, os construtores, os artistas e artesãos. Importa, ao observá-los, as diferentes técnicas utilizadas para a feitura dessas ornamentações, como também a aparência final de cada uma delas, posto que esses bens integrados à arquitetura incorporam intenções que transcendem o mero desempenho da função inculcada por sua forma, dando-lhes novos sentidos, sempre como marcas da cultura que os trouxe à luz. As Cartas Patrimoniais 1, elaboradas por organismos internacionais, divulgaram normativas criadas no âmbito da comunidade de especialistas da área, com o objetivo da preservação e da conservação dos monumentos considerados como patrimônio. No Brasil, a proteção do patrimônio cultural da nação foi efetivamente posta em prática com o decreto-lei n 25, de 30 de novembro de Porém, somente em 1977 foi tombado na cidade de Pelotas, o conjunto de casarões ecléticos 2, 6 e 8 que serviram como residências de Alfredo Gonçalves Moreira, filho do Barão de Butuí, do Barão de São Luis e do Conselheiro Francisco Antunes Maciel erguidos no entorno da Praça Coronel Pedro Osório. 1 A primeira foi a Carta de Atenas, redigida em 1931, durante o Congresso Internacional de Arquitetos Modernos/CIAM.
2 Em Pelotas, a proteção dos bens imóveis existe desde a promulgação da Lei n.4568, do dia 07 de julho de Aproximadamente, 22 edificações são tombadas, enquanto que o total de bens inventariados soma mais de 2000 exemplares. O Manual publicado pela Secretaria de Cultura municipal (SECULT) 2, responsável pelos tombamentos e pelos inventários dos prédios, garante a preservação total dos primeiros. Determina a salvaguarda das caixas murais dos bens imóveis inventariados, mas permite reformas nos interiores desses edifícios. Isso quer dizer que, menos de 3% do total de bens do Patrimônio Cultural pelotense têm a preservação de suas características interiores garantida por algum mecanismo legal. E, mesmo nas edificações que possuem proteção máxima aquelas tombadas, como o Grande Hotel observa-se que não há um critério claro ou específico para preservação dos bens integrados aos ambientes internos (CALDAS, 2013). O que decorre no desaparecimento desses elementos em reformas ou restaurações efetuadas nas edificações. 2. METODOLOGIA O inventário em desenvolvimento, como processo inicial do trabalho, pretende localizar, identificar, classificar e registrar as decorações murais, as técnicas e os materiais utilizados, os aspectos formais e estéticos destes bens integrados aos ambientes interiores dos prédios ecléticos estudados. Além do inventário, a investigação tem como instrumentos: a pesquisa bibliográfica em livros específicos da área; o registro fotográfico das diferentes ornamentações; a descrição das variadas técnicas e dos materiais utilizados; as leituras formal e iconográfica/iconológica desses elementos. Considera-se então, que o inventário é o primeiro e imprescindível método para o conhecimento das decorações pictóricas ainda existentes nos interiores dos prédios ecléticos pelotenses, para o reconhecimento dos valores dos mesmos e para a preservação desses bens integrados. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As ornamentações das superfícies das paredes interiores dos casarões analisados exploraram diferentes técnicas pictóricas. A seguir, discorreremos sobre cada uma delas. As pinturas artísticas eram efetuadas a mão livre pelo artista, in loco, representavam paisagens, naturezas mortas, alegorias e cenas mitológicas. Normalmente, os temas eram relacionados à função dos ambientes e completavam o conjunto da decoração. O uso da técnica do estêncil, com motivos decorativos repetitivos ou de preenchimento, complementavam a iconografia das pinturas artísticas, compondo frisos, medalhões e guirlandas, valorizando as criações ornamentais. As pinturas na técnica do estêncil utilizavam moldes feitos em fibra, papelão, papel, madeira fina, ou ainda em lâminas metálicas. Os motivos eram desenhados e recortados/vazados nesses materiais. Quando feitos com o papel ou o papelão, os moldes eram cobertos com camada de cola, para dar maior resistência ao instrumento. Depois, as máscaras eram fixadas à superfície mural e recebiam uma demão de tinta, para que o motivo fosse estampado na parede. Partindo de um desenho pré-concebido, as formas poderiam ser sobrepostas, compondo arranjos coloridos orgânicos, geométricos, antropomórficos, florais. 2 SECULT. Manual do usuário de imóveis inventariados. Pelotas: Nova Prova, 2008.
3 Sendo necessário um molde para cada demão de tinta que compunha a decoração, aplicadas em sequência (SOUZA, 1960). Bastante explorada na ornamentação do final do século XIX (CALDAS, 2008), a técnica do estêncil foi muito empregada nos prédios ecléticos pelotenses. As escaiolas foram desenvolvidas sobre as paredes internas e compunham grandes painéis retangulares ou quadrangulares, que imitam mármores coloridos emoldurados por frisos. A técnica das escaiolas ou escariolas 3 pelotenses (ALVES, 2011) é um tipo de estuque liso, conforme indica (ROSISKY 2014). Assemelha-se ao afresco e pertence à família dos estuques (CORONA & LEMOS, 1998). A pintura é executada sobre a massa estucada de cal e pó de mármore, ainda fresca, e usa pigmentos diluídos em água. Recebe durante o processo uma solução de sabão e polimento com a colher de pedreiro, que acelera a reação da cal e a fixação do pigmento, formando uma superfície polida e brilhante. Alguns autores denominam a técnica como estuque lustrado. Os executores utilizavam diversos artifícios para obter o resultado final. Desde a fabricação dos pincéis com fibras de estopa, às esponjas marinhas, às penas de ganso, ao papel amassado. As tarefas eram executadas em equipe. Os estucadores estendiam as camadas de argamassas, e os pintores desenhavam e pintavam as criações ornamentais. São mais representativas as geometrizações que constituem painéis e simulam o mármore, em suas variadas cores e veios (ALVES, 2011). No decorrer da pesquisa efetuada, constatou-se que todos os prédios elencados para o estudo possuíram ou possuem esse tipo de decoração em seu interior, daí a grande relevância dessa técnica ornamental em Pelotas. Marouflage,não foi encontrado termo que corresponda à técnica na língua portuguesa, que em francês denomina o processo utilizado para fixar as telas pintadas em separado que, depois de secas, eram agregadas aos tetos e às superfícies murais. Os invernos frios e úmidos da França inviabilizavam o desenvolvimento do afresco nas superfícies murais e nos forros dos ambientes, dado que a umidade arruinava com as decorações. Os artistas franceses substituíram o afresco pela marouflage. No teto da Galeria dos Espelhos, no Palácio de Versalhes, Charles Le Brun utilizou esse procedimento (JANSON, 1972). A técnica utilizava adesivos, que poderiam ser de diversas origens: cola de peixe, cera, resina ou ocre vermelho, e ainda algumas receitas com branco de chumbo e óleo, resina e cargas para dar densidade e aderência das telas sobre as paredes e tetos. De maneira geral, as pinturas executadas em suportes têxteis, foram concebidas pelos artistas para serem aplicadas na estrutura arquitetônica, sem o uso de bastidor ou molduras. Neste reduzido tipo de obras singulares, cabe-se observar uma diversidade de tecidos colados nas áreas murais dos espaços arquitetônicos internos (MORA e PHILIPPOT, 2003). Na cidade de Pelotas, entre os prédios estudados nesta pesquisa, foram localizados exemplares dessa técnica no hall de entrada da Biblioteca Pública Pelotense. As decorações em tromp l oeil,a tradução literal dos termos franceses é engano do olho, utilizados para definir as pinturas que causam ilusão de ótica ao espectador. A denominação remete aos efeitos da perspectiva para simular as volumetrias de elementos arquitetônicos, compondo, por exemplo: falsas sacadas com balaústres, colunas, arcos e pórticos, relevos ou esculturas (MARIANI, 1997). O tromp l oiel foi utilizado em Pelotas nos frisos que emolduram os painéis executados na técnica da escaiola, sugerindo relevos que na verdade não existem. 3 Em pesquisa realizada sobre os termos escaiola ou escariola, encontramos os dois verbetes para definir a técnica. O último, normalmente foi utilizado pelos profissionais da região.
4 4. CONCLUSÕES São raros os diagnósticos históricos e críticos que remetem às técnicas que constituem os bens integrados da arquitetura eclética de Pelotas. Os registros são escassos e os testemunhos tendem a desaparecer por falta de conservação. Nas edificações analisadas até o momento, foram detectados vestígios ou exemplos íntegros destas técnicas de revestimento decorativo, cujo conjunto compõe o ambiente arquitetônico. Mas, não estão claros os critérios adotados para a proteção ou para a restauração dos bens integrados, o que prejudica a permanência dos exemplares e a percepção integral dos ambientes internos das edificações ecléticas da cidade. A dissertação em andamento deverá contribuir para o reconhecimento dos valores históricos e artísticos desses elementos característicos do final do século XIX e início do XX, como também para a preservação desses bens. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Fábio Galli. Termos e modos de fazer relacionados ao estuque denominado de escaiola nos revestimentos de paredes no século XIX. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis) Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas, CALDAS, Karen Velleda. Contrapontos entre teoria e prática da conservação/restauração do patrimônio histórico edificado: o caso do Grande Hotel de Pelotas/RS. Dissertação (Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural) Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas, CALDAS, Wallace. Pinturas murais restauração e conservação. Rio de Janeiro: In-Fólio, 2008 CORONA, Eduardo & LEMOS, Carlos. Dicionário da arquitetura brasileira. São Paulo: EDART, JANSON, H. W. Historia del Arte. Barcelona: Labor, MARIANI, Marina. Tromp l oeil. Barcelona: De Vecchi, MORA, Paolo & PHILIPPOT, Paul. La conservacion de las pinturas murales. Bogotá: Universidad Externado de Colômbia e ICCRON, ROZISKY, Cristina Jeannes. Arte decorativa: forros de estuques em relevo Pelotas, 1876/1911. Dissertação (Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural) Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas, SANTOS, Carlos Alberto Ávila. Ecletismo na fronteira meridional do Brasil: Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo Área de Conservação e Restauro) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia, 2007.
5 SECULT. Manual do usuário de imóveis inventariados. Pelotas: Nova Prova, SOUZA FILHO, Ferraz. Manual do pintor. São Paulo: Lep, 1960.
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