DIREITO ADMINISTRATIVO

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1 Aula 01 PODERES DA ADMINISTRA Profª Jéssica Assis Carvalho Filho: O Que é? Conjunto de prerrogativas de direito público Quem os exercem? Agentes administrativos Finalidade? Permitir que o Estado alcance os seus fins São irrenunciáveis e indisponíveis: poder-dever Se para o particular o poder de agir é uma faculdade, para o administrador é uma obrigação de atuar, desde que se apresente o ensejo de exercitá-lo em benefício da comunidade (Hely Lopes Meirelles) ABUSO DE PODER Excesso de Poder: Agente público extrapola a competência que lhe foi conferida pela lei Ex: escrivão indicia o investigado é ato privativo do delegado! Desvio de Poder: Desvio de finalidade: Fuga do interesse público ou Prática em desacordo com os fins específicos legais Ex: remoção de um funcionário por vingança pessoal NÃO CONFUNDIR!! USURPAÇÃO DE FUNÇÃO: é crime previsto no Código Penal! Usurpação de função pública Art Usurpar o exercício de função pública: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Consequências jurídicas do abuso de poder Lei 4.717/65 (Lei da Ação Popular): o desvio de finalidade como causa de nulidade dos atos lesivos ao patrimônio público ou de entidade da qual o Estado participe Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa): o excesso de poder é ato de improbidade que atenta contra os princípios da Administração Pública Lei 4.898/65 (Lei de Abuso de Autoridade): confere natureza criminosa a certas ações abusivas dos agentes estatais Abuso decorrente da execução de um ato Art. 5º, XXXIV, a, CF: assegura o direito de petição contra o abuso de poder Art. 5º, LXVIII, CF: assegura o manejo de HC para combater o abuso de poder que acarrete violência ou coação à liberdade de locomoção Art. 5º, LXIX, CF: assegura a impetração de MS quando houver ofensa à direito líquido e certo decorrente de abuso de poder por parte de autoridade pública ou de agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público Poder de autotutela: a própria administração anula os seus atos abusivos PODER VINCULADO: Legalidade PODER DISCRICIONÁRIO: Conveniência e oportunidade PODER REGULAMENTAR: Atos normativos poder de editar normas PODER HIERÁRQUICO: Distribuição de funções desconcentração e centralização PODER DISCIPLINAR: Apurar infrações e aplicar penalidades/sanções PAD (processo administrativo disciplinar) PODER DE POLÍCIA: Restrição de direitos individuais em prol da coletividade A lei não consegue traçar rigidamente todas as condutas de um agente administrativo Ex: O município, quando fixa paradas e itinerários das linhas de ônibus, está no exercício do poder discricionário Em tais casos, o agente avalia a conveniência e oportunidade dos atos que praticará Sempre pautado por uma atuação razoável e proporcional A discricionariedade diz respeito a: Motivo Objeto/Conteúdo Competência, finalidade e forma: são vinculados Conveniência: condições em que o agente se conduz Oportunidade: diz respeito ao tempo mais oportuno Denomina-se mérito administrativo o juízo de conveniência e oportunidade A Administração pode REVOGAR atos inconvenientes e/ou inoportunos A administração e o poder judiciário podem ANULAR atos ilegais À prerrogativa de anular ou revogar os atos administrativos inconvenientes ou inoportunos (respectivamente) denomina-se poder de AUTOTULEA Conceitos jurídicos indeterminados São termos ou expressões constantes em normas jurídicas, os quais não possuem exatidão em seu sentido, cabendo ao aplicador atribuir significado a tais conceitos, mutáveis. Ex: bons costumes, ordem pública, interesse público. A adoção de conceitos jurídicos indeterminados pode gerar discricionariedade, mas não sempre! Há um conteúdo mínimo que não será objeto de discricionariedade apurado por razoabilidade e proporcionalidade PARA SUA PROVA: a adoção de conceitos jurídicos indeterminados pode gerar discricionariedade, o que não afasta a possibilidade de controle judicial! A lei prevê expressamente todas as condições de validade do ato Sentido antagônico ao poder discricionário Cabe somente ANULAÇÃO, tanto por parte da Administração, quanto do Poder Judiciário Carvalho Filho: não se trata de um poder, e sim de uma atuação vinculada Vinculação aos exatos termos da lei Não há margem para valorações de conveniência ou oportunidade Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: TCE-PA Prova: Auditor de Controle Externo 1

2 Com base no disposto nas súmulas do Supremo Tribunal Federal relativas a direito administrativo, julgue o item subsequente. Insere-se na esfera de poder discricionário da administração pública a decisão de incluir o exame psicotécnico como fase de concurso para provimento de cargos públicos, o que pode ser feito mediante previsão em edital. DECRETOS AUTÔNOMOS: Fundamento: art. 84, VI, a, CF: São atos primários que derivam diretamente da Constituição Federal Delegável: Ministros de Estado, Procurador Geral da República e Advogado Geral da União Incumbem ao Presidente da República 2 A questão está errada! A explicação consta na seguinte súmula: SÚMULA 686, STF: Somente por LEI se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público O mesmo raciocínio se aplica à questão do limite de idade em concursos públicos: Súmula 683, STF: O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido. Súmula Vinculante 14, STF: Não é admissível, por ato administrativo, restringir, em razão da idade, inscrição em concurso para cargo público. Prerrogativa da Administração de editar atos gerais para complementar as leis e permitir sua efetiva aplicação Função normativa Função típica do Chefe do Poder executivo, mas não exclusiva!! Nem toda lei precisa ser regulamentada, mas quem fará o juízo será o Chefe do poder executivo Não pode alterar a lei nem ir de encontro a ela Podem ser secundum legem NÃO PODEM SER: ultra legem nem contra legem CUIDADO!! Para que se configure o poder regulamentar, há que haver a finalidade de complementar uma lei, de forma a obrigar todos os poderes é atribuição geralmente do Chefe do Poder Executivo Se, entretanto, o chefe do executivo usa de um decreto em decorrência de sua condição hierárquica, com o fito de ordenar, organizar seus subordinados/os órgãos do poder executivo, haverá manifestação do poder hierárquico, não do regulamentar! Art. 49, V, CF: o Congresso pode sustar atos normativos do Presidente que extrapolem o poder de regulamentação Podem fixar obrigações subsidiárias (derivadas), correlatas às primárias fixadas em lei Regulamento autorizado/delegado: A lei expressamente determina a necessidade de regulamentação STF: veda a delegação em branco que seria a delegação da função legislativa DECRETOS REGULAMENTARES (regulamento executivo): Fundamento: art. 84, IV, CF: Destinam-se à regulamentação, complementação de certos assuntos legais indelegável Ano: 2005 Banca: PGR Órgão: PGR Prova: Procurador O poder regulamentar da Administração somente pode ser exercido em relação às leis que expressamente recomendem a necessidade de regulamentação, não podendo contrariar, restringir ou ampliar suas disposições. Ano: 2011 Banca: CESPE Órgão: TJ-PB Cargo: Juiz O poder regulamentar permite que o ato normativo derivado inove e aumente os direitos e obrigações previstos no ato de natureza primária que o autoriza. Ambas as questões estão INCORRETAS! A primeira questão apresenta o equívoco de dispor que toda manifestação do poder regulamentar do Presidente decorre de lei! Ora, os decretos autônomos decorrem da CONSTITUIÇÃO! Ademais, não há necessidade de previsão legal, visto que o Presidente tem discricionariedade para emitir regulamentos sempre que entender necessário A segunda questão está incorreta, pois, via de regra, os regulamentos não podem inovar o ordenamento a não ser os decretos autônomos! Distribuição e escalonamento de funções Relação de subordinação em um mesmo quadro de pessoal Âmbito interno dos órgãos integrantes de uma mesma entidade NÃO HÁ hierarquia entre Administração direta e a indireta: há vinculação Dar ordens Fiscalizar o cumprimento delas Delegar (exceto: competência exclusiva, atos normativos e decisão de recursos administrativos) Avocar atribuições Rever atos inferiores Delegar: transferir do superior para o subordinado Avocar: chamamento de parcela da competência do subordinado pelo superior Art. 1º, 4º, lei : O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser avocado ou redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia da investigação Súmula 510/STF: praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial.

3 PODER REGULAMENTAR: ATOS ADMINISTRATIVOS NORMATIVOS PODER HIERÁRQUICO: ATOS ADMINISTRATIVOS ORDINATÓRIOS Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: PC-GO Prova: Agente de Polícia Insere-se no âmbito do poder hierárquico a prerrogativa que os agentes públicos possuem de rever os atos praticados pelos subordinados para anulá-los, quando estes forem considerados ilegais, ou revogá-los por conveniência e oportunidade, nos termos da legislação respectiva. CORRETO! O poder de autotutela de revogar ou anular atos administrativos insere-se no âmbito do poder hierárquico, uma vez que o superior hierárquico, ao fiscalizar os atos de seus subordinados, pode (deve) anular os atos ilegais ou revogar os inconvenientes e inoportunos Direito Penal: rígida tipicidade Direito Administrativo: normas gerais de conduta A questão está CORRETA! Quando se fala em poder hierárquico, há que se ter em mente que só há hierarquia entre a Administração e seus agentes, o que só ocorre, portanto no âmbito interno! Já no que tange ao poder disciplinar, a aplicação dele depende da existência de algum vínculo com a Administração, o que também evidencia o caráter interno do poder! Conceito: art. 78, CTN Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. 3 Ano: 2010 Banca: CESPE Órgão: TRE-MT Prova: Analista Decorrente diretamente do denominado poder regulamentar, uma das características inerentes às agências reguladoras é a competência normativa que possuem para dispor sobre serviços de suas competências. PODER NORMATIVO E AGÊNCIAS REGULADORAS A questão está CORRETA! Trata-se de tema controverso na doutrina, mas, para seu concurso, adote o posicionamento de que as Agências Reguladoras possuem poder normativo, em decorrência do fenômeno da deslegalização A deslegalização consiste na transferência de certas matérias da esfera da lei para o âmbito de outras fontes normativas, em decorrência de autorização do legislador, por razões de experteza técnica Tal delegação não pode ser total: daí por que se fala em delegação com parâmetros Poder de: Apurar infrações Aplicar penalidades aos servidores Aplicar penalidades às demais pessoas sujeitas a disciplina administrativa. Ex: sanções nos contratos administrativos Também se refere a empregados públicos e empresas ou indivíduos contratadas pela Administração! Marco inicial do poder disciplinar: abertura do PAD Não esquecer: PAD tem garantias constitucionais de contraditório, ampla defesa e celeridade! É um poder vinculado (STJ) ATENÇÃO! Não se aplica o princípio da insignificância na esfera administrativa, nem aos crimes funcionais contra a Administração Pública! O PODER DE POLÍCIA É UM DOS FATOS GERADORES DAS TAXAS (art. 145, II, CF) Restrição do exercício de direitos individuais em face de um potencial ou real benefício decorrente dessa restrição para a sociedade Fundamento: supremacia do interesse público Poder de polícia em sentido estrito: Fiscalização Cumprir restrições impostas pela lei Apenas atos do poder executivo Poder de polícia em sentido amplo: Toda e qualquer ação restritiva do Estado em relação aos direitos individuais atos dos poderes executivo e legislativo Exercício pelo Poder Legislativo: leis restritivas de direito POLÍCIA JUDICIÁRIA: Incide sobre pessoas Ilícitos penais Caráter repressivo (via de regra) POLÍCIA ADMINISTRATIVA: Incide sobre bens, direitos ou atividades Ilícitos administrativos Caráter preventivo (via de regra) POLÍCIA MILITAR? Ora atua como polícia judiciária, quando apura infrações militares Ora como polícia administrativa, quando incide sobre bens, direitos ou atividades EXEMPLOS DE EXERCÍCIO DE PODER DE POLÍCIA Fiscalização em atividades de comércio Fiscalização em locais proibidos para menores de idade Fiscalização de condições de alimento para consumo Apreensão de alimentos impróprios para consumo Interdição de empresas ou de locais Aplicação de multa de trânsito Aplicação de advertências

4 Proibição de certas substâncias (ex: carnivor) DELEGAÇÃO DO PODER DE POLÍCIA ORDEM DE POLÍCIA Determinação de um fazer ou não-fazer Fase normativa criação de regras Ex: não dirigir embriagado CONSENTIMENTO DE POLÍCIA Administração anui com a atividade/uso de propriedade Ex: permissão de porte de arma de fogo FISCALIZAÇÃO DE POLÍCIA Afere-se a observância das ordens SANÇÃO DE POLÍCIA Punição. Ex: multa de trânsito Para o STJ, os atos 2 e 3 (consentimento e fiscalização) são delegáveis às entidades de direito público Não é possível delegar para particulares, nem para pessoas jurídicas de direito privado Há ação pendente no STF a respeito da delegabilidade de poder de polícia às empresas estatais As provas costumam admitir a delegação para as entidades privadas da administração indireta No poder de polícia, o Estado ultrapassa seu âmbito interno e impõe obrigações a particulares Poder Extroverso Poder que o Estado tem de constituir, unilateralmente, obrigações para terceiros, com extravasamento dos seus próprios limites. Conceito-chave: imposição dos seus atos independentemente de concordância por parte do particular Exemplos: tributação, sanções de polícia, exigência de apresentação de documentos fiscais Discricionariedade Autoexecutoriedade Coercibilidade Atributos do Poder de Polícia Discricionariedade A administração valora qual o melhor momento para agir Escolhe a sanção mais adequada dentre as elencadas por lei Poder de polícia discricionário vs. Poder de polícia vinculado Autoexecutoriedade A Administração decide e executa suas decisões, sem intervenção do poder judiciário Necessário expressa previsão legal Situações de urgência Fase 01: aplicação tem natureza autoexecutória Fase 02: cobrança não é autoexecutória JURISPRUDÊNCIA - Se, com relação à multa: Não há notificação Ainda haja prazo para pagamento Ainda haja prazo para impugnação Multas VENCIDAS: PODE! Coercibilidade Possibilidade do uso da força Limitado pelo princípio da proporcionalidade NÃO se pode exigir o pagamento das multas para liberação de veículo apreendido LIMITAÇÕES AO PODER DE POLÍCIA Competência, finalidade e forma: elementos do ato administrativo que são sempre vinculados, sobre os quais não cabe discricionariedade administrativa Razoabilidade e proporcionalidade Prazo prescricional A Lei 9.873/99 estabelece prazo prescricional para a ação punitiva da Administração (direta e indireta), no exercício do poder de polícia: 05 anos Contados da data da prática do ato OU Do dia em que cessada a continuidade ou permanência SÚMULAS e informativos Súmula 397, STF: O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a realização do inquérito. Súmula 645, STF: É competente o Município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial. Súmula 646, STF: Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área. Súmula 19, STJ: A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é da competência da União Súmula 312, STJ: No processo administrativo para imposição de multa de trânsito, são necessárias as notificações da autuação e da aplicação da pena decorrente da infração. Informativo 793, STF, 2015: GUARDAS MUNICIPAIS TÊM PODER DE POLÍCIA DE TRÂNSITO É necessária autorização por lei municipal Competente para: fiscalizar o trânsito, lavrar auto de infração e impor multas Informativo 577, STJ, 2016: COMPETÊNCIA DA ANVISA PARA CLASSIFICAÇÃO DE IMPORTADOS Se a ANVISA classificou determinado produto importado como cosmético, não pode a autoridade aduaneira defini-lo como medicamento 4

5 Informativo 557, STJ, 2015: INMETRO É INCOMPETENTE PARA FISCALIZAR BALANÇAS GRATUITAMENTE DISPONIBILIZADAS POR FARMÁCIA 5 Informativo 554, STJ, 2014: TODA FARMÁCIA/DROGARIA DEVE TER FARMACÊUTICO EM TODO O PERÍODO DE FUNCIONAMENTO Compete ao CRF (Conselhos Regionais de Farmácia) efetuar a fiscalização, e não à Vigilância Sanitária